Projeto eleitoral do governador enfrenta resistências internas e risco de traições
Os problemas do PSDB começaram cedo em 2018. Na largada, poucos tucanos se empolgaram com a candidatura de Geraldo Alckmin. Vendo poucas chances de vitória, passaram a cuidar de suas próprias campanhas ou se bandearam para o lado de Jair Bolsonaro, que ocupava um eleitorado alinhado ao campo do partido. O desfecho é conhecido.
Na última semana, João Doria conheceu alguns desses obstáculos internos. Para lançar as bases de sua campanha ao Planalto, o governador tentou forçar o PSDB a adotar uma postura de oposição a Bolsonaro, eliminar potenciais desertores e assumir o controle da burocracia do partido para evitar traições. Foi derrotado em todas as investidas.
Doria antecipou batalhas inevitáveis dentro da legenda, mas deu tiros prematuros e passou longe dos alvos. O resultado é um sinal de que sua candidatura já enfrenta resistências dentro de casa e de que ele pode ter dificuldades para manter a máquina do partido distante da zona de influência do bolsonarismo.
À exceção de alguns integrantes instalados por Doria na seção paulista da sigla, os tucanos nunca demonstraram grande entusiasmo com o projeto eleitoral do governador –um forasteiro que não criou vínculos dentro da legenda. Esses políticos poderiam torcer o nariz e embarcar na ideia se acreditassem que ele poderia vencer, mas esse não é o cenário que se enxerga hoje.
Além disso, os movimentos do governador para reforçar a coloração de seu rótulo antibolsonarista se chocaram com a política que é exercida nos gabinetes tucanos. Deputados e prefeitos do partido preferem manter boa relação com o Planalto para ter acesso à máquina do governo. Mesmo que Doria seja candidato pelo PSDB, alguns deles devem trabalhar por Bolsonaro em 2022.
O governador paulista ganhou tração nos primeiros meses do ano graças aos planos de vacinação, mas mesmo seus companheiros de partido entendem que esse lance não será suficiente para elegê-lo. A disputa no PSDB é um prenúncio para 2022.