Lula na COP-27: ‘Nunca o Brasil teve uma posição como a que está sendo anunciada’, avalia professor
Ítalo Lo Re* Estadão
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta quarta-feira, 16, na Cúpula do Clima (COP-27), em Sharm El-Sheik, no Egito. O pronunciamento foi feito na área da Organização das Nações (ONU) e durou quase 30 minutos. Entre outros pontos, ele afirmou que o “Brasil está de volta” ao debate climático global e falou no desafio de enfrentar o aquecimento global.
Para Eduardo Viola, professor da Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), a posição anunciada pelo Brasil é inédita. “A mitigação da mudança climática, a transição energética e o controle do desmatamento são colocados como centrais na política pública brasileira e na política externa”, destaca. Leia os principais trechos da entrevista:
Qual foi o destaque principal do discurso do presidente eleito?
Hoje foi tornado público, diretamente pela voz dele, o compromisso que ele assumiu quando fez o acordo com Marina (Silva) e aceitou a plataforma socioambiental apresentada por ela no dia 12 de setembro. Isso levou Marina a apoiar Lula no primeiro turno e a engajar-se muito na campanha eleitoral. O discurso reafirma todo esse compromisso. Nunca o Brasil teve uma posição como a que está sendo anunciada neste momento. A mitigação da mudança climática, a transição energética e o controle do desmatamento são colocados como centrais na política pública brasileira e na política externa.
Sobre política externa, Lula indicou que quer colaborar com outras nações, mas cobrou investimento de países ricos. Como o senhor avalia?
Isso foi um destaque, mas não é necessariamente uma novidade. Lula deu ênfase aos países desenvolvidos darem assistência aos países em desenvolvimento mais pobres. Não se trata de assistência financeira para países como o Brasil, que são de renda média alta, mas para países de renda média baixa. Grande parte da África, da Ásia e alguns da América Latina se enquadram nisso. Não o Brasil e a China, por exemplo. O importante é que ele está chamando (atenção) para isso. Falou de cooperação técnica, de assistência tecnológica para a África Subsaariana, por exemplo. Vale lembrar que, em Copenhagen, em 2009, na COP-15, Lula falou que até o Brasil poderia contribuir para assistência aos países mais pobres. É uma posição muito diferente da política de Bolsonaro, que dizia ‘a gente protege a floresta e vocês nos pagam’, digamos assim. Não tem nada disso.
Muito importante também, paralelamente, é o desejo de eliminar todo o desmatamento até 2030 em todos os biomas brasileiros. Uma coisa seria falar em eliminar o desmatamento ilegal, ou mesmo eliminar o desmatamento na Amazônia, mas ele falou de todos os biomas brasileiros. É um compromisso forte. Ele propôs também uma cúpula amazônica para discutir a integração da Amazônia. O Tratado de Cooperação Amazônica não funciona, mas, com a liderança do Brasil, esse tratado pode se tornar mais efetivo para a integração da Amazônia. A oferta do Brasil para sediar a COP-30, que é em 2025, também é um destaque. O País nunca teve uma COP, só teve a própria conferência do Rio, em 1992, que é a fundação de tudo isso.
O discurso também foi marcado pela valorização de povos originários. Isso indica priorização desses grupos no governo Lula?
É um destaque que nunca houve antes na história do Brasil. O destaque, inclusive a fala de que vai criar um Ministério dos Povos Originários, é algo que não teve no primeiro governo Lula, não nesse nível de intensidade. É um nível de intensidade muito maior de reconhecer os direitos e as contribuições dos povos originários, que é uma tendência em todo o mundo.
O senhor citou o discurso de Lula na COP-15, em 2019. A fala de hoje remonta àquela época, de somar esforços para ajudar países mais pobres?
O que foi, eu diria, radical de Lula naquele momento é que, no discurso na COP, em 2009, ele falou que o Brasil contribuiria com a assistência financeira para países pobres. E ele não falou exatamente isso hoje. Mas falou da cooperação tecnológica com a África Subsaariana.
Então, ele não colocou o Brasil nem como país que recebe recursos nem como que investe, mas como o que conduz mudanças?
E nem vai colocar. Embora exista uma demanda para países de renda média alta, como China, Brasil ou México, para colocar algum dinheiro de assistência, de doação, países pobres. Não quer dizer que não pode ser feito, mas ele não falou estritamente hoje.
Os pontos abordados no discurso, de modo geral, são aderentes ao que tem sido discutido em outros países? As nações desenvolvidas estão abertas a fazer mais investimentos?
Não. Uma coisa é propor o que tem que ser feito, um componente normativo, a norma do que é correto. Outra coisa é a realidade. Nós estamos este ano, por causa da crise inflacionária e pela crise do preço ser da energia, além de uma tendência para recessão em países desenvolvidos, nós estamos em uma situação mais difícil que há um ano, na COP de Glasgow. Na realidade, a tendência é que não há avanços nem houve avanços efetivos em aumentar os recursos para o fundo verde global. Nesse sentido, é correto o que Lula falou, mas não quer dizer que isso vai acontecer no futuro próximo.
Como resumiria a análise sobre o discurso de Lula?
É um ponto de virada do Brasil. Ele não retoma à política ambiental climática no nível do primeiro governo. É um patamar mais alto do que no primeiro governo Lula. O primeiro governo Lula foi o mais consistente na política climática e ambiental. Depois, começou um retrocesso no governo Dilma, que continuou no governo Temer e se super aprofundou com Bolsonaro. Agora, a política climática ambiental tem uma posição muito mais central da que tinha até no primeiro governo Lula. É um outro patamar. Praticamente Brasil se iguala agora à vanguarda do mundo, à liderança do mundo, que é a União Europeia, em termos de política de climática. E se coloca, pelo menos no plano do discurso, pelo menos no mesmo nível da União Europeia. O destaque aos povos originários também parece ser maior do que se tinha no primeiro governo.
Texto publicado originalmente no Estadão.
Cristovam Buarque: Pisos e tetos
Cidadania23*
Lula tem razão quando lembra que muitos defendem o teto de gastos para evitar a volta da inflação, sem defesa de piso social, para assegurar todo brasileiro com alimentação satisfatória, escola de qualidade, atendimento de saúde, moradia com saneamento, garantia de emprego e renda com moeda estável. Tanto quanto a desigualdade como a educação de base é oferecida, a maior causa da pobreza é a desvalorização da moeda que rouba o valor dos salários pagos aos trabalhadores. Há décadas a inflação faz parte da arquitetura de concentração de renda, que os economistas, empresários e políticos impõem ao povo brasileiro. Mas a estabilidade da moeda é insuficiente se os governos não fizerem os investimentos sociais necessários.
O Brasil precisa definir políticas sociais e de crescimento econômico que atendam às necessidades básicas da população e promovam emprego. Lula lembra que um gasto que salva vida ou constrói infraestrutura é investimento. Para tanto, o Estado precisa investir o que for necessário, tendo consciência de que esses investimentos exigem gastos no momento que são realizados e que não devem ser financiados pelos próprios pobres ao receberem salários e bolsas com moeda desvalorizada e sofrerem as consequências do endividamento, juros elevados, preços inflacionados e consequente recessão e desemprego.
Além do piso social, é preciso haver teto em gastos desnecessários, mordomias, desperdícios e privilégios: ineficiência, ostentação, prioridades e política fiscal que concentram. O Brasil precisa também definir um limite ao uso de seus recursos naturais, para evitar a depredação que sacrifica as gerações futuras. Os dois governos Lula praticaram essa ideia de pisos e tetos: criaram programas sociais, foram responsáveis fiscalmente e comprometidos com o meio ambiente. Precisa-se de uma reforma fiscal que permita financiar as necessidades dos pobres, eliminando desperdícios e ineficiências, para manter a estabilidade da moeda em benefício do povo e do país.
Em vez do nervosismo por uma fala improvisada de Lula enfatizando mais o piso social do que o teto de gastos, os agentes econômicos — compradores e investidores — deveriam observar os atos de Lula, nos seus oito anos de governo e sugerir formas para financiar os gastos sociais com uma política fiscal responsável, capaz de barrar excessos de gastos e de subsídios dirigidos à parcela rica e à indústria ineficiente. Para assegurar o piso social que atenda às necessidades e retome o crescimento, é preciso impor tetos aos privilégios. Romper o teto de gastos com os pobres e impor teto de benefícios aos privilegiados.
Tudo indica que Lula vai manter seu compromisso social e repetir a responsabilidade fiscal de seus dois governos, com orçamentos equilibrados. Ele tem manifestado a importância do fator confiança e da previsibilidade como condição ao bom desempenho da economia e já demonstrou saber que a responsabilidade fiscal é determinante para que os agentes econômicos tomem decisões corretas. Por isso, a necessidade de piso social e de limites em gastos supérfluos.
Ao longo de décadas, economistas e políticos optaram pela ideia de que a pobreza decorre da falta de crescimento e justificaram ostentação, gastos supérfluos, desperdícios e ineficiências como ferramentas para superar a pobreza. Iludiram os pobres cujo trabalho era pago com a falsa moeda da inflação. Usaram a inflação para que os pobres financiassem o progresso para os ricos, agravando a pobreza enquanto o país crescia. Foi graças à maldade da inflação que o Brasil conseguiu estar entre os países mais ricos e aqueles com maior concentração de renda e número de pobres e de famintos.
Nossos economistas, empresários e políticos precisam perceber que a permanência da pobreza é um dos maiores entraves ao progresso nacional e sua superação promove o crescimento e o desenvolvimento. O mercado deve entender que os investimentos sociais impactam positivamente sobre a economia e levar em conta que parte do bom desempenho da economia nos anos de Lula veio dos resultados do que se investiu em educação, saúde, Bolsa Família. E muitos ao redor do Lula esquecem que isso foi possível graças à estabilidade monetária. Sem os investimentos sociais o crescimento fica limitado, sem a estabilidade monetária os benefícios sociais são corroídos.
Lula precisa aumentar gastos sociais e manter equilíbrio fiscal, reduzindo privilégios, desperdícios, ineficiências: piso para os necessitados e teto para os privilegiados. (Correio Braziliense – 15/11/2022)
Cristovam Buarque, professor emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação
Texto publicado originalmente no portal Cidadania23.
Frente, transição, futuro governo e a política: Lula segura as rédeas
Paulo Fábio Dantas Neto*, Esquerda democrática
Durante essas semanas seguintes às eleições, quem realmente gosta de democracia e entende a importância da política na vida pública está matando saudades. Desfruta imagens e falas que vão além do alívio – algo já em si importante – e trazem esperança de que possamos voltar a ter no Brasil espaço para argumentos, diálogos e embates políticos civilizados em lugar de dogmas, berros e violência. Fantasmas que apavoravam a sociedade, ou se dissiparam (caso do perigo de golpe) ou migram para as margens das estradas e do noticiário político, caso das manifestações de inconformismo politicamente ativo em relação ao resultado eleitoral. Nuvens descarregam e o descarrego torna o ar menos abafado.
Há quem chame isso de volta à normalidade. Apesar da sensação real de que matamos saudades, tenho dúvidas sobre se de fato estamos diante de algum tipo de retorno. Tendo mais a compreender esse momento como saída de um beco enlameado, pantanoso e como entrada numa avenida desconhecida. À medida em que, ao caminhar por ela, o país finque os pés no chão, poderá avaliar a qualidade do piso, sua textura em cada trecho, percebendo a firmeza e o alcance de cada passo. Enquanto vencedores podem arriscar saltos para desfrutar bônus da vitória, a realidade aconselha, a quem ganhou e a quem perdeu as eleições, pisar devagarinho, pois a nova avenida não é reta nem está toda pavimentada. Para os componentes do que se autodesignou “frente ampla”, os desafios são manter em dia os músculos e articulações dos pés e prestar atenção a curvas sinuosas, túneis e elevados, que modulam a velocidade.
Na pista da política institucional, o piso é amigável. Atitude cooperativa predomina para além dos necessários acordos e negociações, próprios do jogo político. Há no ambiente uma consciência coletiva da elite política de que lhe foi dada nova oportunidade de agir como tal. O instinto sobrevivente, após quatro anos de incerteza radical, sugere aos atores políticos que a parte atual do jogo pode ser jogada de modo a beneficiar, inicialmente, a todos os que se dispuserem ao jogo dentro das regras, inclusive se forem da turma do capitão. Remete-se ao futuro as disputas decisivas. Se a futuro breve ou distante não se sabe (a política dirá), mas ao menos tem-se um prazo fixado pela democracia, isto é, no próximo encontro com as urnas tudo será reexaminado. Por ora, não convém a ninguém antecipar, para não travar a acumulação de capital político acessível a todos, enquanto dure a cooperação. Nessa, portanto, nada há de altruísmo. É interesse que, ao que parece, começa a ser mais bem compreendido. Desse modo, a visita do presidente eleito às cúpulas dos outros dois poderes da República apenas selou uma atitude antecedente de compromisso. Com os ministros do STF e com os presidentes do Senado e da Câmara Lula não precisou oferecer mais do que uma disposição de laissez-faire. Menos judicialização da política e abstenção em relação às disputas internas ao Legislativo bastam para assegurar bom tráfego.
Quadro distinto há no túnel onde circula um eleitorado cindido quase ao meio, parte dele interditando a pista sem pavimento pela qual a frente ampla pede passagem. Suas motivações não são desejo de golpe, mas um imenso ceticismo em relação ao presidente eleito e ao seu ainda futuro governo. Ceticismo também em relação ao processo eleitoral findo, modo de repudiar o sistema político ao qual Bolsonaro, contra leis da lógica, ainda conseguiu aparecer como contraponto, depois de ter patrocinado, em favor da sua tentativa de reeleição, uma radical mobilização de recursos públicos por dentro desse sistema. Conforme pesquisa do Instituto Atlas (trago aqui informação da jornalista Raquel Landim, da CNN, ao entrevistar o responsável pelo instituto), entre os dias 4 e 8 de novembro 43% dos eleitores entrevistados disseram que Bolsonaro foi injustiçado na eleição e 38% que Lula não teve mais votos que Bolsonaro. Mesmo mantendo a devida distância desses números exatos, inclusive por não conhecer bem a metodologia empregada, creio ser impossível não prestar atenção na ordem de grandeza. Ela dá ideia sobre o tamanho do caminho a percorrer pelo campo democrático (não só pelo governo, como lembrou ontem a jornalista Maria Cristina Fernandes em sua coluna no jornal Valor Econômico) entre a vitória eleitoral da frente ampla, a montagem e atuação do novo governo e a fixação de um padrão de competição confiável entre ele e uma oposição democrática. Nenhuma das três condições é dispensável para afastar do nosso horizonte, ao menos a médio prazo, o protagonismo político de uma extrema-direita subversiva e agonística. Das três, por enquanto alcançou-se a primeira, a 30 de outubro. As duas outras (governo de frente ampla e oposição democrática) ainda são temas mais para prospecção.
Mas o presidente eleito é uma personalidade política marcante e incontrolavelmente ostensiva. Por mais que tenha seus segredos imperscrutáveis e faça deles uso, como qualquer político, sua persona pública não abre mão de fazer revelações inesperadas, elas também armas para exercer protagonismo. A sua presença nos palcos procura por vezes neutralizar a obra da paciente dialética articulatória dos bastidores, caso essa obra ameace, de algum modo, a sua condição de vértice. E no cumprimento das ordens do instinto de sua pessoa termina fornecendo material a análises que, sem ele, seriam precoces.
Foi exatamente o que ele fez nessa última semana, ao final de dois dias de alta exposição. Na quarta-feira cumpriu, como se governante já fosse, o importante ritual da separação harmônica dos poderes, colhendo os merecidos frutos do contraste gritante com o seu antecessor que ainda vaga pelo palácio. Nesse dia Lula guardou para si seus sentimentos, desejos e planos, respeitando a primazia das instituições sobre as pessoas. Depois fez do dia seguinte uma quinta-feira com ares de um pastiche da Lavagem do Bonfim. Sem confrontar o ritual sagrado cumprido na véspera, assumiu o apetite profano de políticos outsiders em romaria e se esbaldou em desabafos ao povo, inclusive com direito a lágrimas. Ao seu lado, fiéis escudeiros e/ou parceiros de primeiro turno e aliados chegados já no segundo. Esses últimos e parte dos primeiros foram levados de roldão ao encontro da patuscada, no embalo da retórica populista, como se fossem turistas desavisados, perplexos e receosos, mas também encantados com o sincretismo da festa. Na Bahia o rumo é uma basílica e a festa é em honra de um redentor. Mas no caso em tela, o que são a motivação e o rumo é discussão mundana, que vai longe e desautoriza a analogia.
O eleitor médio adora tudo isso, daí a popularidade de Lula. A militância retira dessa performance o combustível do seu fervor. Já a dinâmica institucionalmente plural e laica da política democrática sofre com isso, daí a dificuldade de Lula adquirir, nesse âmbito, uma confiabilidade sustentável, o que o obriga a permanente exercício de seduções a granel. Por mais que sua retórica populista assopre, depois de morder, seus pares no mundo da elite política sabem que não estão livres de, na próxima esquina, receberem do hipnotizador de massas a pecha de picareta ou golpista. Acordos políticos com Lula tendem a ser intensos, para mostrar que envolvem cérebro e coração. E efêmeros, a não ser que os aliados, mesmo céticos, metabolizem seus interesses em forma de devoção e profissão de fé no líder.
Fiz uma interpretação sumária, que não resistiria ao teste do que foi a performance um tanto frustrante de um líder populista meio fora de forma, que Lula exibiu na mais recente campanha. Para quem esperava dele o arrebatamento das massas num resgate de sua trajetória, é pedagógico resignar-se ao fato de que deve sua eleição à formação de uma frente ampla de última hora, formada por forças políticas, lideranças, pessoas e grupos movidos pelo medo da reeleição do seu oponente. Esse choque de realidade não impede, contudo, que se leve em conta outro fato incontestável, o de que ninguém, na política brasileira atual, senão ele, poderia reunir condições necessárias - embora não suficientes, como mencionei acima - para enfrentar e derrotar um incumbente que, por sua vez. reunia três condições que faziam dele o espectro de uma tempestade perfeita: mística antissistêmica, arsenal (legal e ilegal) de recursos materiais derivados da ocupação do cargo e disposição pessoal de não se deter diante de escrúpulos de qualquer natureza. Esse segundo fato, de ter sido a única alternativa ao caos, sinaliza um futuro ao protagonismo de Lula. Um futuro de consolidador da vitória do sistema contra a subversão.
Esse é o preço que, em tese, Lula deve pagar por ter obtido o apoio eleitoral de uma minoria política e social decisiva, que lhe rendeu os votos que faltavam. Votos que sozinho com seus apoiadores primeiros ele não pôde obter, ao contrário do que previa sua tática original de frente de esquerda acenando ao centro. A dialética articulatória, fundada no entendimento e em concessões mútuas, com ânimo de conciliação, é a única gramática disponível a Lula, antes que ele tenha em mãos, efetivamente, os cordéis do poder governamental. Pode ser que a mantenha, por meses ou até o fim do mandato, em atenção aos condicionantes objetivos de sua apertada eleição. Pode ser que não. Até aqui há pistas de uma coisa, de outra e também de combinação ignorada entre a gramática da articulação e a de cooptação fisiológica.
A frente ampla, por ter sido improvisada e não fruto de uma convergência programática dentro de uma estratégia política, implica, agora, em processos complexos de realinhamento ainda muito opacos. Enquanto dinâmica de partidos e lideranças que pretendem influir sobre o futuro governo, o rumo ou a falta de rumo dessa frente ainda é um quebra-cabeças de resolução ignorada. Certamente será tema em pauta na sequência dos artigos semanais. Hoje só arrisco, para concluir, uma hipótese, a partir do que transparece a mim sobre desígnios, provavelmente provisórios, do ator principal. A transparência relativa desses desígnios provém, como já dito, do fato de Lula, embora sendo mestre na dissimulação, ser, também, perito em oratória incontinente. Nunca esquecendo que ambas são recursos conscientes do ator, é possível interpretar, a partir do que não pode ser dissimulado, o que tem sido a sua tática.
Para resumir, penso que se trata para ele, agora, de segurar as rédeas da política em suas mãos, como vértice indisputado. É possível que consiga. Votos, mesmo sem goleada, revigoram o animal político. Mas a fila da política anda e pode fugir ao seu controle, na eventualidade de um condicionamento da formação do governo pela transição coordenada por Geraldo Alckmin. As coisas, no meio político e empresarial, também na sociedade civil e na imprensa, começavam a parecer andar “bem demais”. Era tal o clima de busca de consenso que, de repente, se poderia chegar a ele sem a intervenção decisiva do protagonista. As virtudes do método dialético da articulação poderiam fazer com que ele, o método, relativizasse as diferenças substantivas sobre, por exemplo, política econômica, dando lugar a um script irrecusável pelo presidente. Até porque a percepção da gravidade da crise social e o profissionalismo da articulação política sobre economia jamais permitiriam à coordenação da transição o luxo de nublar a máxima prioridade presidencial para suas promessas explícitas de campanha, quase todas remetidas ao social. Em todas as arenas visitadas pela comissão respirava-se ar de conciliação entre responsabilidade social e responsabilidade fiscal. A adversativa “ou” caminhava para o armário. Mas eis que, numa quinta apoteótica, a mão visível do ator principal instala um contencioso em cima de uma não questão. Volta-se à reta final do primeiro turno e o que estava irresolvido, mas andando, parece voltar à estaca zero.
Vozes petistas menos moderadas, viajando na maionese, exultaram quando souberam que Henrique Meireles teria dito que Lula dilmou. Será? As seguidas indicações de pessoas do governo Dilma para diversos núcleos temáticos da comissão de transição; o aval, ainda que contido, da presidente do PT à carta institucionalmente aloprada de Guido Mantega ao BID para reverter uma indicação do atual governo como se já houvesse um novo; as especulações em torno do nome de Fernando Haddad para o ministério da Fazenda, tudo isso e outras narrativas mais pareciam encontrar guarida e sentido nas palavras aguerridas do presidente eleito num discurso dito histórico, por essas correias de transmissão.
Por outro lado, reações políticas em contrário assumiram variadas formas. No plano partidário poucos exemplos. Profissionais da política em geral seguram-se numa hora dessas, quando há muito em jogo. Mas é digna de nota a clareza quanto ao mérito da discussão usada por Gilbert Kassab para, em entrevista à CNN, condenar polidamente a fala. E de curiosidade a ausência do MDB à primeira reunião dos partidos da base ampliada da transição, que o partido integra a convite direto da presidente do PT. Entre os chamados “economistas liberais” (profissionais ou intelectuais públicos que a turma das correias de transmissão ironiza como vozes do “mercado”, o inimigo secular, evocado pela fala de Lula) as reações variaram entre a crítica assertiva, sem meias palavras, de Elena Landau – a assessora do programa econômico de Simone Tebet – e a ironia moderada de Arminio Fraga simulando responder com paciência às indagações retóricas da fala de Lula. Por fim, no próprio PT houve leituras bombeiras de que “não foi bem assim” e palavras moderadoras consistentes, como a do senador Welington Dias.
Essas manifestações de incômodo parecem longe de um caminho sem volta em relação ao governo Lula, mas refletem, em comum, a consciência sobre a falta de futuro da dicotomia falaciosa entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social no atual contexto de revisão conceitual desse tema em todo o mundo pós-pandemia e de convergência política democrática no Brasil. E expressam, de um ponto de vista racional, variados graus de apreensão quanto às palavras do presidente eleito, de quem esperam atitudes de um dirigente do sistema democrático e da política sólida das instituições.
Penso que os temores de um lado e as celebrações do outro não se sustentam ainda em suficientes fatos. O mais que provável é que Lula volte do Egito carregado de acordos e promessas internacionais, antidistônicos para resolver a distonia que provocou. O discurso deverá ser ambíguo, como sempre. Aos críticos que quiser afagar dirá “não disse que não havia motivos para preocupação?” Aos que quiser manter à distância dirá que são provincianos, enquanto ele, Lula, está antenado com a ordem mundial.
Lidar bem com a ambiguidade do mundo real e saber cultivá-la é, sem dúvida, uma virtude política. Pode ser praticada tanto na direção de construir consensos sempre parciais e nunca absolutos, fazendo da política um artesanato de várias mãos, construindo um centro diretor vertical a partir de circuitos horizontais; ou pode ser praticada na direção de ativar conflitos até o limiar da divisão, fazendo da ambiguidade do líder o único ponto de equilíbrio possível e consagrando a política como atividade dependente de estímulos que podem e até devem vir de baixo, desde que sejam triados pelo vértice. Essa última é a via da ambiguidade virtuosa de Lula e um mandamento que talvez deva ser observado por todos os brasileiros que ajudaram a elegê-lo é lembrar que não se pode eleger Lula e querer que ele seja outro. É assim e assim será. Qualquer projeto democrático que o inclua não deve incluir a hipótese de que um dia ele desça do palanque. Jamais descerá. Se descesse seria menos marcante que um chuchu.
Se alguém, como esse colunista, se inquietar ou contrariar com isso, deve observar, durante os próximos quatro anos, um segundo mandamento das urnas, que é imaginar como estaríamos se o eleito tivesse sido o outro. O espirito de quem é democrata sincero ficará mais apaziguado. Mas ao mesmo tempo deve ficar atento a outro ponto da fala do presidente eleito naquela memorável quinta-feira: ele não só exumou o inimigo “mercado”, como o inimigo Bolsonaro, esse de carne e osso, repetindo, em palanque tardio, a pauta de uma campanha que deve dar por encerrada se quiser, de fato, agregar o país. Por mais apaziguados que estejamos com a ambiguidade de Lula, é insólito ouvir o eleito despolarizador do país tirar o capitão do atual ostracismo para convidá-lo a se preparar melhor para a “próxima”. Bolsonaro pode virar, a médio prazo, assunto do Poder Judiciário e pé de página na política institucional. Sua irrelevância sistêmica é indispensável para desobstruir o túnel de insatisfeitos, onde ele atua e tem peso. Para pavimentar o túnel e integrar os transeuntes à política da nova avenida Brasil, pelo novo governo e pela nova oposição. E deixar Bolsonaro entregue aos juízes e a André Janones.
* Paulo Fábio Dantas Neto é cientista político e professor da UFBa.
Texto publicado originalmente no Facebook da Esquerda Democrática.
Míssil russo mata 2 na Polônia, país-membro da Otan, após intensos bombardeios à Ucrânia
g1*
Vítimas eram do leste polonês, próximo à fronteira com a Ucrânia. Ministério de Relações Exteriores da Polônia confirmou que foguete foi fabricado na Rússia e convocou o embaixador russo para tratar do caso
Duas pessoas morreram nesta terça-feira (15) na Polônia depois que o país foi atingido por um míssil russo. A informação foi confirmada pelo Ministério de Relações Exteriores da Polônia, que convocou o embaixador russo para tratar do caso.
O míssil caiu em uma fazenda de grãos no vilarejo de Przewodów, que fica no leste da Polônia, próximo à fronteira com a Ucrânia. De acordo com o governo polonês, a cidade foi atingida por volta das 15h40 no horário local (11h40, no horário de Brasília).
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse após reunião com membros do G20 que informações iniciais indicam que o míssil provavelmente não foi disparado da Rússia, mas que as investigações continuaram para obter mais detalhes.
A Polônia é um país-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar formada em 1949 e que hoje conta com 30 países, incluindo EUA, Canadá, Reino Unido e França.
Os membros concordam em ajudar uns aos outros no caso de um ataque armado contra qualquer Estado membro. Na prática, um ataque a um país da Otan é considerado um ataque a todos os outros integrantes da aliança.
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, afirmou que é muito provável que o país acione o Artigo 4 da Otan em uma reunião marcada para esta quarta-feira (16).
O Artigo 4 da Otan diz que "as Partes consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das Partes".
Além desse, o Artigo 5 do tratado também fala sobre invasões a nações que fazem parte da Otan. Ele diz que "um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas" e prevê ainda a possibilidade de "emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança".
Como consequência do bombardeio, o G7, clube das nações mais ricas do mundo, está organizando uma reunião na quarta-feira, segundo a agência de notícias japonesa Kyodo.
Líderes globais que estão em Bali, na Indonésia, para a 17ª reunião da cúpula do G20, que reúne as maiores economias do mundo, foram convocados pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para uma reunião de emergência após a explosão registrada na Polônia.
Além dos Estados Unidos, participam do encontro líderes da Alemanha, Canadá, Holanda, Japão, Espanha, Itália, França e Reino Unido.
O que diz a Polônia
O chefe do Escritório de Segurança Nacional da Polônia, Jacek Siewiera, disse que o presidente da Polônia conversou com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, sobre a queda do míssil.
"Verificamos as premissas do Artigo 4 da Otan. Estamos em contato com nossos aliados e esperamos conversas com o lado americano", declarou Siewiera.
Segundo a Reuters, embaixadores membros da Otan vão se encontrar na quarta-feira para debater o assunto. Um dos diplomatas que confirmou o encontro à agência afirmou que a Organização "vai agir cautelosamente e precisará de tempo para verificar o que aconteceu com precisão".
A Polônia ainda pediu explicações sobre o caso ao embaixador da Rússia em Varsóvia.
O que diz a Rússia
Antes de a Polônia afirmar que seu território foi sido atingido por um míssil russo, o Ministério da Defesa da Rússia negou a alegação, que classificou como "uma provocação deliberada com o objetivo de agravar a situação".
Em comunicado, o governo russo afirmou que "nenhum ataque a alvos perto da fronteira entre Ucrânia e Polônia foi feito por meios de destruição russos".
Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que não tem informações sobre o incidente.
A informação sobre a queda de mísseis russos foi revelada por um alto funcionário da inteligência dos Estados Unidos, que falou à Associated Press em condição de anonimato.
Inicialmente, o Pentágono afirmou que não era possível confirmar a informação de que mísseis russos atingiram a Polônia. "Não temos nenhuma informação neste momento para corroborar esses relatos e estamos investigando isso mais a fundo", disse o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder.
O presidente da Ucrânia Volodymir Zelensky acusou a Rússia de ter atacado a Ucrânia.
"Quanto mais a Rússia sentir impunidade, mais ameaças haverá para qualquer um ao alcance dos mísseis russos. Disparar mísseis conta o território da Otan. Este é um ataque de mísseis russos contra a segurança coletiva. Esta é uma escalada muito significativa. Devemos agir", afirmou Zelensky.
Reação de países da Otan
Após a confirmação sobre a explosão, a Otan afirmou que está em contato com a Polônia. "Estamos analisando estes relatos ligados à explosão na Polônia e em coordenação próxima com nossa aliada Polônia", disse a aliança em comunicado.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Vedant Patel, disse que os relatos sobre a Polônia são preocupantes. "Estamos trabalhando com nossos parceiros do governo polonês e nossos parceiros da Otan para obter mais informações e avaliar o que aconteceu. Faremos essa determinação e também determinaremos as próximas etapas apropriadas", afirmou.
O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu por "trabalhos de verificação necessários" e afirmou que a reunião do G20 na quarta-feira (16) será importante para aumentar a atenção com a guerra na Ucrânia.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, por sua vez, afirmou que o governo britânico está "investigando com urgência relatos de mísseis caindo na Polônia". Ele também afirmou que está em contato com a OTAN e com o governo polonês.
A Estônia afirmou que as últimas notícias da Polônia são preocupantes. "Estamos consultando de perto a Polônia e outros aliados. A Estônia está pronta para defender cada centímetro do território da Otan. Estamos em total solidariedade com a nosso aliada próxima Polônia".
O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, afirmou que está mantendo contato próximo com a Polônia e que a Lituânia presta solidariedade ao país. "Cada centímetro de território da Otan deve ser defendido", afirmou.
O primeiro-ministro da Eslováquia, Eduard Heger, disse que o país está preocupado com a notícia sobre a explosão. "Entrei em contato o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki para expressar nossa solidariedade e total apoio. Vamos consultar a Polônia e outros aliados sobre a situação", publicou.
O primeiro-ministro da República Tcheca, Petr Fiala, disse que os ataques de hoje à Ucrânia mostram que a Rússia quer destruir o país. "Se a Polônia confirmar que os mísseis também atingiram seu território, isso será uma nova escalada da Rússia. Apoiamos firmemente nosso aliado de União Europeia e Otan", escreveu.
A Letônia afirmou que terá uma reunião na quarta-feira (16) para avaliar a situação de segurança. "A Letônia e seus aliados da Otan estão prontos para qualquer situação para defender seus cidadãos e territórios", publicou em uma rede social o primeiro-ministro letão Krisjanis Karins.
O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, disse que o país condena veementemente o incidente em território polonês e envia condolências à famiília das vítimas e ao povo polonês. "A Bélgica está com a Polônia. Todos fazemos parte da família Otan que, mais do que nunca, está unida e equipada para proteger a todos nós", afirmou.
O Reino Unido, a Alemanha, a Holanda e o Canadá também disseram que estão acompanhando a situação e em contato com a Polônia e outros países aliados.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que estava "alarmada com relatos de uma explosão na Polônia, após um ataque massivo de mísseis russos em cidades ucranianas". Ela também disse que a Comissão estava monitorando a situação de perto e em contato com autoridades polonesas.
Bombardeios russos
A Rússia voltou a atacar Kiev e outras grandes cidades da Ucrânia nesta terça-feira (15), no mesmo dia em que líderes do G20 pediram em conjunto que os bombardeios fossem interrompidos.
Horas antes do novo ataque, o presidente da Ucrânia Volodymir Zelensky discursou durante a cúpula do G20. Em seu pronunciamento, ele afirmou que este é um bom momento para o fim da guerra em seu país.
"Estou convencido que agora é o momento em que a guerra pode e deve ser interrompida", afirmou ele por vídeo em reunião com os países mais ricos do mundo.
Texto publicado originalmente no portal g1.
Trump anuncia pré-candidatura à Presidência dos EUA em 2024
Made for minds*
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou nesta terça-feira (16/11) que vai se candidatar mais uma vez à Casa Branca em 2024, abrindo a corrida pela nomeação republicana.
"A fim de tornar a América grande e gloriosa novamente, anuncio nesta noite a minha candidatura à Presidência dos Estados Unidos", disse o bilionário de 76 anos, aplaudido por uma multidão na sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida.
Diante de centenas de apoiadores e rodeado de bandeiras americanas e faixas com o seu icônico slogan de campanha Make America Great Again (Tornar a América Grande Novamente, em português), o magnata recordou o primeiro mandato de forma idílica, descrevendo esse período como um país em paz, próspero e respeitado no cenário internacional, e exagerando na descrição das suas conquistas enquanto presidente.
"Vou concorrer porque acredito que o mundo ainda não viu a verdadeira glória que esta nação pode ter. Vamos novamente colocar a América em primeiro lugar", disse.
Ao mesmo tempo que falou em unidade, Trump indicou que derrotará "os democratas radicais de esquerda que estão tentando destruir o país por dentro", criticando o atual presidente. "Joe Biden personifica os fracassos da esquerda e a corrupção de Washington", acusou.
"Eu não precisava disto, tenho uma vida boa e tranquila, mas amamos o nosso país e temos de salvá-lo", afirmou, referindo-se à sua candidatura.
O magnata pediu a eliminação de todas as votações antecipadas, votações à distância e o uso de urnas eletrônicas. "Apenas cédulas de papel", defendeu.
Em seu discurso de mais de uma hora, transmitido ao vivo pela televisão, também não faltaram ataques à imprensa.
Trump aproveitou ainda para acenar ao "fantástico" povo latino e hispânico, de quem disse esperar conseguir mais votos, apesar da polêmica construção de um muro na fronteira com o México.
Relutância republicana
Momentos antes do anúncio público, Trump já havia formalizado sua pré-candidatura à Presidência por meio de um documento enviado à Comissão Eleitoral Federal americana. Ele é o primeiro político a oficializar a pré-candidatura às eleições presidenciais de 2024.
O anúncio de Trump ocorreu num momento em que crescem sinais de relutância dentro do Partido Republicano em vê-lo regressar a uma corrida presidencial, já que muitos candidatos que o magnata apoiou nas eleições de meio mandato (midterms) saíram derrotados das disputas com os democratas.
Os republicanos esperavam uma "onda vermelha" (referência à cor do partido), com grandes vitórias nas corridas para governadores e para o Congresso. Em vez disso, perderam a oportunidade de conquistar a maioria no Senado. Ainda não está claro quem terá o controle sobre a Câmara, mas os republicanos estão a caminho de conquistar uma maioria por margem apertada.
Em seu discurso, Trump afirmou que, de todos os candidatos que ele apoiou, "somente 22" não foram eleitos.
Ainda há um longo caminho pela frente antes que o pré-candidato republicano possa eventualmente ser nomeado candidato do partido em meados de 2024. Outros possíveis postulantes republicanos à Presidência já surgem no horizonte, como o governador reeleito da Flórida, Ron DeSantis, e o ex-vice-presidente americano Mike Pence, ambos ex-aliados de Trump.
Pesquisas de intenção de voto indicam que DeSantis, que ainda não revelou se se candidatará, teria uma vantagem significativa frente a Trump se houvesse um duelo entre eles nas primárias republicanas.
"Donald Trump decepcionou os EUA"
Do lado democrata, Biden, que derrotou Trump em 2020, afirmou que pretende se recandidatar em 2024, mas que isso depende de uma "decisão familiar" que deverá ser tomada no início do próximo ano.
Em reação ao anúncio da pré-candidatura de Trump, Biden divulgou no Twitter um vídeo crítico ao republicano e seu governo, acompanhado da frase: "Donald Trump decepcionou os EUA."
Trump já sofreu dois impeachments na Câmara e continua envolvido em múltiplas investigações políticas e criminais, relacionadas a finanças de sua empresa familiar, documentos confidenciais que mantinha na sua mansão em Mar-a-Lago e à invasão do Capitólio por uma turba de apoiadores dele após o republicano contestar a vitória eleitoral de Biden.
lf (Reuters, Efe, Lusa)
Texto publicado originalmente em Made for minds.
Villas Bôas adota tom golpista e diz que atos antidemocráticos são contra atentados à democracia
Folha UOL*
O general da reserva Eduardo Villas Bôas defendeu nesta terça-feira (15) as manifestações antidemocráticas promovidas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que rejeitam a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em publicação feita no Twitter, o militar disse que os atos são contra "atentados à democracia" e que também tratam das "dúvidas sobre o processo eleitoral", repetindo um tom golpista adotado por parte dos apoiadores de Bolsonaro.
Em 2018, quando era comandante do Exército, Villas Bôas usou as redes sociais para ameaçar o STF (Supremo Tribunal Federal) na véspera da votação de pedido para evitar a prisão de Lula. Esse episódio se tornou um marco da intromissão de militares em assuntos civis desde a redemocratização de 1985.
Apoiadores de Bolsonaro realizam manifestações em diversas cidades pedindo que as Forças Armadas impeçam a posse de Lula. Em Brasília, o ato com pedido de golpe ocorre em frente ao quartel-general do Exército. Os ministros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também são alvos frequentes dos manifestantes.
Villas Bôas disse na publicação desta terça-feira (15) que esses apoiadores de Bolsonaro estão aglomerados nas portas de quartéis "pedindo socorro às Forças Armadas".
"Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos Poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral", afirmou o militar no Twitter.
O general também elogiou a fiscalização feita pelos militares no processo eleitoral. Apesar de não ter encontrado nenhum indício de fraude nas eleições, o Ministério da Defesa afirmou que não descarta a possibilidade de fraudes no pleito.
Villas Bôas disse que os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica ainda demonstraram "apego aos princípios e valores militares, bem como ao texto constitucional" ao assinarem uma nota conjunta que apresenta recados indiretos ao Judiciário em meio aos protestos antidemocráticos.
"Não pode deixar de ser destacada a liderança, o equilíbrio, a serenidade e a autoridade dos atuais comandantes e do Ministro, condições com as quais asseguram a disciplina e a coesão de seus subordinados", afirmou ainda Villas Bôas nessa terça.
O general foi comandante do Exército de 2015 ao começo de 2019. Bolsonaro chegou a afirmar, em 2019, que ele foi "um dos responsáveis" pela sua chegada ao Palácio do Planalto.
Villas Bôas também ocupou cargo no governo Bolsonaro até junho de 2022, quando deixou o posto de assessor especial do ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Na publicação desta terça, o general também disse que a imprensa tenta esconder as manifestações bolsonaristas.
"Talvez nossos jornalistas acreditem que ignorando a movimentação de milhões de pessoas elas desaparecerão", escreveu Villas Bôas. No protesto feito em Brasília nesta terça, uma equipe da rádio Jovem Pan precisou ser escoltada por soldados depois de ser hostilizada e ameaçada por bolsonaristas.
Os atos antidemocráticos em Brasília chegaram nesta terça ao 15º dia. Caravanas gratuitas de pelo menos oito cidades foram anunciadas pelas redes sociais.
As manifestações na capital federal têm contado com caminhoneiros convocados por empresários do agronegócio para permanecerem em Brasília.
Nesta sexta-feira (11), o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares dos estados adotem medidas imediatas para a desobstrução de vias públicas bloqueadas por manifestantes bolsonaristas em protestos antidemocráticos.
Texto publicado originalmente no Folha UOL.
100 anos de José Saramago: Vida e obra inspiram livros e homenagens
r7 Entretenimento*
José Saramago nasceu na pequena aldeia portuguesa de Azinhaga, no dia 16 de novembro de 1922, filho de pais camponeses sem terra que dois anos depois decidiram se mudar para Lisboa. A dificuldade financeira os acompanhou na capital, onde José, bom aluno, seguiu os estudos, formou-se serralheiro mecânico, trabalhou em oficina de automóveis, metalúrgica e escritório até ingressar numa editora, nos anos 1950, para trabalhar na área de produção. Àquela altura, ele já tinha tentado, sem sucesso, escrever algumas coisas - ele descobriu a literatura cursando a escola técnica.
Depois da editora, o rumo da história muda para Saramago. Ele começa a traduzir e a fazer críticas literárias, publica seus poemas e passa a escrever mais. Muito mais. Levantado do Chão, Memorial do Convento, A Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio Sobre a Cegueira, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante. A lista é longa e lhe valeria reconhecimento internacional, o Prêmio Camões em 1995 e o Nobel de Literatura em 1998. Hoje, no dia do seu centenário, Saramago é celebrado com novos livros.
As ideias, de um novo livro, de uma mudança de rumo, surgiam para José Saramago com um 'e se'. Em 1992, Pilar Del Río, sua mulher, foi surpreendida com um "E se fôssemos morar em Lanzarote?" Saramago estava aborrecido com o governo português, que tinha tirado O Evangelho Segundo Jesus Cristo de uma lista de livros que representariam a nova literatura portuguesa na Europa. Lançado no ano anterior, ele vinha causando polêmica, mas o gesto arbitrário do governo de Cavaco Silva foi decisivo para Saramago se afastar. E recomeçar.
Essa história é contada por Pilar na crônica A Polêmica Que Acelerou o Tempo, uma das primeiras de A Intuição da Ilha: Os Dias de José Saramago em Lanzarote. O volume traz passagens marcantes dos 18 anos que o Nobel de Literatura viveu na ilha vulcânica do arquipélago espanhol das Canárias.
Um livro de histórias, de memórias e um livro que mostra, sobretudo, como a mudança para um lugar isolado permitiu que Saramago se voltasse ao que era realmente essencial, reconhecesse o céu da Azinhaga da sua infância e produzisse alguns dos seus melhores livros.
"A ilha permite ver sem ser contaminado por modas, modos, interesses de um ou de outro. À ilha chegam vozes, mas não chegam barulhos. Por isso Saramago pôde escrever tantos livros na última fase de sua vida", comenta Pilar em entrevista ao Estadão.
A ideia de reunir essas lembranças não foi dela. Com saudades de Saramago, os funcionários da Casa, o museu no qual sua residência foi transformada em 2011, começaram a pedir, na pandemia, que ela compartilhasse passagens e curiosidades. História vai, história vem, pelo Zoom, pelo WhatsApp, e Alba, uma dessas funcionárias, dona de uma editora na ilha, pede para publicá-las em livro.
"Foi um trabalho gostoso de recuperação da memória - mas, ao começar a escrever achei que precisava de algo mais. E esse algo é por que surgem os livros escritos em Lanzarote. Por que Ensaio Sobre a Cegueira, por que A Viagem do Elefante, As Intermitências da Morte?", comenta. "Então revelo coisas que ninguém sabia. Ninguém sabia que Saramago recebe um prognóstico médico e em vez de ficar 'oh, que horror, tenho leucemia' ele escreve As Intermitências da Morte. Isso está contado no livro."
Há ainda lembranças dos inúmeros amigos que visitaram o escritor na ilha, o cotidiano, a incumbência dele de comprar pão, o dia do Nobel e muitas outras histórias que aproximam leitor e escritor em seu centenário de nascimento - e nos 12 anos de sua morte (lembrados no dia 18 - e tema também de um dos textos).
Legado
Tem sido um ano de boas notícias acerca de seu legado, incluindo eventos e até livros infantis. Aos lançamentos recentes, soma-se agora As Artemages de Saramago, com ensaios escritos ao longo do tempo, e reescritos agora, por Leyla Perrone-Moisés. "Uma coletânea de admiração e afeto. Admiração pelo escritor, afeto pela pessoa", como ela diz na apresentação. E também uma edição especial, em capa dura e com nova apresentação de Andréa Del Fuego, de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que chega às livrarias em dezembro - todos pela Companhia das Letras.
Já a Rua do Sabão lança, nos próximos dias, De Memórias Nos Fazemos, escrito pela única filha de José Saramago, Violante, com suas histórias e reproduções de correspondências.
Texto publicado originalmente no portal r7 Entretenimento.
Revista online | Bardo: A viagem de Iñárritu
Lilia Lustosa*, especial para a revista Política Democrática online (49ª edição: novembro/2022)
Um filme que tem como subtítulo “falsa crônica de algumas verdades” já nos deixa intrigados e de sobreaviso para o que vamos ver desfilar na tela. Realidade? Ficção? Surrealismo? Realismo mágico? Bardo tem um pouco de cada, já que o mexicano Alejandro González Iñárritu misturou tudo e nos presenteou com essa maravilha de filme.
Uma história nada convencional, que nos leva diretamente ao âmago do diretor, ao esconderijo de seus traumas e de suas angústias, representado aqui pelo personagem Silverio Gacho (Daniel Giménez Cacho), um documentarista mexicano que volta à sua terra natal depois de quase 20 anos morando nos Estados Unidos. Um cidadão ilustre de seu país, mesmo que tenha decidido abandoná-lo. Ou, quem sabe, justamente por isso…
A história se passa em um limbo que permite a Silverio ver de longe sua própria vida, fazendo um mea culpa e, ao mesmo tempo, tentando identificar acertos. Um estado mental que faz refletir sobre decisões tomadas, lutos vividos, cicatrizes deixadas e feridas não curadas dessa caminhada sem guia que é a vida. Aliás, esse limbo explica o título do filme, já que “bardo”, no budismo, significa um estado intermediário entre a morte e o renascimento.
Veja todos os artigos da edição 48 da revista Política Democrática online
Bardo é um filme nostálgico, melancólico, além de ser uma bela reflexão sobre imigração, deslocamento, pertencimento, sobre sentir-se deslocado, às vezes, tresloucado, fora de lugar. Sobre estar nesse não-lugar de ser estrangeiro, de ser muito mexicano para ser americano e muito americano para ser mexicano.
Para colocar tudo isso na tela, Iñarritú recorre ao onírico, aos símbolos, às metáforas, percorrendo elementos de sua própria filmografia, o que, para olhos atentos, não será difícil de identificar. Há pistas bem claras, como os planos aéreos do deserto que separa México dos EUA e que é palco para uma das cenas mais fortes de Babel (2006). Ou os estupendos planos gerais rodados em 65mm como os vistos em O Regresso (2015). Ou, ainda, os fantásticos planos-sequências que perseguem o protagonista em um caminho quase labiríntico, claustrofóbico, assim como acontece em Birdman (2014).
No entanto, apesar da maestria com que conduz essa obra grandiosa (e cara) que é Bardo, o diretor mexicano tem sido alvo de muitas críticas por parte de especialistas, que o acusam de arrogante, narcisista e de haver realizado ali uma pseudo autocrítica. Isso porque o que está em questão em seu longa é uma imigração privilegiada, que não teve que atravessar nenhum deserto, nem quaisquer águas bravias. Ou seja, uma expatriação voluntária que lhe permitiu ver o país de cima, da classe executiva, e que o fez aterrissar em solo seguro, protegido por um visto migratório, com a sempre liberdade de poder voltar.
Certamente, sua mudança para a terra de Tio Sam não tem nada a ver com a de seus tantos compatriotas que arriscam o que têm e que não têm para realizar o american dream. Nem por isso os questionamentos de Bardo são menos valiosos. O que Iñarritu coloca sobre a mesa em sua autoficção, como ele mesmo descreve o filme, é algo interessante de ser pensado e discutido. Uma história fantástica, que se distancia dos classicismos cinematográficos e que se dispõe a mostrar as contradições e idiossincrasias da elite mexicana – também chamada de Whitexicans –, da qual ele faz parte. Classe que sofre uma crise existencial constante por estar tão perto dos EUA, mas, ao mesmo tempo, tão distante de seus costumes e mentalidade. Crise também por se saberem roubados pelos gringos no passado, mas cientes de que, hoje, muito de sua economia funciona com base nos investimentos (ou exploração) das tantas indústrias americanas ali instaladas. Ou, ainda, nas tantas remessas de dinheiro feitas por aqueles que conseguiram atravessar a fronteira e “vencer na vida”.
Confira, a seguir, galeria:
Bardo, com seu humor ácido e sua direção de arte excepcional, é finalmente uma grande crítica à alta sociedade mexicana, conseguindo, ao mesmo tempo, atingir em cheio imigrantes ou expatriados de outras nacionalidades, que terminam por identificar-se com aquelas angústias e sentimentos de não-pertencimento, de traição à pátria, de abandono e, ainda, de uma colonização não cicatrizada.
Apesar de suas quase 3 horas de duração, Bardo flui bem, conduzindo o espectador de maneira quase hipnótica pelos labirintos da cabeça (e do país) desse grande diretor que já nos presenteou com obras extraordinárias como Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003) e que agora nos mostra que a memória não é feita apenas de verdades.
Sobre a autora
*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidade de Lausanne (UNIL), Suíca.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de novembro/2022 (49ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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O QG lulista contra as fake news
Folha UOL*
Ao assumir a assessoria jurídica da campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, este ano, o advogado Cristiano Zanin, que também defendeu Lula nos processos da Lava Jato, tinha uma preocupação: como enfrentar e brecar os ataques das redes digitais do presidente Jair Bolsonaro contra o candidato petista. A experiência de 2018 deixara clara a eficiência das redes bolsonaristas. Zanin, portanto, não tinha dúvida de que as redes seriam uma grande ameaça a Lula, pois era claro que os adversários usariam perfis espalhados por várias plataformas para propagar notícias falsas, criar terror entre os eleitores e, principalmente, reforçar o fato de o ex-presidente ter sido condenado e preso, embora o advogado tivesse conseguido reverter todas as 26 condenações.
Zanin estava convicto de que somente o trabalho jurídico não daria conta de vencer o ataque digital. Para enfrentar a guerra em condições de igualdade era preciso mais: montar um contra-ataque mais eficiente do que a ação do adversário.
Discretamente, como é do seu feitio, o advogado foi buscar para essa tarefa aquele que não apenas tinha um grande conhecimento em estratégia de redes sociais mas, ainda por cima, conhecia o modus operandi do adversário, por ter trabalhado com ele na eleição anterior. Tratava-se de Marcos Carvalho, estrategista em marketing digital e presidente da agência AM4, responsável pela bem-sucedida campanha digital de Bolsonaro em 2018. Logo após a eleição, contudo, Carvalho foi defenestrado pelo então presidente que ajudara a eleger em razão do ciúme que Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, tinha do profissional.
Carvalho entrou para a campanha de Lula logo no começo de agosto. Após conversas com Zanin, os dois decidiram montar uma sala de monitoramento de redes sociais. Zanin e Carvalho passaram a trabalhar em permanente parceria. O advogado sabia que, para poder agir, entrando com ações rápidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra os ataques digitais das redes bolsonaristas, teria que estar muito bem amparado por informações que comprovassem a disseminação de conteúdos falsos – algo que já vinha ocorrendo antes mesmo do início da campanha.
O quartel-general petista contra fake news foi instalado numa sala no terceiro andar de um prédio na Rua Padre João Manuel, nos Jardins, em São Paulo, onde, coincidentemente, funcionam tanto o escritório do advogado quanto o do marqueteiro. Na sala havia apenas uma grande mesa retangular ao centro e cinquenta monitores cobrindo uma parede inteira. Por meio deles, dez analistas da empresa de Carvalho acompanhavam, minuto a minuto, o que era disseminado em páginas e perfis de seguidores do presidente na internet. “Essa tela fazia o raio X das redes para entender o que estava acontecendo”, contou Zanin, por telefone, no dia 28 de outubro, enquanto seguia de carro para o estúdio da Globo, no Rio de Janeiro, onde se daria o último debate entre Bolsonaro e Lula.
Zanin acabara de chegar de Brasília para acompanhar o debate, após passar a madrugada e a manhã daquele dia entrando com os últimos recursos no TSE para barrar nova leva de postagens de notícias falsas contra Lula. E contou, entusiasmado, como se deu o trabalho para enfrentar o exército digital do adversário.
“Montamos uma sala de altíssima tecnologia com expertise de quem tinha passado pela eleição de 2018”, disse. “Toda essa experiência se somou a outros profissionais que também nos deram suporte relevante.” E detalhou: “Foi um conjunto de advogados e experts na área de estratégia digital que nos permitiu ter a compreensão de como funcionava esse sistema e contra-atacá-lo na sua essência, notadamente na produção de material falso.”
Monitorando o que estava bombando nas redes adversárias, os advogados entravam com pedido de liminar junto ao TSE e com ações junto às plataformas denunciando a disseminação de fake news. Com base nas liminares concedidas pelo TSE, a equipe jurídica conseguia a desmonetização nas plataformas, como Twitter, YouTube, TikTok e Instagram – ou seja, cortavam os recursos financeiros –, das páginas que distribuíam conteúdo falso. “Ao se desmonetizar esses canais, cortou-se na raiz boa parte da produção de fake news”, disse Zanin. “Elas não deixaram de existir, mas foi uma providência muito importante que teve um impacto significativo nesse ecossistema de desinformação.”
Proibidos de receber remuneração pela reprodução de material falso, para serem difundidos por vários perfis, os produtores desse tipo de conteúdo viram seu financiamento secar, principalmente no YouTube. Financeiramente, já não compensava seguir adiante com as fake news.
Os escritórios de Cristiano Zanin e de Eugênio Aragão entraram com uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral contra propagadores de informações falsas. A decisão do TSE puniu perfis como os de Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos do presidente; Kim Paim, youtuber bolsonarista; Nikolas Ferreira, vereador por Belo Horizonte e deputado federal eleito; Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e candidato a deputado federal; o influenciador Leandro Ruschel; o youtuber Bernardo Küster; o jornal Gazeta do Povo; Filipe Martins, assessor internacional do presidente; Terra Brasil Notícias; o perfil @Patriotas; as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis. De acordo com a ação, esses perfis acumulavam milhões de seguidores apenas no Twitter, sem considerar as demais plataformas. O monitoramento mostrou que só em julho esses perfis publicaram 434 tuítes associando o PT ao PCC e à morte de Celso Daniel. Em agosto foram 103; em setembro 101, caindo para 34 em outubro graças às ações dos analistas e advogados da campanha de Lula.
De acordo com Zanin, a narrativa de associar Lula ao crime não nasceu organicamente, mas fez parte da estratégia final da campanha de Bolsonaro. Entre o dia do debate e a véspera do primeiro turno, segundo apurou o site de checagem Aos Fatos, Bolsonaro atribuiu a Lula a pecha de criminoso em ao menos 34 ocasiões. Antes dos conteúdos serem retirados, a desinformação já havia chegado a 1,7 milhão de pessoas apenas no YouTube da Jovem Pan e alcançado 38 grupos de WhatsApp e Telegram monitorados.
Zanin explicou que o trabalho conjunto do seu escritório – que trabalhou na defesa de Lula desde o início da Lava Jato – e o de Aragão, que já tinha tido experiência com o enfrentamento de fake news nas eleições de 2018, ajudou muito no contra-ataque deste ano. “Essa visão multidisciplinar que usamos na defesa de Lula na Lava Jato foi levada para essa equipe conjunta”, disse. “Um dos aspectos que sempre nos intrigou foi como fazer um combate às fake news, que foi um problema em 2018 e que seria também nestas eleições.” O TSE, disse ele, já tinha sinalizado que essa era uma grande preocupação para a campanha de 2022.
O que mudou em relação a 2018 foi que os advogados perceberam que, além da parte jurídica, precisariam de suporte da parte digital, o que não ocorreu na eleição passada. Era necessário que tivessem com eles uma expertise em redes sociais. “Conversando com o Marcos Carvalho, surgiu esse trabalho comum”, disse Zanin. “Ele nos subsidiou com muitos dados das redes que foram importantes para ganharmos essa guerra.” A equipe de Carvalho, segundo Zanin, acompanhava com precisão não só o que circulava de notícias falsas e desinformação. Mas permitiu traçar um caminho de como essas fake news estavam se reproduzindo e quais os perfis que estavam sendo relevantes na produção e disseminação da desinformação. “A gente tinha ali movimento permanente, desde o início da campanha. Era um trabalho multidisciplinar para se acompanhar o caminho de circulação das fake news e, dessa forma, nortear uma atuação estratégica para combatê-las.”
Explicou que esse norteamento era importante porque não adiantava levar ao tribunal qualquer assunto e qualquer perfil. Precisava estar tudo muito comprovado. “Na reta final, o resultado desse trabalho com o Marcos e outros profissionais nos permitiu mapear a cadeia organizada de perfis que produzem e disseminam fake news montando, assim, o ecossistema de desinformação que serviu para a ação de investigação eleitoral.” Com esse mapa da desinformação, o TSE mandou desmonetizar vários sites que atuavam na produção de conteúdo falso.
O dia a dia da caça às fake news era tenso. Os escritórios recebiam as informações dos analistas e entravam imediatamente com representação no tribunal para derrubar o material falso. Descobriram que vários perfis tinham os mesmos atores envolvidos, e isso chamava a atenção. Perceberam, assim, que não era algo casual e circunstancial. Era, na verdade, um modelo de operação, produção e divulgação de notícias falsas, que resultou na Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movida pelos escritórios de advocacia contra a campanha de Bolsonaro. De acordo com Zanin, a campanha de Lula ganhou dezenas de ações que derrubaram um número infindável de links e perfis do presidente, de seus filhos e apoiadores. Levantou-se um conjunto de teses bolsonaristas que foram declaradas falsas pelo TSE, tais como ligações com o crime organizado, aborto, banheiro unissex. Todas elas eram replicadas da mesma forma por uma rede de apoio a Bolsonaro.
Essa estratégia por parte da campanha petista falhou em 2018 porque havia dificuldade de se fazer uma cadeia probatória. Havia uma certa limitação tecnológica para se compreender o modelo e atacá-lo com uma ação mais potente, que é essa AIJE. “A somatória de análises jurídicas junto com análise de estratégia digital ajudou na compreensão plena e na elaboração dessa ação que culminou na desmonetização dos perfis e das páginas.”
Zanin diz que é fundamental a modernização da advocacia. “Para ter ações na justiça com resultados é preciso uma cadeia probatória robusta. Se na parte digital não houver experts que deem um suporte para advocacia é muito difícil fazer frente e descobrir os ilícitos no mundo digital.” Para ele, cada vez mais a advocacia precisará ter uma visão multidisciplinar, contemplando vários ramos de direito, além de buscar suporte tecnológico.
O advogado está seguro de que o trabalho de rastrear o ecossistema das fake news, que teve a colaboração da pesquisadora Fernanda Sarkis, foi fundamental para desarmar Bolsonaro. Disse que houve uma reação grande da campanha adversária em razão da vitória que a campanha de Lula obteve nesse universo digital e que serviu para derrubar muito material espalhado pela rede que sustentava essas teses bolsonaristas baseadas na desinformação. “Eu não tenho dúvida de que as ações abalaram bastante a estrutura dessa rede de notícias falsas que sustentaram a campanha bolsonarista em 2018.”
O marqueteiro e estrategista digital Marcos Carvalho não esconde seu entusiasmo com o resultado da campanha. Não apenas por ter desmontado, em parte, a estrutura bolsonarista nas redes. Mas também por entender que, com isso, fez justiça de alguma forma ao amigo Gustavo Bebianno – personagem chave da campanha de Bolsonaro em 2018 que, após “ter dado o sangue” para eleger o capitão, foi escorraçado pelo presidente menos de dois meses após a eleição. Carvalho não esconde sua decepção: “Bolsonaro não é líder de nada. Para mim, ele é um mistério. Eu até entendo que uma pessoa com pouca instrução e baixa escolaridade virasse massa de manobra dele nas redes. Mas ver médicos, advogados, liderados por esse sujeito, isso é incompreensível para mim.”
Carvalho estava exultante também com o fato de ter trabalhado em duas campanhas vitoriosas seguidas: a de Bolsonaro em 2018, e a de Lula agora. Diz que a eleição de 2022 foi ganha no detalhe e cita alguns exemplos. “Os adversários não conseguiram emplacar nada muito forte nas redes porque nós conseguimos desarmar antes. A história da perseguição às igrejas foi forte. Mas não se sabe se em função das redes ou das igrejas evangélicas, que trabalharam dentro dos templos”, disse. “Eles não tiveram grande êxito porque desarmamos muitas bombas.”
Outro exemplo citado por ele foi a prisão de Roberto Jefferson, ponto de desgaste para Bolsonaro. Para tirar a notícia do foco, a campanha bolsonarista tentou criar um fato novo, o das rádios que não veiculam a propaganda eleitoral gratuita bolsonarista, mas cuja tese não se sustentou.
Outra iniciativa das redes bolsonaristas – que foi percebida e imediatamente comunicada a Zanin – foi a visita de Lula ao Complexo do Alemão, conjunto de favelas na Zona Norte carioca. Logo as telas da sala de “situação”, como ele se refere à sala de monitoramento de rede, captaram a mentira que vinha sendo espalhada nas redes: a de que Lula tinha tido apoio de traficantes para organizar o evento. Os advogados imediatamente entraram com ação no TSE. “Nós monitorávamos todo o tempo o que estava sendo mais difundido. Identificávamos a falsidade do material e avisávamos o Cristiano, que logo tomava uma medida judicial. Era assim que funcionávamos. Operamos de forma conjunta e muito ágil”, conta.
Outro caso captado pelo sistema de monitoramento foi o dos padres expulsos da Nicarágua – notícia utilizada pelas redes bolsonaristas para dizer que Lula faria o mesmo no Brasil. “Eles queriam induzir o eleitor ao erro. Percebemos o impulsionamento nas redes e nos perfis bolsonaristas, e os advogados trataram de desmontar judicialmente.” Junto a isso, as plataformas eram notificadas pela Justiça e orientadas a desmonetizar essas redes. Assim, elas perdiam a força na produção de conteúdo falso. Um momento tenso na sala de monitoramento foi a entrevista de Lula no Jornal Nacional chamando parte do agronegócio de fascista. “Os bolsonaristas se aproveitaram demais dessa fala. Foi muito ruim para a campanha petista”.
As cinquenta telas da sala de situação, de acordo com Carvalho, monitoravam várias personalidades políticas por estado e por região – tanto aliados e eleitores de Lula como os do campo adversário. Os influenciadores de direita, políticos e youtubers bolsonaristas eram permanentemente analisados. Na sala havia cinco sistemas diferentes combinados e, com essas plataformas, os analistas catalogavam os influenciadores e verificavam o peso e a influência social de cada um para saber quais precisavam ser mais acompanhados. Também monitoravam os vários influenciadores que estavam abaixo desses, mas que ajudavam a difundir a informação mais rapidamente.
Através dos monitores, eles também classificavam os assuntos mais difundidos nas redes bolsonaristas dentro de alguns campos temáticos e regionais, como os influenciadores de educação, economia, meio ambiente, religião. A internet não tem fronteiras, mas tem um tipo de impacto diferente se o influenciador está no Centro-Oeste, no Sul, no Nordeste. “A direita faz isso muito bem. Ela sabe como utilizar o assunto que interessa mais a cada região”, explicou. Além disso, asseverou, toda vez que havia alguém da família Bolsonaro republicando algo que o influenciador falava, a proporção da mensagem e seu alcance cresciam exponencialmente, além de ratificar a informação. Assim, era fundamental agir imediatamente para bloquear a disseminação do conteúdo.
Carvalho contou que a campanha deste ano foi muito mais desafiadora que a de 2018, quando ele atuou ao lado de Bolsonaro. “Diferente de 2018, não havia TikTok nem Kwai. O Kwai, inclusive, tem um perfil de consumo curioso: 70% do público dessas plataformas está no Nordeste.” Com isso, a campanha bolsonarista tentou, através delas, furar a bolha petista na região. “Talvez o trabalho mais importante foi criar um muro de contenção para evitar que furassem nossa bolha.” Mas o trabalho foi árduo. De acordo com Carvalho, o Auxílio Brasil ajudou muito a furar bolha petista no Nordeste porque havia muito conteúdo circulando por essas duas plataformas. O Kwai, explicou o marqueteiro, é semelhante ao TikTok, só que com um público mais popular. Por isso, o poder de penetração dessa plataforma na bolha petista era muito forte.
Através do Kwai, os bolsonaristas traziam para a realidade dessa população, basicamente preocupada com economia popular, temas como a ameaça de o Brasil virar uma Venezuela, comunismo, fechamento de igrejas e o clássico tema ideologia de gênero de Bolsonaro. “Eles passaram a circular essas informações falsas numa rede popular com penetração enorme nas classes menos favorecidas”, informou.
De acordo com Carvalho, a ação do Judiciário em conjunto com o trabalho dos especialistas em rede e mais a desmonetização dos sites que produzem conteúdo falso foram um importante antídoto contra a difusão das fake news. “A internet não é um mundo sem lei, um mundo do anonimato, embora as pessoas acreditem nisso”, afirmou. “O erro das campanhas em 2018 foi achar que só poderiam combater a desinformação na própria rede. Mas não é assim. Somos regidos pela Constituição do mesmo jeito que todos os outros serviços.” O pulo do gato do Cristiano Zanin, afirma Carvalho, foi juntar inteligência, monitoramento de rede e ação jurídica veloz. “Foi com esse tripé que ele derrotou o exército digital de Bolsonaro.”
Texto publicado originalmente na Folha UOL.
Alckmin anuncia nomes da transição para Comunicações, Direitos Humanos, Igualdade, Mulheres, Planejamento e Indústria
Geledés*
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), anunciou nesta quinta-feira (10) novos nomes da equipe de transição de governo.
Entre eles estão os ex-ministros Paulo Bernardo e Guido Mantega, além da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
O ex-governador paulista, que é o coordenador da transição, fez o anúncio no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), complexo que recebe o gabinete de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A equipe de transição de Lula foi dividida em 31 áreas temáticas. O presidente eleito tem o direito de nomear 50 cargos remunerados para a transição e de contar com trabalho de voluntários.
Veja a lista dos novos nomes da equipe de transição anunciados nesta quinta:
Comunicações
- Paulo Bernardo, ex-ministro das Comunicações;
- Jorge Bittar, ex-deputado federal;
- Cezar Alvarez, ex-secretário do Ministério de Comunicações;
- Alessandra Orofino, especialista em economia e direitos humanos formada na Universidade de Columbia.
Direitos Humanos
- Maria do Rosário, deputada federal e ex-ministra de Direitos Humanos;
- Silvio Almeida, advogado;
- Luiz Alberto Melchert, doutor em economia;
- Janaína Barbosa de Oliveira, representante do movimento LGBTQIA+;
- Rubens Linhares Mendonça Lopes, do setorial do PT para pessoas com deficiência;
- Emídio de Souza, deputado estadual (SP);
- Maria Victoria Benevides, socióloga, professora doutora.
Igualdade Racial
- Nilma Lino Gomes, ex-ministra de Igualdade Racial;
- Givânia Maria Silva, quilombola e doutora em sociologia;
- Douglas Belchior;
- Thiago Tobias, do Coalizão Negra;
- Ieda Leal;
- Martvs das Chagas, secretário do Planejamento de Juiz de Fora;
- Preta Ferreira, movimento negro e movimento de moradia.
Planejamento, Orçamento e Gestão
- Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda;
- Enio Verri, deputado federal (PT-PR);
- Esther Dweck, economista e professora da UFRJ;
- Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia.
Indústria, Comércio, Serviços e Pequenas Empresas
- Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul;
- Jackson Schneider, executivo da Embraer e ex-presidente da Anfavea;
- Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai Nacional;
- Marcelo Ramos, deputado federal (AM);
- Tatiana Conceição Valente, especialista em economia solidária;
- Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae e do Instituto Lula;
- Paulo Feldmann, professor da USP;
- André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Mulheres
- Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco;
- Roseli Faria, economista;
- Roberta Eugênio, mestre em direito, pesquisadora do Instituto Alziras e ex-assessora de Marielle Franco;
- Maria Helena Guarezi, ex-diretora de Itaipu;
- Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Política para Mulheres;
- Aparecida Gonçalves, ex-secretária Nacional da Violência contra a Mulher.
Gabinete de transição
O gabinete de transição faz um diagnóstico da situação da administração federal e prepara os primeiros atos a serem tomados por Lula após a posse.
O presidente eleito fez nesta quinta a primeira visita ao local neste processo de transição.
Outros nomes
Alckmin anunciou na terça-feira (8) os primeiros nomes da equipe de transição. Ele oficializou o ex-ministro Aloizio Mercadante como coordenador do grupo técnico do gabinete; o ex-deputado Floriano Pesaro como coordenador-executivo do gabinete; e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como coordenadora da articulação política do gabinete de transição.
O vice-presidente também anunciou os coordenadores de dois grupos temáticos, o de economia e do de assistência social. Veja a seguir:
- Economia: André Lara Resende, Persio Arida, Guilherme Mello e Nelson Barbosa.
- Assistência social: Simone Tebet (MDB-MS), Márcia Lopes, Tereza Campello e André Quintão.
Texto publicado originalmente no portal Geledés.
Nova alta de casos de covid-19 exige atenção para cuidados e proteção
Mariana Lemos*, Brasil de Fato
Mesmo que o Brasil esteja vivenciando os menores números de contaminações e mortes por coronavírus desde o início da pandemia, cientistas apontam que uma nova onda, causada sobretudo por nova subvariante do vírus, pode estar chegando ao Brasil. Com isso é importante estar atento à saúde e ao calendário vacinal, assim como retomar os cuidados de proteção contra a Covid-19.
Em diversos estados brasileiros já se está percebendo o aumento do número de casos registrados. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), no mês passado os testes com resultado positivo saltaram de 3% para 17%.
Segundo os dados divulgados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de casos registrados por dia nos últimos sete dias está em 6.181. Entretanto, somente nas últimas 24 horas foram registrados 12.017 casos confirmados. Fora isso, 40 mortes por covid foram registradas nesta última quinta (10) .
Prevenção
Por isso, é muito importante que a população retome os cuidados e evite a transmissão do vírus, precauções que nos últimos anos viraram rotina e que todo mundo já sabe.
Além do uso de máscaras de proteção, sobretudo em lugares fechados como no transporte público e em salas de aula, é importante realizar a higiene das mãos com água e sabão ou álcool 70%. Vale também, se possível, evitar aglomerações e, no caso de apresentar sintomas, realizar o isolamento social. A etiqueta respiratória também é válida, ou seja, ao tossir ou espirrar, utilize um lenço de papel para que as gotículas não sejam espalhadas pelo ar.
E mesmo com todos estes cuidados é importante estar com a vacinação em dia, evitando assim, o contágio pelo vírus. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), "a vacinação contra a Covid-19 provou ser altamente efetiva na proteção contra casos graves e morte. No entanto, a efetividade da vacinação com as duas doses iniciais diminuiu com a chegada de novas variantes, justificando a aplicação das doses de reforço".
Portanto procure o posto de saúde mais próximo de você e atualize o seu esquema vacinal, conforme o calendário de vacinação previsto para a sua faixa etária no seu município. Vale lembrar que, salvo raras exceções, toda a população desde os seis meses de idade, pode ser vacinada.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.
PL de Eliziane Gama torna o assédio sexual ato de improbidade administrativa no serviço público
Cidadania23*
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) apresentou projeto de lei (PL 2763/2022), nesta quarta-feira (09), para enquadrar o assédio sexual no serviço público como ato de improbidade administrativa. A proposição altera a Lei 8.429/1992, que prevê as condutas que constitui ato de improbidade administrativa.
De acordo com a parlamentar, a mudança se faz necessária porque na última alteração da legislação, em seu artigo 11, que descreve as condutas que constitui ato de improbidade administrativa, antes exemplificativo, se tornou taxativo e não contemplou tal conduta por parte de agentes públicos.
“Por esse motivo, se faz imprescindível a alteração da redação atual da lei para contemplar a inclusão do assédio sexual como ato de improbidade administrativa”, afirma a senadora na justificação do projeto.
Para Eliziane Gama, o assédio é um atentado contra a dignidade da pessoa humana, atingindo a liberdade sexual da vítima, gerando consequências danosas, muitas vezes irreversíveis, e que por isso deve ‘ser socialmente combatido’.
“E a resposta do Estado deve ser ainda mais contundente quando a violência ocorre em um ambiente público”, defendeu.
A parlamentar ressalta ainda que as regras de ética e conduta que regem os atos dos agentes públicos determinam uma ‘conduta social e moral ilibada e irretocável’, não sendo admissível desvios com essa gravidade.
“A responsabilidade é proporcional ao poder conferido para exercício das atribuições, ampliando de forma equivalente o grau de reprovabilidade da conduta”, argumenta a senadora sobre a importância da alteração da lei.
Texto publicado originalmente no portal Cidadania23.