Nos anos 80, Paulo Guedes ganhou o apelido de Beato Salu. O economista era conhecido pelo hábito de fazer previsões apocalípticas. Lembrava o personagem da novela “Roque Santeiro” que vivia anunciando o fim do mundo.
A serviço do bolsonarismo, o pessimista crônico se converteu num mercador de ilusões. Faz profecias que não se confirmam e divulga planos que não saem do papel. Na semana passada, ele garantiu que “lá para setembro, outubro, novembro, nós já estamos num novo país”. Faltou dizer de que ano.
Antes da pandemia, Guedes já era especialista em anunciar terrenos na Lua. Na campanha, ele prometeu arrecadar um trilhão de reais com a venda de imóveis da União. Depois prometeu outro trilhão com a privatização de estatais. Há poucos dias, requentou a promessa de vender a Eletrobras até dezembro. A ideia é descartada por nove entre dez parlamentares.
No intervalo entre os factoides, o ministro se dedica a causas exóticas. Uma de suas favoritas é a liberação dos cassinos, defendida por um poderoso lobby em Brasília. Na famosa reunião de 22 de abril, ele tratou do assunto com polidez: “Deixa cada um se f… do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa cada um se f…, pô!”.
Após a chegada do coronavírus, o discurso ultraliberal de Guedes virou conversa de alienígena. A contragosto, ele tem sido obrigado a abrir os cofres para socorrer os mais pobres. Mesmo assim, insiste em fazer previsões sem lastro na realidade.
Na semana em que o Brasil entrou em quarentena, o ministro assegurou que o impacto da pandemia seria mínimo. No cenário que chamou de “mais grave”, o PIB cresceria 1%. O Banco Mundial ignorou o blefe e projetou um tombo de 8%. Agora o governo retaliou a entidade com o envio de Abraham Weintraub a Washington.
Ontem o Fundo Monetário Internacional anunciou uma previsão ainda mais lúgubre: a economia brasileira pode encolher 9,1%. Para reagir à nova desfeita, Guedes deveria exportar a ministra Damares Alves. O FMI não perde por esperar.