Apesar de negacionismo, presidente percebe risco e mexe suas peças para enfrentar Doria
Jair Bolsonaro mexeu suas peças no embate com João Doria. Depois que o tucano fez o lançamento precipitado de um plano de vacinação contra a Covid-19, o presidente despachou o ministro da Saúde para um pronunciamento em que reivindicou a competência pelo processo e anunciou a intenção de comprar doses adicionais do imunizante.
Bolsonaro adota até aqui um comportamento que varia entre a incompetência e a indiferença. O governo, no entanto, parece ter percebido o tamanho do prejuízo político que poderá sofrer quando os brasileiros entenderem que ficaram para trás na fila da vacinação.
Após uma reunião com o presidente, Eduardo Pazuello tentou fazer uma mudança de rumos disfarçada de propaganda. O ministro disse nesta terça (8) que “todos aqueles que desejarem” serão vacinados e confirmou a assinatura de um termo para a compra de 70 milhões de doses da Pfizer –algo que era visto com ressalvas na semana passada.
Pazuello afirmou que “qualquer vacina” que tenha registro no país será comprada e distribuída. “Não existe essa discussão”, declarou.
Parecia que o governo tinha trocado o ministro da Saúde mais uma vez. Em outubro, Bolsonaro fustigou o rival Doria e mandou cancelar a compra da vacina chinesa fabricada em São Paulo. Pazuello aceitou a ordem e se humilhou: “É simples assim: um manda, e o outro obedece”.[ x ]
O presidente ainda deve fazer de tudo para atrapalhar os planos de Doria, enquanto ensaia movimentos alternativos para evitar que o adversário colha benefícios sozinho.
A politização da vacina ganha dimensões cada vez maiores. Para Maurício Moura, da Ideia Big Data, essa é “a única chance de Doria se tornar competitivo” em 2022.
Já Bolsonaro teria chance de recuperar terreno, apesar de seu negacionismo durante a pandemia, porque a população busca “soluções de curto prazo”. “É um risco muito grande não agir de maneira contundente em relação à vacina”, avalia. “É um momento crucial para a gestão dele.”Bruno Boghossian
*Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).