Bernardo Mello Franco: Um antiministro no Meio Ambiente

Ricardo Salles transformou o ministério num playground dos ruralistas. Sua meta é destruir o que devia proteger.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom

Ricardo Salles transformou o ministério num playground dos ruralistas. Sua meta é destruir o que devia proteger

Entre a eleição e a posse, o presidente Jair Bolsonaro desistiu de extinguir o Ministério do Meio Ambiente. Talvez fosse melhor ter mantido o plano original. A nomeação de Ricardo Salles transformou a pasta num playground da bancada ruralista. Ele atua como um antiministro, empenhado em destruir o que deveria proteger.

A escolha do advogado paulista já foi uma provocação. Antes de assumir o cargo, ele foi condenado por improbidade administrativa, acusado de fraudar um plano de manejo para favorecer mineradoras. Fundador do grupo Endireita Brasil, candidatou-se a deputado pelo Partido Novo, financiado por fazendeiros e fabricantes de armas. Não se elegeu, mas arrumou uma boquinha no governo do capitão.

Desde janeiro, Salles tem se dedicado ao desmonte do ministério. Acabou com a secretaria de mudanças climáticas e apoiou a transferência do Serviço Florestal Brasileiro e da Agência Nacional de Águas para outras pastas.

O antiministro também se especializou em ameaçar e perseguir servidores. Em fevereiro, promoveu uma demissão em massa no Ibama. Cortou as cabeças de 21 dos 27 superintendentes regionais do órgão, responsável pelo combate ao desmatamento.

Em março, transferiu a atuação do atacado para o varejo. Ele exonerou José Augusto Morelli, fiscal do Ibama que autuou Bolsonaro por pesca ilegal em 2012. O então deputado foi fotografado com a vara de pescar numa estação ecológica, mas alegou que estava no aeroporto. A multa foi cancelada no apagar das luzes do governo Temer.

Nos últimos dias, Salles radicalizou a caça aos servidores. Abriu processo disciplinar contra funcionários do ICMBio que não compareceram a uma reunião dele com parlamentares ligados ao agronegócio. A atitude levou o presidente do órgão a entregar o cargo. Em nota, servidores acusaram o ministro de trabalhar pela “destruição da gestão ambiental federal”.

O clima de intimidação tem produzido resultados. No início do mês, o presidente do Ibama se dobrou à pressão e autorizou um leilão de petróleo próximo a Abrolhos. Ignorou um parecer técnico que alertou para o risco de um vazamento atingir o paraíso de corais. No país de Mariana e Brumadinho, não parece exagero temer por uma nova tragédia em alto-mar.

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