Foto: reprodução Flickr

Gleisi diz que Lula vai indicar coordenador da transição nesta terça-feira

Andrea Sadi | G1

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse ao blog que Lula (PT) vai indicar o nome do chefe da transição ainda nesta terça-feira (1º).

Na segunda-feira (31), ela manteve conversas com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que, segundo ela, afirmou que a pasta está pronta para iniciar a transição.

"Ciro disse que estão preparados para fazer a transição, aguardando apenas os nomes. Que o Centro Cultural Banco do Brasil está à disposição. Temos direito a 50 nomes e, hoje, vamos bater o martelo sobre quem vai comandar."

Ciro Nogueira não se manifestou publicamente sobre o assunto até aqui.

As negociações de bastidor entre o PT e integrantes do governo Bolsonaro contrastam com a postura do próprio presidente da República, que tem se recusado a se pronunciar publicamente sobre a derrota nas eleições, passadas mais de 30 horas da divulgação do resultado e do reconhecimento dele pelos chefes de outros Poderes e líderes nacionais.

Não custa lembrar que, quando perdeu em 2018, o petista Fernando Haddad ligou para Bolsonaro ainda na noite do domingo do segundo turno.

Segundo o blog apurou, o comitê de Lula prefere que o chefe da transição de Bolsonaro seja alguém da política — e não o ex-ministro da Defesa e candidato a vice Braga Netto, como foi cogitado por aliados de Bolsonaro.

Na reunião do Alvorada na segunda, Bolsonaro, inclusive, foi aconselhado a não indicar Braga Netto pelo perfil hostil e sem interlocução com outros Poderes.

Matéria publicada originalmente no G1


Foto reprodução: creative commons

Bolsonaro segue sem comentar resultado da eleição há 36 horas

Flávia Said | Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro (PL) segue em silêncio 36 horas após declarada vitória do adversário nas eleições 2022. Bolsonaro não possui compromissos oficiais nesta terça-feira (1º/11) e inicia o dia na residência oficial, o Palácio da Alvorada, onde recebe a visita de um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Não há apoiadores no local.

Coordenador da campanha do pai, Flávio reconheceu, na segunda-feira (31/10), a vitória de Lula, agradeceu os votos recebidos pelo pai e pediu aos apoiadores que “ergam a cabeça”. Foi a primeira manifestação de um integrante da família Bolsonaro após o resultado das urnas.

Pouco antes das 20h de domingo (30/10), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proclamou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava matematicamente eleito, derrotando Bolsonaro.

Aliados de Bolsonaro

Aliados próximos a Bolsonaro tentam convencê-lo a reconhecer a vitória do petista o mais rapidamente possível e evitar o clima de acirramento político no país.

Em sinalização ao presidente, caminhoneiros bolsonaristas passaram a fechar rodovias brasileiras em protesto à vitória de Lula. Ao menos 19 estados e o Distrito Federal tiveram registros de bloqueios. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram 236 ocorrências até o início da noite desta segunda.

A paralisação ainda carrega incertezas sobre a dimensão e o tempo de duração dos protestos. Setores de logística, como empresas de frete rodoviário e de distribuição de combustíveis, e do agronegócio são vistos como os mais suscetíveis a sofrerem com os impactos das manifestações.

Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a estratégia de Bolsonaro de se calar pode acabar sendo um sinal verde para inflamar a militância bolsonarista e causar uma espécie de “convulsão social”.

Matéria publicada originalmente no portal Metrópoles


Foto reprodução: creative commons

Nas entrelinhas: Protesto de caminhoneiros ressalta a importância do segundo turno

Luiz Carlos Azedo

As manifestações de caminhoneiros, ontem, com bloqueios de estradas em 16 estados, em protesto contra a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo, não são propriamente uma surpresa; são ações planejadas por uma extrema direita golpista, que sempre procurou desacreditar as urnas eletrônicas e trabalhou para construir um cenário de deslegitimação do resultado das eleições, caso o presidente Jair Bolsonaro fosse derrotado. Entretanto, é um movimento que não tem a menor chance de dar certo.

As lideranças dos caminhoneiros talvez nem saibam, mas estão derrotados desde o 7 de Setembro de 2021, quando ocuparam a Esplanada dos Ministérios e ameaçaram invadir o Supremo Tribunal Federal (STF), furando o bloqueio da Polícia Militar do Distrito Federal. Àquela ocasião, foram insuflados pelas manifestações bolsonaristas de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, e pelos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas. A reação das instituições e da sociedade foi inequívoca: não haveria apoio suficiente para impedir que as eleições deste ano fossem realizadas, com a utilização do sistema de urna eletrônica, nem que o ex-presidente Lula fosse candidato.

Todas as tentativas de tumultuar o processo eleitoral e desacreditá-lo, desde então, foram frustradas. Em todos os momentos em que Bolsonaro atacou a Justiça Eleitoral e, principalmente, o seu presidente, ministro Alexandre de Moraes, houve fortes reações das lideranças políticas e das instituições democráticas, que culminaram no manifesto lançado em 25 de agosto passado, por estudantes e professores da tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco (USP), que teve o papel de grande divisor de águas entre os setores democráticos da sociedade e aqueles que apostavam numa aventura autoritária, com a qual Bolsonaro acabou identificado.

Esse divisor de águas está tendo um papel decisivo no reconhecimento do resultado das eleições de domingo. A estreita vantagem numérica de Lula, ao obter 60.345.999 votos (50,9% dos votos válidos), contra 58.206.354 votos (49,1% dos votos válidos) de Bolsonaro, não reflete a dimensão do apoio que o resultado da eleição obteve imediatamente após o encerramento da apuração. A vitória de Lula foi reconhecida pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); pelo governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Seus principais aliados afastam qualquer possibilidade de uma reação golpista.

O reconhecimento internacional ao resultado das eleições, entre os quais destacam-se a rapidez com que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente francês, Emmanuel Macron, saudaram a vitória de Lula, e o acompanhamento em tempo real do pleito pela mídia internacional são outra barreira a eventuais intenções golpistas. Mas o que realmente torna inequívoca a vitória do petista é o fato de termos uma eleição em dois turnos, desde a Constituição de 1988, uma sábia decisão dos constituintes, tomada com base na nossa história política.

Passado

Getúlio Vargas voltou ao poder em 1950 numa eleição consagradora, com 48,83% dos votos, o que não impediu que seu mandato fosse confrontado até a crise de agosto de 1954, quando se matou, embora seu principal adversário, Eduardo Gomes, tivesse obtido apenas 29,66% dos votos. É famosa a frase de Carlos Lacerda, o líder da UDN: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Os setores que contestam o resultado da eleição repetem exatamente o mesmo raciocínio, porém, nenhuma liderança política de expressão da base governista defende essa posição.

Juscelino Kubitschek, o construtor de Brasília, foi um grande presidente da República, mas sua posse também foi contestada. Fora eleito com 36% dos votos, seguido por Juarez Távora, que obteve 30%. A UDN passou a defender a deposição de JK. Em 1956, iniciou-se em Jacareacanga-PA um movimento de militares contrários a JK; em 1959, na cidade de Aragarças-GO, ocorreu outro levante militar contra o presidente, reprimido por forças legalistas lideradas pelo marechal Henrique Teixeira Lott.

Caso a eleição fosse em turno único, Lula seria vitorioso com 57.259.504 (48,43%) votos, contra 51.072.345 (43,20%) de Bolsonaro, uma boa vantagem em relação ao atual presidente, mas não a maioria dos votos. O segundo turno foi realizado exatamente para que a maioria fosse inequívoca, como aconteceu. A demora de Bolsonaro para reconhecer a vitória de Lula alimenta especulações e a agitação golpista. Entretanto, ao mesmo tempo, funciona como um fator de desgaste político, que pode resultar numa liderança menor do que aquela que teria, com a grande votação que obteve, se optasse por reconhecer logo o resultado e assumisse o papel de líder da oposição, em bases democráticas.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-protestos-de-caminhoneiros-ressalta-a-importancia-do-segundo-turno/

Steven Levitsky observou que aliados de Bolsonaro já reconheceram derrota, ao contrário do que aconteceu nos EUA. Foto reprodução: Reuters

Reconhecimento da derrota de Bolsonaro por aliados foi grande diferença com eleição nos EUA, diz Levitsky

Mariana Sanches |  BBC News Brasil

Embora as luzes do Palácio da Alvorada, a residência presidencial, tenham se apagado na noite do domingo (30/10) sem que Jair Bolsonaro (PL) tivesse reconhecido a derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil encerrou o pleito em condição muito melhor do que os Estados Unidos no desfecho da disputa entre Joe Biden e Donald Trump, em 2020. É o que argumenta o cientista político da Universidade Harvard Steven Levitsky, autor do best-seller Como as democracias morrem.

Em uma história com tantos paralelos, Levitsky nota uma evidente diferença não apenas entre o que fizeram os presidente derrotados Bolsonaro e Trump, mas entre o modo como seus aliados se posicionaram.

Nos EUA, Trump foi à TV na noite da eleição para dizer que tinha vencido o pleito e que havia uma fraude - discurso que repetiria por dois meses e que desaguaria na tentativa de invasão do Capitólio, em 6 de janeiro. Enquanto isso, diz Levitsky, nenhum dos aliados ou lideranças do Partido Republicano se levantara contra as ações de Trump.

Já no Brasil, Bolsonaro não disse nada, apenas se recolheu. Já seus aliados vieram a público reconhecer a derrota. "Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados já deu os parabéns e a reafirma seu compromisso com o Brasil", afirmou o presidente da Câmara e um dos principais aliados de Bolsonaro, Arthur Lira, que completou: "É hora de desarmar os espíritos e estender as mãos aos adversários, debater e construir pontes".

Resultados

Já o deputado mais votado do país, o bolsonarista Nikolas Ferreira, gravou vídeo aos seus seguidores em que dizia que "hoje não elegemos um presidente de direita, talvez amanhã. Mas a luta continua". Assim como Ferreira, os deputados Ricardo Salles e Carla Zambelli e o senador Sergio Moro também prometeram ser oposição, reconhecendo a legitimidade da eleição de Lula.

Segundo Levitsky, ao agirem assim, os líderes da direita no Brasil estão dando uma espécie de "vacina" contra uma possível tentativa de ruptura democrática.

As manifestações dos aliados acontecem após meses de acusações infundadas do atual presidente brasileiro sobre fraudes nas urnas eletrônicas e parcialidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Reiteradas vezes, Bolsonaro afirmou que não aceitaria o resultado das urnas se fosse derrotado e espalhou o temor de que as cenas de insurreição dos trumpistas no Congresso dos EUA pudessem ser repetidas no Brasil.

Apoiadores de Jair Bolsonaro
Legenda da foto,Bolsonaro não se manifestou no domingo

"Quase ninguém na direita se levantou em 2020 e disse a Trump: 'não, você está errado, A eleição acabou, Biden venceu. Você tem que ir para casa'. Ninguém disse isso. Eles se calaram por dois meses e permitiram que todo o processo de tentar subverter o resultado crescesse. O que os políticos brasileiros fizeram até agora, aceitar publicamente a derrota para Lula, ajudará bastante a evitar qualquer tipo de aventura", argumenta Levitsky.

O cientista político antevê quatro anos difíceis de governo para Lula, mas afirma que a dificuldade de governabilidade não significa risco à democracia. Qualifica como "um gesto heroico" dos brasileiros a remoção de Bolsonaro do poder e diz que a "extrema-direita deverá seguir forte no país, com ou sem Bolsonaro à frente".

Leia a seguir os principais trechos da entrevista à BBC News Brasil, concedida por telefone no fim da noite de domingo (30/10).

BBC News Brasil - O Brasil elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e não deu um segundo turno a Jair Bolsonaro, que se torna o primeiro presidente brasileiro a tentar e não se reeleger desde a redemocratização. O que isso significa para a democracia do Brasil?

Steven Levitsky - Bolsonaro já reconheceu sua derrota?

BBC News Brasil - Não, aparentemente não falará esta noite, mas o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP) deu os parabéns ao presidente eleito e disse que "a vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser contestada". O presidente do Senado também se manifestou. O senador Sérgio Moro e a deputada Carla Zambelli também anunciaram que serão oposição, reconhecendo a derrota e o governador eleito por São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que "trabalhará com o governo federal".

Levitsky - Isso é uma ótima notícia. Parece que o Brasil conseguiu lidar com essa eleição muito melhor que os Estados Unidos. Os Estados Unidos sofreram com um presidente derrotado que passou dois meses tentando derrubar os resultados eleitorais e no final lançou uma insurreição armada para tentar reverter a derrota na eleição, e fracassou. Parece, ao menos por enquanto, que isso não vai acontecer no Brasil.

Apoiador de Bolsonaro chora

BBC News Brasil - Sim, mas ainda não sabemos como o presidente vai reagir, se vai conceder a derrota. O que temos são aliados políticos e líderes partidários indicando que reconhecem a vitória e não estão dispostos a contestações eleitorais.

Levitsky - Os Estados Unidos foram realmente muito piores. Trump declarou desde o dia da eleição que o pleito tinha sido fraudado. E não houve um Arthur Lira nos Estados Unidos, todos os principais republicanos ecoaram as alegações de Trump sobre fraudes ou simplesmente permaneceram em silêncio. Eles se recusaram a parabenizar publicamente Biden, a reconhecer publicamente que a eleição havia sido justa e que Trump tinha perdido. E com isso eles permitiram que, ao longo de dois meses, Trump tentasse roubar a eleição. Então, a resposta brasileira, o fato de parte significativa dos aliados políticos de Bolsonaro já terem se manifestado e aceitado publicamente os resultados das eleições é uma grande diferença com o que ocorreu nos Estados Unidos. A resposta do Brasil é muito mais saudável.

BBC News Brasil - A diferença entre os candidatos porém foi muito pequena, pouco mais de 2 milhões de votos, o que significa que o país está dividido. Lula diz que "somos uma só nação". Como Lula pode tentar unir as pessoas em torno de seu projeto?

Levitsky - Não dá. É um fato: o Brasil está dividido. O Congresso eleito é conservador. Isso vai limitar as condições de Lula de implementar a agenda progressista do PT, vai limitá-lo para conseguir fazer quase qualquer coisa. Lula terá metade do país contra ele, assim como Biden tem metade do país contra ele.

Mas isso também não significa que a democracia esteja sob ameaça, ou que Lula estará constantemente sob risco de impeachment desde o início. Os únicos dois casos de impeachment que ocorreram no Brasil, Collor e Dilma, foram casos nos quais o país não estava dividido, 50% a 50%. A grande maioria dos brasileiros apoiou os impeachments, para bem ou para mal.

Se as coisas ficarem tão polarizadas a ponto de haver um movimento para o impeachment de Lula desde o início, então, sim, o Brasil está em apuros. Mas eu não vejo essa possibilidade até pelo que estamos vendo da reação da direita no Brasil agora. Acho que haverá vontade política dos diversos partidos de trabalharem juntos. Acho que Lula tem muita experiência, muita habilidade, muita habilidade para trabalhar com o Congresso. O Brasil é um país grande, desigual, heterogêneo. Nunca vai estar unido em torno de nada. No momento, está bem dividido, mas não está tão polarizado quanto os Estados Unidos, o que é um bom sinal.

Lula vai ter quatro anos difíceis de governo. E será um processo lento e constante de reconstrução da confiança nas instituições democráticas. Reconstruir a confiança na classe política, que é muito importante e, no caso de Lula, é absolutamente essencial que ele convença um número maior de brasileiros que seu governo leva a sério o combate à corrupção. Lula e o PT nunca fizeram uma autocrítica política à corrupção horrenda que derrubou a presidência de Dilma. Claro que nem tudo, mas parte (dos escândalos da Lava-Jato) estava ligada ao PT. Mas o partido nunca reconheceu essa corrupção, nunca fez uma autocrítica séria. E deve fazer isso.

Os brasileiros votaram majoritariamente contra Bolsonaro nesta eleição. É certo que Lula tem algum apoio, mas o resultado de hoje é, em última análise, um gesto heroico da maioria contra um governo desagradável, incompetente e autoritário de Bolsonaro, o que é uma coisa gigantesca, porque presidentes em mandato raramente perdem a reeleição, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar da América Latina. O fato de os brasileiros removerem Bolsonaro foi uma grande conquista. Mas isso não foi um voto para Lula. Lula e o PT ainda são muito impopulares, então Lula tem muito trabalho a fazer não apenas para alcançar a governabilidade, mas para alcançar um mínimo de confiança pública na política, nos partidos, nos políticos e no governo. Porque há quatro anos, as condições que tornaram Bolsonaro viável foram uma desconfiança pública massiva e um desgosto com a classe política.

Luiz Inácio Lula da Silva
Legenda da foto,Vitória de Lula foi por pouco mais de 2 milhões de votos de diferença

BBC News Brasil - Em seu discurso de vitória, Lula disse que pretende ser o presidente de todos os brasileiros e parabenizou mesmo aqueles que votaram em seu adversário. Já Biden tem dito que o movimento "Faça a América Grande outra vez", de Trump, é um risco à democracia. Qual é a melhor abordagem?

Levitsky - Para sermos justos, Biden disse exatamente as mesmas coisas que Lula quando foi eleito: que ele queria ser o presidente de todos os americanos, não apenas daqueles que votaram nele, mas também daqueles que votaram em Trump, que ele os representaria. Mas é muito difícil fazer isso quando você tem um movimento político ou um grande partido político que não tem compromisso com a democracia. É um verdadeiro desafio.

Acho que o problema é pior nos Estados Unidos porque Bolsonaro não tem partido político. Quero dizer, ele tem muitos aliados políticos, muitos e muitos apoiadores, mas ele não é tão popular no geral e ele não tem um grande partido político por trás de si, como Trump tem. O Partido Republicano inteiro, que representa metade do país, está completamente comprometido com o trumpismo e agora ataca abertamente a democracia. Não me parece que veremos algo semelhante no Brasil. Acho que não há muitos deputados, senadores ou governadores de direita dispostos a trabalhar em estreita colaboração com Bolsonaro por uma agenda abertamente autoritária. E na verdade acho que o bolsonarismo pode acabar sendo mais fraco que o trumpismo.

Mas respondendo a sua pergunta, eu acho que a estratégia do Lula de fazer um apelo amplo, se abrir, tentar representar um setor tão amplo da sociedade brasileira quanto possível, incluindo uma grande fatia do Sul e da classe média que ele perdeu é um tiro longo, mas ele precisa tentar despolarizar e reconquistar pelo menos um mínimo de apoio entre quem votou em Bolsonaro.

Steven Levitsky, professor de Ciência Política da Universidade Harvard
Legenda da foto,Steven Levitsky, professor de Harvard, disse que eleição foi boa para a direita no Brasil

BBC News Brasil - Em sua mensagem a Lula, Lira falou sobre cooperação, trabalho em conjunto e evitar o revanchismo.

Levitsky - Sim, se podemos classificar essa eleição de alguma maneira, ela foi uma eleição especialmente boa para a direita. Então Lula vai ter que construir uma ampla coalizão, governar com a centro-direita. Não necessariamente o Centrão, mas o centro com certeza. Ele teve um relacionamento muito bom com a comunidade empresarial durante seus dois primeiros mandatos presidenciais, vai ter que reconstruir esses laços. As pessoas esquecem que o Lula de 2000 a 2010 foi um Lula bastante moderado, bem sucedido. Ele tem que voltar a isso, até para colocar um ponto final nessa histeria sobre Lula chavista e Venezuela, precisa reconstruir a confiança. E isso significa provavelmente um governo muito centrista e comprometido em dar alguns passos realmente críveis e sérios para combater a corrupção.

BBC News Brasil - Você disse que o bolsonarismo pode ser mais fraco do que o trumpismo, mas em 2022, Bolsonaro teve mais votos do que em 2018 e elegeu muitos nomes para o Congresso. É verdade que ele não tem um partido próprio, o que pode enfraquecê-lo, como o senhor sugere. Como vê esse movimento daqui pra frente?

Levitsky - Há uma crescente extrema-direita em grande parte da América Latina, em parte, em linha com as tendências de outras partes do mundo ocidental, onde há a emergência desse tipo de direita populista e iliberal. Em parte, esse movimento é um produto dos altos níveis de criminalidade, violência e insegurança. Em qualquer tempo, em qualquer democracia, quando há altos níveis de violência e as pessoas sentem medo, elas se voltam para a direita, especialmente a classe média. E isso aconteceu no Brasil. E ao mesmo tempo há o crescimento de um movimento evangélico cada vez mais politizado de direita iliberal no Brasil e na América Latina.

Essa direita se saiu muito, muito bem nesta última eleição, no primeiro turno, e vai continuar muito forte. E vai ser forte com ou sem Bolsonaro. Não consigo prever qual será exatamente o papel de Bolsonaro em tudo isso. Mas acho que ele estando à frente ou não, provavelmente continuará existindo uma extrema direita agressiva no Brasil, assim como há na Colômbia, na Argentina, no Chile, no Peru e em outros lugares.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63453815


Nas entrelinhas: Ninguém enfrentará os novos desafios sozinho

Luiz Carlos Azedo

Dono de um inédito terceiro mandato, com 59.563.912 votos (50,83% dos votos válidos), contra 57.675.427 votos (49,17% dos votos válidos) de Jair Bolsonaro (PL), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tem diante de si um desafio muito, mas muito maior mesmo, do que aquele que enfrentou ao ser eleito pela primeira vez, em 2002. Naquela época, seu governo sinalizava avanço no combate à pobreza, num ambiente saudável de reorganização da vida institucional e econômica do país, que herdou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, não. Está diante de uma ruptura com as políticas de governo em curso, protagonizada pelo reacionarismo do atual presidente, que é o primeiro a não se reeleger, desde 1998, quando foi instituída a reeleição.

A vitória de Lula foi muito apertada, obtida às 19h56 de ontem, quando 98,91% das urnas já estavam apuradas e era impossível reverter o resultado, apurados 117.305.567 votos válidos. Foram registrados 1.751.415 votos brancos (1,43%) e 3.889.466 votos nulos (3,16%). A abstenção chegou a 20,90%. Destaca-se a atuação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que matou no peito toda a turbulência do dia da votação, sobretudo a atuação de setores das forças policiais com claro propósito de dificultar o acesso às urnas da população mais propensa à votar no petista. No final do dia, minimizou as ocorrências e proclamou o resultado oficial.

Essa vitória apertada de Lula não tisna a envergadura da mudança que significa, porque praticamente retoma o fio da história interrompido com a impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), com duas preocupações: a centralidade das políticas de combate à pobreza e a pacificação do país. “Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio. A ninguém interessa viver em um país dividido, em permanente estado de guerra”, disse.

Embora o silêncio de Bolsonaro seja uma preocupação, o establishment político reagiu de forma muito positiva. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), logo após o resultado, reconheceu a vitória de Lula e defendeu a pacificação do país. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi na mesma linha. Bolsonaro, ao não reconhecer imediatamente a vitória de Lula, sinaliza dificuldades na transição para o novo governo. Entretanto, Lula conta com amplo apoio das instituições e solidariedade internacional muito robusta, simbolizada pelo rápido reconhecimento de sua vitória pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Bolsonaro obteve uma grande vitória eleitoral em São Paulo, com a eleição de Tarcísio de Freitas. Mas não levou o Rio Grande do Sul, com a vitória do tucano Eduardo Leite, o primeiro ex-governador do estado a ser eleito pela segunda vez, que derrotou seu aliado de primeira hora, o ex-ministro Onyx Lorenzoni. Com a grande votação e aliados importantes nos governos dos três maiores estados do Sudeste — São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais —, continua sendo a segunda maior liderança do país. Sua manifestação sobre o resultado das eleições, aguardada para hoje, é muito importante para a normalidade do processo democrático.

Problemas objetivos

A escolha feita pelo povo nas urnas precisa ser respeitada. Isso depende do candidato derrotado, mas sobretudo da força das instituições e da maioria da sociedade, que deseja a volta à normalidade da vida nacional. Teremos um período de transição de dois meses, no qual a cooperação entre o atual governo e a equipe de transição do presidente eleito será fundamental. As sequelas da disputa eleitoral serão duradouras, mas as feridas precisam ter cicatrização acelerada. A sociedade sangra com as disputas entre parentes e amigos, divergências que perdurarão, mas não comportam inimizades e violências.

A democracia tem dois pilares: a alternância de poder e o direito ao dissenso das minorias. É preciso respeitá-los, de um lado pelos que hoje estão no poder, de outro pelos que vão assumi-lo. Diante de uma grande encruzilhada, o país tem um longo caminho a seguir. Não se trata apenas do bem-estar imediato, por todos almejado, mas de construir um futuro melhor para as futuras gerações, diante de um mundo no qual as mudanças ocorrem numa velocidade que muitos não conseguem acompanhar.

Num cenário desses, a reação de muitos, quiçá até da maioria, às vezes é tentar congelar o tempo ou fazê-lo andar para trás. Isso não é possível. As ideias reacionárias vêm de um passado imaginário, no qual os velhos problemas são apagados, como se não fossem os trilhos que nos trouxeram às mazelas atuais. Entretanto, os problemas que estão na esfera do comportamento, dos costumes, da tradição, das religiões são de ordem subjetiva.

Os grandes problemas nacionais são de ordem objetiva, estão na esfera das nossa realidade, impactada pela globalização da economia, pelas novas tecnologias, pelas novas formas de produção, pelos novos laços sociais. Nossa integração à economia mundial perde complexidade em termos de balança comercial. Nossa vocação natural de produtor de commodities de minérios e alimentos na divisão internacional do trabalho é uma vantagem estratégica, porém não basta para assegurar o nosso pleno desenvolvimento.

Temos graves deficiências de infraestrutura e é flagrante a deterioração do nosso padrão de urbanização. As abissais desigualdades sociais são agravadas pela precarização do trabalho e por nosso secular racismo estrutural. Velhas práticas políticas patrimonialistas, clientelísticas e fisiológicas, em contradição com o Estado democrático de direito e suas instituições, enfraquecem o nosso sistema político e corrompem os partidos. Ninguém enfrenta essas tarefas sozinho.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-ninguem-enfrentara-os-novos-desafios-sozinho/

Foto: Getty Images

Mesmo derrotado para o Planalto, PL de Bolsonaro elege dois governadores

Karolini Bandeira | Metrópoles

Representado por Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores (PT) ganhou a disputa pela Presidência no segundo turno, neste domingo (30/10). Mesmo sem conseguir se manter no Planalto, o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaroelegeu governadores em dois estados.

Cláudio Castro (PL) conseguiu se reeleger logo no primeiro turno do pleito como governador do Rio de Janeiro. Ele venceu Marcelo Freixo (PSB), com 58,67% dos votos dos eleitores cariocas.

Neste domingo, eleitores de Santa Catarina também decidiram por um candidato do PL. Jorginho Mello disputava com Décio Lima (PT), e ficou na frente com 70,7% dos votos válidos, se elegendo o novo governador do estado. Lima ficou com 29,4%.

No primeiro turno, ele também havia se saído melhor, com 38,6%.

Em outros três estados, candidatos do PL chegaram a disputar o segundo turno das eleições, mas acabaram derrotados. São eles: Rio Grande do Sul, com Onyx Lorenzoni; Rondônia, com Marcos Rogério; e Espírito Santo, com Carlos Manato.

Esta é a primeira eleição com vitória de governadores pelo Partido Liberal. Fundada em outubro de 2006 como Partido da República (PR), a liga conservadora passou três eleições (2010, 2014 e 2018) sem sequer chegar perto do primeiro lugar de um pleito estadual.

Jair Bolsonaro se filiou ao PL em 30 de novembro de 2021. Para o analista político Caio Mastrodomênico, sua entrada é fator importante para a consolidação e expansão da sigla. “O aumento no número de representantes no PL acontece, evidentemente, devido à candidatura do Bolsonaro pelo partido. Isso também aconteceu no antigo PSL: Bolsonaro se filiou e tivemos um número de deputados eleitos pelo PSL por causa da onda bolsonarista.”

A escalada do bolsonarismo entre eleitores beneficia, também, os políticos que estão participando do mesmo projeto que o presidente — principalmente, sendo do mesmo partido.

Maior bancada

O PL obteve êxito na Câmara e no Senado nas eleições de 2022, e terá as maiores bancadas. Na disputa pelas 513 cadeiras da Câmara Federal, a sigla conseguiu eleger 99 deputados.

No Senado, o cenário se repetiu e o Partido Liberal teve 8 candidatos eleitos. Dessa forma, terá 14 cadeiras das 81.

Há quatro anos, em 2018, as maiores bancadas eleitas pertenciam ao PT, com 56 deputados, e ao então PSL, atual União Brasil, com 52.

Onda do conservadorismo no Brasil

O resultado das eleições para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reforça a ideia de que o Brasil vive uma onda em ascensão do conservadorismo. “Tivemos uma eleição voltada para a bancada conservadora muito maior do que nas últimas eleições. Apesar de a maioria da população ser cristã, nunca tivemos forte conservadorismo, essa onda é recente”, comenta Mastrodomênico.

Os eleitores colocam em poder “os representantes alinhados com as suas escolhas”, destaca o especialista. “Ou seja, se temos mais conservadores eleitos, significa que a maioria da população tem se demonstrado conservadora.”

Internacionalista e cientista político, Uriã Fancelli não acredita que os resultados das eleições de 2022 refletem a vontade da população. “O Brasil é um país com baixo nível de educação, em que 33 milhões de pessoas passam fome. Conseguir comprar o voto das pessoas, nessas circunstâncias, é muito mais fácil. Temos, agora, o aborto como uma das principais discussões. Essa questão reflete a necessidade do brasileiro?”

Francelli acredita que a disputa foi definida pela ascendência do bolsonarismo — movimento que, apesar de andar de mãos dadas com o conservadorismo, não é igual. “O bolsonarismo soube jogar muito bem, é um movimento organizado”, comenta.

Ainda assim, Francelli descarta a ideia de que o bolsonarismo domine o país. “No primeiro turno, temos muitos votos na Tebet e no Ciro. Lula marcou 5,1 pontos porque a maior parcela da população se recusa a votar em Bolsonaro”, aponta. O bolsonarismo também não conseguiu vencer no segundo turno, e o petista cravou vitória com 50,8%.

Matéria publicada originalmente no Metrópoles


Lula vota na escola João Firmino, em Sao Bernardo do Campo - Marlene Bergamo -30.out.22/Folhapress

Terceira vitória de Lula é mandato global

Mathias Alencastro | Folha de S. Paulo

A polêmica sobre a ação da Polícia Rodoviária Federal foi apenas o último episódio de uma eleição desastrosa, marcada pelo colapso do debate público e pela explosão da violência política.

Nesse ambiente, a vitória (por margem apertada) de Lula na eleição é o começo de um longo processo de
transição de governo.

A próxima etapa será a corrida pelo reconhecimento internacional. Antigamente uma mera formalidade, esta etapa se tornou um elemento essencial do processo de assentamento do poder na era da crise das democracias. Tudo indicada que o reconhecimento da vitória de Lula por entidades nacionais e multilaterais será realizado em tempo recorde.

Na Europa e nas Américas, chefes de Estado já se comprometeram a agir rapidamente, jogando no limite dos protocolos diplomáticos.

Numa sucessão de gestos de engajamento sem precedentes, Washington enviou o secretário de Defesa a Brasília em agosto, aprovou uma resolução em defesa da democracia no Brasil no Senado e, na semana passada, ventilou a possibilidade de indicar Jack Sullivan, uma das mais altas patentes do Estado, para acompanhar a transição em Brasília.

Os chefes de governo de Portugal e Espanha foram ainda mais longe e assumiram o risco de declarar apoio a Lula na reta final da campanha, e a União Europeia manifestou em diversas ocasiões o seu compromisso com o processo eleitoral brasileiro.

Essa decisão foi atestada pelo deslocamento de um sem-número de deputados europeus ao Brasil no segundo turno. Os últimos dias deixaram evidente que a preservação da democracia brasileira é uma questão de sobrevivência para as democracias do mundo inteiro.

Embora gigantescos, os desafios do terceiro mandato de Lula não são inteiramente diferentes dos obstáculos enfrentados por outras lideranças democráticas.

Joseph Biden e Emmanuel Macron também tiveram que lidar com cenários novos quando derrotaram a ultradireita em 2020 e 2022. O americano, à imagem de Lula, tem como principal ativo a experiência de lidar com o Congresso e a legitimidade, derivada das crises sanitária e climáticas, para reposicionar o
Estado na sociedade.

O presidente eleito brasileiro carrega, no entanto, duas vantagens decisivas. Em nível doméstico, a disputa do segundo turno abriu o caminho para a construção da aliança necessária para governar um país em deriva autoritária.

Lula é eleito presidente pela 3ª vez

Apoiadores do ex-presidente Lula comemoram enquanto aguardam apuração do segundo turno das eleições presidenciais na avenida Paulista, em São Paulo
Apoiadores do ex-presidente Lula comemoram enquanto aguardam apuração do segundo turno das eleições presidenciais na avenida Paulista, em Sã Miguel Schincariol/AFPMAIS 

Num cenário internacional arruinado pela onda populista e pela falência partidária, Lula tem a seu favor a conjuntura e a legitimidade para posicionar o Brasil como um ator central. Com algumas raras e notáveis exceções, como Nelson Mandela, os países do Sul Global jamais elegeram um presidente com tanta autoridade para pesar na governança global.

Não é por acaso que o seu primeiro ato de campanha foi uma quase-visita de Estado a Paris no ano passado.

Estava claro que a geopolítica e a política climática seriam fundamentais para acalmar a contestação da extrema direita e consolidar a governabilidade.

Se existe uma certeza sobre o terceiro mandato de Lula, é que ele será global.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo


Nas entrelinhas: Na escolha de destino, o povo fará a sua parte

Luiz Carlos Azedo

Hoje teremos o segundo turno das eleições, com 156 milhões de eleitores aptos a votarem. A grande incógnita da disputa é o comportamento dos que não votaram no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno, que receberam 57.259.504 (48,4%) e 51.072.345 (43,2%) dos votos, respectivamente. Aproximadamente 10 milhões de eleitores votaram nos demais candidatos — principalmente Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que obtiveram 4,22% e 3,06% dos votos válidos. Por gravidade, haveria uma distribuição proporcional entre os dois candidatos, mas não é assim que as eleições funcionam.

As pesquisas mais recentes mostram a repetição de um fenômeno ocorrido no primeiro turno: uma reação dos eleitores antipetistas contra o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que está provocando um empate técnico entre ambos, embora Lula permaneça sendo o favorito. Como não existe o mesmo fator surpresa do primeiro turno a favor de Bolsonaro, pode ser que isso resulte também no aumento do comparecimento dos eleitores que rejeitam o presidente da República e não votaram no primeiro turno. Ou seja, a eleição é imprevisível. Tudo vai depender do percentual de abstenções.

A última pesquisa CNT de Opinião, realizada pelo Instituto MDA, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte e divulgada ontem, mostra o ex-presidente Lula com 46,9% das intenções de voto e Bolsonaro, que concorre à reeleição, com 44,9%. Considerando apenas os votos válidos, Lula aparece com 51,1% e o chefe do Executivo, com 48,9%. O problema é que o petista variou na margem de erro para baixo e o presidente, igualmente, para cima. São apenas 2,2 pontos de diferença entre ambos. A rejeição de ambos, 50% para Bolsonaro, 45% para Lula, continua sendo uma variável decisiva.

Como ninguém ganha eleição de véspera e não nos cabe adivinhar o resultado, a única certeza é de que os eleitores estão diante de uma escolha entre dois projetos de país para as próximas décadas, num cenário internacional de grandes mudanças. Há muito mais coisas em jogo do que as virtudes e defeitos pessoais de Lula e Bolsonaro, que influenciam as escolhas da maioria dos eleitores. As eleições no Brasil são tradicionalmente “fulanizadas”, fruto da nossa herança “sebastianista”. Os próprios candidatos se julgam “salvadores da pátria”, como ficou evidente no debate da TV Globo de sexta-feira à noite.

Entretanto, Lula e Bolsonaro são portadores de projetos distintos do país, não estão sozinhos e simbolizam uma encruzilhada política, na qual estamos decidindo o rumo que o país vai tomar, sem um projeto claro de futuro. Sim, porque Lula fez sua campanha em cima das realizações de seu governo, no período que vai de 2002 a 2010. Esqueçam a Dilma, seu governo foi um estorvo para Lula, que somente a defendeu no debate para atacar o ex-presidente Michel Temer, a quem chamou de golpista.

Modelos

Quais foram as principais características do governo Lula? Uma aliança com os partidos do Centrão para garantir sua governabilidade; forte projeção na política internacional, tendo como eixo a articulação dos países em desenvolvimento, numa lógica Norte-Sul; política econômica que manteve o equilíbrio fiscal, mas atuou fortemente na economia a favor da transformação de grupos econômicos nacionais em players da economia globalizada; política de valorização do salário mínimo, com impacto generalizado na ampliação do mercado de consumo; e política de inclusão social e erradicação da miséria, com o programa Bolsa Família.

E o governo Bolsonaro, como atuou nesses quatro anos de mandato? Incorporou grande número de militares à gestão pública e consolidou sua aliança com os partidos do Centrão, entregando aos aliados a gestão do Orçamento das União; atuou fortemente para desregulamentar a economia, favorecendo setores produtivos ligados ao agronegócio; liquidou com as políticas sociais universalistas, principalmente na educação e na saúde; esvaziou os órgãos de fiscalização ambiental e adotou o darwinismo social como estratégia de governo, o que ficou muito evidente durante a pandemia da covid 19. Também avançou no sentido de priorizar a pauta dos costumes e incorporar as lideranças evangélicas ao seu governo.

Qual é a questão posta na votação de hoje para além dessas considerações: os dois projetos estão esgotados. Quando Lula critica a regulamentação do trabalho por conta própria (MEI) e defende a relação trabalho-capital com base no regime de contrato coletivo (carteira assinada), está se referenciando num tipo de economia que deixou de ser o padrão; a lógica do empreendedorismo, do sucesso pelo esforço individual, já disputa hegemonia com a velha consciência sindical classista.

Quando Bolsonaro propõe a adoção de um regime iliberal, com predomínio do Executivo em relação aos demais poderes e forte desregulamentação das relações trabalho-capital, está sugerindo uma ruptura institucional, de viés autoritário, para abrir caminho ao novo ciclo de modernização conservadora. Esse modelo também tem impacto na política externa, sobretudo do ponto de vista da questão ambiental.

É preciso novos paradigmas, com base em valores civilizatórios. O Estado democrático, a retomada do crescimento, a nova economia, a sustentabilidade, a liberdade individual e o respeito às minorias, a modernização do Estado, as novas relações capital-trabalho exigem uma nova política. Neste sentido, ao fazer suas escolhas, os eleitores estão cumprindo a sua parte. O por fazer depende das instituições e de quem for o novo presidente eleito hoje.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-na-escolha-de-destino-o-povo-fara-a-sua-parte/

Foto reprodução| Horizontes Democráticos

Datafolha: Bolsonaro é rejeitado por 50% dos eleitores; Lula, por 46%

Mayara Oliveira | Metrópoles

Pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha neste sábado (29/10), véspera do primeiro turno da eleição, mostra que 50% dos eleitores brasileiros não votariam no presidente Jair Bolsonaro (PL) de jeito nenhum. Os que dizem não votar em Lula (PT) são 46%.

No levantamento anterior, divulgado em 27 de outubro, Bolsonaro também era rejeitado por 50% do eleitorado, e Lula, por 45%.

O Datafolha ouviu 8.308 pessoas, entre 28 e 29 de outubro, em 253 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O levantamento está registrado no TSE com o número BR-08297/2022.

Votos válidos

Segundo o Datafolha, Lula tem 52% dos votos válidos, contra 48% de Bolsonaro. No último levantamento, divulgado em 27 de outubro, Lula aparecia com 53%, enquanto Bolsonaro tinha 47%.

Pela legislação brasileira, um candidato a governador ou a presidente é considerado eleito se obtiver maioria absoluta dos votos. Ou seja, mais da metade dos votos válidos – excluídos os votos em branco e os nulos.

Pesquisa estimulada

No cenário estimulado, com votos totais, e no qual o entrevistado responde em quem vai votar com base numa lista de postulantes, 49% disseram escolher Lula no segundo turno, enquanto 45% votarão em Bolsonaro.

Veja os resultados:

  • Lula (PT): 49% (49% no levantamento anterior, em 27 de outubro)
  • Jair Bolsonaro (PL): 45% (44% no levantamento anterior)
  • Brancos e nulos: 4% (5% no levantamento anterior)
  • Não sabe ou não respondeu: 2% (2% no levantamento anterior)

Pesquisa espontânea

Já na pesquisa espontânea, os entrevistadores não apresentam previamente o nome de nenhum dos dois candidatos. Nesse cenário, Lula aparece com 48%, e Bolsonaro, com 43%. Brancos e nulos somaram 4%; e outros 6% disseram que não sabem em quem votar.

Institutos sob investigação

Os resultados são divulgados em meio a uma nuvem de desconfiança sobre os institutos de pesquisa, incentivada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. A Polícia Federal e o Cade chegaram a abrir investigações para apurar a atuação das empresas durante a campanha eleitoral, mas foram suspensas pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

O ministro chamou os procedimentos de “evidente usurpação da competência” do TSE e apontou “incompetência absoluta” e “ausência de justa causa” da PF e do Cade.

Parlamentares buscam, na Câmara dos Deputados e no Senado, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os institutos. Ambos os requerimentos atingiram o mínimo de assinaturas necessárias; no entanto, não há previsão para instalação.

Em entrevista ao Metrópoles, na segunda-feira (24/10), Bolsonaro voltou a colocar dúvidas sobre a confiança nas sondagens. Segundo o mandatário, levantamentos feitos pela própria campanha apontam um empate técnico entre os presidenciáveis.

“Pessoal passa, meus técnicos, que a gente está num empate técnico. Mas eu sempre digo, não podemos confiar em pesquisas. Porque, coincidentemente, todas as pesquisas jogam contra mim desde 2018. E não foi diferente agora”, declarou em entrevista à diretora-executiva do Metrópoles, Lilian Tahan.

Em 2018, o último Datafolha antes do segundo turno apontava o atual presidente com 47% das intenções de voto contra 39% de Fernando Haddad (PT). Ao fim da eleição, Bolsonaro teve 55,13% dos votos válidos, e Haddad, 44,87%.

Primeiro turno

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, realizado em 2 de outubro, mostrou que a disputa pelo Palácio do Planalto entre Lula e Bolsonaro foi acirrada. Com 100% das urnas apuradas, o petista alcançou 48,43% dos votos, e o atual presidente, 43,20%.

Até a véspera do pleito, no entanto, os principais institutos de pesquisa não conseguiam cravar se haveria, ou não, um segundo turno na eleição nacional. No levantamento do Datafolha antes da eleição, Lula ficou com 48% contra 34% de Bolsonaro.

Matéria publicada originalmente no Metrópoles


Foto: reprodução/Shutterstock

O que eleitores mais querem saber sobre Lula e Bolsonaro 48 horas antes da votação

BBC News

Mas nem sempre essas dúvidas são facilmente sanadas — especialistas alertam para a torrente de notícias falsas espalhadas por diferentes plataformas.

Por isso, a 48 horas do pleito, a BBC News Brasil elencou as principais dúvidas dos eleitores sobre os dois candidatos à presidência — Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — e buscou as respostas.

Os dados foram colhidos a partir das buscas realizadas no Google nos últimos sete dias.

A maior parte das pesquisas mais recentes sobre Jair Bolsonaro e Lula gira em torno do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). Aliado do atual presidente, ele foi o delator do escândalo do "mensalão", um esquema de compra de apoio político ocorrido durante o primeiro mandato presidencial do petista.

Roberto Jefferson
Legenda da foto,Roberto Jefferson teve prisão domiciliar revogada por ter descumprido medidas impostas pelo Supremo

Quem é Roberto Jefferson

Presidente de honra do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o ex-deputado Roberto Jefferson é aliado do presidente Jair Bolsonaro. Ele estava em sua casa no interior do Estado do Rio de Janeiro e teve sua prisão domiciliar revogada nesta semana pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, por violar os termos de seu benefício.

Jefferson resistiu inicialmente à prisão, disparando contra policiais da PF (Polícia Federal) e atirando granadas contra eles. Dois agentes ficaram feridos.

Ele foi preso em flagrante. Nesta quinta-feira (27/10), Moraes converteu a prisão em flagrante de Jefferson em preventiva (por tempo indeterminado).

Bolsonaro tentou desvencilhar sua imagem da de Jefferson, chamou-o de "bandido", apesar de criticar sua prisão que, segundo ele, carece de "inquérito" e "atuação do MP (Ministério Público)". Disse também que não havia fotos dos dois juntos, o que não é verdade.

"Não tem uma foto dele comigo, nada", disse.

Mas imagens dos dois juntos estão registradas e foram divulgadas pelo PTB.

Jefferson foi o delator do chamado "mensalão", um esquema de compra de apoio político ocorrido no primeiro mandato de Lula como presidente — parlamentares recebiam dinheiro em troca de votarem a favor dos projetos do governo. Seu partido, o PTB, fazia parte da base aliada.

O que Bolsonaro fez na carreira política?

Bolsonaro entrou para a política em 1989 ao se eleger vereador pela cidade do Rio de Janeiro. Desde então, foi deputado federal por sete mandatos (28 anos), até ser eleito presidente da República em 2018 com cerca de 58 milhões de votos (55,13% do eleitorado).

Durante sua carreira política, apresentou cerca de 170 projetos de lei, mas apenas dois foram aprovados — um que estende o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para produtos de informática e outro que autoriza o uso da chamada a fosfoetanolamina sintética, a "pílula do câncer", cuja eficácia não foi comprovada; o STF acabou barrando o uso do medicamento.

O jogador Neymar
Legenda da foto,'Acho que ele está com medo de que, se eu ganhar as eleições, eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele. Acho que é isso que ele está com medo de mim', disse Lula sobre Neymar

O que Lula falou de Neymar?

O jogador de futebol Neymar apoia abertamente Bolsonaro. Em entrevista ao podcast Flow, em 18 de outubro, Lula comentou o apoio do craque a seu rival, afirmando que Neymar deve estar "com medo" de que um suposto perdão do chefe do Executivo à sua dívida com a Receita Federal seja descoberto.

"Não fico p..., Neymar tem o direito de escolher quem ele quiser para ser presidente", disse Lula. "Acho que ele está com medo de que, se eu ganhar as eleições, eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele. Acho que é isso que ele está com medo de mim", acrescentou.

O petista disse considerar "óbvio" que tenha havido um acordo entre Bolsonaro e o pai do jogador, o empresário Neymar da Silva Santos.

"Obviamente o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele. E ele agora está com problema com o imposto de renda na Espanha. Mas isso não é um problema do presidente, é da Receita Federal, e não meu", afirmou.

Por meio de um comunicado, a NR Sports, empresa da família de Neymar Jr. que gerencia a carreira do jogador, classificou afirmação como "falaciosa" e "leviana". Também disse que Lula deverá provar o que disse "no palco adequado".

"A NR Sports, seus Diretores e a família do Sr. Neymar da Silva Santos, repudiam a afirmação falaciosa que um dos candidatos à Presidência da República fez de forma leviana, ao acusá-los de práticas de condutas ilícitas supostamente praticadas em conjunto com o atual presidente Jair Messias Bolsonaro", escreveu a empresa no seu perfil no Instagram.

"Para encerrar definitivamente o assunto comunicamos que a informação é falsa. Os responsáveis deverão provar o contrário no palco adequado." "Em um momento importante que o país está vivendo não se espera de um candidato à presidência da república falas como essa, que ultrapassam os limites do razoável da liberdade de expressão", concluiu.

O que Bolsonaro fala sobre aposentadoria?

Em seu plano de governo, Bolsonaro diz pretender "aprimorar o sistema previdenciário, garantindo sustentabilidade financeira e justiça social".

Em vídeo divulgado por sua campanha, ele disse recentemente que o salário mínimo do Brasil irá aumentar acima da inflação para 2023, além de prever aumento real para aposentados, pensionistas e servidores públicos.

"Consertamos a economia do Brasil, estamos arrecadando muito, a partir do ano que vem, a nossa garantia é dar a todos os aposentados e pensionistas um reajuste acima da inflação, a mesma coisa no tocante aos servidores públicos. O valor do salário mínimo também será acima da inflação", afirmou.

Sobre aposentadoria, Bolsonaro foi alvo de fake news. Um vídeo que circula nas redes sociais foi editado para fazer crer que ele cortaria salários de servidores, pensões e aposentadorias em 25% e que essa seria uma proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Já outro vídeo, manipulado para distorcer sua fala, faz crer que Bolsonaro confiscaria a aposentadoria dos brasileiros e nomearia seu aliado, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, como ministro da Previdência.

Por que Bolsonaro se aposentou?

Jair Bolsonaro é aposentado pelo Exército Brasileiro.

Ele iniciou sua carreira no Exército em 1973 e entrou para a reserva remunerada em 1989.

Isso aconteceu porque, em 1988, ele foi eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro, e assumiu o mandato em 1989.

Segundo o Estatuto dos Militares, o integrante das Forças Armadas, se for eleito para cargo político, será transferido automaticamente para a reserva remunerada.

Essa reserva é diferente da aposentadoria, porque o militar ainda pode ser convocado para as atividades, se for necessário.

Mas, mesmo que queira seguir na ativa, o militar é obrigado ir para a reserva, de modo a evitar a influência de interesses político-partidários.

Em 2015, quando completou 60 anos, Bolsonaro atingiu a idade limite de permanência na reserva remunerada do Exército, passando, portanto, a ser capitão "reformado".

É falso que Bolsonaro receba R$ 68 mil de aposentadoria, como parece mostrar um suposto extrato de pagamento compartilhado nas redes sociais. Segundo o Portal da Transparência, ele recebeu, em agosto deste ano, R$ 11.945,49 brutos por sua atuação como militar.

Também é falso que ele tenha sido aposentado ou expulso do Exército com laudo de "insanidade mental", como alegam algumas publicações nas redes sociais.

Por que Lula não foi ao debate?

Lula não compareceu aos debates do 2º turno que aconteceram no SBT (21 de outubro) e na Record (23 de outubro).

A campanha do petista optou por enfrentamentos contra Bolsonaro apenas na Band (16 de outubro) e na Globo (28 de outubro).

No primeiro turno, Lula já havia optado por não ir ao debate no SBT; já a Record não organizou encontro com os candidatos. Na ocasião, o petista alegou "incompatibilidade de agendas".

Lula já falava que não deveria comparecer a todos os debates, mesmo antes do início da corrida presidencial. Sua campanha argumenta que tais eventos demandam muito tempo de preparação.

Já Bolsonaro disse que o rival "brochou" por não ir ao debate no SBT e o chamou de "fujão" por não ter marcado presença no encontro realizado pela Record.

André Mendonça e Jair Bolsonaro
Legenda da foto,Mendonça ocupou lugar de Marco Aurélio Mello

Quem Bolsonaro indicou para o STF?

Bolsonaro indicou dois ministros para o STF (Supremo Tribunal Federal), instância máxima do Poder Judiciário: André Mendonça e Kassio Nunes Marques.

André Mendonça foi o mais recentemente indicado pelo presidente, em 2021, e ocupou a vaga que era de Marco Aurélio Mello.

Ex-advogado-geral da União (AGU) e pastor presbiteriano, foi descrito por Bolsonaro como "terrivelmente evangélico".

Já Kassio Nunes Marques foi indicado pelo presidente em 2020 e ocupou a vaga que era de Celso de Mello.

Nunes Marques era desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª região.

Piauiense de Teresina, atuou como advogado por 15 anos. Ele é o único nordestino entre os 11 ministros.

Quando Lula nasceu? Quando virou presidente? Quando saiu do poder?

Lula nasceu em Caetés, no interior do Estado de Pernambuco, em 27 de outubro de 1945. Ele tem 77 anos, 10 a mais do que Bolsonaro.

Ele foi empossado como presidente em 1º de janeiro de 2003. Governou o Brasil por dois mandatos e saiu do poder em 1º de janeiro de 2011, quando passou a faixa presidencial à sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff, que havia sido ministra da Casa Civil e de Minas e Energia de seu governo.

Jair Bolsonaro leva facada durante campanha de 2018
Legenda da foto,Bolsonaro estava sendo carregado por apoiadores quando levou uma facada na barriga em 2018

Quando Bolsonaro levou a facada?

Bolsonaro foi vítima de um ataque durante um ato de campanha em Juiz de Foras (MG) em 2018.

Ele recebeu uma facada e precisou passar por cirurgia.

O autor do ataque foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira. Ele segue preso em uma penitenciária federal em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Segundo um laudo pericial, Bispo "permanece com diagnóstico clínico de transtorno delirante persistente" e teria "alucinações de cunho religioso, persecutório e político que se manifestam frequentemente".

Um delegado que cuidou do caso concluiu por duas vezes que ele agiu sozinho e que não houve mandante no atentado contra Bolsonaro.

Em junho de 2020, com base nas conclusões da segunda investigação da Polícia Federal sobre o episódio, o Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento do inquérito policial que apurava o possível envolvimento de terceiros no crime.

Apesar disso, Bolsonaro e aliados no governo alegam que o atentado foi orquestrado.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63426576


Lula e Bolsonaro se enfrentam em disputa acirrada neste domingo (30) - Nelson Almeida, Mauro Pimentel / AFP

Quem for eleito presidente encontrará o Brasil em qual situação em 2023?

Brasil de Fato

Amanhã, 30 de outubro, o povo brasileiro voltará as urnas para o segundo turno das Eleições 2022. De um lado o candidato que está tentando a reeleição, e do outro o que já foi presidente por dois mandatos durante o maior momento de crescimento econômico no país.

Mas quem for eleito presidente vai encontrar o Brasil em qual situação? Quais as expectativas para os próximos quatro anos? Para fazer essas análises, o Brasil de Fato conversou com a cientista política, Carla Michele Quaresma.

Quaresma é formada em Ciência Política, Sociologia e Marketing. Atua como professora universitária e pesquisa questões relacionadas aos partidos políticos, marketing político e eleitoral, financiamento de campanhas eleitorais. Confira a entrevista.

Brasil de Fato: Quem for eleito vai encontrar o Brasil em qual situação?

Carla Michele Quaresma: Vai encontrar um país que voltou ao mapa da fome. Nós temos hoje no Brasil quase 60 milhões de pessoas vivendo com algum nível de insegurança alimentar, um desafio que nós achávamos que já tinha sido superado nesse país, e que infelizmente volta a nos trazer problemas sociais muito graves. Vai encontrar um país com déficit educacional também enorme, houve aí toda uma desestruturação do sistema educacional no Brasil nesses últimos anos, um projeto que foi construído, de garantir a democratização do ensino, o acesso, inclusive, ao ensino superior no Brasil e foi completamente desmontado nesses últimos anos. Então nós temos um prejuízo do ponto de vista da formação de pessoas, essa qualificação que ajuda na construção da cidadania, mas ajuda também na incorporação dos indivíduos no mercado de trabalho numa situação mais privilegiada, com melhores salários, com melhores condições de trabalho.

Vai encontrar um país que igualmente desestruturou o investimento na área de ciência e tecnologia, então nós temos esse desafio muito grande, que é retomar investimentos para fazer com que o país possa avançar, para que o país possa projetar-se internacionalmente como o país que respeita e que produz ciência e tecnologia.

Além do problema da fome, além desse déficit educacional, desse déficit de ciência e tecnologia nós temos outros grandes desafios para o próximo governante, em relação a esses mecanismos que também foram desenvolvidos nos últimos anos, que impedem o cidadão de ter acesso à informações que são essenciais,  inclusive sobre o orçamento público.

O próximo governante terá que se reconciliar com o povo brasileiro, no sentido de trazer uma confiança do povo brasileiro às suas instituições democratas, uma confiança do ponto de vista da gestão em relação ao bom uso do dinheiro público. Então é um desafio muito grande, fazer com que o orçamento se torne cada vez mais transparente para que as pessoas possam ter acesso a mecanismos que também incorporem esses juízos individuais no processo de tomada de decisões, essa incorporação, em uma lógica participativa na gestão dos recursos públicos. Esses são apenas alguns dos grandes desafios que o próximo Presidente da República terá que enfrentar na próxima gestão.


Nós temos hoje no Brasil quase 60 milhões de pessoas vivendo com algum nível de insegurança alimentar, um desafio que nós achávamos que já tinha superado nesse país / Foto: Wellington Lenon

Esses pontos que você trouxe seriam as principais pautas para serem trabalhadas nos próximos quatro anos?

Sem sombra de dúvidas. A questão da fome hoje é urgente. Nós temos no Brasil uma quantidade expressiva de brasileiros que não têm acesso ao mínimo necessário para garantir a sobrevivência. Eu não falo nem de dignidade, porque comida não garante dignidade, comida garante a sobrevivência, o básico para que a pessoa mantenha-se viva. Esse é o maior desafio. É o mais urgente.

Acho que a primeira ação governamental tem que ser no sentido de enfrentamento da fome para que nós tenhamos essa possibilidade de resgatar brasileiros que estão vivendo abaixo da linha da pobreza. Isso é, sem sombra de dúvida, algo mais urgente para o país no primeiro momento. E, claro, nós tivemos esse déficit educacional fruto de uma ausência de investimentos, uma ausência de planejamento para que realmente os bons índices que foram alcançados no Brasil em relação a inserção de jovens no ensino superior, em relação a democratização do acesso ao ensino técnico no Brasil com a expansão das escolas técnicas, inclusive a interiorização das escolas técnicas no Brasil, tudo isso foi sucateado, isso precisa ser recuperado. Nós precisamos garantir que os nossos jovens criem uma expectativa para o futuro. Isso só se faz através da educação. 

É preciso resgatar programas como o ProUni, como o FIES, garantir mais uma vez programas como o Reuni para a reestruturação das universidades públicas que foram completamente negligenciadas nos últimos anos, garantir que haja um rápido acesso de jovens ao ensino técnico, ao ensino universitário no Brasil, e claro, a questão da saúde que é uma questão histórica.

Nós tivemos também, em virtude dessa ausência de investimentos, uma situação decorrente da má gestão da pandemia que criou uma série de problemas também na área da saúde. Nós temos hoje brasileiros que não conseguem ter acesso a uma consulta, a um exame simples, é necessário que o governo federal tenha esse esforço coordenado com os governadores de estado para garantir que essas filas de exames, de consultas sejam rapidamente diminuídas. O próximo presidente terá que fazer um esforço coordenado com os governadores de estado alocando recursos para garantir também a retomada desses investimentos que nesse último governo foram negligenciados. A locação correta desses recursos para garantir o acesso também a uma saúde de qualidade para o brasileiro.

De certa forma, esse período de pandemia da covid-19 também trouxe impactos para a economia nacional. Como o próximo presidente deve lidar com a economia nos próximos anos?

Nós temos aí uma necessidade de adequação do orçamento, também pela questão da pandemia, mas é bom que as pessoas saibam que foi imposto aí a lógica governamental no país, o teto de gastos que é completamente fora de contexto. Porque todos nós que temos essa possibilidade, por exemplo, de pagar uma mensalidade de um colégio, pagar a mensalidade de um plano de saúde, sabemos que existe um reajuste anual e nós não temos um teto para isso, nós pagamos por esse reajuste porque nós sabemos que há a necessidade de reajustar os salários dos professores, que há o reajuste natural.

Nós temos hoje no Brasil o maior pico inflacionário desde o início do plano real, corroendo o poder de compra das pessoas. O teto de gastos é algo que precisa ser repensado, porque nós não estamos falando, quando mencionamos a falta da educação, da saúde, nós não estamos falando de custos, nós estamos falando de investimentos, e se nós fazemos esse investimento na nossa casa, pagando o nosso plano de saúde que reajusta anualmente, pagando a mensalidade do colégio dos nossos filhos, que reajusta anualmente, o povo brasileiro, aquela família que realmente precisa do serviço público não vai ter a garantia de um bom atendimento que, necessariamente, passa pelo reajuste, a readequação de preço desses atendimentos, então isso é também um desafio muito grande para o próximo gestor, rever essa questão do teto de gastos.

É claro que qualquer gestor público tem que ter muita responsabilidade, nós temos, inclusive, uma legislação que impõe a responsabilidade fiscal, nenhum gestor pode gastar de maneira a exceder aquilo que ele arrecada, mas é necessário garantir que essa alocação dos recursos seja feita da maneira adequada para atender verdadeiramente os interesses do povo brasileiro, da maioria dos brasileiros que vivem em uma situação, muitas vezes, de pobreza e de extrema pobreza. Então, esses recursos devem ser direcionados no sentido de garantir uma sociedade cada vez mais igualitária.

Teremos muitos desafios como já mencionei a questão da inflação, que está correndo o poder de compra, principalmente dos salários, que atinge frontalmente todos os trabalhadores brasileiros que, quando vão ao supermercado encontram dificuldades de comprar o mínimo necessário da cesta básica, para garantir alimento para sua família. A questão da inflação, essa aceleração do processo inflacionário no Brasil, que até pouco tempo atrás era um problema que nós considerávamos resolvido, nós tivemos uma estabilidade econômica no Brasil que durou até um governo atrás, nós precisamos recuperar essa estabilidade da economia.

O próximo governante vai ter que pensar seriamente em valorizar mais uma vez o que já foi feito no Brasil, inclusive, nos dois primeiros governos do ex-presidente Lula, no governo da ex-presidente Dilma, uma valorização real do salário mínimo. Não é somente a correção pela inflação, e muito menos isso que está sendo proposto pelo atual governo que é de fazer com que esse salário nem seja reajustado pela inflação, ele vai ser reajustado a partir de um indexador que não cobre nem o processo inflacionário, ou seja, vai depreciar completamente esse poder de compra do salário mínimo. Nós precisamos de um governo que garanta o fortalecimento do salário mínimo, que dê poder de compra para as pessoas, que garanta a retomada do desenvolvimento da atividade econômica do país de modo a gerar empregos de maior qualidade.


Nós temos hoje no Brasil o maior pico inflacionário desde o início do plano real, corroendo o poder de compra das pessoas. / Foto: Reprodução

Quais caminhos o próximo presidente da República pode trilhar para mudar a realidade em que o Brasil encontra atualmente?

Nós temos um país, e os resultados eleitorais denunciam isso, profundamente dividido. Nós temos uma sociedade brasileira que está dividida em relação a projetos políticos diferentes. O próximo presidente tem que ter uma capacidade enorme de conversação com diversos segmentos da sociedade, para repactuar a nossa convivência, para garantir que possamos retomar um projeto desenvolvimentista para esse país, independente de questões individuais ou de pautas que estão completamente pouco sintonizadas com as reais necessidades do brasileiro, que é emprego, que é renda, que é um salário digno, que é o combate à inflação. Esses são os verdadeiros problemas da sociedade brasileira. Que é garantir novamente o acesso à educação, à saúde, à moradia.

Essas são as condições reais que o próximo Presidente da República terá que enfrentar, e para isso ele vai ter que repactuar, chamar a sociedade, diversos seguimentos da sociedade civil organizada para garantir que haja o compromisso coletivo, no sentido de retomada da normalidade, de retomada e fortalecimento das nossas instituições democráticas. Então o grande desafio é fazer com o Brasil se reintegre.

Como você avalia a composição do Senado Federal e da Câmara dos Deputados para a governabilidade nos próximos quatro anos?

Nós tivemos o crescimento de alguns fenômenos eleitorais, e que se repetiu. Nós já vimos esse evento em 2018, repetiu-se agora em 2022. Então aquilo que nós imaginávamos que era apenas uma onda, a onda bolsonarista, que ajudaria a eleger representantes no parlamento, os grandes fenômenos eleitorais, inclusive, grandes puxadores de votos, não foi somente uma onda, mas percebemos que existe um projeto em curso, um projeto muito forte no Brasil que independe, inclusive, do presidente Bolsonaro.

Mas é bom que se diga também que partidos políticos como o PL, que foi o partido que formou a maior bancada na Câmara dos Deputados, são partidos que vivem naquela situação de muito fisiologismo político, de muita troca. São partidos do chamado 'centrão', que sempre foram esses partidos hegemônicos no Congresso Nacional. Independente de quem seja o próximo Presidente da República, cabe a esse governante definir quais são as estratégias para fazer com que essa situação, que é uma situação estrutural no Brasil, de fisiologismo entre os poderes, seja definidamente superada e o caminho para isso é a abertura do orçamento, fazer com que a sociedade participe das decisões governamentais e defina onde o recurso público deve ser investido.

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Fonte: BdF Ceará

Edição: Camila Garcia

Matéria publicada originalmente no Brasil de Fato


Análise: Com troca de acusações e poucas propostas, debate da Globo foi uma chatice

Nas Entrelinhas | Luiz Carlos Azedo

O debate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro foi marcado pela troca de acusações entre os dois candidatos, sem nenhuma grande novidade. Lula e Bolsonaro se referenciaram no próprio governo, dentro de um roteiro mais ou menos previsível. Não houve nada que pudesse criar um fato político novo às vésperas da eleição. a ponto de alterar radicalmente a correlação de forças na campanha eleitoral.

Bolsonaro procurou atacar Lula nos pontos em que o petista tem mais dificuldades para se defender: o escândalo da Petrobras, o envolvimento de líderes petistas no mensalão, as invasões de terras do MST e a ocupação de prédios desabitados. A recessão no governo Dilma Rousseff, as relações de Lula com a Argentina, Venezuela e Cuba. Tentou pautar a questão dos costumes para pôr Lula na defensiva em relação ao aborto. Tudo isso já está redes sociais.

Lula bateu em Bolsonaro por causa dos reajustes do salário-mínimo e das aposentadorias abaixo da inflação, criticou a atuação do governo durante a pandemia, questionou a política armamentista de Bolsonaro, seus arroubos autoritários e o isolamento internacional. Tentou levar o debate para a discussão de propostas, mas os ataques pessoais continuaram dando a tônica.

As agressões pessoais foram constantes, um chamando o outro de mentiroso. Bolsonaro chamou Lula de ladrão várias vezes, Lula acusou Bolsonaro de envolvimento com o escândalo das rachadinhas. Mas ninguém foi nocauteado. Em comparação com os debates anteriores, Lula estava muito mais seguro e combativo; Bolsonaro manteve sua usual agressividade. Ambos esgrimiram números sobre indicadores de violência, recursos destinados à educação e a saúde e a questão ambiental, igualmente em relação ao emprego, à renda e taxas de crescimento.

Trocando em miúdos, Bolsonaro precisava levar Lula a nocaute; não conseguiu. Lula precisava apenas chegar ao final do debate inteiro, sem fraquejar; conseguiu. Vamos ver se o resultado das urnas confirma essa avaliação.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/analise-com-troca-de-acusacoes-e-poucas-propostas-debate-da-globo-foi-uma-chatice/