Todo governo costuma começar com um mês de lua de mel. A estreia de Bolsonaro tem sido diferente. O presidente mal tomou posse e já enfrenta uma crise
Todo governo costuma começar com um mês de bonança. Com o Congresso e o Supremo em recesso, o novo presidente concentra os holofotes em Brasília. É tempo de fazer anúncios e aproveitar a lua de mel com o eleitor.
A estreia de Jair Bolsonaro tem sido diferente. O presidente mal tomou posse e já enfrenta uma crise. O novo governo parece ter ficado velho antes da hora.
O bolsonarismo chegou ao poder com um tripé de promessas: combater a corrupção, enfrentar a criminalidade e reformar a economia. A primeira perna bambeou depressa. Ficou difícil levar o discurso ético a sério depois de conhecer Fabrício Queiroz.
Ontem Bolsonaro indicou que pode jogar o primeiro-filho ao mar. “Se pro acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar”, disse. O problema é que não dá para separar Jair dos rolos de Flávio. O presidente recebeu ao menos R$ 24 mil do motorista, em depósitos na conta da primeira-dama. Ele ainda deu emprego à filha de Queiroz, que postava fotos na praia quando deveria estar em seu gabinete.
A promessa de “jogar duro” contra a violência também anda em xeque. O envio da Força Nacional não parou a onda de ataques no Ceará, e Bolsonaro tentou vender ilusões com o decreto das armas.
Na segunda-feira, o vice Hamilton Mourão deixou claro que não se tratou de uma medida de combate à violência. “Eu vejo apenas, única e exclusivamente, como um atendimento a promessas de campanha”, afirmou.
Restaria a Bolsonaro avançar no front econômico. Nesta semana, ele desperdiçou uma chance ao passar por Davos sem anunciar nada de concreto. Fez um discurso relâmpago e fugiu da imprensa internacional.
Ontem o mercado ganhou outros motivos para se preocupar. O presidente indicou que não tem pressa para mexer na aposentadoria dos militares, e o documento com metas para os primeiros cem dias de governo ignorou a reforma da Previdência.
A lista de prioridades teve espaço para uma medida cosmética: a volta do brasão da República aos passaportes. Segundo a Casa Civil, a mudança gráfica vai “fortalecer a identidade nacional e o amor à pátria”.