Governo escorado na popularidade do presidente é mais sensível a manchas na imagem
Passaram-se sete dias desde a revelação de que um assessor de Flávio Bolsonaro movimentou R$ 1,2 milhão em um único ano e deu um cheque de R$ 24 mil à mulher de Jair. De saída, a família julgou que devia poucas explicações, mas o episódio tem potencial para depreciar um dos principais ativos do próximo presidente.
Bolsonaro já demonstrou que pretende governar com o poder das redes sociais, escorado em sua popularidade. Embora pareça uma boa ideia, a estratégia carrega seus riscos. Se o presidente depende de constante aprovação, manchas na imagem também podem drenar sua força.
O silêncio e as explicações dadas pela metade não abafaram o caso. Informações que vieram a público ao longo da semana acentuam as suspeitas de que o gabinete de Flávio na Assembleia do Rio obrigava funcionários a devolverem parte de seus salários —mecanismo conhecido como “pedágio” ou “rachadinha”.
Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio, não conseguiu justificar os depósitos que recebia em sua conta no dia do pagamento dos outros servidores. Também não disse por que sacava o dinheiro logo depois. Não há provas de que os Bolsonaros tenham se beneficiado de alguma ilegalidade, mas as interrogações não ajudam a família.
As suspeitas levantadas são especialmente danosas porque Bolsonaro se elegeu sob a bandeira da rejeição ao sistema e da tolerância zero com a corrupção. A cobrança de pedágio é um dos hábitos mais ordinários da velha política —assim como a contratação de funcionários fantasmas e o recebimento de auxílio-moradia sem necessidade.
O presidente eleito dobrou a aposta nesta quarta (12). Ao fim de uma transmissão no Facebook, disse: “Se algo estiver errado, que paguemos a conta”. Assim, Bolsonaro reforça o exercício do poder em linha direta com seus eleitores, como afirmou em sua diplomação. Se não conseguir apresentar um esclarecimento completo sobre o caso, ele pode conhecer o lado amargo desse plano.