Desde a campanha, Bolsonaro promete facilitar a vida dos desmatadores. No poder, ele se aliou aos madeireiros e passou a hostilizar líderes indígenas e ambientalistas
Não cabia mais ninguém no auditório da Fiesp. Numa noite fria de junho, o presidente cantou o Hino Nacional, posou para fotos e ganhou uma medalha dos capitães da indústria. Depois caminhou até a tribuna e passou a elogiar o ministro do Meio Ambiente.
“O Ricardo Salles é um homem que está no lugar certo”, exaltou. “Os produtores rurais, cada vez mais, têm menos medo do Ibama. Eu paguei uma missão para ele: ‘Mete a foice em todo mundo’. Não quero xiita ocupando esses cargos”, prosseguiu.
A plateia interrompeu o discurso com aplausos. Animado, Jair Bolsonaro continuou a enaltecer o ministro. “Não podemos ter uma política ambiental como tínhamos há pouco tempo”, disse. Em seguida, esbravejou contra a demarcação de terras indígenas e prometeu acabar com a “indústria de estações ecológicas”.
Ontem o Inpe divulgou os dados do Prodes, que mede a taxa anual de desmatamento da Amazônia. A devastação chegou a 9.762 quilômetros quadrados, o pior resultado desde 2008. Em 12 meses, o Brasil perdeu o equivalente a um Líbano de florestas.
“Os números são um atestado do desastre que estamos vivendo”, diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “E o principal motivo é a agenda antiambiental de Salles e Bolsonaro”, resume.
Desde a campanha, o presidente promete facilitar a vida dos desmatadores. No poder, ele se aliou a garimpeiros, madeireiros e grileiros de terras. Para agradá-los, passou a hostilizar líderes indígenas e ambientalistas que se ariscam na defesa da mata.
Em agosto, Bolsonaro brigou com os números do Inpe e demitiu o cientista que dirigia o instituto. A atitude só serviu para minar a credibilidade do país, que voltou a ser visto como um vilão ambiental.
Recrutado no Partido Novo, Salles se revelou o homem certo para “meter a foice” e desmontar os órgãos de fiscalização. Enquanto a Amazônia ardia, as autuações por crime ambiental recuaram 23%. Na Fiesp, Bolsonaro disse aos empresários que as punições “vão continuar diminuindo”. “Vamos acabar com essa indústria da multa”, prometeu.