É difícil saber se o presidente apenas mente ou se não tem ideia do que está fazendo
Jair Bolsonaro não gostou da ideia de vetar queimadas no país por quatro meses para conter a devastação da Amazônia. Na noite de quinta-feira (16), ele criticou a medida e avisou: “Não assinei ainda. Está previsto assinar”. O presidente deve ter se confundido. O decreto com a proibição havia sido publicado naquela manhã e trazia sua assinatura.
Às vezes, é difícil saber se Bolsonaro está só mentindo ou se não tem a menor ideia do que está fazendo. Ao dizer que não havia assinado um despacho que já estava no Diário Oficial, o presidente fica dividido entre o atrevimento de ludibriar seus próprios eleitores e a total falta de competência para exercer o cargo.
Além de enganar a população, Bolsonaro já mostrou que elabora seu discurso e toma decisões a partir de um pacote de informações falsas ou distorcidas. A qualidade dessas bobagens é tão baixa que ajuda a reforçar a incapacidade do próprio governo.
Durante a semana, enquanto auxiliares tentavam reverter a imagem negativa do país na área ambiental, o presidente dizia que a devastação não era um problema: “Se você não trabalha a terra de um ano para outro, quase já volta a floresta toda”. Cientistas afirmam que essa recuperação pode levar décadas ou séculos.
Bolsonaro também usou os últimos dias para reativar seu eleitorado conservador —deixado de lado depois que o presidente foi convencido a falar menos barbaridades para evitar turbulências políticas. Nas redes sociais, ele tentou espalhar a lorota de que a esquerda trabalha para “descriminalizar a pedofilia”.
As balelas presidenciais poderiam ser apenas parte de uma retórica desonesta, mas elas também dão origem a políticas públicas delinquentes. O patrocínio oficial ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina, é um exemplo disso.
Contaminado pelo coronavírus, o próprio Bolsonaro tomou o remédio, o que sugere que ele realmente acredita no que diz. Em muitos casos, o despreparo do governo tende a ser mais perigoso do que a mentira.