Em 20 de março, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não estava preocupado com a Covid. O Brasil ainda registrava uma dezena de mortes, mas ele já havia sido alertado sobre a gravidade da doença. “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?”, desdenhou.
Nesta quinta-feira, o Capitão Corona disse que o país vive “um finalzinho de pandemia”. Os números oficiais contam outra história. Das 27 unidades da federação, 22 registram alta nas mortes. Mais de 30 mil pessoas estão internadas com o vírus, e ao menos seis capitais já ultrapassam os 90% de lotação nas UTIs.
Entre as duas declarações presidenciais, passaram-se 265 dias e morreram mais de 179 mil brasileiros pela Covid. Confirmou-se o pior cenário projetado no início do ano pelo ministro Luiz Henrique Mandetta. Ele tentou convencer Bolsonaro a levar a pandemia a sério, mas foi demitido porque não se curvou ao negacionismo do chefe.
Bolsonaro escolheu ficar sem ministro da Saúde na maior crise sanitária em um século. Depois da breve passagem de Nelson Teich, entregou a pasta a Eduardo Pazuello, aquele que “nem sabia o que era o SUS”. O general admitiu sua falta de autonomia com a sutileza de um mamute: “Um manda e o outro obedece”. Agora ficou claro que ele ainda não faz ideia de onde pisa.
Na terça-feira, Pazuello disse que a Anvisa levaria 60 dias para autorizar uma vacina. Na quinta, passou a falar em liberação até o fim de dezembro. Na sexta, ameaçou confiscar o imunizante do Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. O porta-voz da bravata foi o governador bolsonarista de Goiás, Ronaldo Caiado.
O vaivém mostrou o general como um soldado perdido, à espera de ordens que não chegam. O Planalto não tem um plano contra a Covid. Sua única obsessão é impedir que o tucano João Doria se apresente como vencedor da guerra das vacinas. Se isso resultar em mais mortes, paciência. O presidente só se importa com a própria reeleição.
Desde o início da crise sanitária, o capitão aposta na desinformação para esconder sua incompetência. Ele mentiu ao esconder o potencial do vírus. Agora volta a mentir ao dizer que o perigo passou. As declarações sobre “gripezinha” e “finalzinho de pandemia” expõem Bolsonaro como ele é: um político no diminutivo, que nunca esteve à altura da Presidência.