Bernardo Mello Franco: Bispo no xadrez – Crivella foi mau prefeito e mau profeta

Depois de se mostrar um mau prefeito, Marcelo Crivella também se revelou um mau profeta. O bispo passou a campanha anunciando a prisão do adversário Eduardo Paes. Ontem ele é que foi em cana, acusado de chefiar um esquema de corrupção.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Depois de se mostrar um mau prefeito, Marcelo Crivella também se revelou um mau profeta. O bispo passou a campanha anunciando a prisão do adversário Eduardo Paes. Ontem ele é que foi em cana, acusado de chefiar um esquema de corrupção.

De acordo com as investigações, o grupo começou a faturar antes da eleição de 2016. Quando o bispo virou prefeito, seus aliados montaram um “quartel-general da propina” para fraudar licitações e achacar fornecedores.

O Ministério Público apontou Crivella como o “vértice” da organização criminosa. O principal operador era o lobista Rafael Alves. Ele instalou o irmão na Riotur e passou a despachar na Cidade das Artes e acompanhar as caminhadas matinais do prefeito.

Ao examinar as provas, a desembargadora Rosa Helena Guita concluiu que a quadrilha atuou de modo permanente, “ao longo dos quatro anos de mandato” e “nos mais variados setores da administração”.

Às vésperas do Natal, ela determinou que o bispo fosse recolhido ao xadrez. Os fundamentos da prisão preventiva eram questionáveis, e a decisão foi cassada horas depois pelo STJ. No entanto, o desvio de ao menos R$ 53 milhões parece bem documentado na denúncia.

O esquema de Crivella recicla personagens de outros escândalos fluminenses. O doleiro Sergio Mizrahy, que delatou o grupo, já havia sido preso na Lava-Jato. O empresário Arthur Soares, acusado de abastecer a turma, reinou no governo de Sérgio Cabral.

O marqueteiro Marcelo Faulhaber, denunciado como integrante da quadrilha, coordenou a campanha de Paes neste ano. Por via das dúvidas, o prefeito eleito evitou festejar a derrocada do rival.

A prisão de Crivella antecipa o fim de uma gestão marcada pela desordem administrativa e pela mistura entre fé e política. Ele já havia garantido o título de pior prefeito da história da cidade. Ontem saiu de cena de camburão, a nove dias do fim do mandato.

A queda do bispo abala o projeto de poder da Igreja Universal. Edir Macedo apostava no sobrinho para mandar sem intermediários. Agora terá que barganhar mais espaço no governo do aliado Jair Bolsonaro

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