Pedro Doria: É preocupante a esquerda no Brasil adotar a desinformação russa

Pedro Doria / O Globo

Fossem apenas os militantes de redes sociais, seria menos grave. Mas o fato de, nas últimas semanas, a imprensa de esquerda na internet brasileira ter incorporado a sua pauta a desinformação russa deveria preocupar a todos. Pode não ser óbvio, mas é a democracia brasileira que fica em risco.

A desinformação cumpre um ciclo para que ponha em xeque democracias. Atinge primeiro os com maior tendência a adotar teorias conspiratórias, que se agrupam como seita nas redes. No segundo momento, porque estão em busca de audiência, veículos noticiosos percebem ali um público fiel potencial e começam a reverberar as informações falsas.

Quando fez explodir o número de fontes de notícias, a internet criou variedade, mas também desorientação. Sem entender bem em quem confiar, muitos passaram a usar como bússola a busca por veículos que confirmam suas visões. E muitos veículos escolheram alimentar esse processo. Em vez de desafiar seus leitores a pensar, contentam-se em confirmar seus preconceitos.

A ameaça à democracia se concretiza quando os políticos entram no jogo. Com os veículos preferidos de seus eleitores repetindo em uníssono uma mesma versão dos fatos, parlamentares e candidatos se sentem obrigados a adotar as teses sob o risco de, em caso contrário, perder votos.

Foi o que aconteceu na direita de inúmeros países, incluindo o Brasil. Foi o que criou um universo paralelo descolado da realidade, que levou ao QAnon americano e pôs no Planalto Jair Bolsonaro. É inacreditável que, hoje, quem lê os principais sites da esquerda brasileira encontrará a mesmas teses sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia que estão nos sites da extrema direita americana ou mesmo nos programas mais radicais da Fox News.

Para repetir o discurso pró-Putin, a dissonância cognitiva necessária é imensa. É preciso deixar de lado tudo o que a esquerda latino-americana defendeu nos últimos 50 anos.

O presidente russo argumenta que o povo ucraniano, na verdade, não existe, é uma invenção recente. O fato de que Kiev tem 600 anos mais que Moscou, claro, é detalhe. É o mesmo argumento que a extrema direita israelense usa a respeito dos palestinos — são um povo que “não existe”.

O argumento realista de política externa, que considera inevitável que potências militares ignorem a soberania dos vizinhos em nome de sua defesa, é outro problema. É o argumento de Henry Kissinger para defender a política de intervenção na América Latina, ajudando na formação de inúmeras ditaduras militares nos anos 1960 e 1970.

A Rússia tem uma longa tradição em técnicas de manipulação da realidade. Quem conhece os Protocolos dos Sábios de Sião sabe que, mais de um século depois, eles não morrem. Ainda encontraremos alguém, em alguma esquina perdida, dizendo que judeus manipulam as finanças mundiais. É uma peça de desinformação criada pelo serviço secreto czarista bem antes da Revolução de 1917. As fotografias manipuladas de Josef Stálin são outro exemplo. Vladimir Putin, em Dresden, na Alemanha dos anos 1980, era operador de contrainformação da KGB.

Na realidade paralela, há um genocídio ocorrendo no leste da Ucrânia. Quem diz não é a ONU, é o Kremlin. Fonte única. A Ucrânia é nazista. Seu presidente é judeu, e a extrema direita não elegeu parlamentares no último pleito — mas não são fatos que negarão a versão. Um laboratório biológico conhecido, documentado, público, vira fonte secreta de bioarmas da CIA...

No Brasil, já perdemos para a realidade paralela um bom pedaço da direita. Se os políticos de esquerda embarcarem na onda de seus militantes e jornalistas, perderemos um naco da esquerda. Quando a percepção da realidade é manipulável, democracias se dissolvem.

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/e-preocupante-esquerda-no-brasil-adotar-desinformacao-russa.html


A invasão da Ucrânia e o temor de uma Terceira Guerra Mundial

Rosalia Romaniec / DW Brasil

Guerra de agressão da Rússia desperta medo generalizado de um conflito global, talvez nuclear. Não faltam os paralelos com Hitler. Quão concreto é o perigo? Deve-se combater Putin de frente ou ceder a suas ameaças?

Quando, em 13 de março, mísseis russos atingiram um centro de treinamento militar próximo à cidade ucraniana de Lviv, deixando 35 mortos, o abalo se fez sentir até na Polônia. Mais 20 quilômetros para o oeste, e a carga teria atingido território polonês e, portanto, um Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Um ataque a um país da aliança é um ataque contra todos – esse é o consenso entre os parceiros. Jake Sullivan, assessor nacional de segurança do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, advertiu que o país "defenderá cada centímetro do território da Otan".

Grande parte dos especialistas se recusa no momento a considerar uma Terceira Guerra Mundial, mas há muito está presente o temor de uma escalada nesse sentido.

"A ideia de que vamos enviar equipamento ofensivo e ter aviões e tanques e trens entrando com pilotos e tripulações americanos... isso é o que se chama Terceira Guerra Mundial, OK? Vamos deixar bem claro", declarou Biden recentemente.

Proporcionalmente pequena é a disposição da Otan de intervir diretamente na guerra na Ucrânia, por exemplo declarando uma zona de exclusão aérea: o risco de uma confrontação com a Rússia seria grande demais, alega.

Nuclear ou não, eis a questão

Mas e se de fato se chegar a esse ponto? Uma consequente guerra mundial poderia ser travada de modo "convencional", ou seja, sem armas atômicas, porém seria grande o perigo de ogivas nucleares também serem empregadas.

A aliança ocidental reagiria a armas atômicas táticas – lançadas em palcos de guerra delimitados, com baixo ou médio poder explosivo, fora do território da Otan – de modo diferente que a mísseis nucleares estratégicos, que têm o potencial de reduzir o mundo a cinzas, de um dia para o outro.

Enquanto para alguns analistas as ameaças nucleares do presidente russo não passam de um blefe, outros consideram o ex-agente da KGB capaz de precipitar um apocalipse nuclear.

"Putin não deve esquecer que a Otan também é uma aliança nuclear", argumenta à DW o ex-ministro polonês do Exterior e da Defesa Radek Sikorski. "Ele sabe que não se sobrevive a uma guerra nuclear. O dia em que Putin lançar mão de uma arma atômica será o último da sua vida."

Imagens de destruição em Hiroshima por bomba atômica dos EUA, em 1945, permanecem uma advertência à humanidade. Foto: Reinhard Schultz/imago images

O historiador teuto-americano Conrad Jarausch compara a estratégia do chefe do Kremlin à de Adolf Hitler em 1939: Putin desencadeou um conflito regional e adverte o Ocidente de que "se ele reagir de modo proporcionalmente pesado, vai eclodir a Terceira Guerra Mundial".

No entanto esse automatismo não existe, rebate Stefan Garsztecki, da Universidade Técnica de Chemnitz: "Não é preciso ocorrerem outros estágios de escalada, como em 1939 – contanto que haja oposição maciça." Os conflitos "congelados" na Geórgia e na Moldávia provariam isso.

O cientista político e historiador acredita que a Otan deveria definir "linhas vermelhas" mais claras: "Se houver o perigo de Kiev e Odessa se transformarem num Aleppo [um dos palcos sangrentos da guerra na Síria] europeu, então será preciso considerar mais seriamente uma zona de exclusão aérea."

"É preciso deter essa guerra de modo radical"

Um confronto originalmente regional que desencadeia um conflito global é algo que já ocorreu por diversas vezes na história mundial, lembra Sven Lange, comandante do Centro de História Militar das Forças Armadas Alemãs, em Potsdam. O melhor exemplo foi a Primeira Guerra Mundial.

Para uma guerra mundial, contudo, "a contribuição da Rússia não é decisiva", mas sim como "as duas potências globais, isto é, os EUA e a China", se posicionarão. Lange avalia que no momento Pequim não pode ter qualquer interesse nisso: "Creio que haverá um apoio da China à Rússia, mas não tão maciço que vá redundar num conflito imediato com os EUA."

No Leste Europeu cresce o nervosismo, pois a guerra se aproxima cada vez mais, com ofensivas aéreas russas também no oeste ucraniano. Acumulam-se os apelos para que a Otan envie aviões de combate e feche o espaço aéreo da Ucrânia; assim como para que a Alemanha suspenda o fornecimento de energia pela Rússia, cortando essa fonte de financiamento da guerra de Putin.

Quanto mais ao leste, mais uma escalada parece iminente: "Já estamos todos nessa guerra", declarou recentemente a escritora ucraniana Katja Petrowskaja na TV alemã. "Quem aprendeu alguma coisa com a história sabe que não existe mais possibilidade de deter essa guerra, se não agirmos de modo radical."

"Amizade" entre Xi Jinping e Putin: prenúncio de uma nova ordem mundial? Foto: DW
Putin é o novo Hitler?

Na Alemanha, tais sugestões são recebidas antes com frieza analítica. Para o cientista político Herfried Münkler, da Universidade Humboldt, de Berlim, o mais importante é "delimitar no espaço e no tempo o conflito, para evitar que se alastre num incêndio descontrolado".

A retórica de Petrowskaja vai no sentido contrário: "Isso pode ser compreensível diante dos horrores na Ucrânia, mas acaba resultando em se invocar uma grande guerra com palavras." Münkler, no entanto, não vê no momento uma alternativa responsável para a forma como a Otan está agindo.

Embora o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, assegure que "um por todos, todos por um", os impactos de mísseis hipersônicos não muito longe das fronteiras da Otan despertam medo na região. A visita do presidente americano à Polônia, na sexta-feira (25/03), visa também acalmar o flanco ocidental da aliança transatlântica.

Alguns historiadores já traçam analogias com a Segunda Guerra Mundial, sobretudo no que tange o procedimento de Vladimir Putin: assembleias populares com o fim de legitimar uma anexação, ou a invasão da Polônia pelo Exército Vermelho, em 17 de setembro de 1939, seriam "o mesmo padrão que Putin repetiu na Crimeia e no leste da Ucrânia", segundo o cientista político Garsztecki.

"A partir de 1938, Adolf Hitler promoveu uma revisão da ordem de paz acordada na Conferência de Paris [de 1919], e Putin tenta, de modo semelhante, revisar as consequências da queda da União Soviética", reforça Herfried Münkler.

O político polonês Sikorski chega a fazer uma comparação direta entre os dois autocratas: "Putin é como Hitler antes do Holocausto, mas depois da invasão da Polônia, em 1939." Entretanto Münkler desaconselha tal comparação, "porque ela cria uma indubitabilidade onde ainda não há nenhuma". Além disso, Hitler teria sido impelido por uma ideologia racial que no momento não se percebe em Putin, frisa o historiador.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/a-invas%C3%A3o-da-ucr%C3%A2nia-e-o-temor-de-uma-3%C2%AA-guerra-mundial/a-61236298


Dez prefeitos já denunciaram esquema de pastores no MEC

Julia Affonso, André Shalders e Breno Pires / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA — Pelo menos dez prefeitos atestam que pastores atuaram na intermediação de recursos ou no acesso direto ao ministro da Educação, Milton Ribeiro. Desse grupo, três já admitiram que ouviram pedido de propina em troca da liberação de verbas federais para escolas. Eles serão intimados a prestar depoimento à Polícia Federal. O caso foi revelado pelo Estadão.

No que foi o relato mais forte até agora de como o esquema era operado no MEC para facilitar a liberação de recursos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga, contou que lhe pediram propina em ouro. Ele se referia ao pastor Arilton Moura que atuava em parceria com o também pastor Gilmar Santos. 

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“Ele (Arilton) disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar (a demanda no MEC). E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”. Na quinta-feira, 24, Braga divulgou nota pública confirmando a denúncia publicada pelo Estadão.

Já o prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton Pinheiro (Cidadania), contou que chegou a receber uma oferta de desconto no valor da propina: "(Arilton) falou: 'vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil'." O valor da contrapartida também incluía compra de bíblias patrocinadas pelo pastor.

Segundo o prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP), também disse ter sido abordado pelo pastor Arilton com proposta de propina. “Ele disse: Eu falo lá, já faz um ofício, mas você tem que fazer um depósito de R$ 40 mil para ajudar a igreja”.

Para a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmén Lúcia, os fatos são graves. Em despacho, ela atendeu pedido do Ministério Público Federal e determinou abertura de inquérito para apurar o envolvimento do ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. A investigação será conduzida pela Polícia Federal. A ministra do STF já autorizou que os prefeitos sejam ouvidos como testemunhas do caso. O ministro da Educação e os dois pastores também serão intimados.

Veja quem são os prefeitos que admitiram ter tido acesso ao ministro apenas por conta da intermediação dos pastores ou ainda relatado pedidos de propina feitos pelos religiosos.

Relataram proposta de propina:

Gilberto Braga - Luis Domingues (MA)

Kelton Pinheiro - Bonfinópolis (GO)

José Manoel de Souza - Boa Esperança do Sul (SP)

Só chegaram ao MEC por meio dos pastores:

Nilson Caffer - Guarani D'Oeste (SP)

Adelícia Moura - Israelândia (GO)

Laerte Dourado - Jaupaci (GO)

Doutor Sato - Jandira (SP)

Fabiano Moreti - Ijaci (MG)

André Kozan - Dracena (SP)

Edmario de Castro Barbosa - Ceres (GO)

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,dez-prefeitos-ja-denunciaram-esquemas-de-gabinete-paralelo-de-pastores-no-mec,70004018988


PCB, fundado há 100 anos, enfrentou perseguições, clandestinidade e rachas

Helio Cannone / Folha de S. Paulo

[resumo] PCB, primeiro partido brasileiro de aspiração nacional, teve sua trajetória marcada por uma série de percalços, períodos de ilegalidade, perseguições políticas, morte de seus membros e divergências internas, mas marcou de forma inconteste a vida política no país. Em seu centenário, seu legado é disputado por duas siglas, ao mesmo tempo que ganha novo fôlego seu oponente também longevo, o anticomunismo.

Mil novecentos e vinte e dois é um ano paradigmático na história do Brasil, pois reúne três grandes eventos centrais na construção de um país moderno: a Semana de Arte Moderna, o levante tenentista dos 18 do Forte e a fundação do PCB (Partido Comunista do Brasil).

As polêmicas em torno do modernismo já foram objeto deste jornal e dividem a opinião de especialistas. Já a Revolta dos 18 do Forte pode até servir de símbolo do que estava por vir, mas, além de derrotada rapidamente, não teve o grau de mobilização nacional de insurreições posteriores do tenentismo.

Cabe neste texto discutir a fundação, em 1922, do PCB. Independentemente de seu caráter ideológico, sua fundação já foi, por si só, uma inovação: tratava-se de um partido político nacional em um ambiente institucional de organizações estaduais.

Bandeiras do PCdoB em comício de Fernando Henrique Cardoso na praça da República, em São Paulo (SP), em 1985, quando o futuro presidente disputava a prefeitura da cidade - Fábio M. Salles/Folhapress

Ele carregava em si o símbolo de uma ideologia vitoriosa na Rússia em 1917, que julgava ser possível transportar para nossa realidade para superar as contradições brasileiras. Todavia, assim como ocorre hoje na reavaliação da Semana de 22 e dos 18 do Forte, podemos lançar novas questões a respeito da trajetória do PCB.

O primeiro questionamento é que a fundação do PCB é vista mais como ponto de saída que de chegada, ou seja, é interpretada como gênese de um tipo de partido e de cultura política. Só que isso oculta a organização da esquerda brasileira antes de 1922, sugerindo que não haveria qualquer movimento que buscasse organizar a classe trabalhadora.

A força do anarquismo na República Velha é difícil de negar. A greve geral de 1917 foi influenciada muito mais pelas ideias anarquistas que pelo marxismo de corte comunista. Contudo, mesmo que quiséssemos fazer essa concessão e conferíssemos ao PCB o mérito de ser a primeira organização comunista brasileira, também teríamos problemas. Deixaríamos de lado iniciativas empreendidas nos anos anteriores em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

Seria a fundação do PCB, então, esvaziada de sentido e puramente ocasional? Não. É inegável a importância do partidão, como ficou conhecido, para a cultura política brasileira em todo o século 20.

Fundado a partir de um congresso na cidade de Niterói, de 25 a 27 de março, o PCB reuniu atores políticos de distintas localidades do Brasil. Alguns deles eram egressos do movimento anarquista que agitou as massas nos anos anteriores. Mesmo postos na ilegalidade por Epitácio Pessoa, os pecebistas buscaram divulgar suas ideias por panfletos e jornais, além de disputar espaço em sindicatos.

O líder comunista Luís Carlos Prestes (ao centro), em 1958 - Folhapress

Em 1927, o PCB gozou de um breve período de legalidade, interrompido meses depois. O partido seguiu os próximos 18 anos atuando clandestinamente, voltando à legalidade apenas em 1945 e saindo dela dois anos depois, em 1947. Apenas em 1985 o PCB deixou de ter seu funcionamento criminalizado.

Segundo o cientista político Gildo Marçal Brandão, a ilegalidade é uma marca do PCB, fundamental para entender sua história. Por ter que operar clandestinamente, o partido não teria se acomodado às instituições, guiando sua lógica de mobilização dos trabalhadores por uma via que não poderia ser a eleitoral.

O argumento é astuto, à medida que revela que a maior culpa pela suposta radicalização do comunismo teria sido do próprio anticomunismo, fator histórico da política brasileira, frequentemente utilizado como justificativa para golpes de Estado.

Tanto o Plano Cohen, do Estado Novo getulista, quanto o golpe de 1964 reuniram atores políticos e membros da sociedade civil com a alegação de derrotar o comunismo, tido como ideologia exógena, materialista e, por isso, alheia às tradições brasileiras.

Todavia, esse argumento serve mais para entender a imaginação política brasileira e como ela entendia os conflitos da Guerra Fria que o próprio comunismo brasileiro. Por mais que a revolta comunista de 1935 ou a aliança do PCB com o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), em apoio às reformas de base de João Goulart, possam ter sido motivo de preocupação daqueles ligados aos valores da democracia liberal, certamente não foram mais danosas ao ideal democrático que os efeitos produzidos pelas tentativas de conter o comunismo.

Astrojildo Pereira escoltado por policiais em 1965 no Rio de Janeiro
Astrojildo Pereira é escoltado por policiais em 1965, no Rio de Janeiro. Foto: Acervo UH/05.jan.1965/FolhaPress

Do ponto de vista da análise das ideias, mais ressalvas precisam ser adicionadas. Afinal, foi o PCB um partido revolucionário durante toda sua trajetória? Uma resposta positiva precisaria ter tantas ponderações que é melhor responder que não.

O partido foi marcado por controvérsias e dissidências que podiam ter mais ou menos radicalidade que seu núcleo hegemônico, mas nem mesmo suas lideranças apostavam na reprodução da solução soviética de 1917 em território nacional.

Em célebre documento do partido conhecido como Carta de 1958, o PCB deixou sedimentada uma leitura do Brasil que já orientava sua prática ao menos desde o suicídio de Getúlio Vargas, quatro anos antes.

Sinteticamente, para os pecebistas, estávamos em um país de modo de produção semifeudal, cujas "condições objetivas" impediam a implementação do socialismo. O partido defendia o apoio a uma "revolução democrático-burguesa", alimentada pela luta contra o imperialismo dos EUA e pela necessidade da industrialização nacional.

Daí que a questão de fundo não era tão distinta da dos modernistas ou tenentistas: queria-se um Brasil moderno. O sentido da modernização, porém, era disputado e interpretado a partir do que inspirava cada um desses grupos.

Entre as discussões de teses antagônicas que marcaram o PCB, talvez a mais lembrada seja a que envolve a formação de uma sigla ainda existente, o PCdoB. Após as denúncias dos crimes de Stálin, o cisma sino-soviético e a vitória da Revolução Cubana, a URSS perdeu força como estrutura central do comunismo internacional.

O PCB viu nisso uma oportunidade, não realizada, de sair da clandestinidade, com a manutenção da sigla, mas a mudança de seu nome para Partido Comunista Brasileiro, o que enfatizava sua condição nacional e autônoma.

Desde seu quinto congresso, em 1960, a intenção hegemônica do partido era buscar a via eleitoral e parlamentar. Um grupo do PCB descontente com essa solução foi afastado e decidiu, então, formar em 1962 outra agremiação, mantendo dessa vez o nome do grupo original, mas não a sigla: o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Esse grupo dissidente defendia uma aproximação com a China e a luta armada como tática de tomada do poder.

Após 1964, a solução reformista do PCB foi desmanchada, o que legou uma dura crítica interna de um de seus intelectuais mais profícuos, Caio Prado Júnior. Publicado em 1966, "A Revolução Brasileira" apontava os erros de leitura da tese hegemônica do partido. Para o historiador paulista, não havia burguesia nacional que sustentasse um projeto revolucionário e o Brasil jamais teria sido feudal.

Para além de Caio Prado, outras figuras que discordavam da postura do PCB nos anos anteriores ganharam destaque durante a ditadura militar, como Carlos Marighella. Para ele, seria preciso levar a tática da guerrilha como forma de combate ao capitalismo e ao regime repressivo.

Se, no período anterior a 1964 o PCB apostava em uma "via pacífica", um efeito não intencional do golpe foi disseminar a luta armada como método de resistência. Expulso do partido em 1967, Marighella formou no ano seguinte a Ação Libertadora Nacional.

Já o PCB se mantinha contra a luta armada, o que naquele contexto pode ser lido ou como análise das condições objetivas ou como excesso de comedimento.

A história posterior do partido segue marcada por divergências, necessidade de agir na clandestinidade, perseguições e morte de seus quadros. Com a redemocratização, o PCB enfim retornou à legalidade, mas em 1985 o mundo era outro. Em 1989, veio a queda do Muro de Berlim e, em 1991, a União Soviética ruiu. Já não havia mais um modelo de sociedade comunista a servir de grande exemplo.

Para além disso, novas legendas que se identificavam com a esquerda surgiram para disputar o eleitorado. Foram os casos do PDT (herdeiro do antigo PTB) e o PT, apoiado por intelectuais paulistas e pelo chamado "novo sindicalismo" do ABC.

Também em 1992, o PPS (hoje Cidadania) surgiu como iniciativa de parte da direção do PCB. Esse grupo defendia que o partido original deveria ser extinto e renunciar aos símbolos ligados ao passado soviético, como a foice e o martelo.

Discordando dessa solução, alguns dos ex-membros do "partidão" conseguiram na Justiça a manutenção da sigla. Hoje, esse PCB reconfigurado em 1993 e o PCdoB de 1962 disputam o legado centenário do partido de 1922. Talvez seja justo dizer que ambos têm esse direito.

É curioso observar que permanece no Brasil um forte sentimento anticomunista. Do mesmo modo que no passado, o sentido da ideologia é alargado. Por vezes, até partidos não necessariamente de esquerda são "acusados" de comunistas. Daí que não só PCdoB, PSOL ou PT, mas até a Rede ou PSDB são alvos desse "xingamento".

Movimentos da extrema direita brasileira chegam a comparar o comunismo com o nazismo. Como arma ideológica, certamente a ideia é potente; como interpretação teórica, carece de conhecimento histórico. Mesmo em um entendimento liberal da democracia, o comunismo pode estar mais próximo ou não dele, tal como a história das ideias do PCB demonstra.

Se o nazismo advogava o extermínio de indivíduos por serem judeus, homossexuais, ciganos, ou comunistas, o comunismo defendeu historicamente o extermínio de uma situação, o que poderia ou não ter soluções "totalitárias".

Independente de se concordar com as ideias historicamente defendidas pelo PCB, o legado está colocado e tem seu espaço no espectro político. Qualquer visão de mundo democrática deve respeitá-lo.

*Helio Cannone é doutor em ciência política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/03/pcb-fundado-ha-100-anos-enfrentou-perseguicoes-clandestinidade-e-rachas.shtml


Conheça a trajetória do Partido Comunista do Brasil, fundado há 100 anos

1922

PCB (Partido Comunista do Brasil) é fundado em 25 de março em Niterói, durante encontro com representantes de organizações de Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Em junho, o partido é fechado pelo presidente Epitácio Pessoa e passa a atuar na ilegalidade.

1927

De janeiro a agosto, o PCB volta à legalidade e busca ampliar sua inserção no movimento operário e no meio sindical. A direção do PCB questiona "posições sectárias" do partido e advoga a ampliação de suas alianças. Astrojildo Pereira, cofundador e secretário-geral, vai à Bolívia para tentar uma aproximação com Luís Carlos Prestes, exilado no país depois da Coluna Prestes.

O líder comunista Luís Carlos Prestes (de barba), entre membros da Coluna Prestes em 1927 - Folhapress

1934

Prestes é aceito como membro do PCB.

1935

Intentona Comunista, revolta armada com o objetivo de instalar um governo revolucionário liderado por Prestes, eclode em 23 de novembro em Natal e, em seguida, em Recife e no Rio de Janeiro. O levante é reprimido pelas forças de segurança. Getúlio Vargas explora o medo do comunismo como justificativa para ampliar seus poderes, pavimentando o caminho que levaria ao Estado Novo.

1945

PCB volta à legalidade com o fim da ditadura.

1947

Registro do partido é suspenso pelo TSE, sob a acusação de o PCB ser um partido internacional comandado por Moscou que insufla da luta de classes.

1958

Documento, que ficou conhecido como Declaração de Março, sintetiza a nova posição do partido, em defesa de uma revolução democrático-burguesa. PCB passa a sustentar uma solução pacífica para a revolução brasileira, com a formação de uma frente única contra o imperialismo americano, e a adesão ao nacionalismo, que preconizava uma aliança dos comunistas com a burguesia nacional para fortalecer o desenvolvimento autônomo do país.

1961

Conferência decide mudar o nome do PCB para Partido Comunista Brasileiro, com o intuito de afastar a vinculação com a União Soviética e facilitar o registro no TSE.

Bandeiras do PCdoB em comício de Fernando Henrique na Praça da República, em São Paulo, em 1985 - Fábio M. Salles - 85/Folhapress

1962

Em fevereiro, uma dissidência liderada por João Amazonas, Maurício Grabois (considerados stalinistas no interior do PCB e afastados da sua comissão executiva anos antes) e Pedro Pomar cria o PCdoB que, com uma nova sigla, adota o nome original do PCB. O novo partido adota linha maoísta –a China de Mao Tsé Tung havia rompido com a União Soviética.

1965

Reunião do Comitê Central expõe a cisão entre um grupo majoritário, liderado por Prestes, que defende a luta institucional contra a ditadura, e um grupo minoritário que apregoa a luta armada.

1992

Congresso realizado em São Paulo declara a extinção do PCB, na esteira da dissolução da URSS e do fechamento do Partido Comunista da União Soviética. Ao fim da reunião, o PPS (atual Cidadania) é fundado. Alguns membros, como Oscar Niemeyer, não aceitam a decisão e recorrem à Justiça.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/03/conheca-a-trajetoria-do-partido-comunista-do-brasil-fundado-ha-100-anos.shtml


STF forma maioria e derruba decreto de Bolsonaro em comitê de combate à tortura

Redação / Correio Braziliense

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para derrubar o decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL) que esvaziou o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão que visa prevenir casos de tortura e outros tratamentos ou penas degradantes. Seis ministros já se manifestaram no sentido de acompanhar o relator Dias Toffoli no sentido de invalidar o decreto, por considerar que fragiliza a política pública de prevenção e a combate desse tipo de violência no Brasil.

O tema é discutido no Plenário Virtual, em julgamento que teve início no último dia 18, e está previsto para terminar hoje. Os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes, Rosa Weber e Cármen Lúcia votaram com Toffoli.

A ação que levou o caso ao STF foi impetrada em agosto de 2019 pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge. Ela questionou decreto de Bolsonaro, de junho do mesmo ano, remanejando 11 cargos de perito do MNPCT para o Ministério da Economia e exonerando-os.

Em 2021, já sob a gestão de Augusto Aras, a PGR divergiu de Dodge, argumentando que o decreto questionado por ela havia sido revogado por outro texto editado por Bolsonaro. Toffoli, porém, considerou que a revogação se deu no contexto de sucessivas reestruturações no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. E que não houve o retorno dos 11 cargos relativos ao MNPCT.

Fragilização

Para o ministro, o decreto de Bolsonaro "tem o condão de fragilizar o combate à tortura no país". Toffoli viu "violação especialmente grave, diante do potencial desmonte de órgão cuja competência é a prevenção e o combate à tortura".

Segundo o relator, o decreto de Bolsonaro "viola frontalmente a Constituição Federal" ao ferir o preceito fundamental segundo o qual "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante". Toffoli observou que o texto editado pelo presidente consiste em "ação do Poder Público que obstaculiza o trabalho de inspeção de estabelecimentos de privação de liberdade".

O ministro foi além e frisou que o texto colocou o Brasil em uma situação de descumprimento de obrigações assumidas perante órgãos internacionais. Ele lembrou que organismos internacionais, entidades da sociedade civil, associações representantes de carreiras jurídicas e órgãos públicos manifestaram "rechaço em uníssimo" ao decreto — entre elas a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão integrante da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/03/4995762-stf-forma-maioria-e-derruba-decreto-de-bolsonaro-em-comite-de-combate-a-tortura.html


100 anos do PCB: a luta das mulheres pela democracia e justiça social

João Rodrigues, da equipe da FAP

Neste 25 de março de 2022, data em que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) completa 100 anos de fundação, o podcast da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) apresenta o quarto e o último episódio da série de entrevistas sobre o centenário do Partidão. Com as participações da professora da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e diretora FAP, Jane Neves, e da coordenadora nacional do M23, Tereza Vitale, o programa aborda a luta das mulheres negras no Brasil, feminicídio e equidade social, além de histórias de personalidades marcantes do PCB.



Jane Monteiro Neves é especialista em processos educacionais pelo IEP/Sirio Libanês. Foi diretora de Extensão e coordenadora do curso de graduação em Enfermagem da UEPA. A professora Jane morou na África, em Guiné-Bissau, e é militante do PCB há mais de 50 anos.

A aprendiz do feminismo, Tereza Vitale, paulista de nascimento, está em Brasília desde 1988 e no Cidadania desde 1990. Desde 1992, percebeu que o movimento de mulheres era necessário para qualificação política das militantes. E até hoje respira os ares de mais mulheres na política.

A relevância da mulher para a democracia no Brasil e a importância das comunistas para a justiça social também estão entre os assuntos do programa. O episódio conta com áudios de entrevistas da série Brasileiros e Militantes (Ana Montenegro e Zuleika Alambert).

O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google Podcasts, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues.




Luiz Carlos Azedo: Disputa de legado marca os 100 anos de PCB

O velho Partidão completaria, hoje, 100 anos de fundação. Surgiu em março de 1922, com o nome de Partido Comunista do Brasil (PCB), alterando o nome para Partido Comunista Brasileiro, sob comando de Luiz Carlos Prestes, em 1961, e Partido Popular Socialista (PPS), em 1992, sob liderança de Roberto Freire. Essas mudanças provocaram dois grandes rachas, dos quais surgiram os atuais Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1962, encabeçado por João Amazonas, e o novo Partido Comunista Brasileiro (PCB), liderado por Ivan Pinheiro, que conseguiu seu registro em 1996. Em 2020, o PPS fez nova mudança, passando a se chamar Cidadania, para incorporar ideias social-liberais e fazer uma ruptura definitiva com o passado comunista.

Entretanto, os três partidos comemoram o centenário, cada qual com uma narrativa própria, que resgata uma fatia do seu legado. O PCdoB realiza um festival de música no Caminho Niemeyer, em Niterói, no estilo das antigas festas dos jornais comunistas. O PCB realiza um ato na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O Cidadania promove um seminário e homenageia antigos militantes e os dirigentes “desaparecidos” durante o regime militar, na Faculdade de Direito de Niterói (UFF). O PCB foi fundado naquela cidade, por Astrojildo Pereira.

Em 1982, o poeta Ferreira Gullar resumiu: “Eles eram apenas nove: o jornalista/ Astrojildo, o contador Cordeiro,/o gráfico Pimenta, o sapateiro José Elias, o vassoureiro/Luís Peres, os alfaiates Cendon e Barbosa/ o ferroviário Hermogênio/ e ainda o barbeiro Nequete/ que citava Lênin a três por dois/ Em todo o país,/ eles não eram mais de setenta/ Sabiam pouco de marxismo/ mas tinham sede de justiça/ e estavam dispostos a lutar por ela…” Segundo Gullar, “o PCB não se tornou o maior partido do Ocidente/ nem mesmo do Brasil/ Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis/ tem que falar dele/ Ou estará mentindo”.

O PCB não surgiu de uma corrente socialista ou social-democrata, demorou a ser aceito pela III Internacional e sofreu sucessivas intervenções do Cominter, que resultaram no afastamento de alguns dirigentes históricos, entre os quais o próprio Astrojildo Pereira. Essa tensão entre os soviéticos e o PCB foi permanente, mas não impediu seu alinhamento em automático quando houve a invasão na antiga Tchecoslováquia, em 1968.

Ex-capitão do Exército, à frente da coluna rebelde que levou seu nome, Prestes percorreu o Brasil entre 1925 e 1927, combatendo as tropas dos governos Artur Bernardes e Washington Luís. Foram 25 mil quilômetros de marcha. Procurado por Astrojildo na Bolívia, onde a coluna havia se internado, para evitar a rendição, Prestes aderiu ao comunismo.

Crises políticas

Em novembro 1935, Prestes liderou um levante militar sem chance de dar certo, por falta de apoio popular e militar, que se tornaria o mito fundador da “ameaça comunista” no Brasil. Ficou preso por nove anos, sua esposa Olga Benário, uma judia alemã, foi deportada e executada num campo de concentração nazista, no qual dera à luz a historiadora Anita Prestes, sua filha.

Nada disso impediu que Prestes apoiasse o governo Vargas para que o Brasil entrasse na II Guerra Mundial contra o nazifascismo. Libertado em 1945, foi eleito o senador mais votado do país. Seu mandato, porém, foi cassado, juntamente com o registro da legenda, em 1947, em razão da guerra fria. O PCB voltou à ilegalidade, da qual somente sairia em 1985.

Em 1964, Prestes e o PCB serviram de pretexto para o golpe militar. Uma declaração infeliz sobre a participação dos comunistas no governo João Goulart e o fato de estar articulando a reeleição de Jango foram explorados pelos generais que tomaram o poder. O PCB estava isolado, embora fosse hegemônico na esquerda brasileira, cuja atuação política viria a influenciar até hoje, a partir de uma ideia-força: a da revolução brasileira.

Desde os debates sobre agrarismo e industrialização, nas décadas de 1920 e 1930, protagonizados por Astrojildo Pereira, Otávio Brandão e Heitor Ferreira Lima, o desenvolvimento nacional esteve no centro das preocupações do PCB. O debate sobre a superação do atraso econômico por uma via democrática, porém, esbarrava nos dogmas comunistas e confrontava o sonho de uma revolução socialista. Por isso, ao longo dos anos, intelectuais, dirigentes e militantes renovadores deixaram o PCB.

Essas divergências se acentuaram a partir de 1958, quando o PCB assumiu o compromisso com a democracia. Primeiro, houve a dissidência maoísta do PCdoB. Depois de 1964, Carlos Marighella e outros dirigentes adotaram a luta armada contra o regime militar; surgiram o MR-8, a ALN e o PCBR. Alguns remanescentes desses agrupamentos, mais tarde, se incorporariam ao Partido dos Trabalhadores. Na década de 1980, Prestes rompeu com o PCB e ingressou no PDT. Setores identificados com o “euro- comunismo” derivaram ao PSol e ao PSDB. A diáspora comunista faz com que velhas ideias defendidas pelo antigo Partidão estejam por aí, vivíssimas, das mais ortodoxas às mais revisionistas. A mais importante é a política de frente ampla em defesa da democracia, adotada com êxito contra o regime militar.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-disputa-de-legado-marca-os-100-anos-de-pcb/

Revista online | Guilherme Casarões: Reflexões sobre a nova ordem mundial

Guilherme Casarões / Revista Política Democrática online

Virou lugar-comum entre analistas a percepção de que a invasão russa da Ucrânia inaugura um novo momento das relações internacionais. Parte importante do debate recente busca, justamente, especular sobre quais seriam os elementos desta “nova ordem mundial”, expressão consagrada pelo então presidente americano, George Bush, contemplando o fim da União Soviética e do início da Guerra do Golfo.

Na encruzilhada entre pandemia, desaceleração econômica e conflito no Leste Europeu, não parece haver dúvidas de que estamos no alvorecer de uma nova ordem. Mas em vez de olharmos para a frente nesse exercício especulativo sobre o que os próximos tempos nos reservam, proponho uma volta ao passado.

De certa maneira, a agressão da Rússia contra os ucranianos nos coloca numa máquina do tempo, em que cada parada nos proporcionará um elemento constitutivo deste futuro ainda incerto.

A primeira tarefa dessa viagem temporal é abandonarmos o que esses trinta últimos anos representaram para as relações internacionais. A ocorrência de projetos imperiais universais, calcados no triplo poderio militar, econômico e ideológico-cultural de um só país, é tão rara quanto efêmera. A “era da unipolaridade” inaugurada pelos Estados Unidos, em que o planeta foi sendo moldado aos valores liberais, democráticos e globalizados da superpotência, já é parte do passado e dificilmente voltará.

Ao revisitar o passado, nossa primeira parada é o ano de 1945. Trata-se do único ano, na história, em que um país utilizou armamentos nucleares contra populações civis – nos bombardeios americanos contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, onde entre 100 e 200 mil pessoas morreram. Hoje, segundo o “relógio do juízo final”, dispositivo utilizado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos para estimar a probabilidade de uma catástrofe humana generalizada, estamos a 100 segundos da meia-noite – o ponto mais próximo do apocalipse a que chegamos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Nada impede que essa catástrofe venha na forma de uma hecatombe nuclear. Essa é a leitura de especialistas, sob o argumento de que Vladmir Putin, ao considerar o emprego de armas atômicas no decurso da operação militar na Ucrânia, abre a possibilidade de uma escalada sem precedentes, que pode envolver as cinco principais potências nucleares do planeta – e causar danos irreversíveis à humanidade.

Mas a realidade atual nos obriga a voltar ainda mais no tempo. Se 1945 foi o ano da maior violência nuclear da história, também foi o momento no qual se consolidaram as regras básicas do direito internacional, soberania e autodeterminação, que prevaleciam até outro dia, quando o governo russo decidiu invadir um país vizinho ao arrepio da legalidade – e sem sequer construir um “casus belli” coerente (os Estados Unidos, claro, foram violadores contumazes do direito internacional, notadamente no Iraque, mas eram a única superpotência do planeta).

Regressamos, pois, ao último quarto do século 19. O mundo vivia a escalada de tensões políticas entre as potências europeias, que se posicionavam a partir de considerações geopolíticas, nacionalistas e imperialistas. Os mesmos três ingredientes voltam a aparecer nas interações entre os quatro grandes polos de poder contemporâneos – EUA e Europa, China e Rússia – e definem os embates correntes. Assim como no passado, as alianças vão se formando a partir do desejo de dominar partes importantes do globo e conduzindo a uma corrida armamentista sem precedentes.

Putin, czar dos tempos modernos: ninguém duvida de seu desejo de reconstruir a grandeza do Império Russo. Foto: Sputnink/AFP

Putin é um czar dos tempos modernos e ninguém duvida de seu desejo de reconstruir a grandeza do Império Russo, cujo ápice foi, precisamente, o fim do dezenove. Creio, no entanto, precisarmos de uma terceira parada, agora em 1453. A Rússia, então conhecida como Moscóvia, inaugurava a era do Ivan III, O Grande, que derrotou os mongóis, lançou as bases do Estado russo e triplicou seu território. Mas o principais eventos daquele ano foram a queda de Constantinopla para os otomanos e o fim da Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra.

Antes da consolidação do Estado moderno, vivíamos uma era de civilizações. Em 1453, o Ocidente estava no auge do seu nacionalismo religioso, em que sentimentos protonacionais fundiam-se com o poder econômico e ideológico Igreja Católica na construção de um ambicioso projeto universal. Sob a dinastia Ming, o Império Chinês atingia seu zênite naval e os muçulmanos consolidavam-se territorialmente pelas mãos dos sultões otomanos. Hoje, revisitando Samuel Huntingon, argumentos civilizacionais, culturais e religiosos nunca foram tão comuns para justificar (e incitar) conflitos ao redor do mundo.

A história nos oferece lições poderosas para podemos imaginar o futuro. Não se trata de repetir o passado, mas de entender quais elementos podem compor o quebra-cabeça da ordem vindoura. E não nos iludamos: o mundo que vem por aí, infelizmente, será mais bruto, mais incerto e menos harmonioso. A nós, caberão a sabedoria, a disposição e a resiliência para enfrentá-lo.

Saiba mais sobre o autor

* Guilherme Casarões é doutor e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (Programa SAN Tiago Dantas). Leciona Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP)e na FGV-SP. Pela Contexto é autor do livro Novos olhares sobre a política externa brasileira.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de março/2022 (41ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

Confira a charge da Edição 41 da Revista Política Demócrática

Pedro Fernando Nery: PND no século 21 

Lilia Lustosa: Geraldo e Jabor 

Henrique Brandão: Mais atual que nunca 

Juros e inflação no Brasil – o que explica o comportamento do Banco Central?

‘Um tempo para não esquecer’ retrata a luta da saúde pública contra a Covid-19

Hesitação vacinal é negacionismo que pode matar, acredita Margareth Dalcolmo

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XP/Ipespe: Lula tem 44%; Bolsonaro, 26%; Moro, 9%; Ciro, 7%

Redação / O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem, neste momento, vantagem de 18 pontos sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Planalto, segundo pesquisa XP/Ipespe divulgada nesta sexta-feira, 25. No cenário estimulado, o petista aparece com a preferência de 44% dos eleitores, contra 26% do atual chefe do Executivo. 

Lula recuperou parte da vantagem que vinha perdendo nos últimos meses. A distância entre ambos os adversários chegou a 20 pontos na segunda quinzena de janeiro, quando o petista tinha 44%, e Bolsonaro, 24%. No início de março, o ex-presidente liderava com margem de 15 pontos (43% contra 28%). 

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Segundo o último levantamento, Sérgio Moro (Podemos) tem 9% das intenções de voto; Ciro Gomes (PDT), 7%; João Doria (PSDB), 2%; Eduardo Leite (PSDB), Simone Tebet (MDB), André Janones (Avante) e Felipe d’Avila (Novo) empatam em 1%.

No cenário espontâneo, aquele em que os entrevistados expressam sua preferência sem que sejam apresentadas opções, Lula tem 36%, e Bolsonaro, 25%. 

O Ipespe ouviu a opinião de mil pessoas por telefone entre os dias 21 e 23 de março. A margem de erro é de 3,2 pontos para mais ou para menos, o que faz com que Sérgio Moro e Ciro Gomes estejam em empate técnico. O protocolo de registro na Justiça Eleitoral é BR-04222/2022.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pesquisa-xp-ipespe-lula-bolsonaro-ciro-moro-doria-leite-tebet-janones-davila,70004019268


O bolsonarismo saiu do armário, e o petismo precisa descer do salto

Vera Magalhães / O Globo

O leitor desta coluna há de lembrar que escrevi, em 23 de fevereiro, que o presidente se beneficiaria da entrada dos profissionais no comando de sua campanha e da entrada de dinheiro do Auxílio Brasil nas contas dos mais necessitados para dar um salto. E que os riscos que corria de ver estancada essa esperada melhora eram a inflação fora de controle e a rejeição quase impeditiva de uma reeleição.

Os números do Datafolha mostram que Bolsonaro ganhou pontos entre os mais pobres e no Nordeste, reduzindo sua distância para Lula no segmento e na região em que o petista vai melhor. Num país em que a desigualdade e a pobreza só cresceram, a injeção de recursos do Orçamento ainda é um poderoso cabo eleitoral.

Além disso, o silenciamento das atrocidades ditas por Bolsonaro no curso da pandemia, operado pelos profissionais da política, fez com que a classe média que elegeu o capitão em 2018 perdesse a vergonha de sair do armário. E aqui entra um fenômeno de duas mãos importante de analisar: o salto alto que acometeu o entorno de Lula desde que suas condenações nos processos derivados da Lava-Jato foram anuladas.

O que se seguiu àquele momento foi uma euforia narrativa que incluiu desde a exigência de retratação de todos aqueles que apontaram casos de corrupção nos governos petistas até a difusão de uma praticamente certa vitória de Lula no primeiro turno.

Os que diziam procurar por uma alternativa à polarização Lula e Bolsonaro eram apontados praticamente como cúmplices dos desmandos do bolsonarismo.

O PT e os aliados do ex-presidente se perderam num duelo com o ex-juiz Sergio Moro, que nunca chegou a decolar, e deixaram Bolsonaro correr meio sem combate em todo o período posterior à CPI da Covid.

Tanto que iniciativas como o calote em precatórios e a criação do Auxílio Brasil, que certamente reverteriam em recuperação do presidente de seu pior momento nas pesquisas, contaram com o aval da oposição, que ainda silenciou sobre o orçamento secreto, o mais poderoso instrumento de injeção de recursos em bolsões de aliados políticos já criado pelo Congresso.

Tanta certeza na vitória de Lula se amparava na crença de que os desmandos de Bolsonaro em relação às instituições, o engodo liberal que ele vendeu em 2018 e a condução criminosa do país na emergência sanitária haviam afastado definitivamente a classe média do presidente.

Isso, com a revisão das condenações da Lava-Jato operada pelo STF, depois confirmada em cascata por outras instâncias da Justiça, bastaria para que o conjunto da sociedade concluísse que Lula e o PT foram vítimas de um golpe de 2016 em diante.

Acontece que a superação do pior momento da pandemia parece ter apagado cedo demais da mente de uma parcela do eleitorado de média e alta renda as atrocidades cometidas em três anos e três meses de uma gestão marcada única e exclusivamente por retrocessos —mesmo nas áreas de interesse dessa elite mais egoísta, como a imagem do país no exterior, a previsibilidade fiscal e os demais indicadores econômicos.

O Datafolha agora mostra, em números, que havia um antipetismo escondido no armário junto ao bolsonarismo renitente e que ambos foram retirados de lá mais ou menos no momento em que esse eleitor foi autorizado a guardar a máscara na gaveta. Mais de uma máscara foi arrancada, portanto.

Para que a vantagem de Lula sobre Bolsonaro não se estreite ainda mais, o PT tem de engendrar um discurso econômico e político que funcione de antídoto ao antipetismo que Bolsonaro espertamente voltou a explorar — outra contribuição do Centrão à condução até então tresloucada de sua campanha por parte de seus filhos e de seus apoiadores mais fanatizados.

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/vera-magalhaes/post/o-bolsonarismo-saiu-do-armario-e-o-petismo-precisa-descer-do-salto.html


As perdas da Rússia em 30 dias de invasão da Ucrânia

Thomas Latschan / DW Brasil

Quantos soldados russos foram mortos na Ucrânia desde o início da guerra? Dados são difíceis de ser verificados, mas há indicações de que o Kremlin perdeu muito mais militares do que está disposto a admitir.

Um mês se passou desde o início da invasão russa da Ucrânia. A chamada "operação especial" russa que o Kremlin esperava concluir em poucos dias se transformou em uma guerra que já resultou em milhares de baixas em ambos os lados. E dados indicam que o exército russo registrou perdas "inesperadamente altas".

É muito difícil estimar quantos soldados russos perderam suas vidas até agora. As informações são extremamente contraditórias e não podem ser verificadas de forma independente.

Fontes russas em silêncio

O Ministério da Defesa da Rússia divulgou números de baixas em apenas uma ocasião. Em 2 de março, relatou 498 mortos e cerca de 1.600 soldados russos feridos desde o início da guerra. Desde então, a Rússia vem mantendo segredo sobre o número de mortes entre suas tropas.

Na noite do último domingo (20/03), uma reportagem do tabloide russo Komsomolskaya Pravda chamou a atenção. Um texto da versão online do jornal, supostamente citando fontes militares, apontava que até aquele momento 9.861 soldados russos haviam morrido e que mais de 16.000 estavam feridos.

No entanto, depois de apenas alguns minutos, o texto foi tirado do ar. O site se justificou afirmando que se tratava de uma reportagem falsa que teria sido publicada por hackers. Apesar de ter ficado poucos minutos no ar, o texto foi copiado e disseminado pelas redes e continua arquivado em outros sites.

Mapa do avanço russo na Ucrânia

Apesar de os russos evitarem publicar relatórios com baixas, há indicações de que o número de russos mortos e feridos é muito maior do que os número oficial divulgado pelo Kremlin no início do conflito. Há poucos dias, uma reportagem da Radio Liberty de Belarus – uma organização financiada pelos Estados Unidos – apontou que os necrotérios na área de fronteira do país com a Ucrânia estariam lotados de soldados russos mortos. Vídeos mostraram colunas inteiras de veículos russos supostamente trazendo soldados mortos ou feridos para Gomel, em Belarus.

De acordo com a reportagem, corpos de milhares de soldados foram enviados para a Rússia a partir de Belarus. A DW também obteve informações sobre grandes quantidades de soldados russos feridos sendo tratados em hospitais belarussos.

Ucrânia relata mortes de generais russos

O jornal online ucraniano The Kyiv Independent publica regularmente estimativas do Estado-maior ucraniano sobre baixas do inimigo. Estimativas apontam até 15.000 baixas russas, número que inclui soldados mortos, capturados e feridos.

No entanto, esses números também não foram verificados ​​de forma independente. Não há informações sobre a metodologia da pesquisa. É muito provável que o exército ucraniano tenha inflado os números para propagandear uma suposta eficácia em combate e em suas conquistas militares.


Segundo informações que vêm da Ucrânia, seis dos 20 generais russos de alto escalão envolvidos na invasão da Ucrânia morreram nas últimas semanas. O general americano David Petraeus, um veterano da Guerra do Afeganistão, considera um número tão alto como "muito, muito incomum" e aponta que ele pode ser um sinal de que as estruturas de comunicação e comando russas foram severamente afetadas. Um porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA abordou os relatos com muito mais cautela.

Pentágono continua cauteloso

O Departamento de Defesa dos EUA também está monitorando de perto a situação na Ucrânia. O Pentágono prepara suas próprias avaliações da situação com base em dados de inteligência, imagens de satélite e tráfego de rádio russo interceptado.

O Departamento de Defesa dos EUA está atualmente divulgando uma estimativa de cerca de 7.000 russos mortos e cerca de duas a três vezes esse número de feridos. Um total de cerca de 150.000 soldados russos estariam envolvidos na invasão. Se os números americanos estiverem corretos, mais de 10% das tropas russas que fizeram parte da primeira leva de ataque não estariam mais operacionais após apenas um mês.

Para efeito de comparação, esses supostos 7.000 militares russos mortos representam um número maior do que o total de soldados americanos que morreram ao longo de 20 anos nas campanhas no Iraque e no Afeganistão combinadas.https://t.me/rferl/754?embed=1

Em seu cálculo das perdas russas, os especialistas militares dos EUA também contam com outras fontes. A plataforma de internet holandesa Oryx, por exemplo, documenta meticulosamente quantos veículos militares russos foram destruídos ou capturados pelo exército ucraniano. Cada um desses veículos é contabilizado com uma foto ou registro de vídeo com data precisa.

Segundo a plataforma, o exército russo perdeu pelo menos 270 tanques, 258 veículos de infantaria e 178 veículos blindados de combate em um mês. Como o espaço para tripulação desses veículos é conhecida, é possível fazer uma estimativa de quantos soldados russos foram tirados de combate após a destruição dos blindados.

Falsificações

No entanto, esses números também devem ser tratados com cautela. A verificação do material às vezes leva um tempo considerável, de modo que os próprios administradores do blog militar já estão apontando não dar conta do grande número de dados recebidos.

Além disso, a proporção de vídeos falsos e material de propaganda manipulado aumentou constantemente desde o início da guerra, o que torna a verificação ainda mais complexa. Isso também torna consideravelmente mais difícil estimar as perdas reais das forças russas.

No entanto, os números de perdas de equipamentos militares pesados ​​já verificados também sugerem que as baixas russas realmente parecem ser muito maiores do que as inicialmente divulgadas pelo Kremlin.

Se o número de mais de 7.000 soldados russos mortos até o momento estiver correto, então, após um mês de guerra na Ucrânia, o exército russo já teria registrado a metade das perdas sofridas pelo Exército Vermelho nos dez anos de intervenção soviética no Afeganistão, entre 1979 e 1989.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/as-perdas-da-r%C3%BAssia-na-invas%C3%A3o-da-ucr%C3%A2nia/a-61246918