Tanto Bolsonaro quanto Chávez fizeram carreira militar e tiveram problemas disciplinares que os levaram a deixar as Forças Armadas | Foto: Reprodução/BBC News Brasil

O roteiro Chavez

Sérgio C. Buarque,* Jornal do Commercio

Depois de fracassar na tentativa de golpe, em 1992, o coronel Hugo Chavez se elegeu presidente da Venezuela em 1998. Saiu do poder apenas quando morreu, em 2013, tendo governado o país durante 15 anos. Depois de morto, o regime bolivariano montado por ele continuou através do seu sucessor, Nicolas Maduro. Mesmo afundando na maior crise econômica e social da histórica da Venezuela, níveis alarmantes de pobreza num dos países mais ricos da América Latina, o chavismo governa o país há 24 anos. O roteiro Chavez para consolidação do poder é um exemplo para os candidatos a ditadores: controle do Judiciário, militarização do governo, autorização para reeleição sem limites, armamentismo da população e pressão e controle da imprensa.

Em 2003, Chavez conseguiu aprovar na Assembleia Nacional o aumento dos membros do Tribunal Constitucional de 20 para 32 ministros, nomeando 12 novos membros com seus aliados. A legislação autorizou o governo a afastar ministros do Tribunal quando julgasse que sua conduta feria o "o interesse nacional", o que tem levado ao desligamento de ministros que desagradem ao presidente. Para completar o controle jurídico, Hugo Chávez substituiu o procurador-geral, que questionava a legalidade de algumas das suas decisões, pelo seu vice-presidente e aliado incondicional.

Hugo Chavez distribuiu os mais importantes cargos do governo com militares, praticamente entregou a PDVSA e toda a cadeia de produção petrolífera e mineral. Comandantes militares se organizaram em empresas que passaram a controlar vários ramos da economia e dos serviços públicos da Venezuela. Ao mesmo tempo, ele promoveu uma massiva distribuição de armas com a população criando um exército paralelo de milicianos e formando grupos paramilitares politicamente alinhados ao chavismo, que, em várias ocasiões, reprimiram manifestações populares.

Além do apoio total dos militares, Chavez conseguiu maioria na Assembleia Constituinte para conceder poderes extraordinários ao executivo e autorização para reeleição ilimitada do presidente da República. No seu segundo mandato, o governo bolivariano passou a perseguir e silenciar a imprensa: cancelou a renovação da concessão da Radio Caracas Televisión, sufocou financeiramente as emissoras críticas e comprou o apoio de outras com a distribuição generosa de anúncios. Ao menos 200 órgãos de imprensa tiveram sua atuação suspensa e houve sucessivas violações do trabalho jornalísticos, incluindo prisões arbitrárias de jornalistas.

Este modelo de poder construído pelo coronel Chavez é o roteiro que o capitão vem conduzindo no Brasil, um manual para implantação da ditadura bolsonarista. Se for reeleito, Bolsonaro vai avançar nas medidas para consolidação do seu poder autoritário. O Brasil será a Venezuela amanhã.

Sobre o autor

Sérgio C. Buarque é economista, com mestrado em sociologia, foi jornalista da Deutsche Welle (de 1975/1979) e correspondente da IstoÉ na Alemanha (1977) e professor titular da FCAP/UPE (de 1982/2014).

Atualmente é consultor em planejamento estratégico com base em cenários e desenvolvimento regional e local, é sócio da Factta-Consultoria, Estratégia e Competitividade, conselheiro do Conselho Consultivo da Fundação Astrojildo Pereira e seminarista do Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco. Membro do Conselho Editorial da Revista Será? colabora como articulista com o Jornal do Commércio e com a revista Política Democrática.


Em nota, Igualdade 23 repudia ataques racistas contra Seu Jorge

Cidadania23*

A Coordenação do Coletivo Igualdade 23 do Cidadania divulgou nota pública (veja abaixo), nesta quarta-feira (19), na qual repudia ‘os ataques racistas contra o cantor Seu Jorge, em Porto Alegre (RS), ocorridos na última sexta-feira (14), durante um show do artista em clube da cidade.

“Ainda que fique provado, o que Seu Jorge nega, que a violência tenha sido desencadeada após manifestações político-partidárias, não há justificativa para os ataques”, diz trecho do texto.

A nota também chama atenção para o fato de o País já ter arcabouço jurídico para punir casos de racismo, e para que esse caso ‘sirva de incentivo ao combate ao racismo e violências correlatas, ocorram com qualquer pessoa e em qualquer lugar do Brasil’.

“O racismo à brasileira é persistente e desconhece reputações, condição social ou carismas

Os ataques racistas contra o cantor Seu Jorge em Porto Alegre ocorridos na última sexta-feira, 14, demonstram o quanto essa chaga social é persistente e incomodamente diversificada no país, ou seja, atinge pessoas de diversas classes socias, gente simples, de classe média e até personalidades de reconhecida reputação e carisma social como o caso do artista, cantor e ator, amado por muitos públicos.

Ainda que fique provado, o que Seu Jorge nega, que a violência tenha sido desencadeada após manifestações político-partidárias, não há justificativa para os ataques. Sabidamente, é bastante usual que ícones das artes se manifestem publicamente sobre suas preferências ideológicas, sem que isso legitime virulência por parte do público onde quer que seja.

Até aqui é animadora a reação da direção do Grêmio Náutico União, palco do triste episódio, que prometeu tomar todas as providências cabíveis para que o assunto não fique na impunidade nas estatísticas.

Apesar disso, gera suspeita a informação de que os administradores do local apagaram todas as fotos e vídeos que envolviam a apresentação do cantor.

Entra em cena a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, instituição a quem cabe as investigações via inquérito para apurar as denúncias de racismo contra Seu Jorge.

O que vem sendo veiculado é que parte do público ofendeu o cantor o comparando a um “macaco”, insulto acompanhado de imitações corporações, segundo testemunhas do ocorrido.

É instigante a propósito desse fato recordar que a primeira lei contra a discriminação racial brasileira, a Afonso Arinos, teve a tramitação e aprovação impulsionada pelo caso de racismo contra uma bailarina negra. Katherine Dunham, afro-americana, impedida de se hospedar em um hotel em São Paulo devido à sua cor de pele, em 1951.

Não esperamos que o desrespeito a essa estrela das artes, nesse caso um brasileiro, Seu Jorge, se traduza em nova legislação. Já temos suficiente arcabouço para punir casos assim. Clamamos que o imbróglio sirva de incentivo ao combate ao racismo e violências correlatas, ocorram com qualquer pessoa e em qualquer lugar do Brasil.

Coordenação do Coletivo Igualdade 23 do Cidadania

Texto publicado originalmente no portal do Cidadania23.


O ex-presidente Lula (PT) durante live na terça-feira (25) - Reprodução

Lula diz que, se eleito, Brasil passará por um processo de reconciliação

Victoria Azevedo*, Folha de São Paulo

A quatro dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (26) que, caso ele seja eleito, o Brasil irá passar por um processo de reconciliação.

"O bolsonarismo vai continuar, o ódio vai continuar por um tempo, os fanáticos vão continuar por um tempo. Mas acho que a gente vai ter um processo de reconciliação da população brasileira", disse.

O ex-presidente afirmou ainda que o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu adversário na corrida eleitoral, é "anormal" e que ele criou "um determinado ódio" no país que "não existia nas eleições".

"Nasci na vida política fazendo negociação. Acho que vamos estabelecer uma política de boa convivência com a sociedade brasileira. Chega de animosidade", seguiu o petista.

Lula concedeu entrevista à Rádio Mix Manaus na manhã desta quarta.

O petista também criticou declarações de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas e disse que o atual mandatário ataca as urnas porque "como sabe que vai perder, ele está tentando encontrar uma coisa para culpar".

"O povo vai decidir soberanamente e o que ele decidir todo o mundo vai acatar porque nós não duvidamos da urna."

Lula seguiu dizendo que as eleições deste ano são entre a "manutenção e a conquista da democracia" no país ou "a continuidade da barbárie que que representa o governo Bolsonaro".

Ao ser questionado sobre qual será a composição de seus ministérios em um eventual governo, Lula disse que não vai sentar na cadeira antes de ganhar e que, primeiro, é preciso ganhar as eleições para depois discutir essa questão.

"Não está na hora de anunciar nada. Está na hora de ganhar as eleições. Vou fazer [composição de] ministério que represente a sociedade brasileira, com gente competente e com gente fora do PT."

"Falta apenas quatro dias para as eleições, só quatro dias. Quando chegar às 19h, às 20h vamos ter o resultado. E aí, sim, se eu ganhar, vou começar a discutir os ministérios."

Sobre uma eventual participação da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno e aliada de Lula na segunda rodada do pleito, o petista disse que ela é um quadro político importante, mas que anunciar algo agora seria se precipitar.

"Obviamente que a gente pode ter muita contribuição da Simone mas eu só não posso dizer que Simone vai ser ministra porque eu estaria precipitando uma coisa que eu não quero precipitar."

Ele disse que sua eventual equipe ainda não está formada porque "depende de muitas coisas". "Tenho pensado no meu travesseiro, porque se eu comentar com alguém vai vazar a notícia. E eu não quero que vaze notícia. Quero primeiro ganhar as eleições, esse é o principal objetivo."

Lula também voltou a fazer um apelo para que as pessoas comparecem às urnas e disse que essas eleições são as mais importantes dos últimos anos no Brasil.

"Não se abstenha. Não anule o voto. Escolha o seu candidato a presidente da República. É muito importante que o povo compareça a votar", disse.

O ex-presidente também defendeu a realização de uma reforma tributária que "cobre mais de quem tem mais e cobre menos de quem ganha menos", afirmou que irá manter o auxílio de R$ 600 com acréscimo de R$ 150 para crianças menores de seis anos, que terá aumento do salário mínimo com aumento real acima da inflação e disse que defende isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Ao ser questionado se chegou a hora de taxar as grandes fortunas, Lula respondeu: "Chegou a hora, sempre é a hora".

Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2022

Texto publicado originalmente no Folha de São Paulo.


O Acordo de Paris sobre o clima entrou em vigor em novembro do ano seguinte e aborda mitigação, adaptação e financiamento | Foto: picture alliance

Mundo está distante da meta do Acordo de Paris, diz ONU

Made for Minds*

As promessas internacionais atuais para reduzir as emissões de gases do efeito estufa são insuficientes para que o planeta se atenha ao limite de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris, aponta um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quarta-feira (26/10).

Com base nas metas nacionais de emissões de 193 países, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) prevê um aumento médio da temperatura global de 2,5°C acima da média pré-industrial até o fim do século.

Isso representa 1°C acima do ambicioso limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris, além do qual cientistas afirmam que a probabilidade de catástrofes climáticas aumenta significativamente.

Com cada fração de grau de aquecimento, dezenas de milhões de pessoas mundo afora passam a estar expostas a severas ondas de calor, escassez de alimentos e água e inundações.

O relatório também prevê que, com os compromissos internacionais atuais, as emissões aumentarão 10,6% até 2030 em relação aos níveis de 2010, um pouco menos que os 13,7% estimados no ano passado. Cientistas afirmam, no entanto, que as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento do planeta precisariam ser cortadas em 45% em relação a 2010 até o fim desta década.

Ainda segundo o relatório, somente 24 de 193 países que concordaram na Conferência do Clima de Glasgow do ano passado em intensificar suas ações climáticas seguiram adiante com planos mais ambiciosos.

"Ainda não estamos nem perto da escala e do ritmo de redução das emissões necessários para nos colocar no caminho certo", afirmou o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell. "Para manter esse objetivo [do aquecimento global de até 1,5°C] vivo, governos nacionais precisam fortalecer seus planos de ação climática agora e implementá-los nos próximos oito anos."

Negociado por mais de 190 países em 2015, o Acordo de Paris sobre o clima entrou em vigor em novembro do ano seguinte e aborda mitigação, adaptação e financiamento no âmbito das mudanças climáticas.

Conferência do Clima

O relatório desta quarta foi divulgado a menos de duas semanas da próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 27, a ser realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, e na qual os países envolvidos deverão novamente tentar elevar suas metas de redução de emissões.

No entanto, a guerra da Rússia contra a Ucrânia, a crise energética internacional impulsionada pelo conflito e a instabilidade política em países como o Brasil e o Reino Unido devem dificultar a cooperação e os esforços para combater o aquecimento global.

"A COP 27 é o momento em que os líderes globais podem recuperar o ímpeto da mudança climática, dar o passo necessário das negociações à implementação e avançar na transformação maciça que deve ocorrer em todos os setores da sociedade para enfrentar a emergência climática", afirmou Stiell.

Texto publicado originalmente em Made for Minds.


Um militar ucraniano ao lado de uma cratera de morteiro em um campo na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, em 24 de outubro de 2022. - Dimitar Dilkoff / AFP

Oito meses de guerra: Rússia faz alerta de "bomba suja" em uma estratégia sem horizonte

Serguei Monin*, Brasil de Fato

A recente investida russa é marcada por uma mobilização, anexação de novos territórios e fortes bombardeios por toda a Ucrânia. Kiev, por outro lado, mantém a sua contraofensiva e coloca em xeque o controle de Moscou sobre Kherson, umas das regiões anexadas pela Rússia. Enquanto isso, tímidos acenos para a possibilidade de negociações de paz mantêm o impasse na crise entre Rússia e Ucrânia. 

Esta semana começou com graves acusações por parte da Rússia de que a Ucrânia estaria concluindo a produção de uma arma radiológica chamada de "bomba suja", que combina material radioativo com explosivos convencionais. Na segunda-feira (24), o Ministério da Defesa russo acusou Kiev de planejar usar o armamento no intuito de organizar uma provocação para acusar a Rússia de usar armas de destruição em massa e lançar uma campanha antirussa no mundo.

No mesmo dia, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, realizou conversações com altos oficiais militares da Grã -Bretanha e dos EUA para alertar a comunidade internacional sobre a suposta ameaça ucraniana.

“Como resultado da provocação de ‘bomba suja’, a Ucrânia espera intimidar a população local, aumentar o fluxo de refugiados pela Europa e expor a Federação Russa como terrorista nuclear”, afirmou o chefe das tropas de proteção radiológica, química e biológica das Forças Armadas Russas, tenente-general Igor Kirillov.

Em resposta, os EUA, a Grã-Bretanha e a França emitiram uma declaração conjunta, classificando a declaração do Ministério da Defesa russo como uma "insinuação". A Ucrânia negou a produção de uma "bomba suja" e convocou inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica ao país para realizar monitoramento. 

A narrativa russa sobre a suposta ameaça radioativa da Ucrânia é o mais recente desdobramento da atual fase da operação militar da Rússia no país vizinho, que completou oito meses na última segunda-feira (24). As movimentações de Moscou e a reação da comunidade internacional refletem o cenário de impasse que a guerra chegou atualmente.

Em uma primeira etapa da anunciada “operação especial militar” na Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Rússia realizou uma tentativa de blietzkrieg, realizando massivos bombardeios no território ucraniano, inclusive nos arredores da capital Kiev. Com amplo apoio internacional e manutenção da resistência mobilizada das forças ucranianas, não foi alcançada a capitulação do governo ucraniano e o Kremlin modulou os seus objetivos, anunciando um recuo das tropas e concentrando as ações militares em Donbass, a região das repúblicas separatistas pró-Rússia.

Nos primeiros meses da guerra, o analista-sênior do International Crisis Group para a Rússia, Oleg Ignatov, em entrevista ao Brasil de Fato, defendeu a tese de que o Kremlin não estava se preparando para uma guerra total, considerando que as tropas executariam uma operação militar rápida. De acordo com ele, o objetivo inicial era realizar uma “operação de intimidação" para forçar uma mudança de regime na Ucrânia.  

Assim, entre março e agosto, a ofensiva das tropas russas no sul e sudeste da Ucrânia foi relativamente bem-sucedida com o foco na tomada de controle de regiões como Donetsk, Lugansk, Kherson, Zaporozhye e Kharkov.

Uma terceira etapa que altera a dinâmica do conflito se inicia no fim de agosto e início de setembro com o anúncio da contraofensiva ucraniana. Em outubro, as forças de Kiev realizaram importantes retomadas de territórios ocupados pela Rússia, principalmente na região de Kharkov.

O contraataque ucraniano levou a uma nova inflexão russa em setembro, marcada pelo anúncio da mobilização de 300 mil novos reservistas para a guerra, a anexação de territórios ocupados na Ucrânia, novos bombardeios massivos em todo o território ucraniano, além das ameaças de uso de armas nucleares. Além disso, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma lei marcial nos territórios anexados das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, e nas regiões ocupadas de Kherson e Zaporozhye, na última quarta-feira (19)

Em entrevista ao Brasil de Fato, a cientista política e do Centro de Estudos Russos e do Leste Europeu da Universidade de Helsinque, Margarita Zavadskaya, observa que toda a trajetória da estratégia russa na Ucrânia até aqui aconteceu sem um planejamento adequado.

“Pressupunha-se uma guerra rápida em 24 de fevereiro, e rapidamente ficou claro, nada ia acontecer de acordo com o plano inicial. Então agora, não é uma opinião somente minha, mas também a de muitos colegas que acompanham a situação, a impressão é de que não existe um plano. Não existe uma estratégia, e existem muitas decisões inconsistentes, como declarar um estado de guerra, mas não anunciar que existe uma guerra”, argumenta.

De acordo com a analista, “todas as decisões são tomadas de acordo com a circunstância e isso é uma notícia bem ruim”, porque “é difícil compreender o que quer o lado russo”. “E se nós não entendemos o que a Rússia quer, então é muito difícil realizar com ela quaisquer negociações”, acrescentou.

Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou nesta terça-feira (25) que a Rússia está pronta para o diálogo com todos os países, incluindo os EUA e o Papa Francisco, a fim de chegar a um acordo na Ucrânia.

“Estamos prontos para discutir tudo isso com os americanos, com os franceses e com o pontífice. Repito mais uma vez: a Rússia está aberta a todos os contatos. Mas devemos partir do fato de que a Ucrânia codificou [por lei] a não continuação das negociações”, disse Dmitry Peskov.

Em 30 de setembro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky assinou um decreto declarando "a impossibilidade de negociações com o presidente russo Vladimir Putin".

Para a cientista política Margarita Zavadskaya, a possibilidade de haver negociações ou não será determinada pelos desdobramentos no campo de batalha.

Segundo a pesquisadora, entre muitos analistas há uma espécie de "wishful thinking", no qual todos querem que isso tudo termine o mais rápido possível, mas infelizmente a situação atual nos mostra que “pode ser um conflito desagradavelmente prolongado que não se resolverá no decorrer de um mês".

“Como a Ucrânia não pretende iniciar negociações […] e nós não entendemos exatamente o que quer a Rússia, então, no mau sentido, nós temos essa situação de impasse”, completa a cientista política.

Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.


Webinar vai discutir questões democráticas do Brasil | Foto: FAP

Economista: espero que o Brasil consiga sair com mínimo de sequelas possíveis

João Vítor*, com edição da Coordenadora das Mídias Sociais da FAP, Nívia Cerqueira

Às vésperas do segundo turno das eleições, a população presencia cada vez mais casos de violência política. “Nós estamos vendo a escalada crescente da violência num contexto amplo. A democracia brasileira está ameaçada sim e nós não podemos fingir que o problema não existe. Eu espero que o Brasil consiga sair desse processo com o mínimo de traumas e sequelas possíveis”, diz o economista Benito Salomão. O tema será debatido em evento virtual organizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília, nesta quarta-feira (26/10), às 18h .

O cientista político Sérgio Fausto e o advogado Fábio Feldman confirmaram presença no webinário, que terá transmissão ao vivo no Youtube, site e Facebook da FAP. Salomão fará a mediação do debate. Ele acrescenta que neste momento tão importante da política, a democracia necessita ser esclarecida à sociedade. “O evento é no sentido de alertar a população desses riscos e discutir a importância da manutenção da democracia no Brasil”, enfatiza o economista.

Os eleitores vão às urnas no dia 30 deste mês de outubro para definir o próximo presidente da República. Os candidatos para representar o Brasil a partir de 2023 são: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, o atual presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL).   

“Acho que a nossa democracia está ameaçada como nunca esteve. Nós vemos uma tentativa de coação do poder judiciário, que é quem define as regras, é o árbitro da partida. Nós vemos uma tentativa de constrangimento constante às autoridades que são responsáveis pela questão das regras do processo eleitoral, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, diz Benito.

Serviço

Webinário : Riscos democráticos para o Brasil 2023

Realização: Fundação Astrojildo Pereira

Data: 26/10, às 18h

Transmissão no YouTube e Facebook da FAP

*Integrante do programa de estágio da FAP sob supervisão.


Armas, uniformes e bandeiras nazistas foram apreendidos com os suspeitos - Polícia Civil de Santa Catarina

Suspeitos de integrarem grupo neonazista são presos em SC

Geledés*

Seis pessoas de 20 a 30 anos foram presas na última quinta-feira (20) em Santa Catarina sob a suspeita de integrarem um grupo neonazista.

Segundo a Polícia Civil do estado, os integrantes treinavam como usar armas de fogo e tiveram conversas sobre realizar ataques a moradores de rua.

O grupo usava uma impressora 3D para fabricar as armas, de acordo com a investigação. O equipamento foi encontrado na casa de um dos integrantes que foi preso em maio em São Miguel do Oeste (SC).

De acordo com as investigações, o grupo se intitulava como a ‘Nova SS de SC’, em alusão à organização paramilitar ligada a Adolf Hitler.

Os presos costumavam se reunir em um sítio, no qual usavam coletes e réplicas de uniformes nazistas, disse o delegado responsável pelo caso, Arthur Lopes, da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância.

Entre os materiais apreendidos, segundo ele, estão roupas e adereços com símbolos nazistas e equipamentos eletrônicos, que ainda vão ser analisados. Além disso, foram encontradas armas brancas e o protótipo de uma carabina.

Os nomes dos suspeitos não foram divulgados. O delegado afirmou que durante os depoimentos, eles disseram que as reuniões eram apenas encontros entre amigos e que não tinham interesse em machucar ninguém, nem em usar as armas. Lopes, porém, afirmou que o grupo debatia a compra de munição.

Ainda segundo o delegado, os suspeitos negaram serem nazistas e afirmaram que gostavam da cultura germânica e da estética da SS.

Os mandados foram cumpridos nos municípios de Florianópolis, São José, Joinville, Maravilha e São Miguel do Oeste.

Entre os presos, estão alunos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A instituição disse que colabora com as investigações e que solicitará informações sobre os estudantes presos, “para a adoção das medidas disciplinares cabíveis”.

Texto publicado originalmente no portal Geledés.


Alívio das medidas preventivas — como o uso de máscaras em aeroportos — facilitou a transmissão do vírus, avaliam pesquisadores

Covid: o que nova onda de casos na Europa significa para o Brasil

BBC News Brasil*

Esse é o primeiro parágrafo de uma declaração conjunta publicada em 12 de outubro pelos líderes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa (ECDC) e por representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) neste continente.

Agora, porém, a preocupação vem em dose dupla: com a chegada do outono e, mais pra frente, do inverno no Hemisfério Norte, as autoridades da região também preveem uma temporada de alta transmissão do influenza, o vírus causador da gripe.

"A potencial cocirculação da covid-19 e da gripe colocará pessoas vulneráveis em maior risco de sofrer com doenças graves e morte, com um provável aumento da pressão sobre hospitais e profissionais de saúde, já esgotados por quase três anos na linha de frente da pandemia", antevê o texto.

A melhor estratégia para lidar com essas ameaças, apontam as instituições, é reforçar a vacinação, especialmente dos grupos mais vulneráveis.

Mas o que revelam os números atuais da covid-19 no continente europeu? E o que eles podem representar para o Brasil e para o resto do mundo?

Em resumo, a situação exige cuidados e reforços dos imunizantes, especialmente em idosos e outros grupos mais vulneráveis. Os pesquisadores temem que a onda que se inicia no outono europeu chegue ao Brasil entre dezembro e janeiro, provocando um novo aumento nos casos e nas mortes por covid. Esse fenômeno, aliás, aconteceu em períodos anteriores.

Sobe e desce

Toda semana, a OMS divulga um relatório em que atualiza a situação da covid-19 no mundo.

A última edição do documento, publicada em 19 de outubro, mostra que a situação da Europa está instável: nas três semanas de outubro, os números de casos e mortes subiram e, depois, caíram.

Foi registrado um aumento de 8% nas infecções em 5/10, com duas quedas seguidas em 12/10 (-3%) e 19/10 (-11%).

Mesmo assim, dos cinco países que detectaram mais casos de covid-19 nos últimos sete dias, três são europeus: Alemanha (583 mil novas infecções), França (337 mil) e Itália (288 mil). Os outros dois são China (328 mil) e Estados Unidos (251 mil).

Atualmente, as nações localizadas no centro e na região Mediterrânea do continente estão entre aquelas com a maior taxa relativa de casos de covid-19 em comparação com o resto do mundo.

"Esse aumento de casos observado não só na Europa, mas também na Ásia, acende um sinal de alerta e não há menor dúvida que é algo importante", constata o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Mapa da OMS mostra como taxa proporcional de novos casos piorou em países como França, Alemanha e Itália, pintados em cores mais fortes

A mudança nos cenários epidemiológicos motiva, inclusive, discussões sobre a volta de certas medidas preventivas.

Com aumento de casos e até de hospitalizações, alguns Estados da Alemanha, por exemplo, avaliam a reintrodução da obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares fechados ou o reforço das campanhas de testagem.

Segundo a Deutsche Welle, o ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach, considera que o país está "bem preparado para o outono e o inverno, graças às vacinas atualizadas e aos medicamentos".

"Mesmo assim, a direção para a qual estamos caminhando não é boa", avalia.

Para a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é preciso acompanhar essa onda por mais tempo para entender os efeitos que ela terá.

"A tendência, e o nosso desejo, é que ela seja menos impactante que as anteriores, até pela vacinação e a quantidade de pessoas que já tiveram a covid-19", aponta.

"Mas será necessário conferir isso na prática para ter certeza se essas infecções vão causar hospitalizações e, infelizmente, mortes", complementa.

Mas o que explica essa possível nova onda que começa a se formar na Europa?

Novas variantes?

O último relatório da OMS aponta que, no último mês, 98,7 mil sequências genéticas do coronavírus foram compartilhadas nas bases de dados públicas.

As análises mostram que a variante ômicron BA.5 continua a ser dominante e aparece em 78,9% das amostras.

A seguir, são observadas outras linhagens da ômicron que são "primas-irmãs", como a BA.4 (6,7%) e a BA.2 (3,9%).

Uma nova variante que começa a chamar a atenção das autoridades é a XBB, que mescla mutações da BA.2.10.1 e da BA.2.75.

Ela já foi detectada em 26 países — e alguns trabalhos iniciais sugerem que a nova versão tem uma grande capacidade de escapar da imunidade, obtida por meio da vacinação ou de infecções prévias.

Mas é preciso ponderar que, por ora, o número de amostras da XBB é tímido: falamos aqui de pouco mais de 800 sequenciamentos genéticos dela feitos ao redor do mundo.

"Ainda que essa linhagem recombinante mostre sinais de vantagem em comparação com as variantes descendentes da ômicron, ainda não há evidências de que ela leve a uma maior gravidade da doença", esclarece a OMS.

Com as evidências disponíveis até o momento, portanto, o aumento de casos percebidos na Europa parece ser causado pela "família" ômicron.

O virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul, explica que "ainda não foi encontrada uma nova variante" que ajude a explicar o atual cenário.

"Mas isso pode ser questão de tempo se olharmos o que está ocorrendo, especialmente em países como Alemanha", avalia.

Ou seja: quanto mais o coronavírus circula, mais chance tem de sofrer mutações que sejam benéficas para ele. E isso, por sua vez, abre alas para variantes mais transmissíveis, agressivas ou com capacidade de driblar o sistema imune.

A situação na Europa, por ora, parece estar relacionada ao completo relaxamento das medidas restritivas — como era natural que acontecesse com a melhora da situação pandêmica.

Mas a proximidade entre as pessoas no trabalho, nos eventos e nas ocasiões sociais — que acontecem cada vez mais em lugares fechados, por causa do frio — facilita a troca de vírus respiratórios.

E isso desemboca num aumento da transmissão comunitária do patógeno, que pode gerar complicações e até matar, especialmente os indivíduos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos.

Karl Lauterbach, ministro da Saúde alemão, entende que o país está preparado com vacinas e remédios

O contra-ataque

Spilki aponta que, mesmo com esse aumento de casos no início do outono no Hemisfério Norte, "atualmente não há espaço para debate sobre grandes medidas de restrição".

Na avaliação das autoridades locais, com vacinas e remédios amplamente disponíveis no continente, parece impraticável e até desnecessário resgatar as medidas drásticas do passado, como o lockdown.

"A preocupação deveria estar em completar o calendário de vacinação daqueles que estão com doses atrasadas", sugere o virologista.

O ECDC calcula que 72,6% dos europeus completaram o esquema inicial de imunização. Apenas 53,9% deles tomaram a terceira vacina, considerada fundamental para proteger contra as formas mais graves da infecção provocada pela variante ômicron.

Com a vacinação como a principal política pública de saúde, muitos países europeus já começaram a aplicar a quarta dose — ou a segunda dose de reforço — em parte da população.

O imunizante que está sendo oferecido nas últimas semanas traz uma novidade importante: a formulação do produto foi atualizada para proteger melhor contra as variantes mais recentes, como a ômicron BA.1.

O mesmo processo inclusive, acontece todos os anos com as vacinas contra o influenza.

A vacina atualizada contra as versões mais atualizadas do coronavírus já começaram a ser aplicadas em alguns grupos da Europa

"Nossa mensagem é simples: a vacinação salva vidas. Ela diminui as chances de ser infectado e o risco de sofrer com as consequências mais severas da covid e da gripe sazonal", escrevem os representantes da OMS e da ECDC.

"Não há tempo a perder. Nós encorajamos todo mundo que for elegível, especialmente os mais vulneráveis, a tomar as doses assim que possível", complementam.

Cada país da região adota critérios próprios para definir o público-alvo da atual campanha de vacinação contra a covid.

No Reino Unido, por exemplo, a segunda dose de reforço já está disponível para todos com mais de 50 anos, gestantes, indivíduos imunossuprimidos, cuidadores de idosos e profissionais da saúde e da assistência social.

Stucchi, que também integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca a necessidade de educar as pessoas, para que elas entendam quando estão numa situação de risco ou se elas fazem parte daqueles grupos em que a covid-19 pode ser mais grave.

"Com isso, o indivíduo pode avaliar a situação, usar máscaras em locais fechados, tomar as doses de vacina e se isolar se estiver com algum sintoma de infecção respiratória", propõe.

E o Brasil?

Por ora, a situação no país parece rumar para uma diminuição dos indicadores mais importantes relacionados à crise sanitária.

Desde julho, a média móvel de casos de covid está em redução e passou de 59,8 mil em 15/7 para 4,9 mil em 23/10 — uma queda proporcional de doze vezes.

Algo similar acontece com as mortes. O último pico foi registrado em fevereiro, com uma média móvel de 951 óbitos em 11/2. O número despencou para 60 em 23/10.

Os dados vêm do monitoramento feito pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde, o Conass.

Para Petry, esse platô brasileiro também deve ser visto com precaução. "Não estamos numa situação confortável. Por trás desses números, temos a vida das pessoas e o impacto às famílias", avalia.

O momento de maior calmaria, porém, deveria ser visto como uma oportunidade para fazer o planejamento dos próximos meses, com o objetivo de manter os números nessa tendência descendente, apontam os especialistas.

"Nosso receio é que se repita o panorama de outros anos, em que a onda de casos no outono europeu se refletiu numa elevação de infecções e mortes por covid em dezembro e janeiro no Brasil", analisa Spilki.

"Para evitar isso, precisamos observar os efeitos das vacinas atualizadas nos países que já adotaram essa estratégia e pensar na campanha de reforço por aqui para o início de 2023", propõe o virologista.

Stucchi pondera que nem sempre os fenômenos são importados do exterior e têm o mesmo efeito no país. "A variante delta foi ruim na Europa e tínhamos medo do que ela faria quando chegasse. Mas o impacto aqui foi bem menor", compara.

Até o momento, porém, não há nenhuma sinalização de que o tema da atualização das vacinas está sendo discutido no país.

Uma reportagem publicada pela BBC News Brasil em 22 de setembro apontou que o Ministério da Saúde não realizou reuniões públicas com especialistas sobre a estratégia vacinal para o ano que vem — e nenhuma notícia foi divulgada sobre o assunto desde então.

Brasil ainda não divulgou os planos sobre a campanha de vacinação contra a covid-19 para os próximos meses

Os pesquisadores também chamam a atenção para a falta de medicamentos específicos para tratar a covid — alguns deles já liberados para uso no país.

No início de outubro, a SBI lançou uma nota técnica em que expressa "preocupação em relação aos processos de incorporação, indicação e distribuição de medicações já aprovadas pela Anvisa para o tratamento e prevenção da covid-19, mas que até o momento não estão disponíveis para uso no setor público".

O documento afirma que, "apesar do número de hospitalizações e óbitos por covid-19 ter sido reduzido com o avanço da vacinação, somente em setembro 7.321 brasileiros" morreram de covid, "sendo que muitos deles poderiam se beneficiar de medicações terapêuticas ou estratégias preventivas contra a infecção".

A instituição aponta que fármacos como o nirmatrelvir/ritonavir, o baracitinibe, o molnupiravir e o rendesivir já receberam a avaliação positiva da agência regulatória brasileira, mas não foram distribuídos na rede pública e não há clareza de quando eles podem ser prescritos na prática.

A BBC News Brasil entrou em contato com o Ministério da Saúde para solicitar um posicionamento a respeito dos pontos apresentados sobre a vacinação e os medicamentos. Não foram enviadas respostas até a publicação da reportagem.

Por fim, Spilki destaca a necessidade de "monitorar melhor os casos".

"Precisamos trabalhar com busca ativa e fazer um rastreamento para termos o alerta precoce de uma nova onda", diz.

"O diagnóstico e o monitoramento da covid continuam num patamar muito baixo no país", lamenta.

Stucchi concorda e afirma que o Brasil "é um péssimo aluno".

"A gente não aprende com os erros do passado. Ainda precisamos de um sistema de vigilância que consiga detectar com antecedência a circulação de vírus respiratórios para planejarmos as ações de saúde", conclui.

Texto publicado originalmente na BBC News Brasil.


Para publicar foto, vídeo ou texto no Status do WhatsApp basta acessar a aba

WhatsApp Status se transforma em mural político nesta eleição

Nayani Real,* UOL

WhatsApp é um dos aplicativos mais usados no Brasil, presente em 99% dos celulares, de acordo com levantamento da MobileTime de 2020. Paradoxalmente, muitos usuários desconhecem ou nunca usaram o Status do WhatsApp, ferramenta semelhante aos Stories do Instagram, com fotos, vídeos, gifs e textos que ficam visíveis durante 24 horas em um formato vertical. As publicações ficam disponíveis para todos os seus contatos.

Nesta reta final das eleições, o uso do Status passou a ser incentivado como estratégia para combater fake news ao atingir uma fatia do público que não está em redes sociais como Twitter e Instagram.

Além disso, um relatório recente do Instituto Reuters apontou que a confiança dos brasileiros em notícias via WhatsApp era de 53%, de acordo com levantamento feito em junho e julho. Isso ocorre apesar da fama da ferramenta de ser um local onde circulam desinformação e disparos em massa de mensagens falsas.

A tática de usar o Status tem bastante potencial. O Brasil possui mais de 120 milhões de usuários do WhatsApp, de acordo com dados de 2017 (o mais recente disponível). Portanto, qualquer publicação no Status pode impactar pessoas das mais distintas visões políticas. A Meta (dona do WhatsApp), no entanto, não divulga informações sobre o número de usuários do WhatsApp Status, nem o perfil desse público.

Após o primeiro turno, Letícia Cardoso, 27, começou a usar o Status com o objetivo de combater a desinformação, mas não de mudar votos.

"Quero ir contra a estratégia do medo e apresentar uma nova perspectiva", diz. A analista de projetos busca sensibilizar seus familiares, que se identificam com a direita conservadora.

Já a bolsonarista Ariana dos Santos Santana, 36, usa o espaço para falar sobre política desde 2018, quando endossava a primeira candidatura de Jair Bolsonaro (PL) à presidência.

A auxiliar de produção em São Paulo diz que procura checar o conteúdo antes de publicar. Para ela, o PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o que mais divulga fake news. Por isso ela busca conferir o conteúdo acessando o Instagram do atual presidente, de seus filhos, ou da primeira-dama. Se eles compartilharam a informação que ela tem nas mãos, Ariana se sente segura para divulgar nas suas redes.

Caso Bolsonaro seja reeleito, Ariana continuará publicando suas ações. "Ele tirou leite de pedra e fez milagre nos últimos quatro anos", diz sobre o atual mandatário. Para ela, sua reeleição será a chance de governar o país "sem pandemia e sem guerra na Ucrânia".

Para Ronie Oswaldo de Sá, 37, usar o Status é uma forma de transmitir o que acredita e quer para o país. Ele tem a intenção de atingir pessoas, próximas ou não, com suas publicações. "Tenho muitos contatos e participo de muitos grupos", diz o motofretista.

Ao identificar que uma mensagem é falsa, até mesmo sobre seu candidato, Jair Bolsonaro, Ronie não compartilha. "Já fui criticado por publicar informações falsas. É essa briga entre um lado e o outro. Eu quero evitar discussão", diz.

Ao buscar responder contatos que usavam o Status para divulgar informações e peças pró-Bolsonaro, Matheus Cherem, 34, se apropriou da estratégia. "Já que o diálogo não funciona, talvez o spam funcione", diz.

Formado em ciências sociais e em arquitetura e urbanismo, o mineiro de Belo Horizonte optou por publicar informações que pudessem criar dúvida, como imagem que circula nas redes e sugere pontos negativos do governo Bolsonaro.

Diferente de Cherem, apesar de usar o Status para falar de política após o primeiro turno, Luis Honório Ciambelli, 43, começou a publicar por lá com o objetivo de vender xaropes para misturar com bebidas. É assim que o professor de língua portuguesa da rede municipal de Águas de Lindóia, interior de São Paulo, complementa a sua renda.

No período eleitoral ele passou a fazer oposição ao atual governo e tentar frear a difusão das desinformações entre seus conhecidos. Além de continuar falando de política, Ciambelli pretende incluir conteúdos relacionados à língua portuguesa nos seus Status.

Mesmo com posições bem marcadas nas redes sociais, outros profissionais também apostam no espaço para vender serviços e produtos.

O corretor de planos de saúde, Pedro Tavares da Silva Manhães, 29, diz que o Status do aplicativo possibilita conteúdo para seus clientes.

O fundador da Omaha Seguros, em São Paulo, publica lembretes sobre reajuste nas parcelas dos planos de saúde, explica as diferenças entre os tipos de planos, coletivos ou individuais, entre outros temas relacionados à área.

Também há quem encontre no Status um ambiente confortável para se expressar. É o caso de Adriana da Silva Perez, 48, que o usa desde setembro de 2022 para incentivar familiares e amigos a praticar atividades físicas.

Formada em educação física, a policial militar pratica corrida desde 2008 e posta mensagens motivadoras para "dar um gás" a quem precisa. Entre os motivos de gostar tanto do recurso está a possibilidade de fazer várias publicações de forma rápida. "No momento em que algo acontece você publica e pessoas próximas têm acesso. É moderno", diz.

"Bom dia, que o seu dia seja iluminado". É este tipo de mensagens motivadoras que Rutilene Gonçalves da Silva, 42, gosta de publicar, além de mensagens de autoconfiança que ela mesma gostaria de ler quando se sente triste. Pelo Status do aplicativo, a diarista, que mora no Capão Redondo, em São Paulo, também divide angústias, pede ajuda e cobra quem deve dinheiro.

Texto publicado originalmente no portal UOL.


Política ambiental no atual governo precisa ser restaurada | Foto: reprodução: Google/domínio público

Revista online | Luz (Verde) no fim do túnel?

André Lima e Bazileu Margarido*, especial para a revista Política Democrática online (48ª edição: outubro/2022)

Em que ponto estamos? Naquela situação em que não há nada tão ruim que não possa piorar ou já é possível ver um ponto de luz logo ali, após a eleição?

Há muitos motivos para acharmos que a situação está muito ruim. A política ambiental no governo Bolsonaro tem sido desastrosa. Os órgãos ambientais federais, principalmente o Ibama e o ICMBio, foram sufocados. Estão de joelhos.

Servidores que insistiram em cumprir suas atribuições fiscalizatórias de forma republicana foram afastados de funções de chefia ou deslocados para unidades remotas, onde não poderiam molestar os agressores do meio ambiente.

Veja todos os artigos da edição 48 da revista Política Democrática online

Além de reduzir drasticamente o número de multas aplicadas, a atual gestão anulou as multas aplicadas entre 2008 e 2019 em que os infratores foram avisados por edital (recurso corrente em órgãos de fiscalização, quando o infrator não pode ser alcançado por outros meios). Segundo o Ibama, devem ser anuladas quase 40 mil multas, com valor aproximado de R$16 bilhões.

O torniquete orçamentário foi uma estratégia aplicada com requintes de crueldade. Dos valores previstos no orçamento de 2021 para a fiscalização ambiental, que já eram insuficientes, menos da metade foi efetivamente utilizada. Infelizmente, o mesmo está ocorrendo neste ano. Com isso, o desmatamento na Amazônia quase dobrou, cresceu de 7,5 milhões de Km² em 2018 para 13 milhões de Km² em 2021.

Essa situação ainda pode piorar, se considerarmos o resultado da eleição de deputados federais e senadores. O Painel Portal Farol Verde avaliou o mandato dos atuais congressistas com base em suas votações em 12 das principais matérias da pauta socioambiental. Entre os 486 parlamentares que concorrem à reeleição, os parlamentares “ambientalistas” caíram de 30% para 27% na nova legislatura, os moderados caíram de 33% para 30% e os contrários à pauta ambiental subiram de 37% para 42%.

No caso dos parlamentares amazônicos, o índice médio de reeleição dos deputados considerados ambientalistas foi de apenas 26%, frente a um índice médio de reeleição de 57% para toda a Câmara Federal. O índice de reeleição dos deputados de estados Amazônicos considerados anti-ambientais foi 126% superior ao índice dos verdes. Esse quadro indica que haverá maior pressão para alteração, para pior, das regras que regulam as atividades predatórias em todos os biomas, mas principalmente na Amazônia.

Não se pode deduzir, a partir dessas informações, que a sociedade brasileira não esteja priorizando as questões ambientais na hora de definir o seu voto. É preciso avaliar, ainda, se houve diferença significativa nas condições financeiras que o grupo de parlamentares “ambientalistas” teve para fazer campanha, comparado aos demais candidatos à reeleição. Como sabemos, a distribuição do Fundo Eleitoral em cada partido é definida centralizadamente e a menor disponibilidade de recursos pode ser decisiva no resultado eleitoral. Além disso, o orçamento secreto beneficiou a base Bolsonarista no parlamento. PL, PP, União Brasil e Republicanos juntos, os piores partidos pela avaliação do Farol Verde, possuirão 48% dos votos na Câmara e 40% no Senado.

Galeria de imagens a seguir:

Sustentabilidade e meio ambiente | Imagem: NINA IMAGES/Shutterstock
Projeto Unidos pelo Plantio | Foto: Flickr
Comissão de Meio ambiente | Foto: Wikimedia commons
órgão ambiental | Foto: Flickr
Ibama | Foto: reprodução
Desmatamento e queimadas | Foto: Flickr
Parque socio ambiental irmã Dorothy Stang | Foto: Wikimedia commons
Contra os agrotóxicos | Foto: Rawpixel
Farol verde interface | Foto: reprodução
Sustentabilidade e meio ambiente
Projeto Unidos pelo Plantio
Comissão de Meio ambiente
órgão ambiental
Ibama
Desmatamento e queimadas
Parque socio ambiental irma Dorothy Stang
Contra os agrotóxicos
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Projeto Unidos pelo Plantio
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Ibama
Desmatamento e queimadas
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Mas pode haver uma luz no fim do túnel, uma ponta de esperança. Em 30 de outubro (domingo) haverá o segundo turno da eleição para presidente da República. Além da continuidade da desarticulação da política ambiental do atual governo, a reeleição de Bolsonaro reforçará a pressão à favor das mudanças legais que poderão intensificar a grilagem de terras, a extração ilegal de madeira, o garimpo predatório e o uso indiscriminado de agrotóxicos. Se o Brasil optar por Lula na Presidência da República poderá haver, com muito esforço do governo, um certo reequilíbrio de forças no parlamento em relação às pautas de clima e meio ambiente.

O Brasil pode optar pela criação de emprego e renda a partir de uma economia sustentável e de baixo carbono, aumento da produtividade no campo, desenvolvimento tecnológico e uma matriz energética renovável, limpa e segura. Só a eleição de Lula poderá reposicionar o Brasil no cenário mundial e recuperar a liderança que o País já teve na agenda socioambiental. A alternativa é o atraso e o negacionismo climático, com suas consequências sobre o comércio internacional de nossos produtos.

Sobre os autores

*André Lima é advogado, ex-secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, colunista do Congresso em Foco e coordenador do projeto Radar Clima e Sustentabilidade, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).

** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de outubro de 2022 (48ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

*Bazileu Margarido é engenheiro de produção e mestre em economia. Foi presidente do Ibama, entre 2007-2008, secretário de Fazenda de São Carlos, São Paulo, em 2001 e 2002 e chefe de gabinete da ministra de meio ambiente Marina Silva de 2003 a 2007. 

** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de outubro de 2022 (48ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

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Foto:divulgação/Bilb

Bienal Internacional do Livro de Brasília terá exposição de 400 mil títulos

Bienal*

Com o tema “A transformação acontece aqui”, a 5ª Bienal Internacional do Livro de Brasília (Bilb), antes chamada de Bienal Brasil do Livro e da Leitura (Bilb), será realizada de 21 a 30 de outubro e retomará o seu formato presencial após dois anos paralisada por causa da pandemia da covid-19. Em 12 mil metros quadrados no Pavilhão do Parque da Cidade, o evento reunirá 100 expositores – entre livrarias, distribuidoras e editoras de todo o país –, com exposição de 400 mil títulos. A previsão é movimentar R$ 11 milhões por meio da venda de livros.

O público deverá acessar o site oficial da bienal para retirar o ingresso eletrônico de acesso à área de visitação, onde poderá participar de palestras, debates, masterclass, lançamento de livros e noite de autógrafos com a presença dos maiores autores internacionais, nacionais e locais. Durante a semana, o horário de funcionamento da bienal será das 9h às 22h e, aos sábado e domingos, das 10h às 22h.

Nesta edição, o evento homenageará a escritora brasileira Miriam Alves, assistente social com quatro décadas de literatura, e a mexicana Laura Esquivel, roteirista e escritora do Como água para chocolate, que conquistou reconhecimento internacional – o livro está hoje traduzido em 35 línguas, foi adaptado ao cinema e vendeu 3,6 milhões de exemplares.

“Um dos nossos focos é criar um ambiente em que a troca de experiências entre leitores e escritores possam favorecer o diálogo, o conhecimento e as vendas de maneira que todos fiquem satisfeitos”, afirma a diretora-geral, Suzzy Souza. Ela explica que o público da 5ª Bilb vai mergulhar em uma programação cultural bastante diversificada, dividida em seis eixos temáticos: autores, mercado, música, HQs, crianças e multimeios.

A Bilb tem entre os seus objetivos a democratização do livro e seu amplo uso como meio de difusão da cultura e transmissão do conhecimento; o estímulo à produção de autores brasilienses e do hábito da leitura, em especial dos jovens; e a oferta de negócios entre mercado editorial nacional e local. A importância do projeto foi reconhecida pela Câmara Legislativa. Desde 2016, a bienal integra o calendário oficial de eventos do Distrito Federal, por meio da lei 5.702.
Considerada a maior feira literária do Centro-Oeste, a Bilb também será realizada na Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (Lei 5.191, de 18 de dezembro de 1966), amplamente comemorada em todo território nacional no período de 23 a 29 de outubro e que visa promover a leitura, o livro e as bibliotecas.

A bienal também conta com uma ampla área para visitação e seminários sobre educação e serviço social. O evento oferece, ainda, atividades artísticas e culturais para 12 mil alunos das escolas públicas e privadas do DF que já têm visitação agendada no calendário da Bilb.

Outra grande atração da bienal é o palco show, um ambiente exclusivo que, durante a feira, terá rica e vasta programação musical, com apresentações de artistas locais e nacionais. Os cantores Hamilton de Holanda e Roberta Sá farão show no dia 21 de outubro no local, e a cantora e compositora Céu, no dia seguinte. Para ter acesso a essa área da bienal, o público deve acessar o site e adquirir seu ingresso eletrônico para shows musicais.

A 5ª Bilb é uma realização da InterCult Produções e do Instituto Levanta Brasil, com direção-geral de Suzzy Souza e Henrique Senna. O evento também tem trabalho articulado com os curadores nacional, Paulliny Tort; internacional, José Rezende Jr.; e de HQ, Pedro Brandt.

A bienal

Ao longo das quatro edições anteriores, o projeto recebeu mais de 1,5 milhão de visitantes, dentre os quais cerca de 200 mil eram estudantes das redes pública e particular de ensino do Distrito Federal. O público teve a oportunidade de assistir a palestras e debates de mais de 470 escritores brasileiros e estrangeiros.

Além disso, a bienal lançou 600 livros de mais de 60 países, com 120 seminários e debates, além de apresentações de 161 artistas e grupos brasileiros.

Além do público em geral, o mercado editorial e literário foi muito beneficiado pela bienal, nas quatro edições anteriores. Editoras e revendedoras participantes comercializaram mais de 600 mil livros. No total, alunos e professores da rede pública do DF também movimentaram cerca de R$ 7 milhões com vale-livro.

Texto publicado originalmente no portal da Bienal.


A extrema direita está se tornando mais feminina?

Barbara Wesel,* Made for Minds

"Sou mulher, sou mãe, sou cristã!": esse grito de guerra, que Giorgia Meloni tem repetido em inúmeras aparições em público, contém a essência de seu sucesso político na Itália. Após longos anos em que homens como o conservador Silvio Berlusconi atraíram os eleitores com seu comportamento abertamente machista, dominando a política italiana, o êxito eleitoral de Meloni também se fundamenta na ênfase em sua feminilidade.

Ela será a líder de uma nova coalizão governamental cuja lua-de-mel entre os parceiros já parece estar no fim. Em meio à briga continuada pelos altos postos do governo, o conservador Berlusconi desqualificou a chefe do partido Irmãos da Itália (FdI) como "presunçosa, prepotente, arrogante e ofensiva". Em sua campanha eleitoral, contudo, a extremista de direita conseguiu projetar uma imagem bem diferente.

Por um lado, ela foi escolhida por muitos católicos graças a sua visão de uma família tradicional e cristã – embora Meloni, que não é casada no papel com o pai de sua filha, associe esse ideal ao rechaço do aborto e dos direitos LGBTQ+. Aliás, tais ideais conservadores da boa mãe e boa esposa remontam à Itália dos anos 1930, sob o regime fascista de Benito Mussolini.

Além disso, Meloni deve sua vitória aos votos de muitos trabalhadores autônomos. Eles a apreciam como emergente das classes baixas combativa, que conhece os problemas dos pequenos comerciantes e empresários. No entanto, seu êxito junto aos Irmãos da Itália tem caráter excepcional, pois ela é uma dos confundadores e ocupa a presidência do partido há dez anos, tendo-o levado de nanico a governista.

Direita aposta no eleitorado feminino

Descontado o sucesso singular de Giorgia Meloni, contudo, esta eleição foi um revés para as mulheres da política italiana: entre os deputados do Parlamento, sua participação caiu de 35% para 31%. Então será que a estratégia das legendas radicais ou extremistas de direita é fazer uma mensagem, em essência, agressiva, parecer mais "suave" através de uma líder mulher?

A socióloga Katrine Fangen, da Universidade de Oslo, crê que haja um quê de verdade nesse estereótipo: "Há muito tempo, diversos partidos populistas de direita têm líderes políticas, isso não é novo. Mas pode perfeitamente ser uma decisão estratégica apostar mais nas mulheres que podem se identificar mais com uma figura de liderança feminina."

"As siglas populistas de direita seguem sendo eleitas principalmente por homens, mas a diferença não é mais tão grande como no passado: em âmbito internacional, cerca de 40% do eleitorado extremista de direita são mulheres", comentou Fangen em entrevista à revista norueguesa Framtide. Isso, apesar de os partidos ultradireitistas da Europa serem muito diversos: na França e Holanda, por exemplo, eles defendem a igualdade de gênero e, em parte, até mesmo os direitos LGBTQ+.

O modelo Marine Le Pen

A socióloga Dorit Geva, da Central European University, em Viena, considera o exemplo da francesa Marine Le Penparte da nova estratégia populista de direita: "É uma tendência que Le Pen iniciou há cerca de dez anos. Gradativamente, ela tornou mais branda a imagem do partido [então Frente Nacional], cujos aspectos repugnantes incluíam o jeito machista." A política herdou de seu pai, Jean-Marie Le Pen, a sigla que era um ponto de convergência para ex-militares e ex-combatentes da guerra na Argélia.

A italiana Meloni, por sua vez, configurou nos últimos anos a imagem e a orientação do FdI, em grande medida por conta própria, até chegar aos atuais 20% de vantagem na preferência do eleitorado. "Ela compreendeu sua própria força de atração e seu poder", frisa Geva.

Na França, por outro lado, o fato de Le Pen ser mulher tornou-se um aspecto central da mensagem política nas últimas duas campanhas eleitorais. "Trata-se de cuidado e proteção, de uma imagem materna acoplada à política do Estado de bem-estar social." Desse modo, abrandou-se a imagem de uma legenda "lei e ordem".

"O que vemos é uma nova variante da extrema direita, que se apresenta como protetora dos cidadãos, o que não ocorria antes." Meloni enfatiza, por exemplo, que as mães necessitam mais apoio social pelo fato de sua própria mãe ser solteira; enquanto Le Pen promete mais Estado social, subsídios para os aluguéis e salários mais altos, afirmando que até agora os imigrantes têm sido favorecidos.

"É uma estratégia para ampliar a base do eleitorado, em que se dança de ambos os lados, falando de Deus, da família e dos valores conservadores, sem excluir totalmente o outro lado", analisa Dorit Geva. Esses partidos são agora incluídos no bloco de centro-direita, sem que esteja claro quais de seus slogans resultará em medidas da prática política.

Há uma cisão Leste-Oeste?

Nos países do Leste Europeu, seja o governista PiS da Polônia ou o Fidesz da Hungria, por enquanto os homens seguem dominando. No entanto Pawel Zerka, do think tank político Council on Foreign Relations, acredita tratar-se menos de uma cisão geográfica do que da origem diversa das legendas populistas de direita.

"Na Europa Ocidental, em geral eles se apresentavam como formações antielitistas, antimigração, eurocéticas ou pós-fascistas. No Leste da Europa não havia partidos estabelecidos devido ao processo de democratização. Por isso, os maiores entre os considerados populistas ou nacionalistas eram antigos partidos conservadores que resvalaram ainda mais para a direita."

Para Zerka, também eles terão que cada vez mais apelar ao eleitorado feminino, "senão poderão facilmente – e, em geral, corretamente – ser vistos como misóginos". As mulheres votavam menos neles, no que se denominava a "lacuna dos gêneros" do comportamento eleitoral. "Foi assim com Donald Trump nos Estados Unidos, Eric Zemmour na França, Konfederacja na Polônia e Vox na Espanha. É interessante que não haja lacuna dos gêneros para Marine Le Pen ou para os Irmãos da Itália."

A rigor, essa lacuna tampouco existe para o PiS, já que a chefe de governo interina Beata Szydlo concentrou o partido em temas socioeconômicos, como segurança empregatícia, adicionais para quem tem filhos e outros. "Isso ajudou Marine Le Pen na 'desintoxicação' do seu partido e parece ter ajudado o PiS no pleito de 2015." O chefe partidário linha-dura e clandestino Jarosław Kaczyński não teria conseguido isso, supõe Zerka.

O caso do sucesso eleitoral de Giorgia Meloni, contudo, é diverso, pois ela pôde se apresentar como alternativa para as demais siglas do governo de Mario Draghi, e a Liga de Matteo Salvini perdera sua atratividade. Agora é preciso aguardar para ver como será a política da provável primeira-ministra da Itália.

"Seu partido atrai tanto mulheres quanto homens. O gênero não importa, ao contrário da idade e do grau de instrução, apesar de suas metas tradicionais e das raízes fascistas." Pawel Zerka resume: Giorgia Meloni pode ter aprendido com Le Pen, mas seu futuro político depende das especificidades da política e da sociedade da Itália.

Texto publicado originalmente no Made for Minds.