Luiz Werneck Vianna: Ainda podemos nos tornar um imenso Portugal

Luiz Werneck Vianna / Democracia e Novo Reformismo

Em política é preciso estar atento ao tempo, que não para como o movimento da terra que não sentimos, como Nabuco gostava de dizer, embora conheçamos seus resultados nas noites que se sucedem aos dias e nas mudanças das estações, assim como variam pelos efeitos das nossas próprias ações, em grande parte inesperados, as circunstâncias imperantes na sociedade em que vivemos e atuamos. Há cerca de 50 anos um celebrado poeta vaticinava que o Brasil estava se tornando um imenso Portugal, autocrático, passadista e inimigo das liberdades, e enquanto seu belo canto embalava o mundo já germinava o que se tornaria a Revolução dos Cravos que sepultaria a época de trevas do salazarismo. Por que o mundo gira e a Lusitana roda, também estava fora do alcance do poeta que o Portugal de hoje se converteria aos nossos olhos numa experiência a ser seguida com sua capacidade de navegar em meio a tempestades e se manter fiel aos ideais com que expurgaram os males do seu passado ditatorial.

Nesses dias, mais uma vez seus dirigentes políticos, cuja capacidade fora posta à prova com a criação inusitada da geringonça, instrumento voltado para lhes assegurar governabilidade, souberam superar as ameaças que partiam do campo da direita reacionária numa disputa eleitoral decisiva, em pleno recrudescimento da pandemia, impondo uma esmagadora vitória eleitoral aos socialistas com votos de outros setores da esquerda que lhes vai assegurar condições a fim de realizar seu programa de governo. Tal resultado impacta não só o cenário europeu como o do Brasil em particular, onde a sucessão presidencial se avizinha.

Bons ventos que atravessaram o oceano nos trouxeram a novidade portuguesa, percebida aqui por políticos atentos que a traduziram para seu idioma político na aliança Lula-Alkmin, dois veteranos na política com um histórico de fortes desavenças mútuas no longo tempo em que estiveram envolvidos, sempre como adversários, em disputas eleitorais. Fora aqueles, desafetos por natureza às alianças em política com que disfarçam seus apetites pelo poder, a fórmula abrasileirada da geringonça tem sido bem recebida como um caminho viável para que o país se evada dos flagelos que ora o atormentam. Lula e Alkmin são herdeiros, cada qual a seu modo, do que foram as experiências da social-democracia entre nós nos governos de Fernando Henrique e do PT, certamente inconclusas e ultra-moderadas, e que ganham agora uma nova oportunidade diante do quadro de excepcionalidade em que vive o país.

Os desafios a que Lula-Alkmin estão expostos não podem ser subestimados. No campo adverso, bem mais do que os recursos que lhe conferem a imensa máquina estatal, se alinham quadros experimentados – os dirigentes do Centrão – no controle social e político da massa dos retardatários da modernização brasileira, sujeitos ainda ao mandonismo local e às políticas de favor, que apenas os ingênuos desconhecem. Conta sobretudo com o apoio dos poderosos interesses emergentes no agronegócio e das elites no comando das finanças, e mais essa nova malha que nasceu sob forma mafiosa nos grandes centros urbanos em torno de interesses escusos, quando não abertamente criminosos, atuante na captura do voto popular.

O regime Bolsonaro se assenta na defesa de privilégios, dos que se enraízam desde a nossa formação como país e dos que surgem sob seu patrocínio, que não são poucos. Derrotá-lo exige engenho e arte, não é obra para poucos, sem a atividade do grande número que afaste, por sua envergadura, suas possibilidades de resistência, inclusive as golpistas com o recurso a ações de milícias armadas sob o beneplácito de políticas governamentais.

A democracia sustentada por suas instituições tem sido capaz até aqui de resistir ao assédio sem quartel das hostes bolsonaristas, mas elas, um poder desarmado, não contam com os meios próprios para obrigá-las a dispersão. O processo eleitoral, nesse sentido, descortina um campo novo e promissor para as forças democráticas, exemplar no caso dessa ainda obra aberta geringonça, cuja conclusão está a requerer maior ampliação pelos caminhos da negociação política com os partidos e personalidades públicas que rejeitam a fasciticização da nossa sociedade e pela interlocução com os movimentos sociais, especialmente o sindicalismo.

Não se trata apenas da erradicação do bolsonarismo, uma manifestação sombria do conservadorismo brasileiro que cumpre agora afastar com os recursos possíveis de que dispomos, mas de resgatar as melhores promessas que cultivamos ao longo da nossa trajetória.

*Luiz Werneck Vianna é sociólogo, professor-pesquisador da PUC-Rio e coordenador do Centro de Estudos Direito e Sociedade (Cedes).

Fonte: Democracia e Novo Reformismo
https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/02/luiz-werneck-vianna-ainda-podemos-nos.html


Elimar Nascimento: Este é um povo arretado!

O mundo hoje fala do paradoxo brasileiro. O único país do mundo que tem um governo radicalmente contrário à vacina, e o povo faz fila para se vacinar.  Alguns chegam de madrugada para garantir a vacina, já que comumente as doses não são suficientes, pois os governos têm “gênios” de logística, como um conhecido ex-ministro da Saúde. 

É do conhecimento de todos a postura de negação da covid 19 por parte dos membros do governo federal, presidente em primeiro lugar, que dizia tratar-se de uma “simples gripezinha”. É soberbamente conhecido o desdém por parte do governo federal em relação aos óbitos provocados pela pandemia. “E daí? Não sou coveiro”, dizia o Presidente. Assim como é de conhecimento público a pregação de um tratamento precoce, comprovado mundialmente como ineficaz, pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o atual. As inúmeras tentativas da Pfizer para vender vacinas ao Brasil foram sistematicamente negligenciadas por diversos ministérios, do da Saúde ao da Economia. Mais recentemente, janeiro de 2022, aquele ministério emitiu uma nota deslegitimando as vacinas e preconizando o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes. 

A recomendação internacional para a vacinação de crianças a partir de cinco anos, iniciada no ano passado em diversos países do mundo, sofreu uma forte reação de recusa do Presidente e seu ministro da Saúde. O governo chegou ao ridículo de chamar uma audiência pública para decidir sobre a aplicação das vacinas, como se fosse possível consultar os cidadãos para saber se um satélite tem condições ou não de ser enviado ao espaço.

A tudo isso, e muito mais, soma-se a declaração do Presidente de que aqueles que tomassem a vacina iriam “virar jacaré”, e as tentativas de sonegar informações sobre a disseminação do vírus no país, a ocupação dos leitos de hospitais e o número de óbitos. A tudo isso, o povo tem respondido de uma forma serena e forte, procurando a vacina, enfrentando filas para se vacinar, uma, duas, três vezes, afrontando a negligência governamental cotidiana. 

Segundo estudo realizado em parceria do Banco Mundial e do PNUD, o Brasil é o país na AL com menor índice de pessoas que dizem recusar a vacina. A taxa média de hesitação vacinal na AL está em torno de 8%, e no Brasil, 3%. Já se aproximam de 80% os vacinados no Brasil. A média dos países latinoamericanos é de 51%. 

Em pesquisa da consultoria Kantar Public (04/02/2021), 37% dos franceses declararam que não têm intenção de se vacinar, 26% nos Estados Unidos; 23% na Alemanha, 17% na Holanda e 12% no Reino Unido. Pesquisa recente revelou que 16% dos brasileiros se dizem contra a vacina, mas apenas 2% declararam que não iriam se vacinar. Os adeptos ideológicos, e irracionais, do governo pregam contra a vacina, mas se previnem vacinando-se. A vacina para o Presidente do Brasil é ineficaz, mas seus filhos de maior idade estão todo vacinados, além de sua esposa.  

Apesar do governo, o povo busca a vacina. Apesar de seus políticos corruptos, sua elite irresponsável e sua intelectualidade esnobe – que diz que o povo não presta – o brasileiro continua acreditando na ciência e na democracia. Povo arretado!!!

Fonte: Revista Será
https://revistasera.info/2022/01/este-e-um-povo-arretado/


Eliane Cantânhede: O xadrez de Bolsonaro

Eliane Catanhede / O Estado de S. Paulo

Bem que alguns ministros queriam tirar o protagonismo do Supremo no ano eleitoral, mas a realidade não permite. Tão vilipendiada nestes novos tempos, ela, a realidade, perde daqui e dali para as fake news, mas, no geral, ainda se sobrepõe às vontades e maquinações.

A nova crise com o Planalto é pelo “direito ao silêncio” do presidente Jair Bolsonaro sobre o vazamento ilegal de um processo sigiloso da Polícia Federal, mas não é única. A pauta do Supremo é recheada de temas ligados direta ou indiretamente a Bolsonaro.

São cinco inquéritos contra ele: vazamento ilegal do inquérito da PF, prevaricação nas vacinas da Covaxin, ataques às urnas eletrônicas, fake news associando vacinas contra a covid à aids e o primeiro deles, por interferência política na PF. São graves, mas não devem dar em nada, porque a eleição está bem aí à frente e o Supremo não vai incendiar o País, com economia patinando e miséria grassando.

Há ainda casos que envolvem interesses conflitantes do governo, da sociedade e do País, como o marco regulatório das terras indígenas, a ferrovia Ferrogrão e as rachadinhas – o alvo é outro, mas qualquer decisão resvalará para o 01, senador Flávio Bolsonaro.

E há uma sucessão de provocações de Bolsonaro para cutucar adversários, jogar governadores, prefeitos e os próprios ministros do STF contra a parede e só ele se dar bem. Esse jogo de xadrez não sai da cabeça de Bolsonaro, mas de filhos e articuladores de fake news, ataques baixos e contrainformação. Tudo bem calculado e amplificado pelas redes bolsonaristas.

Exemplo fresquinho e didático: Bolsonaro, que se esbaldou de jet ski enquanto a Bahia afundava em tragédia, anunciou ontem que visitará São Paulo. A armadilha é que João Doria e os críticos do presidente não podem elogiar nem condenar. Seria fazer o jogo dele em qualquer hipótese.

Bolsonaro nunca tem nada a ver com preços, tragédias, crise social, ambiental, da educação, da saúde... Joga sempre para governadores, adversários, mídia, Supremo. Ele fez tudo errado na pandemia? A culpa é deles. Denunciou a urna eletrônica? Eles reagiram. Lutou pelo marco temporal? Eles vetam.

Bolsonaro teve de recuar da intervenção nos preços da Petrobras e pôs a culpa no ICMS, logo, nos governadores. E, depois de jogar a bomba dos 33,24% no piso salarial dos professores, diverte-se com a reação de governadores e prefeitos e a saia-justa do Supremo. Todo mundo defende os professores, mas sem explodir as contas públicas. Bolsonaro cria o problema, a Federação e as instituições que se virem para consertar e explicar o óbvio.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,o-xadrez-de-bolsonaro,70003966091


Merval Pereira: À espera do inesperado

Merval Pereira / O Globo

Tudo parece se encaminhar para uma vitória do ex-presidente Lula na eleição presidencial de outubro, a não ser que o inesperado faça uma surpresa, como cantava Johnny Alf. Nem tão inesperada assim seria uma desistência de Bolsonaro, prevendo a derrota certa e sem chance de tornar-se, como Trump nos Estados Unidos de Biden, a liderança contra o PT sem foro privilegiado que o proteja. Eleito senador, Bolsonaro poderia liderar a oposição. Derrotado, pode ir para a cadeia. Sua saída do páreo mudaria a cena eleitoral.

Lula está fazendo tudo certo, inclusive contendo sua turma mais radical que, enebriada pelo clima de já ganhou, começou a anunciar medidas que não combinam com o que Lula anuncia que está planejando. Pretende, segundo diz, fazer um governo mais amplo que o PT, assim como ele é maior que o partido que criou.

Os petistas da velha guarda, como José Dirceu, Dilma Rousseff, Guido Mantega, Gleisi Hoffmann, José Genoino e Franklin Martins, andaram discorrendo sobre planos polêmicos como interferir no currículo das escolas militares, alteração nos critérios de promoção de oficiais superiores, controle social da mídia, retorno da política econômica criativa, mudança da reforma trabalhista, fim do teto de gastos, e assim por diante.

Claramente, a esquerda está se precipitando, dando como certa vitória, e, Lula já entendeu, está assustando a classe média. Ele, que lançou a proposta de mudar a reforma trabalhista e que escolheu Guido Mantega para escrever um texto sobre proposta econômica de um eventual terceiro governo, deu uma freada de arrumação e desdisse o que dissera. Mandou parar a movimentação por uma CPI contra Sergio Moro, disse que faria apenas adaptações à reforma trabalhista e, sobretudo, vem bancando Geraldo Alckmin como vice ideal de uma chapa para governar, não para ganhar, que para isso parece não necessitar de ajuda, com os adversários que tem.

Pela primeira vez em muito tempo, discute-se um programa comum a diversas forças que poderão compor o eventual governo petista. O difícil é acreditar que tudo isso seja verdade, embora, a seu favor, Lula tenha o precedente do primeiro governo, quando surpreendeu a todos com o convite a Henrique Meirelles para presidir o Banco Central, e a continuidade do programa econômico tucano. O fato é que é mais fácil acreditar num governo Lula equilibrado ao centro do que numa mudança de Bolsonaro.

O ex-presidente quer fazer mais do que um bom governo, dizem interlocutores, quer sair como um estadista, qualificação que perdeu devido aos escândalos de corrupção que dominaram seus governos. Não adianta querer dizer que foi absolvido das acusações que o levaram para a cadeia, porque não foi. Arquivar processos por perigo de prescrição não inocenta ninguém. E a campanha presidencial se encarregará de trazer de volta todas as situações em que petistas e partidos do Centrão se envolveram, tanto no mensalão quanto no petrolão.

Como não é possível fazer uma autocrítica, pois ela seria admissão de culpa, esse rabo preso continuará a atrapalhar a tentativa de reescrever a história. Ninguém, entre os adoradores de Lula, pode admitir que as empreiteiras, e não apenas a Odebrecht, mas sobretudo ela, quebraram porque se meteram em grossos trambiques, inclusive internacionais. A Justiça de vários países condenou a empreiteira brasileira pelos delitos, governantes e líderes latino-americanos caíram devido ao mesmo esquema, comandado pelo PT na região, mas tudo isso é esquecido.

O governo de Bolsonaro é tão desastroso e pernicioso ao país que se torna palatável qualquer candidato que possa derrotá-lo. Se a terceira via não conseguir se organizar, como tudo indica, Bolsonaro irá para o segundo turno perder para Lula. Mesmo porque, não há candidato na oposição que empolgue o eleitorado. Assim como Bolsonaro levou os votos dos antipetistas em 2018 porque nenhum outro candidato conseguiu se mostrar mais eficaz na tarefa de derrotar o PT, agora Lula pode levar os votos dos que não querem Bolsonaro de jeito nenhum. A não ser que Bolsonaro saia do páreo.

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/espera-do-inesperado.html


Diretores negros ganham visibilidade com produções identitárias

Ricardo Daehn / Correio Braziliense

Num circuito de festivais de cinema que já incluíram Cannes, Roterdã, Brasília e Tiradentes, faltava à produtora mineira Filmes de Plástico chegar ao Festival de Sundance. Representante brasileiro no evento, o longa Marte Um despontou com uma leva de fitas realizadas por diretores negros, entre os quais Carey Williams, W. Kamau Bell e Adamma Ebo. Todos estavam alinhados no festival recém-encerrado. "A receptividade foi maravilhosa: tivemos trocas de experiências potentes, ainda que de modo on-line. Pipocaram muitas críticas e veio o impacto do festival. Estou muito feliz, é impressionante ver como críticos escrevem textos interessantes e tão diversos. Tiveram muita generosidade com o filme", observa Gabriel Martins, diretor de Marte Um, em entrevista ao Correio.

Gabriel, no segundo longa-metragem (com Maurílio Martins, realizou o primeiro, No coração do mundo) diz não trabalhar com a chave virada sobre o tipo de imagem que projetará do Brasil no exterior. "Não racionalizo sobre isso, não em nível consciente, planejando o que os gringos vão achar do filme", diverte-se. O diretor aposta, sim,"em filme honesto e sincero", que esteja atrelado à necessidade da história pretendida. Marte Um, como ele diz, foi feito para elogiar esteticamente a presença de pessoas negras na tela. "Aposto nas nossas narrativas, em situações que têm a ver com a nossa história. Isso pode ser uma contribuição para que mais pessoas negras queiram filmar. Algo que talvez até inspire ou estimule para pessoas fazerem de forma até diferente da que eu fiz", explica.

Marte Um fala da classe média baixa, de encantamentos com futebol, de maldições e do dia a dia na periferia de uma grande cidade. Tudo gira em torno de Deivid (Cícero Lucas), que tem ambição para, em 2030, ser atuante como astrofísico. O enredo se passa em 2018, com Bolsonaro eleito. Wellington (Carlos Francisco, de Bacurau) é o porteiro, pai de Deivid; Tércia (Rejane Faria), a mãe, e Eunice (Camila Damião), a irmã que não tem coragem de assumir um relacionamento lésbico. Raça e gênero integram a trama possibilitada por um fundo de orçamento para diretores negros, gerado em 2016.

O cineasta acredita que o filme, tendo passado num festival grande, determina impacto na importância do cinema negro no Brasil. "Devido ao Festival de Sundance, trechos de Marte Um foram mostrados no Jornal Nacional, o maior do país. Com muita exposição, isso é colocar o cinema negro no mapa da história. Me parece uma contribuição possível para que a gente seja visto e esteja vivo, e que possamos sair deste vazio de possibilidades em que a gente está agora — tanto financeiras quanto mercadológicas. Viabilizar um filme, no Brasil, pode passar a se mover, numa direção a cenário diferente do que temos", avalia.

Um dos roteiristas do longa Alemão, estruturado sob demanda da RT Features, e criador de um retrato de violência impresso no curta Rapsódia para o homem negro, Gabriel Martins conta da vontade de navegar por vários sentimentos, no registro de cinema. "O Marte Um espelha minha história enquanto cineasta de periferia, tem uma carga otimista. É um filme que, de alguma forma, acredita na potência de um sonho. E eleva isso a um romantismo da situação, sem deixar de ser atento às contradições do mundo, sem acatar postura ingênua. Traz uma dose de crença no ser humano, talvez", revela Gabriel Martins.

Mais terreno 

No quarto curta-metragem, e ao final da graduação em cinema pela UFF, aos 27 anos, o diretor Bruno Ribeiro vive um ótimo momento: competirá pelo Urso de Ouro, no Festival de Berlim, com o curta Manhã de domingo, que estreou na 25ª Mostra de Tiradentes (MG). "O filme é roteirizado por negros, a protagonista é negra. Há toda a questão em torno de discurso identitário que está posta no Brasil, e lá fora também, numa escala um pouco maior. É um tema dos nossos tempos. Mas não foi isso apenas que pesou para a seleção em Berlim. Existe uma produção negra hoje muito vasta que disputa lugares em festivais e editais. Acredito que seja importante a pauta da representatividade", opina o realizador.

Tópicos variados absorvem Bruno, que, em Manhã de domingo, traz Raquel Paixão interpretando a pianista negra Gabriela, dona de instabilidade emocional, na primeira participação em prestigiado recital. "Precisamos de um prolongamento do debate da nossa questão. A produção negra é muito vista por meio de chaves temáticas muito difundidas e isso, às vezes, atrapalha a construção de um olhar mais atento e cuidadoso com a singularidade das obras. Temos que pensar: 'Para além dos corpos, o que mais pode ser absorvido de uma obra?'", pontua o cineasta.

Com a visão ampliada, diante do acesso à internet, na qual descobriu infinitas cinematografias, Bruno Ribeiro celebra o potencial da versão presencial do evento em Berlim, prevista para fevereiro. "Gosto da possibilidade de que o filme se conecte com plateias cada vez mais amplas. Ao invés de buscar consagração no cenário internacional, quero romper minhas bolhas, e desbravar o mundo." Sem minimizar a questão da representatividade, Bruno explica que, na interlocução "com amigos pretos", busca nas artes pautas mais coerentes com os tempos experienciados. "A pauta da representatividade já foi absorvida pelo mercado, de forma mais ampla — desde a publicidade. Artistas pretos já lutam por outras coisas", demarca.

Crítica / Summer of soul (... ou, quando a revolução não pode ser televisionada) ****

Uma luz nas sombras

Múltiplo em funções artísticas, Questlove teve ouvido e olhos atentos na primeira investida em cinema, que resultou no aclamado Summer of Soul, documentário que trata de lacuna na historiografia do preconceito racial na escala norte-americana. O desprezo publicitário e de apoio financeiro direcionado exclusivamente para o Festival de Woodstock, deixou no limbo um evento musical similar realizado a 150 km das ruidosas apresentações de apreço à contracultura. Tratava-se do Harlem Cultural Festival, encontro que levou 300 mil pessoas a um templo de amor e liberdade, promovido no Mount Morris Park novaiorquino, em emblemático momento de revalidação da cultura africana e pleno de altivez negra. Tudo sob o comando do produtor Tony Lawrence que, sob resguardo de ativistas do partido dos Panteras Negras, e manto progressista do prefeito branco John Lindsey, fez eclodir uma festa pra lá de fértil.

Antes de retratar o radicalismo de parte do público do festival — que viu a chegada do homem à lua como um desperdício de dinheiro e cristalizava a expressão "meganha" para designar policiais —, o filme reforça o espírito de família e os laços de irmandade exaltados por Sly, compositor do Sly and the Family Stone. Contribuem em muito depoimentos como os do guitarrista gospel Roebuck Staples, capaz de tarimbar sons pentecostais como "terapia ao estresse" da opressão social ou ainda o mero registro da agressiva guitarra de Sonny Sharrock. Entre a catarse e a possessão espiritual das matrizes africanas, como dito no filme, a diversão no festival — pródigo em "laquê e frango", como ambienta o modelo, ator e produtor Musa Jackson, que, em criança, integrou a seleta plateia — ecoa na vibração e no festejar genuíno da execução de Oh Happy day, no resgate do tambor de Ray Barretto e na real oração proposta por Mahalia Jackson e Mavis Staples, ao entoar Precious Lord take my hand, em saudação a Martin Luther King, morto no ano anterior ao festival, numa corrente de ódio que levou os irmãos Kennedy e ainda Malcolm X.

Resgate de raízes — curiosamente foi a marca Maxwell House, atenta à valorização da origem africana do café, que trouxe o apoio financeiro para a estrutura vanguardista impressa no festival de música —, aproximação de almas e um sentimento de integração ecoam no verdadeiro portal histórico aberto por Summer of soul. Discussões sobre pessoas "não serem suficientemente negras"; a visão, no show, de uma celebrada trompetista negra, e redefinições de nomenclaturas de raças (a pioneira no uso do termo 'negro' na grande mídia Charlayne Hunter-Gault conta do enterro do termo "preto", para a ascensão do "negro") conferem atualidade aos debates do filme.

Num ambiente de violência (e da proliferação da heroína na comunidade negra) e de saques desmedidos, o aquietar de ânimos foi instituído pelas glorificadas presenças de artistas como Stevie Wonder, B.B. King, David Ruffin (sempre lembrado por My girl) e a potente The 5th Dimension (que, em cena, funde Acquarius a Let the sunshine in). Dama da resistência, Nina Simone resplandece, no filme, ao clamar (com Blacklash blues e To be young, gifted, and black) pela afirmação de identidade, por 50 anos renegada, aliás, diante do ineditismo das imagens de Summer of soul. O show dos pretos não tinha apelo rentável, aos olhos dos engravatados da tevê. Estendendo a revalorização para latinos, artistas do Mongo Santamaria e Lin-Manuel Miranda dão as caras. Mobilização, regozijo e energia louvável tomam a tela, diante de Summer of soul.


Entrevista / Joel Zito Araújo

Atualmente, você está no evento Oju — Roda Sesc de Cinemas Negros. É necessária uma virtual cisão, no diálogo com as plateias, com a expressão cinema negro?

Nós brasileiros estamos acostumados a ver as coisas ignorando a desigualdade racial Assistimos um filme brasileiro que só tem brancos, mas não classificamos como filme de branco, nem consideramos que filmes assim fazem historicamente uma cisão no diálogo, com 56% da nossa população que não se auto classifica como branca. Embora esta seja uma atitude reiterada por muitos realizadores e aconteça por mais de um século. Sim, existe cinema negro, muitos realizadores jovens gostam desta denominação. Eu penso um pouquinho diferente, eu acho que nós, realizadores afrodescendentes, preocupados em incorporar os segmentos negros e indígenas, que são maioria da população brasileira, é que acabamos por fazer um autêntico cinema brasileiro.

Houve avanços na solidificação do cinema feito por negros no país? Quais cinematografias te atraem?

Sim, na última década, junto à conquista das cotas nas universidades, e um aumento exponencial de universitários e profissionais negros, talvez até mesmo em decorrência desta nova realidade, surgiu um cinema feito por negros, e com muito protagonismo, especialmente das mulheres negras. E eu acho que desta quantidade grande de jovens cineastas negros e negras que estão surgindo, aparecerá muita qualidade. Cinema é assim, é do exercício e da quantidade, que surge a qualidade. No meu caso específico eu tenho um cinema que se alimenta de múltiplas influências, desde grandes nomes europeus do passado e do presente, como Fellini, Bergman e Almodóvar, do cinema asiático, como do cinema negro norte-americano e do cinema africano. Relativamente ao cinema africano, aprecio muito os trabalhos dos clássicos Ousmane Sembène e Djibril Diop Mambéty, como dos contemporâneos Abderrahmane Sissako, Mahamat Saleh Haroun e Andrew Dosunmu.

A discriminação racial ainda persiste no país? Qual a ferida mais doída em relação ao tema?

Eu tive muitas feridas que já me cansei de falar delas, não quero mais alimentá-las voltando a elas. Mas me preocupa que muitos ainda não percebam o quanto a discriminação racial é um fenômeno cotidiano no Brasil que não só destrói a autoestima das crianças e das pessoas negras, como extermina fisicamente muito delas.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2022/02/4980675-diretores-negros-ganham-visibilidade-com-producoes-identitarias.html


Marco Aurélio Nogueira: A esperança pode estar nas urnas

O ano novo veio à luz carregando um fardo de problemas para os brasileiros. Era de esperar.

A variante ômicron da covid fez a pandemia repicar, embalada pelo réveillon e por sua própria ferocidade. Acredita-se que o pior pode ter passado, mas o que restou ainda é ameaçador. O recrudescimento viral é preocupante. Tocar a vida com menos medo e mais segurança, seja em que área for, parece ter se tornado uma das principais aspirações de 2022.

O repique pandêmico escancara a incapacidade do governo brasileiro de responder aos efeitos do vírus. Por tática ou burrice, o governo olha a pandemia com desdém. Alguma coisa acontece, porém, graças à pressão de prefeitos e governadores, da opinião pública, de agências e instituições estatais. A intenção governamental não é cuidar, mas tumultuar. Sua atuação é pilotada por um Marcelo Queiroga desprovido de autonomia, postura cívica e perfil público. Prolonga-se o desastre.

Some-se a isso a desorientação governamental em política econômica. Inflação, desemprego e baixa atividade produtiva combinam-se com a falta de critérios fiscais e tributários, com os ataques estapafúrdios ao teto de gastos e a distribuição de benesses a amigos e aliados. O cenário é preocupante pelos efeitos de curto prazo e para o que virá à frente: quanto mais tempo se perder, mais difícil será a retomada a partir de 2023, efeito bola de neve fácil de prever.

No terreno político, o ano vem embrulhado para presente. Eleições sempre trazem esperança: redesenham o futuro, abrem a possibilidade de mudança. Bastaria que se elegesse um governo que combine ativismo técnico-administrativo com bom senso e esforço de construção democrática, que respeite a Constituição e ajude a reformar o indispensável. O País necessita ser tratado como um universo repleto de carências e potencialidades. Precisa ser pacificado, após quatro anos de destruição institucional, tensão e narrativas criminosas.

O que parece fácil de imaginar é difícil de ser construído. A política não saiu da letargia e da crise em que se encontra. Partidos mal aparelhados, candidatos sem foco claro, egoísmos e cálculos tópicos espalhados por todos os cantos, crenças ingênuas de que a mudança de governo pode advir de meros atos de vontade. Há preocupação em ganhar visibilidade, desinteresse em formular programas que tirem o País do buraco.

O futuro que merecemos passa por uma convergência democrática que garanta não a conquista do poder, mas a formação de um governo que governe e cuide do País. Projetos e ambições particulares (de pessoas ou partidos) precisariam ser arquivados temporariamente. A convergência seria uma barca na qual se acomodassem todos os democratas, dos partidos de esquerda à direita civilizada, dos liberais aos socialistas. O País só avançará, no pós-Bolsonaro, se houver uma suspensão das disputas fúteis por poder e protagonismo, uma superação dos privilégios corporativos, uma ênfase no combate à desigualdade.

2022 poderá representar o retorno de Lula. As pesquisas que inflam seu nome sugerem que sua candidatura é irremovível e se projeta como vitoriosa. Mas as águas não param de correr e a disputa, a rigor, ainda não começou. A depender das batalhas que terá de travar, dentro e fora do PT, Lula poderá desidratar um pouco. Afinal, Bolsonaro é um fracasso como presidente, mas não está morto. O centro democrático se movimenta com lentidão e sem direção clara, mas tende a encorpar. Um segundo turno poderá impulsionar uma convergência democrática que viabilize a construção de um governo com musculatura técnica, apetite reformador, foco estratégico e planejamento de longo prazo, assentado em um ministério plural composto por quadros competentes e “despartidarizados”. Lula poderia ser, nele, uma espécie de joia da coroa, assim como os demais líderes que se qualificarem durante a disputa presidencial.

É um equívoco achar que Lula é imbatível, ou que seu governo, caso venha a ser eleito, será autossuficiente e promoverá “rupturas” sem concessões e sem moderação. Necessitará de acordos e negociações, e será melhor para todos se essa necessidade for compartilhada com os democratas, não com os “fisiológicos”. O entorno de Lula tem ingredientes tóxicos, desejosos de um acerto de contas, refratários a pactos e composições consistentes. Como serão processados? Lula permanecerá se equilibrando entre “revanchistas” e “pacificadores”?

Não sabemos se haverá um centro ativo e um conjunto de lideranças propensas a convergir democraticamente em nome do futuro. Proclamamos sua necessidade, mas não temos como descortinar, agora, os rumos que a política tomará ao longo do ano.

O futuro jamais está pronto e acabado nas mãos de quem quer que seja. Como sugeriu meu mestre e amigo Edgard de Assis Carvalho, precisamos ler Ilya Prigogine: “A história se realiza por meio da mistura de um determinismo entrecortado por acontecimentos. Esses acontecimentos correspondem a reorganizações da vida social”. Acontecimentos demarcam uma diferença entre o que é previsível e o que não o é, estão associados ao incerto e evidenciam que na escala humana as estruturas sociais escapam do determinismo. “O acontecimento possui uma microestrutura. De certo modo, é o acontecimento que permite distinguir o passado do futuro. Podemos até ‘explicar’ os acontecimentos do passado. Pode-se quase considerá-los como produtos de um determinismo latente. O que não se pode é prever os acontecimentos do futuro”.

O futuro, em suma, não está dado. Os anos pandêmicos estão mostrando que organização, persistência, planejamento, ciência, comunicação e informação são ferramentas indispensáveis para indivíduos e governos. Ditaduras e governantes autoritários conseguem pouco, quase nada, a não ser a promoção do horror, do silêncio forçado, do medo.

Chegamos a um ponto decisivo, no qual não há como tergiversar ou agitar ideologias. Apenas com uma democracia revigorada será possível pensar em um Estado inteligente, regulador e não empresarial, que defina políticas estratégicas (a Saúde e a Educação antes de tudo) e trabalhe para inserir o Brasil no mundo como um player importante da convivência pacífica entre as nações, do combate à crise climática, de um novo modo de viver e conviver.

Empenhemo-nos por ela.


Publicado parcialmente em O Estado de S. Paulo, 22/01/2022, p. A4.

Fonte: Marco Aurélio Nogueira
https://marcoanogueira.pro/a-esperanca-pode-sair-das-urnas/


Mais de 9 mil espécies de árvores ainda são desconhecidas

Nádia Pontes / DW Brasil

Das mais de 73 mil espécies de árvores que habitam o planeta, mais de 9 mil ainda são desconhecidas. Esse novo número é consideravelmente maior do que o relatado até então, exatamente 14,2% superior ao que a ciência localizou e descreveu até agora.

As novas estimativas foram publicadas nesta segunda-feira (31/01) na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). "É um resultado que surpreendeu a equipe, já que, quando começamos esse trabalho, não sabíamos exatamente o total que encontraríamos", afirma à DW Peter Reich, da Universidade de Michigan, primeiro autor do estudo que reuniu 148 pesquisadores de diferentes continentes.

A maior parte desse universo a ser ainda explorado está na América do Sul. "São árvores que estão localizadas em hotspots de diversidade da Bacia Amazônica e na interface Andes-Amazônia, no sopé das cordilheiras", detalha Reich. Só nessa parte do mundo, podem existir cerca de 3.900 espécies a serem descobertas, de um total de 31.100 estimadas.

"Seria preciso muito trabalho para desvendar quais são. Teríamos que priorizar ir até esses lugares pra responder isso", comenta Reich sobre os desafios logísticos e financeiros para custear as expedições. Porém "mais importante do que saber e dar nome a essas espécies, é protegê-las".

Espécies raras e vulneráveis

Parte considerável dessa riqueza planetária a ser detalhada são árvores raras, particulares de uma determinada região (endêmicas), tropicais ou subtropicais. Essas características as tornam mais vulneráveis ao risco de extinção.

"A contribuição de espécies raras para os serviços ecossistêmicos pode ser relevante e é tema de pesquisa, mas é desafiador, pois a maioria permanece mal documentada. Portanto, estimar o número de espécies de árvores é essencial para informar, otimizar e priorizar os esforços de conservação florestal em todo o mundo", afirmam os cientistas.

É na América do Sul que está o maior número de espécies raras e endêmicas (49%), enquanto a Eurásia e a África respondem juntas por quase outros 32% das espécies únicas no mundo.

Segundo os autores, o estudo mostra que a conservação florestal deveria ter prioridade absoluta na América do Sul, especialmente quando se considera o ritmo de destruição das florestas por desmatamento, incêndios e mudanças climáticas.


Floresta temperada valdiviana
Floresta tropical da Bacia do Congo
Taiga
Floresta boreal do Canadá
Floresta de Primorie
Florestas tropicais de Bornéu
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Floresta Amazônica
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Floresta temperada valdiviana
Floresta tropical da Bacia do Congo
Taiga
Floresta boreal do Canadá
Floresta de Primorie
Florestas tropicais de Bornéu
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Floresta Amazônica
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Garimpo ilegal na Amazônia

O mesmo esforço deveria ser empregado também em vegetações de outros continentes, acrescentam os autores, segundo os quais "provavelmente há um alto número de espécies não descobertas na América Central e no Sudeste Asiático".

Em todos os países da Amazônia, mais de 860 mil hectares de floresta nativa foram perdidos em 2021, conforme apontou o relatório publicado em outubro último pelo Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP). A maior parte foi em território brasileiro (79%), seguido por Peru (7%) e Colômbia (6%).

No Brasil, especificamente, o sistema de monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou o desmatamento de 13,2 mil quilômetros quadrados entre agosto de 2020 e julho de 2021. A taxa é 22% superior à apurada no período anterior.

Bancos de dados internacionais

Para chegar a essa nova estimativa, os pesquisadores se apoiaram em dois grandes bancos de dados, o Global Forest Biodiversity Initiative e o TreeChange. O primeiro conta com uma plataforma que reúne informações coletadas em mais de 70 países, cobrindo 1,2 milhão de parcelas permanentes de florestas. Já o segundo, reúne dados sobre 65 mil espécies documentadas.

Dentre os colaboradores em todo mundo, estão pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Sudoeste do Bahia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Regional de Blumenau e Universidade de São Paulo.

"Nós compartilhamos dados e ideias de como usar e interpretar as informações disponíveis. Foi um trabalho todo feito durante a pandemia, pode ser um exemplo de como pesquisadores de todo o mundo podem colaborar num grande estudo", diz Reich sobre a parceria.

Futuro em xeque

Segundo o estudo, conhecer a extensão da diversidade das árvores é fundamental para o futuro da humanidade. "Pode nos ajudar a inferir os mecanismos evolucionários que geraram a diversidade, para que possamos prever como esses mesmos mecanismos podem funcionar no futuro", argumentam os autores. "Pode também auxiliar na avaliação de quais sistemas podem ser mais resilientes às mudanças globais."

Como muitas dessas espécies ainda não identificadas são raras e, portanto, mais vulneráveis, compreender mais a fundo os números seria crucial para traçar estratégias de preservação de toda essa biodiversidade.

"A natureza é incrível, e a ciência está tentando aprender, responder perguntas para entender quais são as espécies que convivem conosco. Há muitas que são mais ameaçadas do que pensávamos. Esse é um alerta que lançamos também", destaca o ecólogo Reich a que considera a principal mensagem do estudo.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/mais-de-9-mil-esp%C3%A9cies-de-%C3%A1rvores-ainda-s%C3%A3o-desconhecidas/a-60618506


União Brasil enfrenta disputa de poder para formação de alianças

Lauriberto Pompeu / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Quatro meses após ser anunciado como resultado da fusão entre DEM e PSL, o União Brasil enfrenta uma disputa de poder para definir quem dará a última palavra em acordos regionais e nas alianças para a eleição presidencial. Enquanto setores do PSL querem que o novo partido apoie a pré-candidatura do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), dirigentes do DEM, como ACM Neto, preferem investir na construção de palanques estaduais. Além disso, uma ala do DEM tem resistências a Moro por causa de sua atuação como juiz na Operação Lava Jato.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) admitiu uma série de desencontros entre o DEM e o PSL. "O DEM tem uma cultura de decisão, de encaminhamento, de ser bem orgânico, de discutir muito ‘interna corporis’. O PSL tem uma história de decisão mais monocrática", disse Mandetta ao Estadão.

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Apontado no ano passado como provável presidenciável do DEM, Mandetta é agora lembrado como candidato a vice, embora não se saiba para qual chapa. Em novembro, o anúncio de sua desistência como postulante à cadeira do presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro sinal de que a sintonia entre o DEM e o PSL não estava tão boa assim.

Foi o deputado Luciano Bivar (PE), presidente nacional do PSL, quem declarou que o ex-ministro não seria candidato ao Palácio do Planalto. Horas depois, Mandetta afirmou que havia ocorrido uma “falha de comunicação” e disse continuar “à disposição” para a disputa presidencial.

Na avaliação do ex-ministro da Saúde, a expectativa é que as diferenças sejam ajustadas após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) homologar a criação do União Brasil, ainda no início deste mês. "Precisa homologar para sentar, começar um processo de discussão. Ainda não tem esse espírito de partido, de corpo", argumentou ele.

Para Mandetta, o União Brasil deve representar uma alternativa eleitoral a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Eu defendo a unificação de candidaturas. Acho que Doria (João Doria),  Moro e até o Ciro (Ciro Gomes) têm de fazer um esforço para ver se conseguem não fragmentar", insistiu o ex-titular da Saúde. “O problema, agora, é fazer um esforço muito grande para construir chapas competitivas nos Estados.”  

EMBATES

A definição do comando de diretórios estaduais ainda provoca embates entre integrantes do DEM e do PSL. No Rio, por exemplo, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) já avisou que se desfiliará do partido se o prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho – hoje presidente do PSL fluminense – continuar no cargo. “Não sou liderado por quem tem uma ficha extensa no Judiciário”, disse ele ao Estadão, numa referência a processos enfrentados pelo prefeito.

No Distrito Federal, onde a direção da nova legenda foi prometida a Manoel Arruda – atual presidente do PSL local e aliado do ministro da Justiça, Anderson Torres –, os ex-bolsonaristas Alberto Fraga e Luís Miranda, ambos do DEM, também lutam pelo controle do partido. 

No Ceará, o União Brasil se divide entre duas possibilidades de coligação. A ala representada pelo DEM, do senador Chiquinho Feitosa, está aliada ao PT e ao PDT. Já o segmento sob comando do PSL tenta filiar o deputado Capitão Wagner (Pros) para disputar o governo e dar palanque a Bolsonaro.


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O aval do novo partido também é cobiçado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Em dezembro do ano passado, o União Brasil antecipou sua posição e declarou apoio ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de Doria, presidenciável tucano. Hoje, as secretarias de Transportes e de Governo estão nas mãos de indicados do DEM.

A decisão em São Paulo pode parecer um empecilho para o União Brasil e Moro ocuparem o mesmo palanque no Estado, uma vez que o ex-ministro já manifestou simpatia pela candidatura do deputado Arthur Do Val (Podemos), conhecido como ‘‘Mamãe Falei”, ao Palácio dos Bandeirantes. Mas, para o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), que atua como coordenador informal da campanha de Moro em São Paulo, esses desencontros são normais.

"Todos os partidos vão dividir palanque nos Estados. Dentro do próprio União Brasil, na Bahia, o ACM Neto terá palanque para Ciro. Vai abrir”, disse Bozzella. Candidato ao governo baiano, ACM Neto conta com o respaldo do PDT de Ciro Gomes, partido que tem a vice-prefeita de Salvador. Mesmo com a remota possibilidade de aliança nacional entre o PDT e o União Brasil, os dois partidos também deverão seguir juntos em Goiás, na campanha à reeleição de Ronaldo Caiado (DEM), no Mato Grosso e em Pernambuco.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou que a sigla também espera ganhar a adesão do União Brasil para a pré-candidatura do senador Weverton Rocha ao governo do Maranhão. "Há muitos Estados nos quais a gente tem cruzamento de apoios", constatou Lupi.

No PSL, Bozzella é um dos maiores entusiastas da pré-candidatura de Moro e quer que ele migre para o União Brasil. O ex-juiz se filiou ao Podemos em novembro, mas o deputado argumenta que o partido é pequeno e não tem a estrutura de campanha que a fusão DEM-PSL poderia oferecer a ele.

Uma parte do DEM, no entanto, tem resistência a Moro por causa de sua atuação na Lava Jato. Na Câmara, a maioria dos representantes da sigla votou favoravelmente a projetos que limitam a investigação e a punição de políticos. Um deles foi o que afrouxou a lei de improbidade administrativa. O texto contou com o apoio de 25 dos 29 deputados do DEM .

Luciano Bivar tem conversado com os colegas Bruno Araújo – que dirige o PSDB e coordena a campanha de Doria – e Renata Abreu, que comanda o Podemos. Bivar é o futuro presidente do União Brasil e já disse em mais de uma ocasião que Doria e Moro são os dois pré-candidatos com mais chances de receber o apoio do novo partido. Aliados de Bivar trabalham agora para que ele seja vice de um desses presidenciáveis.

MIGRAÇÃO

Bolsonaro, por sua vez, também procura ter o União Brasil em sua coligação. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho '01' do presidente, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, agem para atrair os integrantes do novo partido. Além disso, Antonio Rueda – um dos vice-presidentes do PSL – representa hoje o principal canal de interlocução com o Palácio do Planalto.

Tudo indica que, a partir de abril – logo após o período em que deputados podem mudar de partido sem perder o mandato –, a presença governista no  União Brasil deve encolher. Nessa época, muitos deputados da ala bolsonarista do PSL planejam migrar para o PL, partido ao qual o presidente se filiou.

Mesmo assim, a parte do DEM e do PSL que é ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas), e recebe verbas do orçamento secreto resiste a abandonar Bolsonaro. Nomes como o do senador e ex-relator do Orçamento Márcio Bittar, que trocou o MDB pelo PSL no fim do ano passado, garantem que continuarão ao lado do presidente. "Bolsonaro é o meu candidato. Nada mudou", assegurou Bittar.

Na outra ponta, o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), que já foi próximo de Bolsonaro e hoje integra a ala dos seus desafetos, disse ver dificuldades no apoio a Moro por parte do União Brasil: "A maioria dos parlamentares do DEM não tem esse bom relacionamento com o Moro”.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,uniao-brasil-enfrenta-disputa-de-poder-para-formacao-de-aliancas-e-comando-de-diretorios,70003966389


Eleições: saiba o que impede o voto e como quitar as pendências eleitorais

Estado de Minas

Cidadãos com pendências junto à Justiça Eleitoral têm até o dia 4 de maio para regularizá-las. Se as inconsistências forem mantidas, não será possível exercer o direito ao voto no pleito deste ano, previsto para outubro. Pessoas sem o título de eleitor também devem providenciar o documento até o quarto dia de maio.

Por causa da pandemia de covid-19, o recadastramento biométrico foi suspenso sem data para retorno. Apesar disso, 259 cidades mineiras concluíram o processo antes da epidemia de coronavírus. Moradores desses locais que não compareceram a um posto da Justiça Eleitoral para a inclusão da impressão digital não conseguirão votar.

Pessoas que se ausentaram em três turnos eleitorais consecutivos sem apresentar justificativa também precisam procurar a Justiça para serem considerados aptos ao voto. É possível agendar horário no site do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) ou buscar ajuda presencial em um cartório eleitoral.

Cidadãos com sentenças penais com trânsito em julgado - sem a possibilidade de recurso, portanto - têm os direitos políticos suspensos. Por isso, não poderão votar. A regra não vale para presos provisórios e adolescentes internados em casas de recuperação. Caso desejem ir às urnas, integrantes os dois grupos também podem quitar pendências com a Justiça Eleitoral até 4 de maio.

O voto é obrigatório para os brasileiros maiores de 18 anos. Adolescentes de 16 e 17 anos, bem como analfabetos e maiores de 70 anos, têm a opção de não participar da "festa da democracia".

Em dois de outubro, data do primeiro turno, o eleitor deverá ir à seção eleitoral com um documento oficial com foto (carteira de identidade, passaporte, carteira de categoria profissional reconhecida por lei, certificado de reservista, carteira de trabalho ou carteira nacional de habilitação).

O título de eleitor não é obrigatório, mas a orientação da Justiça Eleitoral é levar o documento físico - ou na versão digital, via aplicativo e-Título - para facilitar a identificação do local correto de voto.

O segundo turno, caso necessário, está agendado para o dia 30 de outubro.


TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
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TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
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TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
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TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
TSE apresenta novas urnas eletrônicas. Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE
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O que estará em jogo?

Neste ano, os brasileiros escolherão presidente, governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, deputados estaduais, deputados federais e um senador por unidade da federação. À exceção dos senadores, escolhidos para um mandato de oito anos, os outros cargos têm validade de quatro anos.

Na disputa presidencial, estão Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que até o momento polarizam as intenções de voto. Correm por fora nomes como Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e André Janones (Avante).

Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) pode enfrentar o senador Carlos Viana, pré-candidato do MDB. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ainda não confirmou participação na disputa, mas é dito como potencial postulante ao governo.

Para a vaga de senador, desponta Alexandre Silveira (PSD), que pode enfrentar Reginaldo Lopes (PT). Há, também, nomes como Julvan Lacerda (Avante). O PDT de Ciro pensa em ter nome próprio na disputa.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/01/4981692-eleicoes-saiba-o-que-impede-o-voto-e-como-quitar-as-pendencias-eleitorais.html


FAB compra novos mísseis e quer mais 30 caças Gripen

Igor Gielow / Folha de S. Paulo

A FAB (Força Aérea Brasileira) quer comprar mais 30 caças Gripen, quase dobrando assim a frota de 36 que aos poucos chegam ao país. Enquanto isso, começou a montar o mais moderno e caro arsenal de mísseis que o Brasil já teve para equipar o avião.

"O planejamento baseado em capacidade nos leva hoje, pelas nossas hipóteses de emprego, a 66 aviões", disse à Folha o comandante da Força, Carlos de Almeida Baptista Junior.

O redesenho reduz as especulações de uma frota ideal de mais de 120 aeronaves, feitas desde que o Brasil começou a discutir a aquisição de um novo caça, em 2001.

"Como chegar nisso [os 66], temos discutidos, estamos em fase inicial. Tem uma intenção", diz o brigadeiro, ciente das dificuldades orçamentárias inerentes à área militar —o contrato para a compra de cargueiros KC-390 da Embraer, por exemplo, está sendo renegociado e deverá contemplar talvez metade da encomenda original de 28 aviões.

O Gripen, fabricado pela sueca Saab em um programa que visa capacitar a produção nacional na Embraer, foi comprado pelo equivalente hoje a R$ 22,6 bilhões em 2014.

Não é uma aquisição de produto pronto, e sim um programa de transferência tecnológica, tanto que o modelo de dois lugares está sendo desenhado em conjunto por brasileiros e suecos.

Um avião está no Brasil desde 2020 para a campanha de testes, e quatro chegarão neste semestre para iniciar a chamada certificação militar. Ela será feita na Suécia e ratificada no Brasil, e a FAB quer contar ao todo com seis aviões até o fim do ano.

Baptista Junior crê que o processo vá durar cerca de seis meses. Ele descartou os boatos no mercado de que a FAB teria interesse em outro vetor para sua aviação de combate, o americano com tecnologia furtiva F-35. "Isso é delírio", disse.

Tal ideia veio da recente derrota do Gripen em uma concorrência na Finlândia, para o F-35, que por ter começado a ultrapassar os problemas de alto custo que o atormentavam, passou a ser visto como uma alternativa no mercado.

O caça sueco enfrenta diversas disputas, como na Áustria, no Canadá e, de forma mais importante para um avião que poderá ser montado no Brasil, na Colômbia. Baptista Junior relativiza a preocupação com o fato de que este modelo do Gripen, a geração E/F, só foi comprado pela FAB (36 aviões) e pela Suécia (60).

Gripen, novo caça da Força Aérea Brasileira


O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
O novo caça F-39E Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: FAB
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"É um avião muito off the shelf [inglês para 'direto da prateleira', no jargão que indica que seus componentes podem ser adquiridos em vários lugares]. Nós sofremos com o [avião de ataque ítalo-brasileiro] AMX, pois muitas coisas feitas para ele só existiam aqui e na Itália", afirma.

"Eu acredito que vai ser um avião vitorioso, é até injusto chamá-lo de quarta geração, a arquitetura de software dele é algo incrível", disse o militar, que concorda que "vamos ter de pagar para mantê-lo, fazer controle de obsolescência".

Este é um risco inerente à opção "fazer" quando a FAB se viu entre "comprar ou fazer" ao escolher seu caça multimissão, que visa substituir os atuais F-5 e AMX. A vantagem é a capacitação industrial.

"A ideia era que a Embraer pudesse fazer um avião de quinta geração. Hoje, não sei se fazendo isoladamente, difícil com esse custo, mas com parcerias", diz.

Caminho diverso foi tomado para armar o Gripen. Ao longo de anos, a FAB fomentou projetos de construção de mísseis junto à fabricantes locais, mas agora a opção foi pelo "comprar".

A nova geração de armamentos da FAB foi negociada dentro da ação orçamentária do Gripen, com alguns itens a serem custeados pelo Tesouro.

Em 24 de novembro, a Força recebeu seu primeiro lote para uso operacional do míssil Meteor, do consórcio europeu MBDA, após ter um para testes com o Gripen que está no Brasil.

Trata-se de um míssil BVR (além do alcance visual, na sigla inglesa). Ou seja, o piloto o dispara a uma distância que pode variar de 100 km a 200 km de seu alvo, podendo ou não atualizar sua rota via conexão digital no caminho deixando pouquíssimo tempo de reação para o adversário.

O Meteor é considerado o mais avançado modelo do tipo no mercado. Ele combina uma fase de propulsão com combustível sólido que é substituída por um motor do tipo ramjet, que se alimenta do ar à frente para gerar velocidades até quatro vezes acima das do som (4.900 km/h).

Mas, segundo a tabela anual de transferências de armas do referencial Sipri (Instituto Internacional de Pequisas da Paz de Estocolmo), o negócio foi de € 200 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão hoje) para um total de cem unidades. Isso está em linha com o preço citado no mercado para o Meteor, € 2 milhões a peça (R$ 12 milhões).

Fazendo par ao Meteor, foi anunciado também um segundo lote, também para uso operacional, do míssil ar-ar de curto alcance Iris-T, um projeto teuto-italiano. Neste caso, não há referência no Sipri e a FAB também não comenta, mas o produto segundo sites especializados custa € 380 mil (R$ 2,2 milhões hoje) a unidade.

O Iris-T irá substituir um míssil nacional, o MAA-1 Piranha, desenvolvido nos anos 1970 pela FAB e que só foi fabricado 25 anos depois. Ele é da antiga geração de mísseis para combate visual com guiagem infravermelho —em distâncias de no máximo 25 km, ele é disparado e persegue a assinatura de calor do motor do adversário.

A dupla supre uma lacuna brasileira, e é a mais moderna da América do Sul. Chile e Venezuela têm capacidade BVR, mas com modelos mais antigos de mesma geração (o americano AIM-120 e o russo R-77, respectivamente).

Tanto o Iris-T quanto o Meteor tinham versões nacionais em desenvolvimento há anos em parceria com a Denel, empresa da África do Sul. Aqui, a realidade de mercado se interpôs.

A fabricante brasileira, Mectron, havia surgido no "cluster" aeronáutico de São José dos Campos (SP) em 1991. Em 2007, foi turbinada com verbas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e, quatro anos depois, comprada pela Odebrecht Defesa, o braço militar da empreiteira.

As dificuldades da empresa após ter seu papel nas falcatruas do petrolão dissecadas pela Operação Lava Jato desmontou a divisão bélica, que colocou ativos à venda. Parte do que era a Mectron sobrevive numa empresa chamada SIAAT.

Os projetos abertos, o A-Darter (equivalente ao Iris-T) e o R-Darter (um BVR menos capaz do que o Meteor), não. Além das questões domésticas, a dona dos desenhos, a estatal sul-africana Denel, basicamente quebrou nos últimos anos. Quase declarou falência e se viu envolvida em um grave escândalo de corrupção, deixando na prática de desenvolver produtos.

"Não tem escala [para os projetos]. Não haverá compra de oportunidade sob este comando, sofremos muito com isso no passado. Eu preciso de um míssil. O Meteor já está no paiol, o Iris-T está chegando", afirma o brigadeiro.

Confira o vídeo em: https://tv.uol/19Jfe

"Durante 30 anos fizemos investimentos na missilística nacional. Fizemos todas as tentativas. Por que a Avibrás [famosa por seus lançador Astros] é uma vencedora? Porque ela tem um mercado de exportação que compensa a baixa compra governamental. Ou você tem uma tecnologia dual, civil ou militar, ou tem exportação", afirmou.

Haverá protestos na indústria nacional? "A vida como ela é", responde, ressaltando que isso não significa abdicar de pesquisa. "Veja o caso do míssil hipersônico. Nós dividimos o projeto em subsistemas e testamos com sucesso a ignição em voo, que é crítica", afirmou, sobre o programa 14-X.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/02/forca-aerea-brasileira-compra-novos-misseis-e-quer-mais-30-cacas-gripen.shtml


Proibição de livros sobre raça e gênero nos EUA faz pressão sobre escolas e bibliotecas

Alexandra Alter e Elizabeth A. Harris / THE NEW YORK TIMES

No estado americano de Wyoming, um procurador distrital de Justiça avaliou a possibilidade de apresentar acusações contra empregados de uma biblioteca por ela oferecer livros como "Sex Is a Funny Word", ou sexo é uma palavra engraçada, e "This Book Is Gay", algo como este livro é gay.

No estado de Oklahoma, um projeto de lei foi apresentado no Senado estadual que proibiria as bibliotecas de escolas públicas de manter em exibição livros cujo assunto seja atividade sexual, identidade sexual ou identidade de gênero.

No Tennessee, o conselho de educação do condado de McMinn votou pela remoção da graphic novel "Maus", ganhadora do Pulitzer, do currículo de estudos sobre o Holocausto dos alunos locais da oitava série, porque ela traz imagens de nudez e palavrões.

Pais, ativistas, funcionários de conselhos escolares e legisladores em muitas regiões dos Estados Unidos recentemente vêm contestando livros com uma intensidade que não era vista há décadas. A Associação Americana de Bibliotecas informou num relatório preliminar, no final do ano passado, que havia recebido um número "sem precedentes" de 330 notificações sobre contestações a livros e que cada uma dessas notificações pode abranger diversos títulos.

"É um fenômeno muito surpreendente aqui nos Estados Unidos, ver a proibição a livros de volta à moda, e os esforços para promover acusações criminais contra bibliotecários escolares", disse Suzanne Nossel, presidente-executiva da PEN America, uma organização que defende a liberdade de expressão, ainda que os esforços para instituir acusações criminais tenham fracassado, até o momento.

Contestações como essas são há muito um assunto comum na pauta das reuniões de conselhos escolares americanos, mas não foi só a sua frequência que mudou, de acordo com educadores, bibliotecários e defensores da liberdade de expressão. Também mudaram as táticas em uso para promover essas discussões e os foros em que elas são debatidas. Organizações conservadoras, alimentadas pelas redes sociais, agora pressionam por essas contestações nos legislativos estaduais, nas agências policiais e de justiça, e nas disputas políticas.

"A politização do tópico é o que existe de diferente com relação àquilo que eu via no passado", disse Britten Follett, presidente-executivo de conteúdo na Follett School Solutions, uma das maiores fornecedoras de livros para escolas dos Estados Unidos. "Agora, o assunto vem sendo promovido via legislação e por políticos que se alinham com um ou o outro lado do debate. E, no final, o bibliotecário, professor ou educador se vê apanhado no meio da disputa."

Entre os alvos mais frequentes há livros sobre raça, gênero e sexualidade, como "All Boys Aren’t Blue", ou todos os garotos não são azuis, de George Johnson, "Lawn Boy", ou menino de grama, de Jonathan Evison, "Gender Queer", ou gênero queer, de Maia Kobabe, e "O Olho Mais Azul", de Toni Morrison.

A organização ativista No Left Turn in Education, ou educação sem virada à esquerda, mantém listas de livros que ela diz serem usados para "difundir ideologias radicais e racistas entre os estudantes", entre os quais "A People’s History of the United States", ou uma história das pessoas dos Estados Unidos, de Howard Zinn, e "O Conto da Aia", de Margaret Atwood. Aqueles que exigem a remoção de determinados livros insistem em que essa é uma questão de direito de escolha dos pais e que todos os pais devem ter a liberdade de orientar a criação de seus filhos.

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Jack Petocz com cartazes de protesto que ele usou em uma reunião escolar no estado da Flórida - Todd Anderson/The New York Times

Outros afirmam que proibir totalmente esses livros viola os direitos de outros pais e os direitos das crianças que acreditam que o acesso a esses livros é importante. Muitas bibliotecas escolares já têm mecanismos em vigor para impedir que estudantes retirem livros que seus pais desaprovem.

A escritora Laurie Halse Anderson, cujos romances para jovens são alvo de frequente contestação, disse que remover títulos que tratam de assuntos difíceis pode tornar mais complicado para os estudantes discutir questões como o racismo e a agressão sexual.

"Ao atacar esses livros, ao atacar os autores, ao atacar os temas, o que eles fazem é remover a possibilidade de diálogo", ela disse. "E assim fica estabelecida a base para cada vez mais bullying, desrespeito, violência e ataques."

Tiffany Justice, ex-integrante do conselho de educação do condado de Indian River, no estado da Flórida, e fundadora da organização Moms for Liberty, disse que os pais não devem ser criticados por perguntar se um livro é apropriado. Alguns dos livros que estão sendo contestados envolvem atividades sexuais, entre as quais sexo oral e sexo anal, ela disse, e as crianças não estão preparadas para esse tipo de material.

"Existem estágios diferentes de desenvolvimento da sexualidade em nossas vidas, e, quando isso é perturbado, os efeitos de longo prazo podem ser horríveis", afirmou Justice.

As contestações a livros não vêm apenas da direita. "Ratos e Homens" e "O Sol É para Todos", por exemplo, foram contestados ao longo dos anos com relação à forma pela qual tratam a questão da raça, e os dois estavam entre os dez livros mais contestados da Associação Americana de Bibliotecas em 2020.

No distrito escolar de Mukilteo, no estado de Washington, o conselho escolar votou nesta semana por retirar "O Sol É para Todos" —escolhido recentemente como o melhor livro dos últimos 125 anos em uma pesquisa entre leitores conduzida pela The New York Times Book Review— do currículo da nona série, a pedido de membros de sua equipe. As objeções deles incluíam argumentos de que o romance marginalizava os personagens não brancos, celebrava o "salvador branco" e usava epítetos raciais dezenas de vezes sem discutir sua natureza derrogatória.

Líderes políticos da direita aproveitaram as controvérsias sobre livros. Glenn Youngkin, o republicano eleito recentemente para o governo da Virgínia, atraiu apoio ao fazer das proibições de livros uma questão de controle familiar e destacou a questão em um anúncio de campanha no qual uma mãe desejava que o romance "Amada", de Toni Morrison, fosse retirado do currículo de seu filho no segundo grau.

No Texas, o governador Greg Abbott exigiu que a agência estadual de educação "investigue qualquer atividade criminosa em nossas escolas públicas envolvendo a disponibilidade de pornografia", iniciativa que os bibliotecários do estado temem possa fazer deles alvos de queixas criminais. O governador da Carolina do Sul solicitou que o superintendente estadual de educação do estado e a divisão de investigação de seu departamento investiguem a presença de materiais "obscenos e pornográficos" nas escolas públicas do estado, e mencionou "Gender Queer" como exemplo.

O prefeito de Ridgeland, Mississipi, recentemente suspendeu as verbas do sistema de bibliotecas do condado de Madison, afirmando que não liberaria o dinheiro até que os livros com temas LGBTQIA+ fossem removidos, de acordo com o diretor executivo do sistema de bibliotecas.

George Johnson, autor de "All Boys Aren’t Blue", um livro de memórias sobre a experiência de crescer como negro e queer, ficou atônito em novembro ao descobrir que um integrante de um conselho escolar no condado de Flagler, na Flórida, havia apresentado uma queixa ao xerife do condado contra o livro. Escrito para leitores de 14 anos de idade ou mais, o texto inclui cenas que retratam sexo oral e anal e agressão sexual.

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George Johnson, autor do livro de memórias 'All Boys Aren't Blue', em Los Angeles - Bethany Mollenkof/The New York Times

"Eu não sabia que isso era possível, apresentar uma queixa criminal contra um livro", disse Johnson em entrevista. A queixa foi rejeitada pelo departamento do xerife, mas o livro foi removido das bibliotecas escolares, depois de uma revisão por um comitê.

Em uma reunião de conselho escolar na qual o livro foi debatido, um grupo de estudantes protestou contra a proibição e distribuiu cópias gratuitas do texto, enquanto manifestantes defendendo o ponto de vista oposto atacavam o trabalho como pornográfico, ocasionalmente gritando palavrões e epítetos hostis aos gays, de acordo com um dos estudantes que organizou o protesto, e postou imagens em vídeos do evento.

Johnson apareceu em vídeo durante o evento e argumentou que suas memórias continham lições valiosas sobre consentimento e que destacavam questões difíceis que os adolescentes provavelmente encontrariam em suas vidas.

Um comitê do distrito revisou o livro e determinou que ele era "apropriado para uso" nas bibliotecas de escolas de segundo grau, mas essa decisão foi revertida pelo superintendente da educação no condado, que disse ao conselho escolar que "All Boys Aren’t Blue" deveria ficar de fora das bibliotecas, enquanto novas regras eram preparadas para dar aos pais controle maior sobre os livros a que seus filhos podem ter acesso. Diversos outros títulos destinados ao público jovem que haviam sido contestados e removidos terminaram restaurados.

Até agora, os esforços para mover acusações criminais contra bibliotecários e educadores não deram resultado, em sua maioria porque as autoridades judiciais de Flórida, Wyoming e outros estados não encontraram base para investigações criminais. E os tribunais em geral adotaram a posição de que bibliotecas não devem retirar livros de circulação.

Ameaça

Mesmo assim, os bibliotecários dizem que basta a ameaça de terem de se defender contra acusações para que muitos educadores optem pela autocensura e decidam não manter no acervo os livros contestados. O espetáculo público de uma acusação pode ser suficiente para que um livro seja removido.

"Isso com certeza terá um efeito negativo", disse Deborah Caldwell-Stone, diretora do departamento de liberdade intelectual da Associação Americana de Bibliotecas. "Você vive em uma comunidade há 28 anos e de repente pode se ver acusado do crime de difundir obscenidades. E a sua esperança era a de ser parte daquela comunidade para sempre."

Ela disse que policiar agressivamente os livros adquiridos em busca de conteúdo inapropriado e proibir títulos pode limitar a exposição dos estudantes à grande literatura e a algumas das obras mais importantes do cânone literário.

"Se você se concentra em cinco trechos de um livro, pode encontrar obscenidade", disse Caldwell-Stone. "Mas se alargar sua visão e considerar o livro como um todo, terá em suas mãos ‘Amada’, de Toni Morrison."

Tradução de Paulo Migliacci

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/02/proibicao-de-livros-sobre-raca-e-genero-nos-eua-faz-pressao-sobre-escolas-e-bibliotecas.shtml


André Gustavo Stumpf: Federações partidárias

André Gustavo Stumpf / Correio Braziliense

As federações partidárias, novidade nas eleições de 2022, constituem avanço na legislação eleitoral brasileira e passo à frente no caminho para reduzir o número de partidos no cenário político nacional. Mas sua prática é difícil e trabalhosa, porque os partidos que optarem por esse caminho precisam conciliar objetivos em todos os 26 estados e o Distrito Federal, em todas as eleições, pelos próximos quatro anos. No nível nacional, às vezes, é fácil somar interesses e objetivos, mas, em cada uma das unidades da Federação, há conflitos, controvérsias e candidatos opostos dentro da mesma sigla.

Costurar tudo isso não é fácil. Dois ou mais partidos políticos poderão se unir em uma federação, que deverá atuar como se fosse uma única sigla por quatro anos. A novidade interessa às legendas menores, ameaçadas pela cláusula de barreira, que limita acesso ao fundo partidário e ao tempo de tevê aos partidos que não atingirem um mínimo de votos nas eleições. Os pequenos não têm escolha: se não aderirem aos grandes, correm o risco de desaparecer. Mas, dentro da federação, também vão se diluir diante da pressão dos poderosos. Enfim, os pequenos correm sério risco, dentro ou fora da federação.

Partidos de tamanho médio, como é o caso do PSB, encontram dificuldades para se unir ao Partido dos Trabalhadores. Um e outro têm candidaturas fortes em estados importantes e encontram dificuldades para desistir em nome da federação. Caso se tornem adversários nas eleições em Pernambuco ou em São Paulo, a ideia da esquerda unida desaparece. O outro comunista, que foi o Partidão, hoje Cidadania, tende a caminhar na direção do PSDB, mas também enfrenta obstáculos. O sócio menor do condomínio de centro-esquerda poderá ser absorvido pelo majoritário.

Federação é diferente da fusão de partidos. Na fusão as legendas passam a ter apenas um registro no Tribunal Superior Eleitoral. O melhor exemplo é o da fusão do DEM com o PSL, que deve resultar no União Brasil. Nas federações, os partidos mantêm seus registros no Tribunal Superior Eleitoral e sua autonomia. Além disso, continuam com seus nomes, siglas e números próprios. A dificuldade de encontrar o caminho comum levou dirigentes de partidos a solicitar à Justiça Eleitoral a ampliação do prazo para formalizar esse contrato de casamento por tempo determinado e com preço elevadíssimo para eventual divórcio.

Conciliar interesses locais e nacionais é o principal problema para as negociações em curso. Estão em banho-maria as conversas de PT e PSB, a mais avançada delas; entre PSDB e Cidadania; assim como os diálogos de PDT, Avante e Rede; e PCdoB, PV e PSol. Além da questão dos candidatos que deverão compor as chapas nos estados e na eleição nacional, os partidos devem permanecer filiados à federação por no mínimo quatro anos. Caso decidam sair antes, serão proibidos de ingressar em nova federação e de utilizar o fundo partidário até completar o prazo remanescente. Ou seja, deixar a federação, depois de assumir todas as responsabilidades, é manobra de elevadíssimo risco.

As federações precisam ser aprovadas pela maioria absoluta das direções de cada um dos partidos. Ao solicitar o registro no TSE, eles deverão ter um programa comum. Durante a legislatura na Câmara e no Senado, as federações funcionarão como um partido, essa composição será levada em consideração na distribuição de vagas nas comissões, obedecida a proporcionalidade. Mas é preciso definir antes quem comanda a nova entidade, o que provoca discussões e debates pesados em todo o país. Quem tiver a maioria na executiva nacional, terá o controle da federação. O cronograma em vigor informa que os partidos deverão oficializar as federações até seis meses antes das eleições que, neste ano, estão marcadas para 2 de outubro.

Se não ocorrer nenhum retrocesso, a ideia das federações de partidos tem o mérito de tornar o sistema eleitoral brasileiro mais saudável e representativo. Tende a retomar a tradicional divisão brasileira, desde os tempos de Getúlio Vargas: PTB, PSD e UDN. Esquerda, centro e direita. Os militares tentaram o bipartidarismo. Não funcionou. Os partidos tentaram escapar da divisão em dois blocos criando sublegendas. Também não funcionou. Abrir as portas para receber novos partidos transformou o cenário político nacional numa geleia geral. A ideia de formar federações, derivada do exemplo alemão, aponta no sentido de recolocar o antigo e tradicional cenário eleitoral com três eixos distintos. Difícil é colocar ideologias e interesses dentro dessa moldura.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4981668-artigo-federacoes-partidarias.html