Governo Bolsonaro nomeia diretora de combate à pedofilia após cargo ficar vago por quase um mês
Paulo Motoryn | Brasil de Fato
O governo de Jair Bolsonaro (PL) nomeou, nesta terça-feira (25), uma servidora para ocupar o cargo de diretora do Departamento de Enfrentamento de Violações aos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O comando da área, que é responsável por estratégias de combate à exploração sexual e à pedofilia, estava vago desde o início de outubro. De acordo com portaria publicada no Diário Oficial da União, a função agora será ocupada por Daniella Martins da Silva, que, até então, era coordenadora-Geral do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
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De acordo com nota do governo federal enviada ao Brasil de Fato, a servidora Denise Avelino, atual coordenadora-geral de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, exerceu o encargo de diretora-substituta do Departamento Enfrentamento de Violações aos Direitos da Criança e do Adolescente no período em que o posto ficou vago.
Segundo as informações do currículo da nova diretora do departamento, Daniella Martins da Silva, disponível no site do governo federal, ela não tem nenhuma experiência profissional ou acadêmica na área.
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De acordo com os dados do "Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil", produzido pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2020, foram registrados 179.277 casos de estupro ou estupro de vulnerável com vítimas de até 19 anos – uma média de quase 45 mil casos por ano. Crianças de até 10 anos representam 62 mil das vítimas nesses quatro anos, ou seja, um terço do total.
A maioria das vítimas são meninas, que representam quase 80% dos casos. Na maior parte das vezes, elas têm entre 10 e 14 anos, sendo 13 anos a idade mais frequente.
"Pintou um clima"
A nomeação surge na semana seguinte a uma fala de caráter pedófilo do presidente da República, em entrevista ao podcast e canal de YouTube "Paparazzo Rubro-Negro". Na declaração, ele contou que, em um passeio de moto por uma comunidade de Brasília, "pintou um clima" ao ver meninas de 14 e 15 anos e que teria pedido para ir à casa delas logo depois. O caso teria acontecido em 2021.
"Eu parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida", declarou.
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A declaração de Bolsonaro as adolescentes estavam "arrumadas para ganhar a vida" também é errada. Na realidade, tratavam-se de imigrantes venezuelanas que residem em São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal. "Não tem nada a ver com o que ele está falando", disse uma das adolescentes, que prefere proteger sua identidade, ao portal UOL.
Cerca de 2 mil venezuelanos, entre adultos, jovens, idosos e crianças, vivem em São Sebastião. Não há registro de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes de origem venezuelana, segundo a Cáritas Arquidiocesana de Brasília, organização que dá suporte aos imigrantes venezuelanos que vivem no Distrito Federal.
Como denunciar?
Em caso de suspeita de situação de abuso ou exploração sexual de crianças e adolescentes, as denúncias podem ser feitas para os seguintes órgãos: Disque 100: a denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa; Polícia Miliar - 190: quando a criança está correndo risco imediato; Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres; Conselhos Tutelares; WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008 e Ministérios Públicos.
Edição: Nicolau Soares
Matéria publicada originalmente no Brasil de Fato
Nas entrelinhas: Para Lula e Bolsonaro, o tempo não para na corrida eleitoral
Luiz Carlos azedo | Nas entrelinhas
A pesquisa Ipec, divulgada ontem, não foi nada boa para o presidente Jair Bolsonaro, que vinha em uma exitosa ofensiva para encurtar a distância em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada. Realizado entre sábado e ontem, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, o levantamento mostra uma estabilização da campanha em relação à pesquisa anterior, de 17 de outubro, mantendo-se em 50% dos votos totais para Lula e 43% para Bolsonaro. Ou seja, o chefe do Executivo não conseguiu reduzir a diferença em uma semana de campanha. O gráfico de chegada no dia da eleição, a chamada “boca de jacaré”, mostra linhas paralelas.
A pesquisa Atlas, divulgada ontem, também apresenta um cenário desfavorável, porque as linhas se distanciam ligeiramente em relação à semana passada: Lula avançou de 51,1% para 52% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro tinha 46,6% e caiu ligeiramente para 46,2%. A margem de erro da pesquisa é de 1%. Foram entrevistados 4,5 mil eleitores, de 1.404, municípios. O mais relevante na pesquisa não são as pequenas oscilações de Lula, fora da margem de erro, e a de Bolsonaro, dentro da margem, mas o fato de que o cenário se manteve estável durante uma semana de campanha, com o tempo correndo contra Bolsonaro.
O levantamento da Atlas captou a transferência de votos de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) majoritariamente para o ex-presidente Lula. Na pesquisa anterior, 54,2% dos eleitores de Simone declararam voto em Lula, o percentual subiu para 69,9%, em consequência da intensa campanha que a senadora do MDB vem fazendo em favor do petista. Simone se tornou uma estrela no segundo turno, com uma agenda intensa, focada na conquista do voto feminino, com duros discursos contra o presidente da República. Na pesquisa anterior, 29,2% dos eleitores de Simone votavam em Bolsonaro, agora são apenas 18,2%. A vantagem de Lula aumentou de 25% para 51,4% desses eleitores.
Mesmo sem engajamento do candidato do PDT, os eleitores de Ciro Gomes também derivaram para Lula, que na pesquisa anterior perdia para Bolsonaro, de 53,9% a 39,1% desses eleitores. Agora, a situação se inverteu, Lula tem 51,3% e Bolsonaro 41,6%. A vantagem de Bolsonaro nesse segmento, que era de 14,8%, se tornou uma desvantagem de 9,7%, o que é um desastre, porque o presidente da República, para se reeleger, precisava conquistar esses votos da chamada “terceira via” para reverter a vantagem obtida por Lula no primeiro turno. Isso quer dizer que a eleição está decidida? Nada disso, ninguém ganha a eleição de véspera. Significa apenas que a ofensiva de Bolsonaro no segundo turno, ameaçando ultrapassar Lula, foi contida até aqui.
Factoide
Um fato que já pode ter influenciado as pesquisas é o caso do ex-deputado Roberto Jefferson, que roubou a cena eleitoral ao resistir à prisão, com tiros de fuzil e granadas de efeito moral, contra agentes da Polícia Federal, na manhã de domingo, em Comendador Levi Gasparian, no interior fluminense. Em prisão domiciliar, Jefferson havia gravado um vídeo agredindo a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármem Lúcia, o que resultou na revogação de sua prisão domiciliar pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso das fake news, que emitiu o mandado de prisão.
O episódio gerou uma agenda negativa para Bolsonaro. Jefferson feriu um delegado e uma agente da Polícia Federal. O envolvimento do governo na negociação da rendição de Jefferson ficou escancarado na conversa do policial que negociou diretamente com o ex-deputado. Registrada em vídeo e divulgada, a conversa viralizou nas redes sociais, o que desgastou ainda mais o governo. Nos bastidores, Bolsonaro teria prometido o indulto a Jefferson para que ele se entregasse. A campanha do presidente da República havia se organizado para um rush em São Paulo, com objetivo de criar uma vantagem eleitoral robusta no maior colégio eleitoral do país, que neutralizasse a esmagadora vantagem de Lula no Nordeste. Jefferson, que disparou cerca de 50 tiros contra os policiais, foi indiciado em quatro tentativas de homicídio, mas roubou a cena e ofuscou toda a programação de campanha de Bolsonaro nos últimos dois dias.
No começo da noite de ontem, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, tentou retomar a iniciativa política da campanha de Bolsonaro, anunciando bombasticamente o que seria uma denúncia gravíssima. Na entrevista coletiva, disse que uma auditoria realizada por seu próprio ministério, após denúncia, levantou que várias rádios publicaram mais inserções do PT do que de Bolsonaro. De 7 a 21 de outubro, após dupla checagem, segundo Faria, foram 154 mil inserções a menos para a campanha do presidente. Diante da denúncia, o presidente do tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, exigiu apresentação de provas no prazo de 24 horas, sob pena de configuração de crime eleitoral.
Christian Dunker: corrupção de Jair Bolsonaro não afeta sua votação porque não causa ressentimento no eleitor
Nayara Felizardo | The Intercept Brasil
O RESULTADO do primeiro turno das eleições causou grande frustração na esquerda, principalmente por forçar a constatação de que há mais eleitores de Bolsonaro do que a racionalidade seria capaz de prever, considerando toda a destruição – de vidas, do meio ambiente, de políticas públicas e de civilidade – provocada pelo seu governo. Essa entrevista com o psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, é uma tentativa de entender e de aprender a lidar com esses eleitores que, apesar de todo o estrago, seguem com Bolsonaro. O bolsonarismo, afinal, “vai continuar” e se prova um movimento popular forte que com ou sem Jair no poder.
Para Dunker, uma parcela significativa dos bolsonaristas se sente traída pelo PT. Embora tenha conseguido ascensão social, devido principalmente ao acesso às universidades, a classe trabalhadora esperava viver em melhores condições. Sem associar os problemas atuais à figura do atual presidente, “que age como se não fosse propriamente um governo”, resta a decepção com quem representa o estado para essas pessoas – Lula e Dilma. “Elas se voltam com uma certa agressividade, com um certo ódio, para aqueles em quem localizam a falsa promessa”, disse o psicanalista.
Refletindo sobre o perfil psicológico de Bolsonaro, Dunker não o classificou como um perverso ou sociopata. Suas atitudes se explicam mais pela patologia dos tiranos: “Para ser um tirano eficaz, o sujeito tem que ser meio débil, meio incapaz de separar o público do privado”.
Dunker falou ainda sobre o que a esquerda precisa aprender com a comunicação bolsonarista e alertou para a necessidade de ouvir as demandas daqueles que preferiram Bolsonaro. Afinal, eles são mais de 50 milhões. Confira a conversa na íntegra:
“As pessoas não percebem que houve uma regressão causada por má administração nos últimos anos”, avaliou o psicanalista Christian Dunker. “Todo retrocesso que sentem agora passa a confirmar a teoria da decepção [com o PT]”.
Foto: Reprodução
Intercept – Como se explica, do ponto de vista psicológico, a quantidade de votos que Bolsonaro recebeu no primeiro turno, mesmo após um governo tão ineficaz?
Christian Dunker – Uma parte importante dos eleitores de Bolsonaro é composta por pessoas que obtiveram muitos benefícios, principalmente nos dois primeiros mandatos de Lula [de 2003 a 2006 e de 2007 a 2010]. É uma classe trabalhadora que conseguiu galgar alguma ascensão social – se deslocaram da miséria para pobreza ou da pobreza para a classe média. Esse processo não é simples do ponto de vista subjetivo, porque ele facilmente pode se verter em decepção. Houve um aumento expressivo de alunos nas universidades, que puderam ter acesso a profissões mais qualificadas. Com um diploma, imaginaram que os empregos iam sorrir para eles e que teriam uma ascensão maior ainda. Na medida em que a universidade não se traduz em aumento real de renda, essas pessoas se voltam para a parte não realizada dos sonhos prometidos. Isso se transforma em ressentimento e em um sentimento de traição. Eles se voltam com uma certa agressividade, com um certo ódio, para aqueles em quem localizam a falsa promessa. Ela não está associada ao governo atual, que age como se não fosse propriamente um governo, mas com aquilo que representa o estado para a maioria das pessoas, ou seja, Dilma e Lula.
Outra parcela dos que estão votando contra Lula é ligada ao conservadorismo e à ideia de buscar uma forma autocrática para administrar a coisa pública. As classes média e alta interpretam que o Brasil tem excesso de regras não cumpridas, com complicações burocráticas, em que o estado tem uma função limitadora e não deixa as coisas acontecerem, porque se cria regras para se aproveitar delas por meio da corrupção. Já os mais pobres acham que está havendo um rapto do seu prazer e que seus ganhos não se realizaram, porque foram desviados pelo PT, pelo Lula. Um lado, portanto, sente o estado como um empecilho e, o outro, como uma instância intrusiva e pouco eficiente na promoção de educação e saúde.
Por que esses eleitores condenam a corrupção nos governos petistas e relevam a do governo Bolsonaro?
O discurso da corrupção capta muito bem esse sentimento de traição em relação aos governos do PT. As pessoas não percebem que houve uma regressão causada por má administração nos últimos anos. Todo retrocesso que sentem agora passa a confirmar a teoria da decepção. A corrupção de Bolsonaro também é conhecida, mas não afeta a performance do candidato, porque ela não cai na chave do ressentimento. Em um ambiente de complexidade de determinações, é compreensível que soluções mais simplificadas ganhem relevo, como a retórica de que Lula roubou e isso quebrou o Brasil.
‘A esquerda acredita que as pessoas foram enganadas e basta esclarecê-las, mas elas realmente sabem o que estão fazendo’.
A gente pune o passado a partir do que transformamos no presente e a partir da redução do nosso futuro. É isso que vem acontecendo com o governo Bolsonaro. Ele não usa a retórica do crescimento, da prosperidade, e sim do combate ao mal, da punição dos culpados. Muitos dos eleitores mais vingativos e rancorosos entendem que o que receberam do PT foi uma promessa corrupta [de melhoria de vida]. Portanto, o voto deles é punitivo.
Como você analisa o perfil psicológico do Bolsonaro? Ele é um perverso?
Há algumas dificuldades para incluir a figura de Bolsonaro nesse diagnóstico, e um dos motivos para isso é que ele age ostensivamente como alguém sádico, às vezes, como alguém que ri do sofrimento do outro. Mas essa ação não reflete uma atitude real perversa. Então, parece mais alguém que está dominado por uma fantasia de perversão. Na prática, o que a gente vê são muitas declarações que depois são revertidas. Ele xinga e depois diz que estava brincando; ameaça indígena, mas era só um modo de dizer; homenageia um torturador, mas aquilo já passou. É como se isso fosse um excesso da sua personalidade, mas que humaniza mais do que desumaniza. Está no campo da patologia narcísica, que é a patologia dos tiranos. Para ser um tirano eficaz, o sujeito não pode ser um verdadeiro perverso ou sociopata. Tem que ser meio débil, meio incapaz de separar o público do privado.
No fundo, Bolsonaro seria movido por um sintoma social que a gente chama de cinismo, no sentido de orquestrar os efeitos do que diz e do que faz, como uma espécie de oscilação calculada entre o registro da fala privada e o registro da fala pública. Ele pode dizer que vai trocar o diretor da Polícia Federal, porque está protegendo seus filhos, e isso não cai como uma corrupção. Cai como alguém que pode passar por cima da lei, que pode fazer a justiça com as próprias mãos. E muitos concordam com isso. Para os amigos e a família, tudo.
É o discurso do bullying, de que você fala?
Exato. É a ideia de que, se você quiser se conectar comigo, vai ser melhor. De que você se empodera por meio da identificação comigo. É uma regra que traz a crueldade e que tem no seu horizonte a ameaça. Isso é próprio de líderes autoritaristas e até populistas. Mas é um populismo que se difere do Lula, porque é segregatório, não inclusivo. Bolsonaro não é uma pessoa perversa, mas promove a perversão das instituições. Isso vale tanto para as instituições que aderiram a ele, quanto para aquelas que ele está atacando.
Você defende que é preciso sermos mais diplomáticos e menos rancorosos com os bolsonaristas. Mas como conciliar o inconciliável, com Bolsonaro e sua política de destruição?
A tarefa vai ser mais longa do que se pensava. A maior parte dos eleitores de Lula entendeu a eleição de Bolsonaro como uma farsa, como um engasgo democrático, com estratégias ligadas às redes sociais e com o apoio de civis e pastores que funcionaram como cabos eleitorais. Acreditam que as pessoas foram enganadas, mas que basta esclarecê-las para elas voltarem ao seu estado de funcionamento normal. A eleição no Senado e na Câmara, dos governadores e dos deputados estaduais mostraram uma realidade diferente dessa. As pessoas realmente sabem o que estão fazendo. A pujante votação [de bolsonaristas] consagra um outro projeto de Brasil, no qual prevalece a ideia de que se pode deixar morrer pessoas que têm menos recursos. Tomando como exemplo o trato com a saúde pública na pandemia, isso foi sancionado pelas pessoas.
‘A esquerda fica de mãos atadas indevidamente, porque diz: ‘Fazer como eles me rebaixará’. Isso é correto até a página três’.
As regras do jogo vão exigir mais firmeza, mais autocrítica, maior capacidade de elaborar um discurso de desconstrução e de enfrentamento. As oposições ainda não se compuseram a ponto de construir um projeto alternativo. O projeto que a gente tinha era diferente, mas ele foi substituído por esse outro da violência. Agora, precisamos de um terceiro. Você pode chamar isso de renovação da esquerda, de resgate da palavra ou de superação da barbárie. Mas, de toda forma, é o que temos pela frente.
O que a prática bolsonarista faz é dizer que o poder pessoal é que vale. O pai manda, o filho obedece. O homem manda, a mulher obedece. Essa forma de poder personalizada é que está em jogo. Eles não querem destruir as instituições por destruir. Eles querem transformar a autoridade simbólica naquela baseada no poder de opressão. Por isso, consideramos essa prática bolsonarista muito mais como um discurso que já existia e que procurou em Bolsonaro o seu catalizador, do que como a força de uma pessoa que parece muito débil e pouco inteligente. Isso pode ser caótico do ponto de vista de como se organiza uma nação. Pode dar muito errado, e é provável que dê.
“Bolsonaro não é uma pessoa perversa, mas promove a perversão das instituições”, afirmou Dunker.
Foto: Buda Mendes/Getty Images
Por que a comunicação bolsonarista é mais eficaz, tanto para espalhar suas mensagens como para alcançar o que deseja? E o que a esquerda precisaria aprender com isso?
Há uma espécie de menosprezo por parte dos eleitores bolsonaristas. Eles acham que as pessoas de esquerda, os professores, os jornalistas, os intelectuais e artistas se acham superiores e são arrogantes, que não são como as outras pessoas, por isso, merecem um corretivo moral. A esquerda ainda não conseguiu se deslocar desse lugar, ainda que ele seja equivocado. Ela [a esquerda] tenta produzir um antídoto para o bolsonarismo baseado na tomada de consciência, mas não consegue entrar em uma comunicação pessoal e direta, de igual para igual, autêntica.
Tudo aquilo que você pode entender como um vício ou um erro, a exemplo do uso de palavrão, ameaça, exposição familiar e preconceitos, confirma um certo modo de relação que a gente vê prosperar na linguagem digital. A esquerda fica de mãos atadas indevidamente, porque diz: “Eu não vou fazer como eles, isso me rebaixará”. O argumento é correto até a página três. A partir de então, a gente começa a confundir duas coisas, que é a eficácia no discurso e a veracidade do discurso. O discurso bolsonarista é muito eficaz, apesar de pouco verdadeiro. Mas ter um discurso verdadeiro não vai mudar a eficácia dessa relação comunicacional.
De que adianta falar a verdade se ninguém te ouve?
Exatamente. O arrogante fala as verdades, mas elas são inúteis para quem ouve. A gente vai precisar arriscar um pouco mais na natureza dos argumentos, na capacidade de também devolver à altura e saber modalizar o uso do humor, da agressividade, da exclusão, da segregação que, hoje, a esquerda parece praticar mais contra si mesma do que contra o bolsonarismo. Muitos discursos concentram ataques distorcidos contra aqueles que não são os seus inimigos sociais. É muita agressividade contra si e uma espécie de atitude educativa, complacente e, eventualmente, arrogante. Em alguns casos, a atitude inicial é nem falar, porque se considera que algumas pessoas não são dignas da palavra. Enquanto a gente estiver nessa posição equivocada, escolhendo mal os inimigos e agindo de forma pouco eficaz com aqueles que são os nossos verdadeiros adversários, acho difícil que o panorama eleitoral se transforme.
Independentemente de quem vença, já não somos o mesmo país depois do governo Bolsonaro. Como isso vai afetar a saúde mental dos brasileiros no pós-eleição?
Infelizmente, esse é um diagnóstico que a gente precisa fazer. A saúde mental vai piorar, como a gente já alertou em 2018, porque não é possível que o discurso da violência, das armas e da autoridade pela força não se prolongue em mais sofrimento para quem está mais vulnerável. Vai piorar antes de melhorar. É importante colocar na pauta a saúde mental e ter em vista que o discurso tem consequência na nossa vida psíquica. Aquele que tem poder, que tem autoridade, seja o professor, o médico, o político, ele tem responsabilidade na construção da saúde mental coletiva. Quando um governante fala de forma opressiva, desdenha do sofrimento alheio, isso tem um impacto transversal nas relações, que se tornam mais agressivas. Nossa perspectiva de mundo se torna mais fechada, a nossa perspectiva defensiva diante do conflito se torna mais intensa. Tudo isso complica a nossa saúde mental, já um tanto quanto combalida.
Uma coisa que o governo Bolsonaro alterou foram os limites. De tanto ele esticar a corda e não cumprir regras ou leis, as instituições foram recuando, em uma tentativa ineficaz de amenizar as tensões. Quais as consequências disso?
As consequências podem ser as piores, porque um segundo mandato vai sancionar a lógica da opressão e da violência por meio das urnas. Por outro lado, podem ser as melhores no sentido de que esse discurso só deu certo porque conseguiu insuflar uma insatisfação real das pessoas. Ele só é eficaz porque demanda transformações na maneira como o brasileiro médio se relaciona com o país, com o seu regime fiscal, tributário, com as instituições de saúde, de educação, com tudo aquilo que faz do estado ou uma extensão dos interesses privados das classes mais poderosas ou um instrumento de opressão das classes menos favorecidas. Isso seria um efeito benéfico para impulsionar informações necessárias que precisariam entrar de forma mais rigorosa na nossa pauta de transformações. De toda maneira, o Brasil vai precisar de outra coisa. Não vai passar o que a gente já conhece do modelo de gestão, do modelo democrático, das políticas públicas que já estão postas desde a constituição de 1989 e que tentaram se implantar no Brasil durante o período de Lula e Dilma.
O que a gente pode esperar do bolsonarismo sem Bolsonaro no poder e com Bolsonaro no poder?
O bolsonarismo vai continuar. Precisamos reconhecer que é um movimento popular, que entrou nas camadas menos favorecidas. Ele produz organicidade na ação entre as pessoas e reconhecimento entre os envolvidos. É um movimento que tem a possibilidade de se reproduzir, de se recompor e de enfrentar revezes.
‘A saúde mental vai piorar, porque não é possível que o discurso da violência e da autoridade pela força não se prolongue em mais sofrimento’.
Esse discurso como laço social precisa ser enfrentado de forma metódica, com mais força e com mais potencial de coerção, inclusive, dos órgãos reguladores da imprensa, de órgãos reguladores do uso da máquina digital e das concessões públicas. Precisa ser enfrentado como algo bastante perigoso para a institucionalidade do país. Isso vai demandar que se fale um pouco mais a linguagem do próprio bolsonarismo. Que a gente apreenda que há, sim, uma parcela que só vai se transformar pela força. Pode ser pela força da palavra, pode ser pela força da lei. Mas, durante algum tempo, vai ser necessário para que a gente consiga implantar uma educação política, para responder às insatisfações legítimas por trás do bolsonarismo. Ainda que a forma seja desastrada, não democrática e autoritária, ela tem lá o seu grão de verdade. O Brasil tem quase metade da sua população muito insatisfeita. É preciso reconhecer que há uma demanda para ser tratada.
Qual seria essa essa demanda legítima do bolsonarismo?
São demandas que a esquerda também reconhece, como a simplificação nas relações com o estado. Por exemplo, que o estado deixe de se demitir em certas áreas e em certas geografias do país. Ele se demitiu das prisões, e é fundamental retomar, reinstitucionalizar nossas prisões. O estado se demitiu de muitas comunidades – isso é um erro e tem consequência. O processo de “milicialização” do Brasil é um sintoma, porque o estado se demitiu de cuidar, de urbanizar a vida nesses lugares.
A ideia de que é possível governar com mais transparência pode ser posta em prática. No bolsonarismo, a transparência é a pessoalidade. É como um chefe de família fazendo contas domésticas, e não planejando o orçamento de um país. Isso está errado. Mas o que tem de verdade aí é que as pessoas querem transparência real. Não há nenhum motivo para não conversar mais. Existe um descompasso entre os recursos que temos hoje em termos de alcance de cobertura digital e a possibilidade de ação sobre o estado, de democracia direta.
Entrevista publicada originalmente no portal intercept Brasil
Roberto Jefferson se comporta como ‘criminoso’ e ‘terrorista’, afirma Eliziane Gama
Cidadania23
A líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama (MA), condenou na rede social o ataque do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) com fuzil e granadas contra agentes da Polícia Federal que foram até sua casa, no último domingo (23), no município de Levy Gasparian (RJ), para cumprir um mandato de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“Resistir à prisão e trocar tiros com a polícia; conclamar o povo pegar em armas; tudo, horas depois das graves agressões à ministra [do STF] Cármem Lúcia! Roberto Jefferson, representa perigo para a sociedade, realmente se comporta como um criminoso, um terrorista”, postou no Twitter.
Segundo a PF, Jefferson, que cumpre prisão domiciliar, reagiu à abordagem atirando e lançando granada em direção aos agentes, que cumpriam mandato de prisão após o ex-parlamentar veicular vídeos com ataques ao processo eleitoral e a ministros do TSE. Dois policiais ficaram feridos, atingidos por estilhaços.
“Durante a diligência, o alvo do mandado reagiu à ordem de prisão anunciada pelos policiais federais. Na ação, dois policiais foram feridos por estilhaços de granada arremessada pelo alvo e levados imediatamente ao pronto socorro. Após o atendimento médico, ambos foram liberados e passam bem”, diz a nota da PF.
Matéria publicada originalmente no portal Cidadania23
Lógica do confronto se espalhou além da política e não vai embora depois da eleição, diz socióloga
Uirá Machado | Folha Uol
A socióloga Angela Alonso não tem boas notícias para quem espera ver a tensão social se dissipar com o fim das eleições. De acordo com ela, a lógica do confronto já se alastrou pela sociedade e vai demorar muito tempo para mudar.
"Ganhe quem ganhar, esta é uma realidade difícil de ser modificada, porque não diz respeito apenas à política. Está inscrita nos sentimentos e nos princípios morais que orientam as condutas de comunidades inteiras", afirmou durante o 46º encontro da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
Alonso, que é professora da USP, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e colunista da Folha, participou da tradicional sessão de conjuntura, em que a Anpocs reúne representantes da sociologia, da antropologia e da ciência política para analisar o momento que o país atravessa.
O diagnóstico de Alonso não é otimista. Na sua avaliação, há sinais de que boa parte dos brasileiros passou a se reconhecer antes por sua identidade política do que por qualquer outra identidade que possa ter.
Quando menciona "identidade", ela está pensando tanto em papéis que a pessoa tem na sociedade –por exemplo, o papel de mãe, de professora, de colunista, de socióloga— quanto em características sociais –como gênero, etnia, geração, renda etc.
A "identidade política", por sua vez, remete no atual contexto a lulista ou bolsonarista, para eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), respectivamente.
Em condições normais, argumentou Alonso, as pessoas transitam entre suas diferentes identidades de acordo com a situação: é possível ser mãe em casa e socióloga na Anpocs, além de mulher de uma certa idade e uma determinada faixa de renda.
O problema é que, no Brasil atual, membros de partidos distintos –no caso, apoiadores de Lula e de Bolsonaro— só conseguem enxergar o outro pela lente política. "A identidade partidária [vai] abafando todas as demais", sustentou.
"Isto é, a escalada do conflito fixa uma identidade política como mais relevante que as outras, e ela passa a se impor no funcionamento de todas as interações sociais."
Essa hipótese ajudaria a entender, para ficar apenas em dois exemplos, por que os papéis de médico e paciente e de patrão e empregado têm sido deixados em segundo plano em alguns casos, com a identidade de lulista e bolsonarista monopolizando a relação social.
Tanto mais grave, essas identidades políticas, segundo Alonso, são confrontacionais, provocam o confronto, o conflito.
Em sua fala, ela citou cinco casos de assassinatos políticos cometidos por lulistas e bolsonaristas; ocorreram em cinco estados, envolvendo campo e cidade, profissões de médios e baixos estratos sociais. Seria indício de que o confronto se espalhou pela sociedade, para além dos atores políticos.
Para piorar, a socióloga também lembrou de exemplos em que adolescentes e crianças em suas respectivas escolas se xingaram e brigaram por causa de uma bandeira do Lula e de um jingle do petista.
"Isto é, está em andamento uma reprodução intergeracional de identidades políticas confrontacionais. Está chegando nos adolescentes e nas crianças", afirmou.
Há mais. As redes sociais, na visão de Alonso, se organizam como as comunidades presenciais, ou seja, por meio de laços afetivos.
"Muitas delas são redes de reconexão de relações face a face que já existiam, entre familiares distantes, ex-colegas de escola, ou de trabalho, ex-vizinhos, amigos antigos, conhecidos", disse.
De acordo com a socióloga, isso faz com que as pessoas se sintam emocionalmente parte de um grupo, compartilhando não só um estilo de vida, mas também a mesma perspectiva sobre o mundo.
E por que isso importa? "Essas comunidades são o chão social no qual se criam e se sustentam as identidades políticas confrontacionais", afirmou.
Dentro dessas comunidades, segundo Alonso, também se compartilham pontos de vista sobre a moralidade pública (dominada pela temática da corrupção) e privada (focada na pauta dos costumes, com as agendas progressista e conservadora em franca oposição).
Assim, por essa análise, as pessoas se dividem em verdadeiras comunidades que são distintas entre si, com valores morais diferentes e laços afetivos específicos.
Não surpreende, portanto, que as pessoas acreditem em coisas tão desiguais e que sejam afetadas de maneiras tão díspares por mensagens que circulam na internet. O que faz pleno sentido para uma dessas comunidades pode não significar nada para a outra.
"São estas comunidades morais bem enraizadas que dão a base para as identidades políticas confrontacionais de lulistas e bolsonaristas que estão se guerreando inclusive até a morte", afirmou Alonso.
Durante a sessão de conjuntura da Anpocs, o cientista político Bruno Reis, que é professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), também tratou a atual polarização como um novo elemento da paisagem política brasileira, com PT encabeçando um lado e o conservadorismo comandando o outro.
Para ele, a existência de um polo politicamente mais autoritário e mais conservador nos costumes é mais ou menos inevitável no Brasil.
A antropóloga Lia Zanotta Machado, professora da UnB (Universidade de Brasília), completou a mesa. Ela afirmou que o país não assiste a uma onda conservadora, mas sim a um movimento organizado de longa data.
"O crescimento dessa pauta moral neopentecostal vem de longo tempo e vem se organizando, do meu ponto de vista, como neoconservadora, em cima de uma sociedade em grande parte conservadora."
Matéria publicada originalmente na Folha UOL
Não assustemos ao mundo (por Cristovam Buarque)
O Brasil assusta ao mundo que não entende as razões para um dos maiores exportadores de alimentos ter uma imensa população de famintos. Agora, assusta com o fato de que uma das democracias com maior número de eleitores chega na véspera das eleições para Presidência da República com um candidato a favor da ditadura, da tortura, praticante da corrupção, da manipulação de mentiras, desprezo aos pobres e doentes, perseguidor de meninas que ele considera prostitutas pelo simples fato de serem imigrantes venezuelanas, e no lugar de tomar medidas para protegê-las, tenta tirar proveito da tragédia.
O mundo se assustou quando, apesar de tudo que ele representava e toda sua desqualificação, Bolsonaro se elegeu presidente; se assustou durante seu mandato pelos gestos negacionistas que mataram centenas de milhares de pessoas por covid, queimaram milhares de hectares de florestas, sujou rios, ameaçou indígenas, disse que poderia não respeitar o resultado das eleições, isolou o país do resto do mundo. Agora, o mundo se assusta ao saber que apesar de todos seus erros, seu despreparo e irresponsabilidade, ele chega ao final do segundo turno com pequena diferença em relação ao Lula, que é o presidente brasileiro mais respeitado no exterior, por sua responsabilidade fiscal, seus programas sociais e sua presença internacional.
Felizmente, ainda há tempo para não assustarmos outra vez ao mundo, desta vez aliviando o mundo com a eleição de Lula; e Lula desassustar ao mundo, tirando outra vez o Brasil do mapa da fome. Temos esta possibilidade e esta obrigação diante do mundo.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
Artigo publicado originalmente no Blog do Noblat
Ativistas jogam purê em quadro de Monet na Alemanha
DW Brasil
O grupo de ativistas Letzter Generation (última geração) postou neste domingo (23/10) um vídeo mostrando dois de seus membros jogando um líquido viscoso em uma pintura de Monet em uma galeria em Potsdam, cidade nos arredores de Berlim.
Dois jovens jogaram o que descreveram como purê de batatas na pintura Les Meules, de Claude Monet, antes de se agachar na frente dela com um deles fazendo uma breve declaração.
Eles aludiram à atenção gerada por protestos similares realizados nas últimas semanas. "As pessoas estão morrendo de fome, as pessoas estão congelando, as pessoas estão morrendo. Estamos em uma catástrofe climática. E a única coisa que vocês temem é sopa de tomate ou purê de batatas em uma pintura", disse a jovem.
"Você sabe do que eu tenho medo? Que a ciência diz que em 2050 não poderemos alimentar nossas famílias. É preciso purê de batatas em uma pintura para fazer vocês ouvirem? Essa pintura não valerá nada quando estivermos lutando por comida. Quando chegará o ponto em que vocês vão finalmente ouvir e não apenas continuar como se nada estivesse acontecendo?", ela continou.
Dois outros manifestantes se colaram no chão como parte da manifestação.
Um porta-voz da polícia disse à agência de notícias alemã DPA que dois dos manifestantes foram presos e estão sendo investigados por possível invasão e danos a propriedade.
Uma porta-voz do Museu Barberini em Potsdam, Carolin Stranz, disse à que ainda não está claro se a pintura sofreu danos permanentes.
Protestos parecidos, incluindo um contra uma obra de Van Gogh em Londres, tentaram atingir pinturas que eram exibidas atrás de alguma forma de cobertura protetora. Nesse caso, a pintura sofreu apenas danos leves.
Stranz disse que o quadro de Monet em questão estava protegido por uma moldura de vidro.
A pintura, parte de uma série do impressionista Claude Monet, está exposta na exposição permanente do Museu Barberini. Ela faz parte de uma coleção do museu fundado pelo multibilionário Hasso Plattner, cofundador do gigante do software empresarial SAP.
md (DPA, EPD)
Matéria original publicada no DW Brasil
Ipec divulga pesquisa eleitoral nesta segunda-feira; relembre resultados da semana passada
Brasil de Fato
O Ipec (ex-Ibope) vai divulgar, nesta segunda-feira (24), a terceira pesquisa sobre o segundo turno das eleições presidenciais, que opõe o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual ocupante do cargo, Jair Bolsonaro (PL). O segundo turno ocorre no próximo domingo, no dia 30 de outubro.
Lula foi citado por 50% das pessoas, contra 43% do presidente Bolsonaro, no estudo realizado pelo instituto na última segunda-feira (17). A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Clique aqui para ler mais detalhes.
Para o novo levantamento, o Ipec entrevistou 3.008 eleitores presencialmente, acima de 16 anos, em todos os estados da federação. A pesquisa, encomendada pela Rede Globo, está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-06043/2022.
No primeiro turno das eleições Lula atingiu 48,43% dos votos válidos, um total de 57.258.115 milhões de votos. Bolsonaro, em segundo lugar, apresentou 43,20%, equivalente a 51.072.345 milhões de votos.
Edição: Vivian Virissimo
Matéria originalmente publicada no portal Brasil de Fato
O que se sabe da prisão de Roberto Jefferson em operação que deixou 2 integrantes da PF feridos
BBC News Brasil
Integrantes da Polícia Federal foram recebidos a tiros de fuzil e granada quando cumpriam a ordem de prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) em sua casa no município de Comendador Levy Gasparian (RJ) neste domingo (23/10). A agente Karina Oliveira e o delegado Marcelo Vilella ficaram feridos por estilhaços.
Após horas de resistência, o ex-parlamentar se entregou à polícia no começo da noite — o presidente Jair Bolsonaro determinou que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao Rio de Janeiro e encerrasse a crise que envolve o aliado político.
Durante o tempo em que resistiu à prisão, o ex-deputado gravou um vídeo sobre a chegada dos policiais a sua casa em que dizia: "não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio".
Ele usou na gravação imagens do circuito de segurança para mostrar os agentes nas proximidades. Em uma fala, confirmou que fez os disparos, mas afirmou que "não atirei em ninguém para pegar, ninguém. Atirei no carro e perto deles".
Os estilhaços da granada deixaram os integrantes da PF feridos. A corporação disse que "além da prisão judicial, o investigado também foi preso em flagrante sob a acusação, inicial, de tentativa de homicídio".
Segundo informações da TV Globo, Jefferson seria levado à sede da PF no Rio para depois fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal e seguir para a prisão de Bangu 8.
Durante a tarde, apoiadores de Jefferson e Bolsonaro em Comendador Levy Gasparian se reuniram em torno da residência e chegaram a agredir um cinegrafista de uma afiliada da TV Globo na região.
Segundo a emissora, Rogério de Paula, de 59 anos, levou um soco, caiu no chão, bateu a cabeça e teria tido um início de convulsão. A câmera que ele usava quebrou. O cinegrafista foi levado para um hospital e estava lúcido e sem sangramento.
Por que Jefferson voltou à prisão
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, havia ordenado a revogação da prisão domiciliar de Jefferson após ele proferir uma série de ofensas à ministra Carmen Lúcia, do STF.
Uma das condições para o benefício da prisão domiciliar era de que Jefferson não fizesse postagens na internet.
Ele gravou no sábado (22) um vídeo chamando a ministra de "Carmen Lúcifer" e afirmava que a magistrada "lembra aquelas prostitutas, aquelas vagabundas arrombadas".
Em sua decisão, Moraes justificou que "está largamente demonstrada, diante das repetidas violações, a inadequação das medidas cautelares (...) o que indica a necessidade de restabelecimento da prisão".
O ex-parlamentar é investigado em um inquérito sobre a atuação de uma organização criminosa que tem como objetivo "desestabilizar as instituições republicanas".
Após Jefferson reagir com violência, o ministro do STF emitiu no domingo uma segunda ordem para que "diante de todo exposto, independentemente do horário" se efetuasse a prisão.
E afirmava que "a intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário, para retardar ou deixar de praticar, indevidamente o ato, será considerada delito de prevaricação".
Associações de policiais reagem
A Polícia Federal emitiu nota em que relata que "durante a diligência, o alvo do mandado reagiu à ordem de prisão anunciada pelos policiais federais. Na ação, dois policiais foram feridos por estilhaços de granada arremessada pelo alvo e levados imediatamente ao pronto socorro. Após o atendimento médico, ambos foram liberados e passam bem".
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) emitiu nota para "manifestar o seu mais veemente repúdio ao ato de violência".
"A reação violenta contra policiais é um atentado contra o próprio Estado e uma ofensa incomensurável à ordem jurídica."
Tania Prado, presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol), disse no Twitter que "os fatos ocorridos hoje são gravíssimos, trata-se de tentativa de homicídio qualificado praticado contra policiais federais".
Bolsonaro e Lula se pronunciam
Candidato à reeleição, Bolsonaro (PL) fez um primeiro comentário sobre o episódio no começo da tarde.
"Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP".
Bolsonaro ainda disse ter determinado "a ida do Ministro da Justiça ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentável episódio".
Horas mais tarde, com a prisão de Jefferson, o presidente gravou um vídeo postado nas redes sociais em que mudou o tom e chamou o aliado político de "criminoso" no texto do post.
"Como havia determinado ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio."
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando eram veiculadas as primeiras informações sobre o caso, declarou que "não é um comportamento adequado, não é um comportamento normal" a reação de Jefferson.
"Antes de ontem eu estava em Minas Gerais, e Marina [Silva, deputada federal eleita que participou de ato com Lula] estava jantando em um hotel e quando ela levantou, um cidadão, que estava com a sua esposa, levantou e começou a chamar ela de vagabunda. Isso não acontecia na política brasileira nunca. Nós disputamos tantas eleições a gente nunca viu uma aberração dessa, uma ofensa dessa, uma cretinice dessa que esse cidadão, que é o meu adversário, estabeleceu no país."
Alexandre de Moraes se solidarizou em postagem no Twitter com os integrantes da PF feridos.
"Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos."
Anteriormente, ele havia se pronunciado sobre a ofensa de Jefferson à ministra.
"As agressões machistas e misóginas contra a Min Carmen Lúcia, exemplo de magistrada, demonstram a insignificante e covarde estatura moral daqueles que pretendem se esconder em uma criminosa 'liberdade de agressão', que não se confunde com a liberdade de expressão."
A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) havia solicitado a revogação do regime domiciliar de Jefferson. Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) também tinham feito o pedido ao STF.
Jefferson gravou o vídeo para criticar um voto de Carmen Lúcia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em janeiro, Moraes determinou que Jefferson ficasse em regime domiciliar e com tornozeleira eletrônica. Na época, o ministro do STF já havia advertido que o descumprimento das medidas poderia ocasionar o restabelecimento da prisão preventiva.
O ex-parlamentar estava preso desde agosto de 2021 pela suspeita de participação na milícia digital que faz ataques a instituições democráticas.
Em uma das entrevistas transcritas, Jefferson afirma que é preciso "concentrar as pressões populares contra o Senado e, se preciso, invadir o Senado e colocar para fora a CPI a pescoção". Em outra, diz que o Brasil necessita "fazer uma limpeza, começando pelo Supremo, ninho de bruxas e urubus".
Mais reações
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que "o Brasil assiste estarrecido fatos que, neste domingo, atingiram o pico do absurdo. Em nome da Câmara, repudio toda reação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra nossa democracia".
Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e senador eleito, fez um breve post: "Coisa mais sem noção esse ataque aos agentes da PF. Espero que estejam bem. Minha solidariedade".
A BBC News Brasil fez contato com representantes do PTB para saber o posicionamento do partido do qual Jefferson foi presidente sobre o episódio e aguarda resposta.
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63366892
Nas entrelinhas: O mundo que Michelle e Damares oferecem às mulheres
Nas entrelinhas | Luiz Carlos Azedo
Depois de algumas tentativas frustradas, consegui comprar na Livraria da Travessa, em Brasília, o livro Os Anos (Fósforo), premiadíssimo, da escritora francesa Annie Ernaux, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano. É uma mistura de crônicas do cotidiano e filosofia, numa “autobiografia impessoal” que reconstitui a evolução dos costumes da sociedade francesa, num período de 60 anos, que vai do imediato pós-guerra ao atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.
Talvez a leitura nos ajude a entender um pouco melhor porque a maioria das mulheres não vota no presidente Jair Bolsonaro (PL), embora ele tenha duas cabos eleitorais poderosas — a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a recém-eleita senadora pelo Distrito Federal Damares Alves (Republicanos), ambas evangélicas.
“A vergonha era uma assombração na vida das mulheres. A maneira como se vestiam e se maquiavam era sempre acompanhada por um “demais”: curto, longo, decotado, justo, chamativo etc. A altura dos saltos, com quem anda, as saídas e voltas para casa, o fundilho da calcinha no fim do mês, tudo era objeto de uma vigilância generalizada da sociedade. (…) Nada, nem a inteligência, nem os estudos, nem a beleza, contava mais para a reputação sexual de uma moça, isto é, seu valor no mercado do casamento, do qual as mães, a exemplo das próprias mães, eram as guardiãs: se fizer sexo antes do casamento, ninguém vai querer ficar com você — ficava claro, nas entrelinhas, que só alguém em condição parecida poderia aceitar, isto é, a escória masculina, um doente, um louco ou, pior, um divorciado. A mãe solteira não tinha nada a esperar, só a abnegação de um homem que aceitaria colher seu erro”.
“Até chegar o casamento, as histórias de amor aconteciam escondidas do controle e julgamento dos outros”, completa Annie Ernaux, ao descrever o mundo no final dos anos 1950. De lá para cá, muita coisa mudou, houve uma revolução nos costumes, protagonizada pelas mulheres, que hoje ocupam espaços no mercado de trabalho e até nas forças armadas, em igualdade de condições. Algumas profissões, muitas das quais tiranizaram secularmente as mulheres, como a medicina, por exemplo, estão sendo dominadas por elas. Entretanto, muita gente vive e pensa como naquela época, o que provoca um choque de gerações.
Uma jovem, atualmente, vive de forma completamente diferente, embora tenha muito o que agradecer às mulheres mais velhas como Annie Ernaux, que romperam as barreiras do preconceito e da discriminação, enfrentando o machismo e os preconceitos em condições absolutamente desiguais. As jovens de hoje têm um cardápio afetivo de acordo com as circunstâncias, que muda como as nuvens noturnas que escondem e desvelam a lua e as estrelas: tem o “crush”, o “peguete”, o “ficante” e o até o “friends with benefits” (amigos com benefícios), que funciona como uma espécie de delivery afetivo. O namoro, o noivado e o casamento são coisas muito sérias para serem vinculadas apenas ao sexo. É um mundo virado de pernas para o ar.
Dois mundos
O mundo que Michelle e Damares oferece às mulheres, na disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro, é aquele descrito por Ernaux na sua juventude — não tem nada a ver com a realidade dos dias atuais, em que as jovens mulheres vivem a plenitude de uma revolução de gênero, na qual a orientação sexual é uma opção individual garantida por direito. Também não é a realidade das mães dessas jovens, que viveram os dois momentos e, mesmo que não estejam de acordo com o comportamento da nova geração, não desejam que haja uma regressão aos costumes de sua adolescência e juventude, quando a virgindade era o tabu que alicerçava todas aquelas “vergonhas” descritas por Ernaux.
“Ela é a mulher com blush no rosto, os dois rapazes de trinta e poucos anos são seus filhos, a mocinha é namorada do filho mais velho, a do mais novo foi quem tirou a foto.(…) Tem vontade de continuar sendo provedora do conforto material dos filhos, para compensar a eventual dor do peso da existência que eles possam sentir e da qual ela se julga responsável, já que colocou os dois no mundo. Ela se acostumou com a ideia de que eles devem aproveitar a vida apesar da situação precária dos dois, com contratos temporários em trabalhos inferiores à formação que têm, com seguro-desemprego, dependendo do mês, alguns bicos, em um eterno presente feito de música, seriados norte-americanos e videogames, como se eles prosseguissem indefinidamente uma vida de estudante ou artistas sem dinheiro, e, uma boemia de antigamente, tão distante da ‘situação’ dela na idade deles. (Ela não sabe dizer se a indiferença social deles é real ou fingida)”.
Nas palavras de Ernaux, eis uma cena típica da classe média, que vota majoritariamente com Bolsonaro, embora a maioria das mulheres, em razão do machismo e atitudes misóginas do presidente, se recusem a fazê-lo. Talvez a eleição esteja sendo decidida nesse universo, no qual observamos confrontos extremos de comportamento social. Entre as mulheres, segundo o DataFolha (19/10), Lula vence de 51% a 42%. Em termos geracionais, vence entre os mais jovens, de 16 a 24 anos (50% a 41%), na faixa de 45 a 59 anos (51% a 44%) e entre os com 60 anos a mais (52% a 43%).
'Brasil é um laboratório mundial de criação de realidade paralela', diz João Cezar de Castro Rocha
Brasil 247
247 - O pesquisador e professor de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha, avalia que o projeto da extrema direita no Brasil é “criar as condições para instaurar um Estado totalitário e fundamentalista, do ponto de vista religioso”.
“Este é o propósito da extrema-direita brasileira, que compartilha as mesmas estratégias de seus aliados transnacionais: o uso das plataformas de mídias digitais para a produção da dissonância cognitiva coletiva, um Brasil paralelo, que fratura a espinha dorsal dos valores verdadeiramente cristãos e democráticos”, disse Rocha em entrevista ao jornal Estado de Minas.
“Está acontecendo diante dos nossos olhos. E há dezenas de milhões de brasileiros que parecem não compreender o perigo. E muitos desses brasileiros e brasileiras são pessoas que nós conhecemos, alguns são nossos parentes, não são pessoas más, cuja índole pudesse suspeitar que apoiariam o que está ocorrendo. É um processo de lavagem cerebral coletiva, é um processo de criação de dissonância cognitiva coletiva”, observa o pesquisador.
“Nunca estivemos numa situação tão grave na história da República. Estamos hoje no Brasil em 1913, do filme alemão “A fita branca” (de Michael Haneke), a geração que, posteriormente, participou da ascensão do nazismo. “Estamos vendo pessoas que conhecemos e respeitamos, e jamais imaginamos que pudessem ser cúmplices de um projeto totalitário de poder”, observa.
Para ele, “o Brasil é um laboratório mundial de criação metódica de realidade paralela. O que a extrema-direita tem feito no plano da política é a despolitização do debate público para avançar o projeto político totalitário – de eliminação completa do adversário ou do outro que resiste – em algumas circunstâncias, mesmo teocrático. E como isso se realiza? Produzindo a dissonância cognitiva coletiva pela instrumentalização da midiosfera extremista”.
“A dissonância cognitiva coletiva é uma temível máquina eleitoral pela transferência para a política da alta intensidade de engajamento das redes sociais. É um engajamento em torno da desinformação e de teorias conspiratórias. Na iminência do segundo turno das eleições, a midiosfera extremista transformou-se em uma usina sórdida de desinformação e seus artífices incorrem nos mais variados tipos criminais como se não houvesse amanhã”, afirma.
Ainda conforme o pesquisador, “a midiosfera extremista é poderosa máquina de desinformação, talvez a maior da história da humanidade. É composta por cinco elementos: as correntes de WhatsApp; o circuito integrado de canais de Youtube com capacidade tóxica de desinformação; as redes sociais; aplicativos como o Mano, cujo garoto-propaganda é Flávio Bolsonaro; e um aplicativo do Facebook, a TV Bolsonaro, O que se produz 24 horas, sete dias por semana, é conteúdo audiovisual de adesão incondicional a Bolsonaro. E há um quinto elemento, que é muito grave; como metonímia do processo, cito a Rádio Jovem Pan”.
“Por esse veículo, todas as teorias conspiratórias e as fake news que circulam na midiosfera extremista são legitimadas, são validadas, porque são reproduzidas nesse veículo fora da midiosfera. Bolsonaro passou boa parte de seu governo atacando instituições democráticas, universidades, professores, a ciência, a imprensa e jornalistas. Líderes populistas atacam instituições e o conhecimento porque buscam, nesse processo, se beneficiar da transferência da autoridade simbólica dessas instituições e pessoas que trabalham com a informação e o conhecimento”, explica Castro Rocha mais à frente.
Para ele, “o Brasil precisará de pelo menos uma década para tentar remediar o malefício causado pelo ensinamento da retórica do ódio e da lógica da refutação de Olavo Carvalho, que tornam o debate impossível. Vamos enfrentar dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras enredados numa realidade paralela. Vamos ter de trabalhar muito”.
Matéria publicada originalmente Brasil 247
Políticos defendem senadora evangélica repudiada por igreja ao defender Lula
Taísa Medeiros | Correio Braziliense
Diversas figuras políticas usaram as redes sociais para manifestar solidariedade à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que foi hostilizada por fiéis após declarar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Evangélica, filha de pastor e membra da Assembleia de Deus no Maranhão, a senadora chegou a ser alvo de uma nota de repúdio do Conselho Político da Convenção das Assembleias de Deus no Maranhão.
Uma das defesas veio do próprio Lula. “Os ataques contra a senadora Eliziane Gama após sua declaração de voto são inaceitáveis. Reflexo da intolerância bolsonarista que tenta invadir o ambiente sagrado das igrejas evangélicas. Minha solidariedade à senadora e aos evangélicos que estão sofrendo pressão”, escreveu o ex-presidente.
“Dos mesmos criadores/defensores da "escola sem partido", agora vemos a "igreja com partido". A perseguição contra os cristãos começou e começou dentro da igreja!”, escreveu a deputada federal eleita Marina Silva (REDE-SP).
O presidente do Cidadania, legenda da qual a senadora faz parte, também se manifestou. “O Cidadania saúda a grande senadora Eliziane Gama pela luta na defesa da liberdade e por um Brasil mais justo. A politização da religião está prestando um desserviço à liberdade religiosa no país ao criar um clima de intolerância que divide famílias. Eliziane, nossa solidariedade”, tweetou Roberto Freire.
Nota de repúdio
Após o posicionamento da senadora, o Conselho Político da Convenção das Assembleias de Deus no Maranhão divulgou uma nota em que dizia repudiar o apoio de Eliziane. Segundo o texto, a manifestação está em “discordância com o posicionamento da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e da Ceadema", que declararam apoio ao atual chefe do Executivo.
“É público e notório que a grande maioria dos posicionamentos da Senadora caminha na direção contrária ao que a CEADEMA defende e acredita, como a preservação dos bons costumes, da família tradicional, do combate à corrupção e do apoio ao Governo que defende os princípios e pautas conservadoras”, diz a nota.
Matéria publicada originalmente no Correio Braziliense