#ProgramaDiferente: os dois lados de uma crise política sem precedentes
18 de março de 2016Notícias,TVFAP,Entrevistas,Debatescrise,programa diferente,TVFAP
Nesta semana em que a crise política se agrava de maneira preocupante, o #ProgramaDiferente, da TVFAP.net, entrevista o escritor Luís Mir. Com declarado "DNA comunista", ele fala sobre partidos e movimentos de esquerda, as origens do PT (do qual é um crítico ferrenho) e o atual momento brasileiro e mundial. Assista.
Também são ouvidas personalidades favoráveis e contrárias ao governo da presidente Dilma Rousseff. De um lado, contra a Operação Lava a Jato, falam Paulo Moreira Leite, jornalista e editor do site Brasil 247; Luis Nassif, jornalista e blogueiro; Franklin Martins, jornalista e ex-ministro de Lula; e Celso Bandeira de Mello, jurista e professor da PUC-SP.
Do outro lado, participantes do já histórico protesto do dia 13 de março na Avenida Paulista. Foram entrevistados Kim Kataguiri e Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre; o governador Geraldo Alckmin; os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes, do PSDB; Ronaldo Caiado e José Agripino Maia, do DEM; os deputados federais Roberto Freire, Raul Jungmann e Rubens Bueno, do PPS; Carlos Sampaio, do PSDB; Onyx Lorenzoni, Rodrigo Garcia e Pauderney Avelino, do DEM; e Darcísio Perondi, do PMDB.
Economista alerta para queda do nível das reservas internacionais
17 de março de 2016Notícias,DestaquesEconomia,crise econômica
Ao analisar a leve recuperação nos preços dos ativos nacionais diante da expectativa de maior cautela em relação à condução da política monetária do FED, que nesta quarta-feira anuncia decisão sobre a taxa de juro, o economista e analista de mercado Fabio Berghella disse ao Portal do PPS que a situação do Brasil “ficou ainda mais favorável”, mas que a expectativa do mercado em relação ao País está piorando com a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornar ministro.
Segundo ele, o “mercado teme que não só Lula fortaleça o governo”, como também adote medidas econômicas nada usuais, dentre elas o uso das “reservas internacionais para subsidiar o crédito”.
“Já manifestei meu ponto de vista contrário ao uso das reservas e creio que a piora do mercado nos últimos dias fundamenta-se neste ponto central”, disse o economista, ao argumentar que “nos últimos dias houve queda expressiva no nível das reservas internacionais”.
“Se o último galho que o PT estava sentado eram sobre as reservas, esse galho acaba de quebrar”, afirma Berghella.
Veja abaixo o comentário do economista.
O mercado, Lula no governo e as reservas internacionais
Houve uma pequena recuperação nos preços dos ativos nacionais nas últimas semanas, fato atribuído, principalmente, a expectativa de maior cautela em relação à condução da política monetária pelo FED e também devido ao aumento das apostas de que tanto as commodities quanto os ativos de países emergentes já encontram-se com preços atrativos.
No Brasil, a situação ficou ainda mais favorável na medida que o mercado precificava o impedimento da presidente Dilma.
Contudo, nos últimos dias a situação mudou um pouco. Ontem os mercados pioraram bastante com a expectativa de que o embarque de Lula fortaleceria o governo – diminuindo assim a possibilidade do impeachment.
Esse fato é incontestável, a contrapartida do PT – a exemplo do que foi o discurso de raiva do ex-presidente após seu depoimento – deve ser forte e incisiva quanto à mudança na política econômica.
O mercado teme que não só Lula fortaleça o governo, convocando a reação – a exemplo do que Chaves e a mídia faziam muito bem na Venezuela – como também as medidas econômicas não sejam as mais usuais: o uso das reservas internacionais para subsidiar o crédito interno.
Já manifestei meu ponto de vista contrário ao uso das reservas e creio que à piora do mercado nos últimos dias fundamenta-se neste ponto central.
As reservas possuem divulgação diária pelo BACEN e por isso o argumento acima será facilmente defendido caso haja piora deste indicador.
O mercado já antecipa a possibilidade de um Lula “bravão” tomar de assalto as reservas, que nos últimos dias registrou queda expressiva no nível das reservas internacionais.
Se o último galho que o PT estava sentado eram sobre as reservas, esse galho acaba de quebrar.”
Fonte: PPS
13 de março: o Movimento Brasil Livre #MBL no #ProgramaDiferente
16 de março de 2016Notícias,TVFAP,Entrevistas,Debatesprograma diferente,entrevista,TVFAP,protesto
O #ProgramaDiferente, da TVFAP.net, acompanhou os protestos de 13 de março na Avenida Paulista. Ouviu os líderes do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri e Fernando Holiday, e também acompanhou o pronunciamento de políticos da oposição como o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e os deputados Roberto Freire (PPS-SP), Bruno Araújo (PSDB-PE), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Nilson Leitão (PSDB-MT), Pauderney Avelino (DEM-AM) e Darcísio Perondi (PMDB-RS) no carro do MBL. Assista.
"Aparentemente, estamos todos de acordo ao afirmar que toda uma época terminou. Mas, quando uma época termina, se não conseguirmos pensa-la com conceitos novos, diferentes daqueles que capturaram a mente de quem a viveu, das duas uma: ou não é verdade que ela terminou, ou quem continua a representá-la com os conceitos do passado talvez não saiba, mas na realidade morreu intelectualmente com ela"
* Giuseppe Vacca
Conferência Nacional sobre as cidades - dias 19 e 20 de março, em Vitória-ES
14 de março de 2016FAP,Notícias,Destaques,EVENTOS FAPPPS,fap,conferência,vitória
O PPS e a FAP (Fundação Astrojildo Pereira) irão debater com dirigentes, militantes, candidatos, filiados e com os que se interessam em participar da formulação de políticas públicas, as questões fundamentais das cidades brasileiras na Conferência Nacional de Governança Democrática, nos dias 19 e 20 de março de 2016, em Vitória (ES), no Sheraton Vitória Hotel.
O presidente da FAP, Alberto Aggio, e a deputada ítalo-brasileira, Renata Bueno, anunciaram este mês que o prefeito de Florença (Itália), Dario Nardella, confirmou presença na conferência. De acordo com Aggio, a participação de Nardella se dará na plenária de abertura da conferência.
Além de Nardella, estão previstas palestras com o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP); o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS); e o chefe do Departamento de Ciências Sociais da PUC-RJ, Ricardo Ismael.
O roteiro da conferência é o texto “Cidades e Governança Democrática“, preparado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), documento que chama atenção para a necessidade de as cidades serem pensadas dentro do contexto atual, com “tratamento político-ideológico progressista e democrático”.
Temas
O evento concebido pelo PPS em parceria com a FAP tem como foco a discussão de temas de interesses das cidades, como as questões que envolvem finança municipal, segurança pública, educação, saúde, mobilidade urbana, cultura e desenvolvimento local e Parceria Publico-Privadas (PPP’s)
Antecedendo a conferência, serão realizados encontros regionais para elaboração de propostas e apresentação de cases (experiências bem-sucedidas) que serão debatidos em Vitória. Essa fase está sob responsabilidade das direções estaduais do partido, com a participação da FAP.
A conferência pretende mobilizar não apenas candidatos, mas a militância, dirigentes e o público em geral interessado na solução dos problemas das cidades.
A participação será individual, mediante inscrição, aberta a todos os filiados e não filiados. Serão selecionados os melhores “cases” de gestão na fase preliminar para serem apresentados na plenária da Conferência Nacional sobre as Cidades.
PROGRAMAÇÃO
19 de março de 2016 (sábado)
10h – Abertura solene
11h – Plenária: O que é governança democrática?
13h – Intervalo para almoço
15h – Grupos Temáticos:
1 – Assistência à Saúde
2 – Educação
3 – Segurança Pública
4 – Mobilidade Urbana
5 – Finanças Municipais
6 – Parcerias Público-Privadas – PPP’s
7 – Cultura, Esporte e Lazer
19h – Encerramento dos trabalhos dos grupos
21h – Jantar
20 de março de 2016 (domingo)
10h – Plenária final de encerramento
11h – Lançamento do Livro do Luciano Resende sobre a gestão de Vitória
12h – Encerramento da conferência
Mais informações: conferenciasobreascidades.pps.org.br
Um brinde à maior manifestação da história
14 de março de 2016Notícias,Destaques,manifestaçãoGermano Martiniano,Opinião,fora pt
“Brindo a casa, brindo à vida, meus amores, minha família”. Parafraseando O Rappa, um brinde também ao povo brasileiro pela bela manifestação de ontem, que superou em número de pessoas o movimento das Diretas Já. Quem não merece um brinde é o governo petista, que “assalta” diariamente as casas, as vidas, os amores e as famílias brasileiras. Sem dúvida, o dia 13 de março de 2016 ficará para história.
O nome da música parafraseada é “Mar de Gente”, e foi isso que se viu pelas ruas do nosso país, um grande conglomerado de pessoas pedindo, principalmente, o impeachment da presidenta Dilma. Os movimentos sociais que começaram em 2013 ainda difusos, sem uma ideia definida, neste momento ganham o contorno principal: fora Dilma, fora PT. Se a Dilma sofrerá o impeachment, ou até mesmo renunciará, é uma interrogação, mas uma coisa é certa, está cada dia mais difícil a governabilidade petista. Se não for agora, em 2018 teremos renovação.
O Brasil carece de renovação politica. O povo brasileiro, como foi dito, está de parabéns por ocupar as ruas e avenidas, mostrando toda sua indignação. Entretanto, um fato é preocupante, a maioria sabe o que quer para o momento, tirar a Dilma do governo. Mas, e depois, o que o povo brasileiro espera de um novo governo? Pois, frases como “Devolva nossa pátria; Queremos um governo melhor e mais justo; Queremos mais empregos” são aclamações pertinentes e necessárias, mas são subjetivas. Devolva nossa pátria para quem? O que é um governo mais justo? Como aumentar os empregos?
Em uma manifestação politica dessas proporções, normalmente, as pessoas não irão debater pontos como esses. Eles virão a posteriori. Primeiramente a queda do governo Dilma, depois os próximos passos. Porém, ainda assim é preocupante a situação, pois a população mostra nas ruas um grande desconhecimento politico sobre questões essenciais. Governos de esquerda ainda são facilmente ligados ao PT, como se a esquerda fosse, exclusivamente, o PT. Há também, uma grande dose de americanismo nas manifestações, o já banalizado American Way Of Life volta à tona, como se fosse a solução de nossos problemas. Esses são apenas alguns exemplos.
O brasileiro precisa viver em um país onde possa brindar a casa, a família, a vida e seus amores. Esses são direitos básicos de todo ser humano para se ter uma vida digna. O brasileiro merece isso. Mas, acima de palavras de ordens também é necessário maior politização, só assim se poderá construir um Brasil mais justo.
Por: Germano Martiniano, Assessor de Comunicações da FAP e formado em Relações Internacionais pela UNESP/Franca.
Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, diz o que pensa de Lula e Dilma
14 de março de 2016Notícias,TVFAP,Entrevistas,DebatesDilma,Marcelo Madureira,opinião,lula
O humorista Marcelo Madureira, ou Marcelo Garmatter Barreto, fez parte da equipe que produziu e apresentou entre 1992 e 2010 o programa humorístico "Casseta & Planeta Urgente" pela Rede Globo, criação do grupo que ajudou a formar em 1978.
Mantém um blog pessoal, é um dos mais ativos opositores do governo Dilma e, por mais de 25 anos, com outro integrante do grupo, Hubert de Carvalho Aranha, escreveu a Coluna do Agamenon no jornal "O Globo".
Nasceu e viveu em Curitiba até os 13 anos, quando mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Filho de ex-militantes do Partido Comunista Brasileiro, ele também começou a atuar no PCB.
O Casseta & Planeta foi formado por Marcelo Madureira, Bussunda, Hubert, Hélio de la Peña, Reinaldo, Beto Silva e Cláudio Manoel.
Em depoimento exclusivo ao #ProgramaDiferente, da TVFAP.net, ele diz o que pensa dos governos de Lula eDilma, e do papel do humor no atual momento de crise do Brasil. Assista.
Em dia de #ForaDilma, #ForaLula e #ForaPT na Paulista, o #ProgramaDiferente discute o futuro de São Paulo e do Brasil
14 de março de 2016Notícias,TVFAP,Destaques,Entrevistas,Debatesmanifestações,fora lula,fora pt,fora dilma
O #ProgramaDiferente deste domingo, 13 de março, trata das manifestações históricas contra o governo da presidente Dilma Roussef, pelo aprofundamento das investigações contra o ex-presidente Lula e a favor da Operação Lava Jato.
A entrevista é com o artista plástico João Monteiro, brasileiro formado em Paris, renomado pelo trabalho que desenvolve principalmente sobre futebol e Pelé, e autor de cartazes de protesto que fazem sucesso nas manifestações pelo #ForaDilma, #ForaLula e #ForaPT.
Na matéria da semana o tema é #ACidadeQueEuSonho, ouvindo Marina Silva, porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade; Ricardo Young, vereador e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo; Oded Grajew, idealizador da Rede Nossa São Paulo; e Alexandre Schneider, ex-secretário municipal da Educação.
No quadro "Olhar Diferente" há um bate-papo especial com o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, colunista da Revista Veja, sobre o seu livro "A Capital da Vertigem, Uma História de São Paulo". Participam também Ulrich Hoffmann, engenheiro do ITA e conselheiro da FAP; Marcos Gadelho, arquiteto e urbanista; e José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela.
O #ProgramaDiferente vai ao ar na TVFAP.net e na TVAberta (NET canal 9, Vivo canal 186 e Vivo Fibra canal 8)todos os domingos, às 21h30, e na madrugada de segunda para terça-feira, à 1h30. Assista.
Curso de Formação em Filosofia Política PPS/FAP
12 de março de 2016Destaques,Cursos,MúsicaPPS,fap,curso,política,filosofia
Ontem, dia 11 de março, ocorreu mais uma edição do curso de Formação em Filosofia Politica organizado pela parceria PPS municipal de São Paulo e a FAP. A aula, mais uma vez, com um bom número de participantes abordou os filósofos: Santo Tomás de Aquino e Maquiavel.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o maior representante da escolástica, tendência da filosofia medieval influenciada por Aristóteles. Considera que o homem só encontra sua realização na cidade, e o plano político é a instância possível em que o governo não tirânico pode aliar ordem e justiça na busca do bem comum. Outro ponto importante no pensamento deste filósofo é a tentativa de separação entre o poder e a igreja. O poder político, mesmo que seja de origem divina, circunscreve-se na ordem das necessidades naturais do homem enquanto ser social que necessita alcançar seus fins terrenos. Daí que o estudo da política requer o uso da razão natural, não se circunscrevendo apenas ao âmbito da teologia. A Igreja, por sua vez, cuidará da dimensão sobrenatural do destino humano.
Nicolau Maquiavel foi um importante historiador, diplomata, filósofo, estadista e político italiano da época do Renascimento. Nasceu na cidade italiana de Florença em 3 de maio de 1469 e morreu, na mesma cidade, em 21 de junho de 1527. Em 1513, escreveu sua obra mais importante e famosa “O Príncipe”. Nesta obra, Maquiavel aconselha os governantes como governar e manter o poder absoluto, mesmo que tenha que usar a força militar e fazer inimigos. Para este pensador, a ética politica deve ser pensada fora da ética privada. A politica, portanto, é um jogo no qual os fins justificam os meios, e o governante deve ter as habilidades necessárias para joga-lo.
Dentro dessas duas formas de pensamento foram feitas três perguntas para embasar o debate politico entre alunos:
1) A unidade entre a fé e a politica, nos dias atuais, interfere na elaboração do direito positivo (Leis)?
2) É justo utilizar da violência para governar?
3) A ética politica está dissociada da ética privada?
Estes questionamentos geraram uma boa discussão em sala. O primeiro, poderíamos relacionar com a bancada evangélica que cresce, cada vez mais, na Frente Parlamentar do Congresso Nacional e possui caráter conservador. A segunda questão foi vinculada ao uso da força pelo governo de São Paulo para tentar evitar o movimento de ocupação das escolas. E a terceira liga-se ao fato de que a maioria de nossos políticos separam a ética privada da política e, por isso se valem de meios corruptivos para atingirem seus objetivos. Para pensar!
Na próxima quinta-feira mais dois filósofos serão abordados e continuaremos a contextualiza-los com a realidade politica brasileira. Até lá.
Por: Germano Martiniano, Assessor de Comunicação FAP
Ivan Alves Filho: O Brasil completa sua Revolução Burguesa. E como vai o mundo?
11 de março de 2016Destaques,fapIvan Alves Filho,Opinião
Basta abrir as páginas de alguns jornais ou revistas para nos inteirarmos de que muita coisa ocorreu no Brasil e no mundo nos três primeiros meses de 2016, tamanho o dinamismo da vida política contemporânea. A crise brasileira, por exemplo, se aprofundou terrivelmente na esteira do transformismo — conceito tão trabalhado por Antonio Gramsci — ou da passagem de partidos ou agrupamentos do campo progressista para o campo político oposto. Contudo, não existem apenas retrocessos no país e fortes avanços democráticos também foram concretizados, até como resposta a determinados desmandos. O que se passa na esfera jurídica no Brasil hoje tem muitas semelhanças, por exemplo, com a operação Mani Pulite que sacudiu a Itália nos anos 90 do século passado. Com efeito, desde março de 2014 dezenas de empresários, altos funcionários do Estado e políticos corruptos brasileiros começaram a tomar o rumo da cadeia. O próprio ex-Presidente Lula não escapou de ter sua casa vasculhada pela Polícia Federal, que o conduziu de forma coercitiva para depor, revelando assim que ninguém está acima das leis.
E não só: as apurações vão apontando para o fato de que houve ingerência nas eleições de 2014, manipuladas por um esquema que não vacilou em violar o processo democrático. Aqueles que desviaram recursos públicos — ao menos em condições sistêmicas — parecem estar com os dias contados no Brasil atual. Vale dizer, soou a hora dos valores republicanos. O que acaba com a corrupção não é tanto a luta contra o capitalismo: havia corrupção também no chamado socialismo real e países capitalistas como a Noruega e a Dinamarca exibem índices baixíssimos de corrupção. O que de fato conta é a luta por mais democracia, isto é, pela afirmação da sociedade civil diante do Estado. No Brasil, tudo indica que a sociedade finalmente saiu à captura do Estado, exigindo mais transparência no trato com a questão pública.
Sabemos todos que o momento vivido pelo país é extremamente delicado. Basta citarmos a incrível violência que campeia nas nossas cidades, o desemprego que atinge as mais diferentes camadas da população e ainda o desencanto crescente com a ladroagem nas diferentes esferas governamentais e nas empresas estatais. Isso, para não aludirmos aos desastres ambientais, como aquele que infelicitou recentemente a histórica cidade de Mariana, em Minas Gerais. A lama que se deslocou pelas centenas de quilômetros que separam a cidade do oceano Atlântico chega a ter um efeito simbólico, metafórico.
Porém, a sociedade é sempre maior que o Estado e nós saberemos encontrar uma saída coletiva para a crise que nos assola. Vale dizer, apesar de o risco de decomposição social estar presente no país, podemos destacar, por outro lado, que o processo de afirmação da cidadania avança de forma inexorável. Um quadro difícil de entender, até. Mas uma coisa é certa: o Brasil vive hoje uma verdadeira revolução cidadã, com o início do fim do Estado privatizado pelos grandes grupos econômicos, ou do patrimonialismo de corte praticamente feudal, de um lado; e, de outro, com o aumento da consciência popular no tocante a fazer prevalecer seus direitos à educação, saúde, segurança e bem-estar. É como se a Revolução Burguesa finalmente se completasse, o país vivenciando uma espécie de 1789 em 2016, devidamente atualizado. Não por acaso os franceses tratavam-se uns aos outros por citoyens — ou cidadãos — no período da Revolução. Fui firmando esse juízo em minhas andanças pelo país e não apenas pelas leituras.
Curiosamente, a Revolução Burguesa no Brasil — uma Revolução Burguesa sem Robespierre e o Terror, diga-se de passagem — surpreendeu o Partido dos Trabalhadores, que se posicionou à direita do liberalismo clássico. Ou se preferirmos: a Revolução Burguesa colocou-se à esquerda do partido que se reivindicava dos trabalhadores. Na verdade, o PT assumiu uma série de práticas do velho coronelismo, travestido em política de Estado, como o assistencialismo, escancarando seu viés semifeudal. Ironias da História, seguramente. Na verdade, vai se firmando a convicção de que o despertar da cidadania — com o consequente aprofundamento de instrumentos de intervenção tais como uma mídia vigilante, o crescimento do papel das redes sociais e da própria transparência administrativa — é central para o pleno florescimento da democracia.
Em outras palavras, é preciso empoderar o cidadão comum em seu local de estudo, trabalho e moradia, em plena ligação com as esferas institucionais. O que se nota é que a autonomia ainda vai dar o que falar neste século: surge com força um tipo de cidadão que não se conforma em ser apenas governado, isto é, alguém que deseja igualmente opinar e mesmo influir nos assuntos governamentais a partir da sua própria realidade. Nesse sentido, a democracia não deve se limitar aos representantes institucionais do povo, podendo ainda se alastrar para o conjunto da sociedade, ao seu cotidiano. Da democracia dos políticos profissionais à democracia de toda a cidadania e de toda a militância — este o desafio maior da contemporaneidade, talvez. Pois não é possível administrar mais à moda antiga e uma nova governança se impõe. Partidos políticos continuam sendo necessários (até porque não apareceu nada capaz de substitui-los), todavia é preciso renovar as formas de participação sempre. Ou, se considerarmos melhor, democratizar um pouco mais os próprios partidos.
Há muitas mudanças no ar na América Latina. E elas são positivas. O populismo local, cada vez mais aparentado ao fascismo, vem recuando em países como a Argentina e a Venezuela. Sintomaticamente, o Chile e o Uruguai — nações onde a esquerda democrática, de base socialista ou comunista, sempre teve um certo peso político — escaparam dessa prática demagógica. O populismo opera, justamente, a partir do vácuo deixado pela esquerda democrática, identificando-se, cada vez mais, com aquilo que Karl Marx e Friedrich Engels no livro A ideologia alemã denominaram por lumpenproletariat, composto por indivíduos sem vínculo social maior. Como sabemos, a lógica dos marginais não é aquela dos incluídos socialmente, que passa pela prática da negociação. Em outros termos, os marginais trabalham com a noção do extermínio: o adversário político é, portanto, um inimigo e como tal precisa ser varrido do mapa. Com o inimigo não se negocia, não é verdade? As SS alemãs procediam dessa maneira e não por acaso alguns dos responsáveis pelo Partido Nazista eram oriundos do mundo do crime. Vinham do lumpen — ou trapo, em alemão —, justamente. Os kapos, ou responsáveis pelos campos de concentração nazistas, eram recrutados entre os prisioneiros de direito comum.
Infelizmente, a História parece se repetir em parte e o fundador de um movimento extremista de direita na Alemanha, o Pegida, é um ex-condenado por furto e tráfico de drogas. Nessa linha de cumplicidade com o crime, diversas autoridades venezuelanas já foram acusadas de controlar o comércio de drogas e o próprio presidente da República teve dois sobrinhos presos por ligações com o narcotráfico, em 2015, no Haiti. O ex-chefe de gabinete de Cristina Kirschner, Aníbal Fernández, foi acusado de controlar o tráfico na Argentina. O poderio dos traficantes avança de forma impressionante no México. Manuel Noriega, ex-militar e ex-ditador do Panamá, com notórias ligações com a CIA e veleidades populistas, se encontra preso desde 1990 por envolvimento com o comércio de cocaína e em diversos assassinatos de opositores. Na Bolívia, vários mandatários tiveram ligações com o mundo das drogas. Formou-se assim uma espécie de burguesia do crime na América Latina e o pior é que, ao propalar a ideia de que governos populistas são governos de esquerda ou progressistas, essas para lá de duvidosas lideranças chamuscam a própria prática de esquerda no subcontinente. Da mesma forma que o autoritarismo político, a escalada da inflação e a corrupção financeira, a força crescente do crime organizado na América Latina é uma ameaça ao Estado Democrático de Direito, a duras penas conquistado pelos povos da região. Ultranacionalismo, autoritarismo e manipulação demagógica dos anseios das massas têm endereço certo: fascismo.
Há motivos, no entanto, para algum regozijo, com as derrotas eleitorais recentes de Cristina Kirschner e Nicolás Maduro, conforme apontamos acima. Fora isso, o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos em 2014, assim como o avanço dos acordos de paz para pôr fim à guerra civil na Colômbia, parecem indicar que estamos finalmente assistindo ao início de um processo político mais amadurecido e consequentemente menos sujeito a manipulações por parte do autoritarismo na região. A lógica oriunda da Guerra Fria parece estar com os dias contados nas Américas. Já não era sem tempo. Entretanto, é preciso cautela e não podemos descartar artimanhas de toda sorte por parte das forças autoritárias em países como a Venezuela e a Argentina. Por seu turno, Evo Morales, na Bolívia, parece ter entendido o recado das urnas, que lhe negou um novo mandato. O verdadeiro sentido desses fatos recentíssimos que ocorrem na América Latina é a retomada do processo democrático ou uma espécie de adeus ao populismo.
Falando mais claramente ainda, pensamos que nenhuma democracia é de direita e nenhuma ditadura é de esquerda. Quanto mais examinamos as ditaduras, mais valorizamos o papel das instituições na contenção da violência. É a velha batalha entre civilização e barbárie na marcha da História. O Estado Democrático de Direito tem que ser para todos, uma vez que é uma conquista da Humanidade, atravessando o sistema de classes e os espaços nacionais. Não há razão para que as conquistas obtidas nos últimos cento e cinquenta anos — direito de voto, liberdade de reunião e de opinião, entre outras — não sejam mantidas e mesmo ampliadas hoje. A História é sempre um processo. E nunca é demais lembrar que a experiência do século XX demonstrou que um dos grandes adversários da esquerda é o autoritarismo — venha de onde vier.
O melhor seria que uma nova ordem mundial democrática seguisse à risca os ideais de justiça internacional esboçados pelo Tribunal de Nuremberg, entre 1945 e 1946, para julgar os crimes do nazismo. Faltou sem dúvida alguma um Tribunal de Nuremberg que julgasse igualmente a máquina de guerra pilotada por Richard Nixon no Vietnã. Contudo, a existência, desde 1998, de um Tribunal Penal Internacional, criado em Roma, foi um grande passo no julgamento de atos como os praticados na antiga Iugoslávia. Ainda antes de o ano de 2015 terminar, o Tribunal Regional de Frankfurt condenava, segundo a agência de notícias Deutsche Welle, um político ruandês à prisão perpétua, recusando-se a devolvê-lo às autoridades de Ruanda, temendo que ele pudesse vir a ser solto uma vez em seu país. Também os crimes cometidos pela ditadura de Bashar al-Assad, na Síria, merecem a atenção da consciência e do juízo democráticos internacionais.
Tudo indica que caminhamos para o entendimento de que os direitos humanos não têm fronteira nacional e que a integridade das pessoas está acima da lógica dos Estados. Evidentemente, ninguém pode viver isolado apenas dentro sua própria cultura, mas direito à diferença não significa tampouco tolerância para com situações de opressão. Afinal, tortura nunca foi cultura. Ainda que tentando se esconder sob o manto da política, facínora é facínora, seja ele Adolf Hitler, Muammar Khadafi, Chiang Kai-shek, Idi Amin Dada, Pol Pot, Augusto Pinochet ou Bashar Al-Assad, para ficarmos apenas em alguns notórios delinquentes do nosso tempo. Em outras palavras, os limites da nossa atuação nos parecem bem delineados e não há a menor compatibilidade entre democracia e racismo, aviltamento da condição feminina ou ainda propaganda de propostas fascistas. O sistema democrático não pode compactuar com propósitos anti-humanistas, sob pena de cavar a sua própria aniquilação, banalizando o mal, a mediocridade. Acreditamos na existência de uma razão humana universal e que fora dela não há saída possível.
Evidentemente, pertencemos a um mundo de nações, ainda que cada vez mais globalizado. E tudo que acontece no plano internacional nos afeta enormemente. É verdade que a situação em algumas partes do mundo vem se complicando, com os atentados terroristas perpetrados por mercenários e fanáticos, tanto no Oriente Médio quanto na África subsaariana e na Europa Ocidental. O alvo desses ataques é a própria vida das pessoas, além da democracia e da cultura humanista obviamente. O Papa Francisco tem alertado constantemente a opinião pública para as ameaças que pairam sobre o processo civilizatório no mundo.Toda vez que as bases desse processo são atacadas, a barbárie se apresenta. Assim, democracia, humanismo, coexistência pacífica entre os povos, direito de ir e vir são conquistas da Humanidade e não de uma determinada região ou de um dado sistema político. Ou muito menos de uma classe social. Afora alguns mercadores de armas, ditadores e grupos terroristas covardes, alguém teria dúvida em escolher entre a paz e a guerra?
Mas precisamos também admitir que muitas vezes o horror está dentro de nós mesmos e os riscos de um conflito generalizado são reais. No seu belíssimo e oportuno relato intitulado Infiel, Ayaan Hinsi Ali, uma corajosa intelectual feminista somali, foi direto ao assunto, criticando aqueles que pretendem impor a centenas de milhões de seres humanos de hoje “a mentalidade do deserto árabe do século VII”. Evidentemente, isso não pode dar certo nem para quem vive no deserto árabe no século XXI. Têm culpa nesse cartório não somente o autoproclamado Estado Islâmico como também as intervenções militares promovidas pelas potências expansionistas e, ainda, algumas ditaduras sanguinárias que resistem aos ventos libertários que assolam o Oriente Médio. Tenderíamos a dizer que a batalha política atual implica evitar que a Síria seja a Espanha da Terceira Guerra Mundial. Como sabemos, a aliança da União Soviética — então se reivindicando do socialismo — com os Estados Unidos — país ainda hoje símbolo do liberalismo — foi fundamental para barrar o nazismo e o fascismo no mundo, possibilitando estancar a escalada terrível da Segunda da Grande Guerra. Se os homens então no poder na União Soviética se aliaram aos liberais, mais uma razão para que aqueles que se reclamam da esquerda — hoje infinitamente menos influentes, por sinal, do que naquela época — percebam a importância histórica de um acordo com os liberais de hoje para evitar o pior.
Sob esse prisma, nos parece fundamental a defesa que o Partido Democrático da Itália faz do espaço europeu, por exemplo. De qualquer forma, os dados estão lançados e o que não falta são ingredientes explosivos no tabuleiro. Todo o cuidado é pouco: posturas reacionárias e belicistas da Rússia de Vladimir Putin, surgimento da candidatura Trump beirando a psicopatia nos Estados Unidos, avanço das ações terroristas no plano internacional, desempenhos eleitorais surpreendentes da extrema-direita na Escandinávia e na Suíça, abalos no comportamento da economia chinesa, problemas com a integração de imigrantes na Europa Ocidental, na esteira do desmoronamento do mundo colonial e das dificuldades que as democracias ocidentais tiveram de incorporar esses novos cidadãos. Dados divulgados pela ONU, em dezembro de 2015, indicavam que havia 60 milhões de refugiados no mundo. Uma catástrofe humanitária, realmente. Uma excelente notícia, em meio a tudo isso, foi a derrota da proposta racista reunida em torno da Frente Nacional na França, nas eleições regionais de 2015. A provável — e por nós para lá de desejável — vitória do Partido Democrata nos Estados Unidos nas eleições presidenciais de 2016 certamente dará algum alento ao quadro internacional também. Outra boa notícia, já no início de 2016, é que as relações entre o Ocidente e o Irã tendem a se normalizar. E nem é preciso lembrar novamente o quanto a estabilidade na União Europeia é condição básica para a própria estabilidade mundial.
A democracia, até para poder se firmar como um valor de fato universal, como sonhou o líder comunista italiano Enrico Berlinguer, tem de estar em permanente construção, alimentando-se da seiva de todas as lutas travadas pelos homens, em todos os quadrantes. A busca por um novo processo civilizatório não pode prescindir das liberdades cívicas e dos direitos e deveres de cada um de nós. Isso é certo. Mas também é correto apontar que se faz necessário repensar a organização da vida econômica sob outros moldes. Constatar, por exemplo, que a polarização não se dá entre a propriedade estatal, de um lado, e o mercado ou a propriedade privada dos grandes grupos econômicos, de outro. Isso porque a noção de propriedade pública e do trabalho por conta própria começa a abrir espaços, sinalizando para novas formas de se viver e produzir em sociedade. No embate entre Estado e mercado, a sociedade detém a palavra final. E mercado algum pode se sobrepor à sociedade. As forças progressistas têm de estar antenadas com esse novo tempo, retirando todas as consequências advindas disso. Um sistema econômico voltado unicamente para o lucro conduz a sociedade humana a um impasse.
Centrando sua crítica à visão utilitária da cultura, um intelectual como Nuccio Ordine tem batido ultimamente nessa tecla com muita propriedade. Desemprego em massa no mundo, instrumentalização da cultura, danos terríveis ou até irreversíveis causados ao meio ambiente, lucros exorbitantes na esfera financeira — tudo isso vai tornando as sociedades humanas irrespiráveis, inviáveis. A luta pela igualdade de oportunidades econômicas e culturais areja a própria estrutura política pois a Democracia é sempre uma totalidade e não existe uma liberdade separada das demais. O avanço da automação, como salientamos, tem um potencial transformador extraordinário, se encararmos a economia como algo voltado para a satisfação das necessidades das pessoas e não apenas do grande capital. Entendida assim, a automação é a base técnica da sociedade sem classes.
Como nos revelam os quadros de Marc Chagall, os filmes de Vittorio De Sica, os romances de Maximo Górki, a arquitetura de Oscar Niemeyer ou as canções de John Lennon, o sonho é fundamental em nossa existência. Vida é risco, e não há motivo para que nos identifiquemos com Enrico Brentani, personagem de Italo Svevo em Senilidade, “que ia atravessando a vida cauto, deixando de parte todos os perigos mas também todo o deleite, toda a felicidade”. O engajamento é o outro nome do sonho. Aprendemos com Thomas Mann o quanto é dúbio, para dizer o mínimo, um comportamento pautado pelo “intimismo à sombra do poder”. Daí a necessidade de contribuirmos para a reconstrução da esquerda, até como forma de revitalizar o próprio Humanismo.
Ivan Alves Filho é historiador.
Fonte: www.acessa.com/gramsci/
Eliseu Neto: A luta pela diversidade nas escolas
10 de março de 2016Notícias,DestaquesPPS,diversidade,Eliseu Neto
Nos planos nacional, estaduais e municipais de educação debatidos em 2014/2015, havia uma previsão de combate a toda forma de discriminação, “especialmente por raça, orientação sexual e gênero”.
Os planos estaduais e municipais falavam em “identidade de gênero” também, relacionada a travestis e transexuais; orientação sexual refere-se a gays, lésbicas e bissexuais; gênero refere-se a homens e mulheres cisgêner@s.
Os setores fundamentalistas e conservadores fizeram um grande alarde deturpando a discussão e conseguiram excluir a menção a orientação sexual, a identidade de gênero e mesmo a gênero dos planos. Inventaram a expressão “ideologia de gênero”, que não existe nos estudos de gênero e sexualidade, como forma de argumentação ad terrorem sobre o tema.
Isso gerou duas situações nos estados e municípios país afora: (i) ausência de menção a gênero, orientação sexual e identidade de gênero, com intuito de proibir essas discussões – parece a regra e foi também o caso do Plano Nacional; (ii) proibições expressas nos planos sobre discutir temas de orientação sexual, identidade de gênero e gênero nos planos.
No primeiro caso, considero que cabe ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) e, no segundo, ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade).
Alguns dizem que pelos planos coibirem genericamente toda forma de discriminação e a Constituição também, então seria “desnecessária” a previsão expressa.
Mas na teoria jurídica, quando se identifica uma “vontade do legislador”, muitos acabam interpretando a lei dessa forma, sendo assim necessário declarar a inconstitucionalidade dessa “vontade do legislador”
Por outro lado, é politicamente muito importante ao Movimento LGBT ter uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) obrigando o Estado Brasileiro (União, Estados, DF e Municípios) a combater o bullying homofóbico e transfóbico nas escolas.
É só isso que queremos: que as escolas expliquem aos alunos e alunas que existem crianças LGBT e que elas devem ser respeitadas enquanto tais. Diversas matérias já foram feitas pela mídia sobre crianças transexuais, por exemplo, e pouquíssimo tempo atrás saiu uma decisão judicial permitindo mudança de nome e sexo de uma criança trans justamente por isso.
Nada além disso: explicar os conceitos de gênero, orientação sexual e identidade de gênero, numa linguagem adequada, e ensinar a respeitar as orientações sexuais não-hetossexuais e as identidades de gênero transgêneras.
Eliseu Neto é psicanalista, professor universitário, gestor de carreiras e coordenador do PPS Diversidade.
Nas Entrelinhas: O comunista e o empreiteiro
10 de março de 2016Notícias,Destaques,opiniãoLuiz Carlos Azedo,Opinião
Condenado a quase 20 anos, o maior empreiteiro do país responde a outros processos e corre o risco de mofar na prisão.
O deputado comunista Fernando Sant’Anna (1915-2012) era amigo do peito do empreiteiro Norberto Odebrecht (1920-2014). O primeiro era filho do Coronel Pompílio de Sant’Anna, patriarca da tradicional família de Irará, no interior da Bahia, à qual se refere Gilberto Gil no Baião Atemporal (uma homenagem ao produtor musical Roberto Sant’Anna, um dos criadores da Tropicália). A família se dividia em dois ramos políticos: um udenista e outro comunista.
Pernambucano, Norberto era filho de Emílio Odebrecht, que se mudaria para Salvador, na Bahia, área metropolitana promissora para o mercado da construção civil. Era bisneto de Emil Odebrecht, um engenheiro e cartógrafo alemão, que emigrou para o Brasil em 1856. Após se formar na Escola Politécnica da Bahia, em 1944, fundou a empresa de construção que deu origem ao que é hoje a Organização Odebrecht, sediada na capital baiana.
Norberto dividia o escritório que o coronel Pompílio havia bancado para o filho Fernando, seu amigo e colega de turma, recém-formado no curso de Engenharia Civil da então Escola Politécnica da Bahia. Santana, como assinaria na política, era um jovem líder estudantil, militante do Partido Comunista, que havia se reorganizado clandestinamente durante a ditadura de Vargas.
Enquanto Norberto erguia seu império, Santana se dedicava à política. Era fundador da UEB (União dos Estudantes da Bahia) e foi o primeiro presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), eleito em 1942. Tornou-se engenheiro-chefe do Segundo Distrito da Aeronáutica (Bahia e Sergipe), em 1945; depois, foi chamado a trabalhar como assessor direto do educador Anísio Teixeira, no governo de Octávio Mangabeira, como engenheiro-chefe encarregado da “Planificação e Construção de Escolas Públicas”.
Fernando Sant’Anna foi eleito deputado federal em 1959. Sua campanha foi financiada pelo amigo Norberto. Em 1964, cassado pelos militares, se exilou no Chile, na União Soviética e na Iugoslávia. Durante esses anos, contou com a ajuda do amigo. Anistiado em 1979, voltou ao Brasil e foi eleito deputado federal pelo PMDB em 1982; em 1986, foi eleito para a Constituinte pelo PCB. As duas campanhas foram financiadas pela Odebrecht. Norberto chamava um dos engenheiros de sua empresa, comunista como Santana, e perguntava: de quanto é que o Fernando vai precisar para a campanha? Santana nem tomava conhecimento do problema. E passou ao largo do escândalo da CPI do Orçamento, no qual a Odebrecht esteve envolvida. Morreu aos 96 anos, na sua Irará, vítima de infarto. Era o presidente de honra do PPS. Não deixou fortuna para os herdeiros.
Outra geração
Ontem, a Justiça Federal condenou o empresário Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato (corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa). O juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, foi duríssimo: “há um conjunto de provas muito robusto que permite concluir, acima de qualquer dúvida razoável, que o pagamento das propinas pelo Grupo Odebrecht aos agentes da Petrobras, com destinação de parte dos valores a financiamento político, não foi um ato isolado, mas fazia parte da política corporativa do Grupo Odebrecht, e que Marcelo Bahia Odebrecht foi o mandante dos crimes praticados mais diretamente pelos executivos Márcio Faria da Silva, Rogério Santos de Araújo, Cesar Ramos Rocha e Alexandrino Alencar (…)”.
Neto de Norberto e filho do casal Emílio Alves Odebrecht (fundador da Braskem) e Regina Bahia, Marcelo liderou a era de ouro do grupo familiar, que tem 15 divisões e presença em 21 países. Ele sucedeu seu pai, Emílio, no fim de 2008, em meio à crise financeira global, aos 40 anos. Engenheiro formado na Bahia, fez mestrado em Lausane, na Suíça. É o maior empregador do país e líder de um dos cinco principais grupos privados nacionais. Sua ascensão coincide com o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretendia transformar o Brasil em potência global através da promoção de empresas nacionais.
Nem de longe sua relação com Lula se compara à de Léo Pinheiro, o ex-presidente da OAS, mas, desde que assumiu o comando da empresa, a Odebrecht obteve do BNDES R$ 5,8 bilhões em empréstimos para financiar projetos do grupo no exterior, como o Porto de Muriel, em Cuba. Nos bastidores da Lava-Jato, diz-se que negocia com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro a possibilidade de fazerem acordos de delação premiadas simultâneos, para salvar as duas empresas. O maior empreiteiro do país responde a outros processos e corre o risco de mofar na prisão.
Por: Luiz Carlos Azedo
Fonte: Correio Braziliense