Empresários preferiram se aliar a ONGs ambientalistas, alvos do presidente
Quando os presidenciáveis desfilavam em campanha, há dois anos, a turma do agronegócio acreditou ter feito uma escolha óbvia. Empresários se aproximaram do candidato que prometia afrouxar fiscalizações, e a bancada ruralista declarou apoio àquele que prometia atropelar as leis ambientais.
O namoro durou pouco. Antes de tomar posse, Jair Bolsonaro abriu a primeira crise com o setor. O presidente eleito causou pânico entre produtores ao dizer que mudaria a embaixada de Israel para Jerusalém. Exportadores de carne criticaram a ideia, com medo de perder bilhões em negócios com países árabes.
O governo não conseguiu levar a provocação adiante, mas manteve a sabotagem. Em março, Eduardo Bolsonaro acusou o governo chinês de ser responsável pela propagação do coronavírus. O líder da bancada ruralista precisou lembrar que a China responde por até 40% das exportações do agronegócio brasileiro.
Além das trapalhadas nas relações exteriores, o lobby do agronegócio ficou incomodado com a omissão destrutiva do governo na Amazônia. Ninguém virou ambientalista da noite para o dia, mas os empresários perceberam que ter um Bolsonaro no poder era um mau negócio.
Em julho, eles cobraram medidas para frear a devastação e as queimadas. O presidente continuou fingindo que os incêndios eram fogueiras de São João e acusou ONGs de produzirem propaganda negativa. “Vocês sabem que as ONGs não têm vez comigo. A gente bota para quebrar em cima desse pessoal”, afirmou.
O desastre bolsonarista é tão grande que alguns empresários escolheram ficar ao lado dessas organizações. Gigantes como JBS e Marfrig se uniram a WWF, Imazon e outras entidades para pedir ações do governo contra o desmatamento.
O agronegócio se deixou seduzir por Bolsonaro e não se incomodou com o fato de que aquele político representava o que havia de mais rudimentar e atrasado na área. Agora, os empresários querem deixar o presidente sozinho no século passado.