Jair Bolsonaro e Wilson Witzel eram aliados, viraram concorrentes e hoje são inimigos. Mas há algo que ainda os une: o descaso com a saúde pública.
O presidente já forçou a saída de dois ministros na pandemia. Sem encontrar outro médico disposto a rasgar o diploma, entregou a pasta da Saúde a um general paraquedista. O interino tem fracassado no combate ao vírus. Até aqui, só se notabilizou pela tentativa de maquiar estatísticas e esconder mortes pela Covid.
O governador do Rio também perdeu dois secretários em plena crise. O primeiro, Edmar Santos, caiu num escândalo de corrupção. O segundo, Fernando Ferry, pediu demissão para não “sujar o CPF”. Ameaçado de impeachment, Witzel imitou Bolsonaro e foi buscar o substituto no quartel. Seu terceiro secretário de Saúde é Alex Bousquet, coronel do Corpo de Bombeiros.
Em entrevista ao GLOBO, Ferry descreveu um cenário de descontrole. “É um descalabro administrativo muito grande, que nunca vi na vida. É muita improbidade”, contou ao repórter Paulo Cappelli. O médico se queixou da falta de equipamentos e remédios. “O poço é muito mais fundo do que eu pensava”, resumiu.
Na gestão Witzel, a saúde pública voltou a virar caso de polícia. Nos últimos dois meses, três operações desmontaram esquemas no setor. Uma delas incluiu buscas no Palácio Laranjeiras. Dois subsecretários e um superintendente foram para a cadeia, acusados de fraudes.
Além das prisões, três fatos ajudam a dar a dimensão do descalabro. O Estado comprou mil respiradores mecânicos e só recebeu 52. O governador anunciou sete hospitais de campanha e só entregou dois. A Secretaria de Saúde firmou 66 contratos emergenciais e 44 foram cancelados por irregularidades graves.
As mortes continuam em alta no Brasil e no Rio, mas Bolsonaro e Witzel seguem de costas para a pandemia. O presidente faz de tudo para evitar a prisão do filho, e o governador só pensa em salvar o próprio mandato.
**
Mais um feito da Nova Era: para se blindar de processos, o capitão conseguiu desmoralizar até o “Diário Oficial”.