Bernardo Mello Franco: Haddad e a sina do segundo poste

“Eu sou o segundo poste do Lula. Tão sabendo disso, né?”. Ao comemorar a eleição para a Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad ironizou quem duvidara do seu potencial. Seis anos e uma derrota depois, ele tentará repetir a proeza na corrida ao Planalto.
Foto: Heloisa Ballarini/ Secom
Foto: Heloisa Ballarini/ Secom

“Eu sou o segundo poste do Lula. Tão sabendo disso, né?”. Ao comemorar a eleição para a Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad ironizou quem duvidara do seu potencial. Seis anos e uma derrota depois, ele tentará repetir a proeza na corrida ao Planalto.

Desta vez, a tarefa promete ser mais difícil. Em 2012, Lula estava livre para comandar a campanha do afilhado. Agora só deverá aparecer em imagens de arquivo, gravadas antes de sua prisão. Haddad também perdeu a aura de novidade. Além disso, terá que explicar por que os paulistanos reprovaram seu desempenho. Ele tentou a reeleição, mas foi atropelado por João Doria no primeiro turno.

Quem entende de pesquisas diz que o petista tem boas chances de chegar lá. Apesar de aparecer com apenas 1% das intenções de voto, ele deve herdar grande parte do espólio de Lula. No último Datafolha, 30% dos brasileiros afirmaram que votariam “com certeza” no candidato apoiado pelo ex-presidente. Outros 17% responderam que “talvez” escolham o poste.

O primeiro desafio de Haddad é se tornar conhecido fora de São Paulo. Ele precisará ganhar terreno no Nordeste, onde Lula lidera com 49%. Lá seu adversário direto é Ciro Gomes. Ex-governador do Ceará, o pedetista apostava na região para se tornar competitivo. O acordo dos petistas com PSB e PCdoB tende a esvaziá-lo. Ciro já acusou o golpe, ao reclamar que levou uma “punhalada nas costas”.

Haddad também terá trabalho para seduzir os próprios aliados. Boa parte do PT preferia Jaques Wagner, que é mais identificado com as bases do partido. O professor universitário não tem a mesma capacidade de mobilização. À frente da maior cidade do país, foi acusado de dedicar mais tempo à intelectualidade uspiana do que aos eleitores da periferia.

Para um ex-ministro de Lula, o novo presidenciável terá que mudar o estilo na campanha. “O Haddad é ótimo para defender o nosso projeto, mas tem muita dificuldade na ligação com o povo”, define. Sem driblar essa limitação, ele diz que será quase impossível erguer o segundo poste.

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