Presidente lança novas teorias para substituir suas profecias e apostas que perderam a validade
Há nove dias, Jair Bolsonaro tomou um helicóptero e percorreu um trajeto que levaria 50 minutos pela estrada. Desembarcou em Águas Lindas de Goiás, sorriu e inaugurou um hospital de campanha erguido com verba federal. “A gente torce para que pouca gente venha para cá, porque é sinal de que não precisa de atendimento”, discursou.
O governo desembolsou R$ 10 milhões na unidade, mas o presidente decidiu sabotar o projeto. Na última semana, ele incitou seus apoiadores a praticar um crime e invadir hospitais pelo país “para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não”.
Depois de menosprezar o coronavírus, insistir num exótico “isolamento vertical”, forçar a barra para distribuir cloroquina e maquiar estatísticas, Bolsonaro passou a insinuar que os governadores inflam o número de mortos para desviar o dinheiro público gasto na pandemia.
Há uma série de investigações sobre essas despesas, mas o presidente não está interessado nelas. A intenção é lançar novas teorias para substituir aquelas que perderam validade ou foram desmentidas pelos fatos.
Bolsonaro muda o foco do debate para disfarçar sua negligência. Trata-se de uma variação da estratégia de “mover a trave” —metáfora que descreve a alteração contínua das regras e critérios de uma disputa para desqualificar o avanço de um opositor.
O presidente previu menos de 800 mortes na pandemia. Quando os números dispararam, ele chegou a reconhecer o óbvio: “Está morrendo gente? Está”. Depois, recuou e passou a fazer campanha para sufocar os dados oficiais sobre as vítimas.
Na economia, Bolsonaro trabalhou para minar medidas de isolamento e alardeou um risco de desabastecimento que não se concretizou. Mudou a tática e alertou para uma onda de saques que não ocorreu.
Na última quinta (11), o presidente sugeriu que a pandemia é só o pano de fundo de uma briga pelo poder. “Talvez os caras estejam aproveitando as pessoas que falecem para ter algum ganho político”, disse. Pois é.