Confetes conservadores não fazem nenhuma diferença na segurança e na economia
Não se pode acusar Jair Bolsonaro de estelionato eleitoral. A interferência na Petrobras, a mudança na relação com Israel, o choque com o Congresso e a complacência desprezível diante do fuzilamento de um inocente estavam todos lá, na campanha. Se o presidente cumpre o que sempre disse, por que sua popularidade caiu tanto?
A resposta mais razoável é que nada disso importa de verdade para o eleitor. O discurso de Bolsonaro cumpriu papel simbólico durante a campanha, mas ficou vencido depois que ele subiu a rampa do Planalto.
Antipetistas e gente farta da política em geral podem ter votado naquele deputado transgressor por diversos motivos. Alguns não ligavam para seus absurdos e outros aderiram à campanha acreditando que ele não faria tudo aquilo que prometia.
Antes da virada do ano, 88% dos eleitores de Bolsonaro diziam que o governo seria ótimo ou bom. A última pesquisa do Datafolha, no entanto, mostrou que só 54% deles consideram a gestão positiva até agora.
Os confetes conservadores, a polêmica do golden shower e as caneladas nos políticos não fazem nenhuma diferença nas pautas que interessam mais à população: a segurança e a economia. Nessas duas áreas, o presidente enfrenta dificuldades.
Na terceira semana de governo, Bolsonaro fez festa ao ampliar a posse de armas de fogo em casa. Prometeu trabalhar ainda para que os cidadãos também pudessem andar armados nas ruas. O problema: quase metade de seus eleitores diz ser contrária a esta nova medida.
Na economia, o presidente encontrou a frustração de quem esperava se recuperar da ruína dos anos Dilma. Em dezembro, 62% dos entrevistados mais pobres achavam que o governo seria ótimo ou bom. Agora, só 26% o classificam assim.
Entre os brasileiros que votaram no presidente, 42% diziam que ele fez menos do que o esperado até aqui. Bolsonaro pode pensar que essa é a senha para radicalizar sua plataforma de governo. Se dobrar a aposta, ele dobra as chances de errar.