Largada desastrosa tem derrota no Congresso e auxiliar que contesta presidente
A caminho da lua de mel, Jair Bolsonaro pegou o desvio errado na estrada. O presidente insistiu em dirigir com os olhos vendados, enquanto as crianças berravam no banco de trás. Trocou meses de romance com aliados, eleitores e o Congresso por uma temporada no meio de uma praça de guerra.
Bolsonaro jogou fora o período em que os governantes tradicionalmente aproveitam sua popularidade para aprovar projetos importantes e contornar assuntos espinhosos. O vazamento de gravações que sugerem que o presidente falsificou uma versão sobre a queda de Gustavo Bebianno e a lavada que o governo levou na Câmara nesta terça (19) marcam uma largada desastrosa.
Já se previa certa hostilidade nas relações políticas de Bolsonaro, mas não se imaginava que os duelos surgiriam tão cedo. Em 50 dias de mandato, ele comprovou sua inabilidade para lidar com o Parlamento e gerenciar crises dentro de casa.
Chamado de mentiroso, Bebianno divulgou as conversas que precederam sua demissão. Nas gravações, o ex-ministro mostra que trocou mensagens com o presidente enquanto a crise das candidatas laranjas do PSL se desenrolava —o que o próprio Bolsonaro havia negado.
Não é normal que um auxiliar revele diálogos privados para desmentir um presidente. Para piorar, Bebianno diz que o chefe foi “envenenado” pelo filho e que Carlos fez uma “macumba psicológica na cabeça do pai”. A influência nociva da família sobre Bolsonaro ganha contornos de lavagem cerebral.
O governo ainda amargou derrotas humilhantes no Congresso. O Senado aprovou um convite para que Bebianno dê explicações sobre o laranjal do PSL, e a Câmara deu uma surra no presidente ao votar contra o decreto que permite expandir o sigilo de documentos públicos.
Na véspera da visita de Bolsonaro ao Congresso para apresentar a reforma da Previdência, a articulação política fracassou, e os partidos resolveram atacar. Agora, eles prometem cobrar caro por uma conciliação.