Presidente explora Amazônia em campanha contra áreas protegidas e terras indígenas
Jair Bolsonaro deve ter apagado da memória o texto que leu no teleprompter há cinco dias. O pronunciamento do presidente na TV, no auge da tensão em torno das queimadas da Amazônia, falava com orgulho da conservação da vegetação nativa do Brasil e elogiava a “lei ambiental moderna” do país. Agora, ele acha que isso é um problema.
O presidente chamou governadores da região a Brasília para discutir a devastação das florestas. Se algum deles esperava dinheiro ou projetos de preservação, teve que se contentar com o papel de figurante na cruzada antiambiental do Planalto.
O encontro foi motivado pelas queimadas, mas Bolsonaro preferiu fazer um ato para vender sua agenda contra a cooperação internacional e a favor de mudanças na legislação das unidades de conservação. Com apoio de alguns governadores, ele reforçou suas críticas à demarcação de terras indígenas e lançou a ideia de rever reservas ambientais.
O fogo na Amazônia virou um cavalo de troia para a pauta do presidente, nas palavras de um participante da reunião. Bolsonaro explorou um nacionalismo mal-acabado para fazer propaganda de suas obsessões contra áreas protegidas.
Para quem buscava medidas concretas contra o desmatamento, Bolsonaro era um personagem inconveniente na sala. Lá pela segunda hora da reunião, ele interrompeu uma explicação técnica sobre o Fundo Amazônia para reclamar pela sétima vez de áreas indígenas e quilombolas, que “inviabilizam” o agronegócio.
O debate sobre a atividade econômica nessas regiões pode até interessar às comunidades, mas o presidente já deixou claro que está mais empenhado em favorecer ruralistas e mineradoras americanas.
Bolsonaro mostrou também que não aprendeu nada com os últimos episódios. Ele continua desprezando dados oficiais. Na reunião, militares mostraram imagens de satélite para comprovar o resultado do combate às queimadas. Mais tarde, o presidente insistiu que a situação foi “potencializada” pela imprensa.