Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que daria uma “voadora no pescoço” de quem praticasse corrupção. No mesmo dia, a Polícia Federal flagrou um dos vice-líderes de seu governo com dinheiro escondido entre as nádegas.
A PF apreendeu R$ 33 mil na cueca do senador Chico Rodrigues. Segundo os agentes, parte do butim estava ocultada “em regiões íntimas”. A filmagem da operação registrou cenas escatológicas. Para nos poupar delas, o ministro Luís Roberto Barroso mandou trancar o vídeo num cofre.
O senador do DEM é suspeito de desviar verbas federais enviadas a Roraima combater a pandemia. Os investigadores afirmam que ele ajudou a fraudar a compra de testes da Covid. O Estado tem 15 municípios, mas só a capital conta com leitos de UTI.
Rodrigues e Bolsonaro são amigos há mais de 20 anos. “É quase uma união estável”, definiu o capitão. Como acontece nas relações duradouras, os dois já trocaram muitos favores. O senador empregou um sobrinho do presidente como aspone, com salário de R$ 23 mil.
Ontem Bolsonaro tentou se desvincular do flagrante. Disse que a operação demonstrou não haver corrupção em seu governo. O capitão opera com uma lógica peculiar. Tenta vender a descoberta do roubo como prova de que não existiria roubalheira.
O roraimense se juntou a uma lista crescente de bolsonaristas na mira da polícia. No mês passado, o líder do governo na Câmara foi alvo de uma operação no Paraná. Em 2019, a PF fez buscas no gabinete do líder no Senado. Os dois continuam em seus cargos.
A poupança de Rodrigues também impõe constrangimentos ao Congresso. Ele participava de uma comissão criada para fiscalizar a aplicação de verbas na pandemia. Só não foi preso preventivamente porque tem imunidade parlamentar.
Agora o Senado terá que decidir se mantém ou revoga seu afastamento, decretado pelo ministro Barroso. Ainda que venha a ser cassado, ele continuará a mandar no gabinete. O primeiro suplente, Pedro Arthur Rodrigues, é seu filho.