Jair Bolsonaro quer bajular Donald Trump até o fim. Em Washington, o republicano se recusa a admitir que foi derrotado por Joe Biden. Em Brasília, seu imitador se finge de morto para não cumprimentar o presidente eleito.
A birra de Bolsonaro expõe o país a mais um vexame diplomático. Ao ignorar a vitória de Biden, o Brasil aprofunda seu isolamento no mundo. Outras nações governadas pela ultradireita, como Hungria e Polônia, já reconheceram a derrocada de Trump.
Por aqui, todos os ex-presidentes vivos deram os parabéns ao democrata: Sarney, Collor, FH, Lula, Dilma e Temer. A galeria reúne políticos de esquerda, de direita e de centro. Só o extremista Bolsonaro, atual inquilino do Planalto, insiste na tática do avestruz.
Não é por falta de oportunidade. Ontem o capitão conversou com eleitores, discursou numa solenidade e fez propaganda para candidatos a prefeito de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus, Santos e Parnaíba. Pediu voto até para Wal do Açaí, que foi apontada como sua funcionária fantasma e agora quer ser vereadora em Angra dos Reis.
Bolsonaro falou de tudo, menos do que interessa. Na cerimônia oficial, repórteres tentaram saber quando ele pretende cumprimentar Biden. O presidente ouviu as perguntas, mas desviou o olhar e saiu de fininho.
Um chanceler com juízo teria evitado o novo desastre diplomático. Mas o Itamaraty permanece nas mãos de Ernesto Araújo, que vê comunistas embaixo da cama e enxerga em Trump o salvador do Ocidente.
O capitão insiste em pôr paixões ideológicas acima do interesse nacional. Ele já havia hostilizado a China, provocado os países árabes e boicotado líderes eleitos na Argentina e na Bolívia. Agora comete outro erro grave para não melindrar seu ídolo americano.
Os dois presidentes se comportam como meninos mimados. O americano sai de cena como mau perdedor, e o brasileiro mostra, mais uma vez, que é incapaz de ser pragmático e agir como um adulto. As relações de Biden e Bolsonaro já seriam difíceis sem esse chororô. Agora devem começar sob tensão ainda maior.