Luiz Carlos Azedo: Federações e fusões são uma corrida do ouro nas eleições

Luiz Carlos Azedo/ Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

Comecemos pelos conceitos. Segundo Max Weber, partidos políticos são associações que visam determinado fim, seja a realização de um plano objetivo com intuitos materiais ou ideais, seja um projeto pessoal, “destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes”, ou então tudo isso junto. Os “partidos de notáveis” surgem na Europa e nos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, inicialmente na Inglaterra, que tem o parlamento mais antigo, com o Reform Act de 1832; e os “partidos de organização de massa”, do final do século XIX, com os partidos socialistas da Alemanha (1875), Itália (1892), Inglaterra (1900) e França (1905). Após a Segunda Guerra Mundial, com a ampliação da democracia representativa e os novos meios de comunicação de massa, ambos os modelos passam a ter características de partidos eleitorais de massa, mais preocupados em ampliar sua influência do que representar as ideias e/ou os setores dos quais se originaram.

Com o surgimento da internet e a formação de redes sociais, na chamada sociedade pós-moderna, tudo isso foi posto em xeque, provocando uma reação das instituições da democracia representativa e dos próprios partidos. A eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, de certa forma, foi um marco dessa capacidade de assimilação dos partidos. Outro, no sentido contrário, a fragmentação partidária na Europa. Entretanto, não existe democracia representativa sem partidos políticos. Mesmo os movimentos antissistema que surgiram com a crise da democracia representativa acabam convergindo para o sistema partidário, em razão das disputas eleitorais.

Aqui no Brasil, no Império, os partidos foram grandes protagonistas da construção do Estado moderno e da integridade territorial; entretanto, são responsáveis também pela forte herança escravocrata e a formação de oligarquias na República Velha. Mesmo depois da Revolução de 1930, muita coisa mudou na política para continuar como antes. A partir da Constituição de 1988, as oligarquias encontraram um novo caminho de sobrevivência na proliferação de partidos, decorrente da existência do fundo partidário com recursos públicos. Entretanto, o modelo de financiamento das campanhas eleitorais continuava sendo o secular “caixa dois”, com origem no superfaturamento de obras e serviços, no desvio de recursos públicos e na distribuição de propina em larga escala, que desvirtuaram as “doações eleitorais”.

Partidocracia

A casa caiu com o escândalo da Petrobras e a Operação Lava-Jato. A jornalista Malu Gaspar, no livro A organização, a Odebrecht e o esquema de corrução que chocou o mundo (Companhia das Letras), desnuda o grau de sofisticação e amplitude da corrupção na nossa política. Na sociedade, a reação a isso se deu a partir das manifestações populares de 2013, com a emergência de movimentos cívicos e narrativas antissistema, que resultaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2017, e na eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, um tsunami eleitoral, que gerou o desgoverno atual e um Congresso piorado.

Com a captura da Mesa da Câmara e, depois, do Orçamento da União pelo Centrão, PP, PL e Republicanos, principalmente, passaram a ser o eixo de sustentação do governo Bolsonaro no Congresso. Para se perpetuar os atuais mandatos, surgiram as bilionárias “emendas de relator”, também chamadas de “orçamento secreto” (no ano passado, foram R$ 16,9 bilhões; neste ano, serão R$ 16,2 bilhões em emendas), fora as emendas individuais (R$ 10,5 bilhões) e de bancada (R$ 5,7 bilhões). E, também, aumentaram o fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões, distribuídos de acordo com representação na Câmara. A redução drástica do número de candidatos e a possibilidade de fusões e formação de federações partidárias facilitam a concentração desses recursos nos atuais mandatários, desequilibrando a disputa eleitoral e obstruindo a renovação política dentro e entre os partidos. Até as pré-candidaturas à Presidência são desestimuladas e esvaziadas para concentrar recursos.

Controladores das legendas e bancadas federais promovem uma espécie de corrida do ouro, num jogo de cartas marcadas. O ex-deputado Miro Teixeira, estudioso do sistema eleitoral, está horrorizado com o volume de recursos utilizados no “mercado” de formação de nominatas. “Nunca houve tanta promessa de dinheiro para os candidatos”. Surge uma “partidocracia”, formada por chefes políticos e parlamentares que querem monopolizar o poder político e a participação na vida política organizada da sociedade. É uma contradição com a existência das redes sociais e a capacidade de organização da sociedade de forma autônoma e virtual. Para isso, seria preciso também monitorar, controlar, manipular e centralizar a relação dos partidos nessas redes. Em síntese, a “partidocracia” promove o aggiornamento das oligarquias tradicionais. Os exemplos estão em quase todos os nossos partidos, basta procurá-los em Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-federacoes-e-fusoes-sao-uma-corrida-do-ouro-nas-eleicoes/

Cristovam Buarque: Moïse, sinal destes tempos

Cristovam Buarque / Blog do Noblat / Metrópoles

Primeiro, ao lembrar que, apesar de nossa crise, o Brasil ainda atrai milhares de pessoas que vivem em países com mais pobreza e menos esperança no futuro. Todos os dias recebemos imigrantes sobretudo da Venezuela e diversos países da África. O congolês Moïse Kabamgabe veio para o Brasil fugindo de guerras e pobreza em seu país, com situação ainda pior do que a brasileira.

Segundo, este assassinato é sinal do tamanho da pobreza brasileira, ao constatarmos que ele cobrava dívida de salário duzentos reais não pagos por dois dias de trabalho.

Terceiro, sinal da violência e da impunidade que levam pessoas jovens a participar do assassinato de um trabalhador, da mesma forma como se fazia nos tempos da escravidão. Em pleno século XXI, Moíse morreu no pelourinho que caracterizou quatro séculos de nossa história, que ainda não se livrou da escravidão, apesar de mais de cem anos depois da Abolição. A violência é um estudo geral da sociedade brasileira, desde seu início. Moïses é uma das milhões de vítimas que todos os dias sucumbem por algum tipo de arma, muitas delas invisíveis, por serem abstratas, sou por serem tão naturais que não são percebíveis.

Não é por acaso que um quarto sinal é a indicação do racismo por trás do assassinato. Dificilmente ele aconteceria se fosse um trabalhador branco. Além disto, é sinal de que o mundo inteiro atravessa um tempo de xenofobia: os brasileiros pobres são maltratados no exterior e o Brasil maltrata os pobres que vieram do exterior.

Um sexto sinal é a característica do trabalho servil, que se mantém quase 150 anos depois da Lei Áurea: milhares de trabalhadores não mais escravos servindo às classes médias e altas, não mais donos dos escravos, mas beneficiados por baixíssima remuneração e trabalho precário.

O assassinato de Moïses é também sinal da insensibilidade das classes médias e altas que se chocam com a notícia e sobretudo com as asquerosas imagens do linchamento, mas toleram a desigualdade, a exclusão, a pobreza que assassina devagar a cada minuto. Não se choca com as milhões de crianças jogadas, todos os dias, ao mar da desescola, apenas porque são pobres.

Moïse é sinal destes tempos, no mundo e no Brasil.

Mas, entre tantos sinais de perversão de nossa sociedade, Moïses trás sum sinal de esperança diante da indignação que sua morte provocou na imprensa, na sociedade e na polícia, que rapidamente identificou e prendeu os suspeitos. Esperemos que a morte de Moïse desperte o Brasil para perceber a maldade que nos caracteriza e nos provoque a buscar a paz social de que tanto carecemos.

*Cristovam Buarque foi senador, governador e ministro

Fonte: Blog do Noblat / Metrópoles
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/moise-sinal-destes-tempos-por-cristovam-buarque


Maria Prestes morre aos 92 anos, no Rio

Vinicius Neder / O Estado de S.Paulo

A militante comunista Maria Prestes, viúva do líder comunista Luiz Carlos Prestes, morreu aos 92 anos na noite de sexta-feira, 4, no Rio, em decorrência da covid-19, segundo nota oficial do PCdoB. Políticos de partidos como o PCdoB e o PT manifestaram pesar.

No Twitter, Ana Prestes, neta de Maria, escreveu que “partiu uma grande brasileira”. “Dona Maria Prestes, que também foi Maria do Carmo ou Altamira ou todos os nomes que precisasse usar para seguir lutando por liberdade, democracia e justiça social. Uma comunista orgulhosa de sua luta e a mais maravilhosa avó que alguém poderia ter”, diz a postagem.

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Segundo a nota de pesar do PCdoB, Maria Prestes se engajou na militância comunista aos 13 anos de idade, seguindo os passos do pai, João Rodrigues Sobral, dirigente do PCB.

Como militante do PCB, Maria foi designada, em 1952, aos 20 anos de idade, para trabalhar na segurança de Luiz Carlos Prestes. Assim, começaram o relacionamento, que duraria até a morte do líder histórico do PCB, em 7 de março de 1990.


Desde a década de 1980, após retornar do exílio na então União Soviética, Prestes era filiado do PDT de Leonel Brizola. Após o falecimento do líder comunista, Maria seguiu sua militância, como “amiga estimada do PCdoB”, conforme a nota do partido.

“A luta pelo socialismo perde uma de suas guerreiras, mas seu exemplo e legado enchem de esperança os que seguem levantando sua bandeira e inspiram as novas gerações que seguirão seu caminho. O PCdoB, comovido e honrado por ter convivido e se enriquecido com suas contribuições, rende as mais sentidas homenagens à sua memória. Dona Maria viverá para sempre na memória e na luta dos que batalham por um mundo de paz e justiça”, diz o partido.

CONFIRA A NOTA DE FALECIMENTO

Maria Prestes - 02/02/1930 / 04/02/2022
(Altamira Rodrigues Sobral / Maria do Carmo Ribeiro)

 
Faleceu no dia 04 de fevereiro de 2022, Maria do Carmo Ribeiro, conhecida publicamente como Maria Prestes ou simplesmente Dona Maria – a viúva de Luiz Carlos Prestes.
Dona Maria nasceu no Recife, no bairro Casa Amarela, dia 2 de fevereiro de 1930. "No dia de Iemanjá", como gostava de destacar. Filha de camponeses, desde sua infância, vivida nas cidades de Pesqueira e Poção, ela ativamente acompanhou as atividades de seu pai, João Rodrigues Sobral, militante de base do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Participou da organização de greves, comícios, passeatas, panfletagens, reuniões clandestinas e da distribuição de publicações marxistas-leninistas. Sua experiência de vida está relatada no livro “MEU COMPANHEIRO - 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes” (Editoras: E-Papers/Anita Garibaldi, 2011).

Aos 20 anos, por conta de sua militância na Juventude Comunista, teve que fugir da repressão política do Recife/PE para morar em São Paulo/SP. Recebeu a incumbência de trabalhar na coordenação de aparelhos (residências) clandestinos do PCB. Neste período conheceu (dia 4 de dezembro de 1950, dia de Santa Bárbara, como - também - gosta de destacar) e casou-se (1952) com o Cavaleiro da Esperança, com quem viveu até a morte dele, em 07/03/1990, no Rio de Janeiro.

Por participar da luta contra o regime militar/civil que governou o Brasil entre 1964/1989, Dona Maria foi obrigada a enfrentar o exílio (1970/1979) durante nove anos na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), hoje Rússia. Apesar das dificuldades da vida na ilegalidade, durante as décadas de 1950/1960, como fruto do relacionamento com Luiz Carlos Prestes, Dona Maria teve sete filhos: Antônio João, Rosa, Ermelinda, Luiz Carlos, Mariana, Zoia e Yuri. Os filhos do primeiro casamento, Pedro e Paulo Roberto, foram adotados por Prestes. Hoje aos nove filhos se juntaram  25 netos e 25 bisnetos.

Aos 92 anos de idade, Dona Maria foi homenageada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com a Medalha Tiradentes, a maior honraria da Casa. Ela é Detentora dos Títulos de Cidadã Honorária de Crateús/CE e de Saquarema/RJ.

Em 2011, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM/RJ) lançou um filme sobre a sua vida para comemorar o Dia Internacional da Mulher, 8 de março. A iniciativa fez parte do Projeto Memória Viva, do Espaço Cultural Heloneida Studart, que visa estimular a produção feminina, com foco na preservação da memória de mulheres que se destacaram na construção de uma sociedade justa e igualitária. O filme tem roteiro e direção da cineasta Eunice Gutman.

No ano de 2010, Dona Maria teve decisiva atuação na repatriação de documentos de Luiz Carlos Prestes, depositados no Arquivo da Federação Russa (ex-arquivo do Partido Comunista da União Soviética - PCUS). São importantes registros históricos que agora estão guardados no Arquivo Nacional do Brasil, instituição para qual os mesmos foram transferidos por sua expressa vontade: “Prestes foi um homem público e os documentos sobre sua vida e luta devem pertencer ao povo brasileiro. Todos têm que ter acesso a todos os documentos sobre Prestes”. Para o êxito desta iniciativa, Dona Maria coordenou uma mobilização ativa de intelectuais, diplomatas e até mesmo a Presidência da República do Brasil e a Presidência da República Federativa da Rússia.

No dia 3 de janeiro de 2012, data de aniversário de 112 anos Prestes, Dona Maria se desapegou de centenas de documentos e objetos históricos que estavam em sua residência: fotografias, presentes e centenas de cartas. Tudo foi doado ao Arquivo Nacional em ato público, para – finalmente – criar o FUNDO PRESTES. O material hoje está aberto para consulta pública.

No ano de 2012 o Senado Federal reconheceu Maria do Carmo Ribeiro, a militante política Maria Prestes, como CIDADÃ NACIONAL, condecorando-a com o Prêmio Bertha Lutz, por sua contribuição para com a luta pela democracia e pelo socialismo no Brasil.

Assinado: Família Prestes
Irmãs e irmãos João, Rosa, Ermelinda, Luiz Carlos, Mariana, Zoia e Yuri

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,maria-prestes-morre-de-covid-aos-92-anos-no-rio,70003970656


“Velhinho das redes”, Raulino Oliveira deixa sua marca como símbolo do diálogo

Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP

Referência na luta pela democracia e pelas causas progressistas do povo brasileiro, Raulino Aquino de Barros Oliveira fica na história como o homem da diplomacia e marcado pela criatividade. Veterano militante do Cidadania, ex-diretor da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e chamado carinhosamente de “velhinho das redes”, ele morreu, aos 77 anos, vítima de câncer, dormindo em casa, acompanhado da família, no Rio de Janeiro, na quarta-feira (2/2).

Clique aqui e veja nota de pesar da FAP 

Nascido em Jacarepaguá, Raulino é filho de Irene e Miguel, irmão de Miguelzinho, marido da Marusca e pai da Nanda, do Rafa e do Raul. É avô de Juan, Manu, Luisoca, Julinha, Lilica e Quinquim. Tio do Bruno do Migmig e da Alê e de todos os mil sobrinhos da Tia Mara.

“Carioca, flamenguista, ateu, rebelde, democrata, eterno dirigente do Partidão, visionário, amigo, parceiro, palhaço, bagunceiro e muitos outros adjetivos fodas”, escreveu a família de Raulino, em mensagem publicada no perfil dele no Facebook. “A família gostaria que, mais que falar da morte, falem de sua vida e de suas inúmeras histórias”, acrescentou.

Um dos pioneiros do uso de internet no Brasil, Raulino militou no Cidadania desde a época em que ainda era chamado de Partido Comunista Brasileiro (PCB), que depois se tornou Partido Popular Socialista (PPS) antes de chegar à mais recente identidade partidária.

Moderno, ele foi um dos nomes da direção que aprovaram a mudança de identidade partidária, atendendo aos anseios de uma sociedade mais democrática, justa, progressista e igualitária.

A vida de Raulino é marcada por uma larga trajetória. Foi dirigente dos comitês universitário e da saúde, além de integrar a direção nacional e estadual do Partido Popular Socialista (PPS). Ele também assessorou nomes como o do presidente do Cidadania, Roberto Freire, inclusive na campanha para a presidência da República, em 1989.



“Raulino era um inquieto veterano, totalmente ‘antenado’, superinteligente, criativo e bem humorado. Sempre me tratou com enorme carinho. A atenção de um professor carinhoso que ele dedicava a todos. Já está fazendo enorme falta e trazendo saudade. Força aos familiares e amigos para superar esse momento de profunda dor!”, disse o presidente do Conselho Curador da FAP, médico Luciano Rezende.

O diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, lembrou que sempre encontrava Raulino nas reuniões do partido. Os dois passaram a ter ainda mais contato quando o “velhinho das redes” foi dirigente da fundação, no biênio 2012-2014. Na época, Caetano era presidente do Conselho Curador da entidade.

“Ele estava sempre aberto para dialogar, observar, argumentar. Tinha postura radicalmente democrática. Embarcou com entusiasmo nas tentativas que o regime soviético fez de autorreforma, pois, há muito, já percebia que o caminho era o democrático. Ele também sempre foi entusiasta da modernidade tecnológica. As primeiras reuniões que a diretoria da FAP fez utilizando a internet ocorreram, nessa época, por sugestão dele”, afirmou Caetano.

Integrante da executiva nacional do Cidadania, o jornalista Francisco Almeida também destacou a diplomacia de Raulino. “Não esquentava a cabeça para nada”, ressaltou. Ele também era também muito aberto a novidades. Uma figura diferente”, asseverou.

A família informou que a cremação será no crematório do Caju, capela B, das 13 às 17 horas, na sexta-feira (4/2).


“Não nos preocupamos em agradar a Faria Lima”, diz economista de Lula

Luciana Lima / Metrópoles

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não apontou um nome que dará o tom da política econômica a ser desenvolvida em um eventual governo. O petista, no entanto, já tem um grupo com cerca de 90 pessoas para auxiliar no desenho de uma proposta que ainda deve passar por negociações com partidos da aliança em torno da candidatura do ex-presidente ao Planalto.

Sob a coordenação de Guilherme Mello, que já comandou a campanha do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad à Presidência da República, em 2018, o grupo conta com a participação de ex-ministros, tanto de Lula como da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em conversa com o Metrópoles, Mello ressaltou o quanto a ideia do teto de gastos é ultrapassada, em sua visão, no sentido de garantir um equilíbrio fiscal e desenvolvimento econômico e social para o país.

Nesse contexto, dificilmente Lula repetirá o movimento de “acalmar o marcado” com uma reedição da Carta ao Povo Brasileiro, editada em 2002, em plena campanha, que o levou ao poder, com apoio da elite financeira do país.

“A nossa preocupação não é agradar ou desagradar o mercado financeiro. Não falo pelo Lula, mas estou pensando no debate dos economistas do partido e ligados à Fundação Perseu Abramo“, disse Mello, referindo-se ao espaço de formulação do PT, que abriga o núcleo.

“Nossa preocupação é construir propostas alternativas que possam ser úteis e importantes para um novo modelo de desenvolvimento e que dialogue com o que há de melhor e mais atual sendo discutido no mundo, que dialoguem com as necessidades do Brasil, com a realidade do país, onde o povo está passando fome. A gente não está preocupado com uma proposta que agrade ou desagrade a Faria Lima”, destacou, com a denominação usualmente destinada às grandes instituições financeiras.

Teto inadequado

Em vigor desde 2017, o teto de gastos foi proposto em 2016 pelo então presidente Michel Temer, quando a área econômica era chefiada por Henrique Meirelles. A mudança na Constituição foi aprovada pelo Congresso e estabelece um limite para gastos públicos com base na inflação.

No ano passado, o tema voltou à pauta quando o governo de Jair Bolsonaro propôs alterar as regras, parcelando precatórios, por exemplo, como forma de tentar abrir espaço para novas despesas, entre elas, o pagamento do programa social do governo, o Auxílio Brasil, criado em 2021.

O Congresso aprovou a alteração na forma de cálculo do teto, o que para muitos economistas significou uma forma de furar o limite de despesas.

Segundo Mello, entre os economistas ligados ao PT, já existe um consenso de que o atual arcabouço fiscal brasileiro é inadequado para as necessidades do país.

“A realidade mostra que reduzir o investimento se tornou inadequado, na verdade, você tem que recuperar a capacidade de o país crescer, gerar emprego formalizado para seus trabalhadores, gerar receitas. Aí você consegue, a partir desse movimento, encontrar formas, com investimentos corretos e de boa qualidade, com alto impacto na geração de emprego e renda com efeito multiplicado”, observou.

“Desta forma é que se conseguirá encontrar um equilíbrio fiscal mais adequado que combine estabilização da dívida pública e, até mesmo, redução de dívida pública em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), com crescimento econômico, geração de emprego, distribuição de renda. Foi o que aconteceu no período do Lula. Agora, para isso, tem que ativar o circuito de investimento público”, recomendou Mello.

“Vamos lembrar que nos governos do PT, a dívida pública saiu de 60% e caiu para 32% do PIB”, enfatizou.

Fazem parte do núcleo de discussão nomes como Aloísio Mercadante, atual presidente da Fundação Perseu Abramo, a dupla que conduziu a política econômica petista nos governos passados, Guido Mantega e Nelson Barbosa, além de Luiz Gonzaga Belluzzo e Marcio Pochmann, que presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) no governo petista.

“Memória”

Guilherme rechaça, no entanto, a ideia de que há resistência do mercado à candidatura do ex-presidente e aponta que existe um consenso sobre a necessidade de retomada do investimento público.

“Obviamente, quem poderia responder o que esperar de um futuro governo do Lula é o próprio Lula. Até porque é ele que vai ser o novo presidente e vai comandar um movimento político, uma coalisão política ampla para que tenha sustentação. Agora, o que eu posso dizer é que há também um consenso, um acordo generalizado sobre a necessidade de recuperação do investimento público e do papel do Estado como indutor do crescimento”, apostou.

“Se o mercado financeiro tiver um pouco de memória, vai lembrar o quanto ganhou no governo de Lula”, enfatizou.

Fonte: Metrópoles
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/nao-nos-preocupamos-em-agradar-a-faria-lima-diz-economista-de-lula


Vício em games é reconhecido como doença pela OMS; conheça os sinais do distúrbio

Giulia Vidale / O Globo

SÃO PAULO — Agora é oficial. O chamado distúrbio de games é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O que sacramentou a decisão foi a publicação no mês passado de uma versão atualizada da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, chamada CID-11.Nela, o problema é definido como um padrão de comportamento caracterizado pela perda de controle sobre o tempo de jogo, sobre a prioridade dada aos jogos em relação a outras atividades importantes e a decisão de continuar de frente à tela apesar de consequências negativas.

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O diagnóstico é dado quando os prejuízos afetam de forma significativa as áreas pessoais, familiares, sociais, educacionais e ocupacionais ao longo de cerca de 12 meses. A descrição lembra você? Ou alguém muito próximo?

— Esse é um problema que já vem ocorrendo há muito tempo, mas que piorou. Hoje, a quantidade de jovens que passam horas e até dias na frente do videogame aumentou muito— relata o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

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Ele conta o caso de um paciente que chegava a ficar 55 horas seguidas conectado. Não levantava nem para ir ao banheiro, fazendo as necessidades nas calças. Outras pessoas param de tomar banho, se afastam dos amigos, perdem o emprego ou o total interesse pelo estudo.

Nada é de graça

Uma boa parte do problema está no modelo de negócios das desenvolvedoras de games, setor aquecido por recentes aquisições bilionárias por parte das big techs. Dizem que não precisa pagar para começar a jogar.

Mas quanto mais tempo elas mantêm os clientes engajados, mais conseguem vender “vantagens”. Por isso, analisam constantemente o comportamento dos usuários e testam novas maneiras para evitar que desliguem ou façam outra coisa.

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— Os jogos de hoje não têm mais game-over nempause. Se a pessoa sai,ela desassiste seu time. Isso pode gerar medo de retaliação e o famoso F.O.M.O. [sigla para a expressão em inglês fear of missing out, ou medo de ficar de fora]. O tempo de vida roubado é terrível— diz Nabuco, da USP.

Muita calma nessa hora

Como sempre acontece quando se descreve casos extremos, é necessário cautela para não cair em graves generalizações. Os games também podem ser benéficos. Representam uma oportunidade de dar uma relaxada depois de um dia de muito trabalho ou estudo. Permitem entrar numa realidade diferente e divertida. Também está comprovado que podem ajudar em casos de ansiedade.

A maioria dos jogadores, obviamente, não leva vidas disfuncionais. Estudo publicado no Jornal de Psiquiatria da Austrália e Nova Zelândia no ano passado estima que cerca de 2% da população mundial sofre do transtorno. Mais pesquisas são necessárias para que se tenha uma ideia melhor.

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Mesmo que seja uma percentagem mínima que sofra de distúrbio de games, o problema é que, ainda assim, é muita gente. Se o cálculo australiano estiver certo, há 154 milhões de viciados no mundo.

A Entertainment Software Association, associação comercial da indústria de videogames nos Estados Unidos, estima que haja cerca de 2,6 bilhões de players em todos os continentes. Segundo estimativa da Game Brasil, consultoria especializada no mercado digital, 7 em cada 10 brasileiros afirmam que jogam.

Estado x família

No ano passado, a China, que é o maior mercado de videogames do mundo, introduziu novas regras para a quantidade de tempo que crianças e adolescentes podem jogar. São três horas por semana, limitado a uma hora por dia, das 20h às 21h e apenas às sextas-feiras, fins de semana e feriados.

No Ocidente, não há notícia de medida tão drástica. As tentativas de coibir os exageros se dão dentro de casa. Nabuco recomenda o engajamento parental. Isso inclui, além de regular e limitar o tempo gasto no videogame, deixar o computador ou o console no ambiente comunitário da casa para que haja supervisão. Checar esporadicamente que tipo de jogo a criança está jogando, sentar ao lado dela para entender como o jogo funciona e, principalmente, tentar engajá-las em atividades off-line.

Quem está vulnerável

O perfil de quem sofre de dependência em jogos eletrônicos costuma ser de pessoas do sexo masculino e de classe média. Normalmente, o uso abusivo começa na pré-adolescência ou adolescência.

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Pessoas que apresentam doenças mentais prévias, como depressão, têm mais chances de desenvolver o transtorno. O mesmo vale para quem já enfrenta problemas familiares e baixa autoestima, já que, enquanto jogam, elas se sentem parte de alguma coisa que não têm na vida real e ainda se beneficiam do bem-estar provocado pela liberação de dopamina no cérebro.

Ajuda para viciados

O tratamento para o transtorno de jogos eletrônicos é similar ao de outros vícios: psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos. A ideia por trás da designação da OMS não é estigmatizar nem proibir os games. Ela procura justamente contribuir para a ampliação do números de diagnósticos e do maior acesso aos diferentes tipos de ajuda, já que as seguradoras de saúde serão pressionadas a pagar pelo tratamento, pois agora passa a ser reconhecido como uma condição médica.

Mas, de novo: há uma grande diferença entre ser um jogador entusiasmado e ser um viciado. A preocupação exagerada de pais sobre os efeitos dos games nos filhos ainda não foi reconhecida pela OMS como transtorno obsessivo. Ainda não.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/saude/vicio-em-games-reconhecido-como-doenca-pela-oms-conheca-os-sinais-do-disturbio-25381955


Marcus Pestana: Um pouco de açúcar e afeto no “politicamente correto”

Marcus Pestana / Congresso em Foco

Andei falando aqui sobre a liberdade e seus limites, as tensões entre liberdade individual e coletiva e a institucionalização da vida social, da democracia e da civilização como fator limitador inevitável da noção de liberdade individual absoluta.

Mas em um segmento específico da vida social sempre tive um olhar anarquista, no exato sentido da ausência do Estado: na cultura e nas artes. Sempre cultivei um olhar de que nas manifestações artísticas deveria prevalecer a liberdade absoluta, radical, ilimitada, sem restrições e intervenções estatais.

Só assim poderiam florescer a diversidade e a riqueza cultural. Do rigor de um João Cabral de Melo Neto ao experimentalismo da poesia concreta dos irmãos Campos. Do realismo social de Bertolt Brecht ao teatro de absurdo de Arrabal, Ionesco e Beckett. Do vanguardismo russo de Serguei Eisenstein à genialidade de Felini e Glauber Rocha. Da riqueza melódica da música clássica às inovações de Hermeto, ao minimalismo de Philip Glass, passando pelos Beatles, o rock e o samba. Da perfeição anatômica das esculturas de Michelangelo e Rodin às abstrações de Amilcar de Castro, Tunga ou Hélio Oiticica. Da precisão da Monalisa de Leonardo da Vinci às aventuras estéticas Van Gogh, Picasso, Dali ou Pollock.

Minha geração, no Brasil, sempre associou arte e política. Não no sentido do dirigismo político da estética, mas da liberdade de criação, do humanismo e da diversidade. Na música, fomos brindados com uma geração de ouro que, entre outros, nos permitiu construir a trilha sonora de nossas vidas a partir de Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Os Mutantes, Tim Maia, Jorge Bem, que alimentaram a boa trilha aberta por Tom Jobim, Baden, João Gilberto, Noel, Pixinguinha, Cartola e Luiz Gonzaga.

O controle estatal sobre a cultura, as artes e a estética tem a ver com aspirações totalitaristas. Os dois exemplos mais radicais de tentativa de uniformização cultural se encontram em dois polos extremos: o nazismo e o stalinismo. O realismo socialista, linguagem estética, imposta aos países comunistas de 1930 a 1980, pregava uma arte realista, figurativa e didática para difusão dos “valores socialistas”. Stalin, em pessoa, e não só através de seu comissário para política cultural, Andrei Jdanov, revia romances, poemas e peças teatrais e sugeria mudanças. O realismo socialista até encontrou sofisticação teórica na obra de Lukács, mas o resultado foi um desastre.

A outra foi a experiência nazista, através de Goebbels, ministro de propaganda e esclarecimento popular de Hitler, onde a Câmara de Cultura do Reich buscava uma estética que glorificasse a raça ariana, o Partido Nazista e a Juventude Hitlerista.

Não creio que a “Internacional” ou o “Hino da Juventude Nazista” merecessem ganhar um Festival de Música de Arrastão, A Banda, Disparada, Ponteio, Sinal Fechado, Saveiros ou Sábia.

As tentações totalitárias continuam a pairar sobre o mundo contemporâneo. Mais recentemente surgiu a partir da própria sociedade um movimento cultural perigoso conhecido como “politicamente correto”. As lutas identitárias legítimas e contra todas as formas de discriminação ganham neste movimento um cunho de autoritarismo estético. Nelson Rodrigues, Lamartine Babo, entre outros, seriam “lacrados” pelo “politicamente correto”.

Chico Buarque, nosso maior poeta da MPB, compôs para Nara Leão a obra-prima “Com açúcar e com afeto”. Atendendo a pressões do movimento feminista, o artista decidiu retirar a música de seu repertório, que supostamente carregaria mensagem discriminatória. E Geni, Atrás da Porta, Olhos nos Olhos, A História de Lily Braun, Trocando em Miúdos, e tantas outras? Será que Pedro Pedreiro e Construção carregam uma imagem depreciativa e passiva do operariado? E Sinhá retrataria a figura de um escravo negro submisso e resignado? Será que devemos ter músicas didáticas e instrutivas como no realismo socialista ou na estética nazista?

Me perdoe, meu ídolo musical. Vou continuar ouvindo “Com açúcar e com afeto”. Viva a liberdade!    

*Marcus Pestana, Presidente do Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)

Fonte: Congresso em Foco
https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/um-pouco-de-acucar-e-afeto-no-politicamente-correto/


Fachin pede rejeição de denúncia da PGR contra Arthur Lira em caso da Lava-Jato

Mariana Muniz / O Globo

BRASÍLIA — O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou pela rejeição da denúncia de corrupção passiva oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O caso está sendo analisado pelo plenário virtual da Corte.

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Lira foi denunciado pela PGR em 2019 pelo suposto recebimento de propina de R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão, no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato. Em 2020, no entanto, a procuradoria mudou de posição e pediu a rejeição da própria acusação. 

Na época, Fachin havia mantido a tramitação do caso por entender que não poderia rejeitar a denúncia de maneira individual. No entendimento do ministro, seria necessário que houvesse essa análise por parte dos demais integrantes da Corte. Por isso, o ministro decidiu submeter o caso ao plenário.

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Agora, com o julgamento de um recurso apresentado pela defesa do presidente da Câmara contra a decisão de Fachin de levar a denúncia ao plenário, o relator concordou com a mudança de opinião da PGR.

Em seu voto, Fachin destacou que houve a constatação da insuficiência de elementos mínimos para dar justa causa à denúncia quanto ao crime de corrupção imputado ao parlamentar.

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Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputado
Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados
Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Arthur Lira, presidente da Câmara e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, no início do ano legislativo. Foto: Agência Senado
Arthur Lira e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputado
 Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados
Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Arthur Lira, presidente da Câmara e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, no início do ano legislativo. Foto: Agência Senado
Arthur Lira e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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Segundo o ministro, "para além da palavra de colaboradores, os elementos circunstanciais mencionados pela Procuradoria-Geral da República não vinculam diretamente o parlamentar federal".

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"Embora não se possa negar a ascensão e proeminência do acusado Arthur César Pereira de Lira nos assuntos partidários da agremiação a qual se encontra filiado, a pretensão ministerial de relacionar a posição de líder ao pagamento indevido implementado, à míngua de qualquer outra circunstância que robusteça essa hipótese acusatória, reforça a conclusão pela inexistência de justa causa em relação ao parlamentar federal, ante a fragilidade dessa ilação", argumentou o ministro.

Com o julgamento iniciado nesta sexta-feira, os demais ministros têm até o dia 11 para depositarem seus votos.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/fachin-pede-rejeicao-de-denuncia-da-pgr-contra-arthur-lira-em-caso-da-lava-jato-1-25380700


Bolsonaro não é o ‘único candidato’ dos evangélicos, afirma pesquisador

Levy Teles / O Estado de S.Paulo

Nos anos 1970, os evangélicos eram apenas 5% dos brasileiros. Hoje, segundo pesquisa do Datafolha de dezembro de 2019, são mais de 30% – caso sigam a curva de crescimento, poderão ser o segmento com mais fiéis no País, aponta antropólogo Juliano Spyer, da USP. Autor do livro Povo de Deus, de 2020, ele disse ao Estadão que não se ganha uma eleição presidencial sem ter adesão de um público tão grande. Apesar das constantes sinalizações do presidente Jair Bolsonaro às pautas defendidas pelos evangélicos, Spyer acredita haver espaço para candidatos de outros espectros prosperarem. Para isso, segundo ele, é preciso falar em termos como “família, vida e amor”. 

No livro, o sr. afirma que há preconceito contra o evangélico na política? Por que?

Sim. E ele não é maior, nem pior do que o preconceito em relação ao povo. Mas tem duas questões a mais: o evangélico não quer que passem a mão na cabeça dele. Segundo, há um contexto diferente porque o setor vem se tornando cada vez mais influente em pautas de costumes, de cultura, com a música gospel muito forte comercialmente. A igreja é um espaço de muito debate. Essas organizações estão interligadas e têm a maior bancada do Congresso. É uma comunidade em plena ebulição e isso incomoda muito.

Os presidenciáveis estão realmente atentos a esta parcela tão significativa da população? 

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É uma tática tola (ignorar a parcela do eleitorado evangélico) e vem sendo corrigida. Há a movimentação dos pré-candidatos sobre isso, como houve por parte de Ciro Gomes, na entrevista com Mangabeira Unger, em que toca no assunto. Entre vários candidatos, há pessoas importantes como o ex-presidente Lula, ou o deputado Marcelo Freixo, que demonstram essa preocupação, uma mudança de chave em relação a começar a tratar o evangélico como diverso, como alguém que merece ser respeitado e como um grupo com o qual se deve dialogar. 

Nesse ponto Bolsonaro leva vantagem? 

Ele é o único entre os presidenciáveis que defende de forma integral temas caros ao cristão evangélico, como a defesa da família tradicional e da liberdade de religião. Além disso, deu demonstrações seguidas de compromisso com esse segmento, como na indicação do André Mendonça para o Supremo (Tribunal Federal). 

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Juliano Spyer estudou o crescimento dos evangélicos no Brasil. Foto: Flavio de Souza Brito

No livro, o sr. diz que há quem queira politizar a fé de forma extrema. Isso não pode ser perigoso?

Há um esforço muito grande de pastores que têm projetos pessoais e de poder que usam seus recursos para instigar de uma forma maldosa essa separação entre ser cristão e ser de esquerda, associando o cristianismo e a esquerda a um monte de barbaridades. Inclusive, muitos deles agindo de má-fé, que participaram de governos de esquerda e hoje estimulam essa postura nas redes sociais. É um contexto a se ficar atento. Tem muita gente no campo evangélico que não está convencido que o presidente seja o único candidato que pode representar os evangélicos. 

Há espaço para a esquerda crescer no meio? 

Dentro dessas igrejas, muitos cristãos que estão convencidos que Bolsonaro não é o melhor candidato estão sendo constantemente pressionados a não se pronunciar publicamente em relação a isso. 

É possível conversar com evangélicos sobre temas sensíveis da agenda moral como aborto ou homossexualidade?

Numa conversa com o pastor Henrique Vieira, falei como a gente lida com o pobre em relação às pautas morais. Ele deu duas sugestões: a primeira é a pessoa de esquerda tirar a cartilha debaixo do braço e escutar. A segunda é retomar a possibilidade de falar, trazer de novo termos como família, vida e amor.

Há divergências entre os evangélicos e o presidente? 

Ele não é evangélico – ele é casado com uma evangélica. É uma pessoa rude, grosseira, que fala palavrão, um comportamento que os evangélicos não querem mostrar para a sociedade. Mas o tiro no pé eleitoral – aqui, um trocadilho intencional – é a defesa das armas de fogo. Ao fazer isso, ele cria um problema com o eleitorado evangélico feminino que vive na periferia e não quer mais saber de armas na rua.

Há espaço para candidatos da terceira via, como Sérgio Moro, avançar entre os evangélicos?

Ouvi recentemente de um pastor que respeito que ele é o candidato ideal para o evangélico. É muito melhor em termos de presença pública do que Bolsonaro. É comportado, fala baixo e é uma pessoa que se tornou conhecida como aquela que perseguiu criminosos e sofreu retaliações por isso. Só essa parte da narrativa oferece ecos, oportunidades e paralelos com histórias do cristianismo. Haveria uma grande oportunidade de Moro capturar o voto do evangélico. Me surpreendeu que isso não apareça nas pesquisas. Tenho a impressão que essa falta de opções dos evangélicos se deu pela extrema polarização entre Bolsonaro e Lula, e pelo fato dos temas principais que vão ser debatidos, os três primeiros são relativos ao campo econômico: a própria economia, o emprego e a fome. O combate à corrupção, certamente, não é um dos três primeiros. NOTÍCIAS RELACIONADAS

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-nao-e-o-unico-candidato-dos-evangelicos-afirma-pesquisador,70003970299


Republicanos decidem que invasão do Capitólio foi "legítima"

DW Brasil

O Partido Republicano dos Estados Unidos decidiu nesta sexta-feira (04/02) que os eventos ocorridos em 6 de janeiro de 2021, incluindo a violenta invasão do Capitólio por apoiadores do então presidente Donald Trump, foram uma forma legítima de discurso político.

Uma convenção do Comitê Nacional da legenda, realizada em Salt Lake City, aprovou por unanimidade uma resolução advertindo formalmente os deputados republicanos Liz Cheney e Adam Kinzinger, que integram um comitê de investigação da Câmara dos Deputados sobre o ataque ao Capitólio.

Duas semanas antes da posse de Joe Biden, apoiadores de Trump, após um discurso inflamado do então presidente afirmando que as eleições haviam sido fraudadas, entraram à força na sede do Congresso americano com o objetivo de tentar impedir a confirmação da vitória eleitoral do democrata. Cinco pessoas morreram no ataque e mais de 100 policiais ficaram feridos.

Mais de 720 pessoas respondem a acusações formais pela invasão, e cerca de 50 já foram condenadas.

"Perseguição de cidadãos comuns"

A resolução afirma que Cheney e Kinzinger participaram, sob a liderança do Partido Democrata, de uma "perseguição de cidadãos comuns" que estavam exercendo o seu direito à legítima expressão política.

Segundo o documento, os dois republicanos teriam apoiado o uso indevido de atividades de inteligência por parte dos democratas para fins políticos.

Crítica a Trump, a republicana Liz Cheney está isolada em seu próprio partido. Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

Cheney e Kinzinger são os únicos republicanos no comitê da Câmara dos Deputados sobre o tema. A liderança republicana da Câmara se recusa a cooperar com os democratas na investigação do ataque.

Resolução é uma "desgraça"

Referindo-se a Trump, Cheney disse antes da votação da resolução que o Partido Republico havia se colocado, por sua própria vontade, como "refém" de um homem que queria reverter o resultado de uma eleição presidencial. Ela disse que era conservadora e que respeitava a Constituição.

Invasão do Capitólio ocorreu após discurso de Trump afirmando que eleições haviam sido fraudadas. Foto: Miguel Juarez Lugo/Zumapress/picture alliance

Kinzinger afirmou que os republicanos estavam perdendo a noção da realidade diante de "teorias da conspiração" e de uma cultura "tóxica" de obediência. O senador republicano Mitt Romney, crítico de Trump, também declarou que a resolução contra Cheney e Kinzinger era uma "desgraça".

No final de janeiro, Trump disse que os invasores do Capitólio precisavam ser tratados de "maneira justa" e prometeu que, se eleito presidente em 2024, irá conceder indultos a eles.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/republicanos-decidem-que-invas%C3%A3o-do-capit%C3%B3lio-foi-leg%C3%ADtima/a-60668838


Projetos em ano eleitoral podem deixar bomba fiscal de mais de R$ 100 bi

Manoel Ventura e Julia Lindner / O Globo

BRASÍLIA - A apresentação, pelo deputado federal Christino Áureo (PP-RJ), com aval do presidente Jair Bolsonaro, da proposta de emenda à Constituição (PEC) para reduzir os impostos sobre os combustíveis com um escopo bem maior do que fora acordado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, intensificou a preocupação entre os técnicos da equipe econômica de que esta pode ser a primeira de várias ameaças fiscais deste ano eleitoral.

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Há o receio de novos projetos que entram no Congresso com elevado risco para as contas públicas.

No mesmo dia, começou a tramitar no Senado uma PEC ainda mais ampla, já chamada por auxiliares de Guedes de “PEC Kamikaze”. Se a proposta da Câmara já teria um impacto robusto, de R$ 54 bilhões, o texto do Senado sobe a fatura para mais de R$ 100 bilhões.

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Ela também permite a redução dos impostos federais sobre combustíveis, mas vai além: cria um vale-diesel de R$ 1.200 mensais para caminhoneiros, transfere recursos para o setor de ônibus urbano e amplia o vale-gás para famílias de baixa renda.

Também chamada por integrantes da equipe econômica de “PEC da Irresponsabilidade Fiscal”, a proposta conta com a simpatia do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), segundo a opinião de diversos parlamentares, sob sigilo. Para técnicos do Ministério da Economia, ela pode ter efeito contrário ao desejado pelo governo, ao fazer o dólar subir e prejudicar diversos setores.

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Além dos combustíveis

A discussão sobre os combustíveis é mais evidente, mas outros projetos em tramitação no Congresso preocupam integrantes do Ministério da Economia, como o Refis para todas as empresas. Com a volta do Congresso, devem crescer as pressões por mais gastos e por renúncia de receita sem compensação.

O temor, também, é da alta imprevisibilidade dos parlamentares em ano eleitoral, quando deputados e senadores costumam concentrar seus trabalhos nos primeiros meses do ano. As possibilidades são amplas e, muitas vezes, imprevisíveis.

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No horizonte, o Congresso deve derrubar na próxima semana o veto presidencial ao Refis para empresas inscritas no Simples Nacional, que representa impacto de R$ 1,7 bilhão. A Câmara tem entre suas prioridades um novo programa de renegociação de dívidas que favorece grandes empresas devedoras, cujo impacto líquido é de R$ 92 bilhões e o projeto já passou no Senado.

Na avaliação de lideranças parlamentares, ao mesmo tempo que a equipe econômica argumenta que é preciso garantir a arrecadação nesse caso, deve prevalecer o argumento do setor produtivo.

— O Ministério da Economia tem preocupação com a receita, mas o país tem batido recorde de arrecadação. O Congresso tem uma visão de que é hora de abrir mão de alguma arrecadação para valorizar quem produz no Brasil, principalmente os pequenos empresários, que geram mais empregos — disse o líder do DEM, Efraim Filho (PB).

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Correligionário do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, Áureo protocolou uma PEC escrita no Palácio do Planalto, como atesta o próprio documento com o texto da medida distribuído pelo deputado a colegas da Câmara. Não houve qualquer aviso à Economia sobre o teor da proposta, e Bolsonaro deu aval ao projeto, de acordo com fontes do Planalto.

Para integrantes do governo, o episódio evidencia a imprevisibilidade que marcará todo e qualquer projeto a ser votado no Congresso este ano.

 


Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para para fundo árabe por US$ 1,6 bi. Foto: Geraldo Kosinski / Agência O Globo
Primeira refinaria do Brasil, a RLAM completou 70 anos prestes a ser vendida. A unidade tem capacidade de produção de 333 mil barris/dia. Foto: Saulo Cruz / MME
Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) está instalada em uma área de 580 hectares no município gaúcho de Canoas (RS). Foto: Divulgação
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Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para para fundo árabe por US$ 1,6 bi. Foto: Geraldo Kosinski / Agência O Globo
Primeira refinaria do Brasil, a RLAM completou 70 anos prestes a ser vendida. A unidade tem capacidade de produção de 333 mil barris/dia. Foto: Saulo Cruz / MME
Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) está instalada em uma área de 580 hectares no município gaúcho de Canoas (RS). Foto: Divulgação
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Mesmo dando publicamente a ideia de algum tipo de composição com o Ministério da Economia, o Centrão buscará “turbinar” todo e qualquer projeto que possa favorecer a popularidade do presidente e a formação de bancadas fortes nas eleições de 2022, na leitura de membros do governo e do Congresso.

Na avaliação de alguns parlamentares, Guedes mantém o discurso para dar uma sinalização favorável ao mercado, mas sabe que não vai conseguir segurar os anseios do Centrão, ainda mais em ano eleitoral.

Em outra frente, os governadores e prefeitos pressionam o governo federal a ajudar a pagar a conta criada por Bolsonaro quando ele decidiu dar um reajuste de 33% no piso salarial dos professores da educação básica.

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O impacto total deste reajuste é estimado em R$ 30 bilhões para estados e municípios, que se movimentam para dividir a conta com a União.

— A condução errática da política fiscal gera custos relevantes, especialmente com a rolagem da dívida pública, e deve ser evitada, a exemplo da redução discricionária e casuística sobre combustíveis. O subsídio a combustíveis fósseis, mais poluentes, em plena transição global para uma economia de baixo carbono é inconveniente — disse Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital.

Na próxima semana, a Câmara votará uma medida provisória (MP) que cria um programa habitacional voltado a policiais militares. O relatório da medida libera o financiamento com juros subsidiados para profissionais com o “nome sujo” na praça. Embora sem impacto fiscal, a proposta mostra o apetite por bondades em ano eleitoral.

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Para completar, o governo ainda é pressionado por servidores a conceder reajustes salariais a todos o funcionalismo, depois da decisão de Bolsonaro de aumentar apenas os salários dos policiais federais.

Chegou a ser aventada a hipótese de trocar o aumento salarial por benefícios, mas a ideia, gestada na Economia, foi abandonada pela própria pasta. A decisão sobre reajuste de servidores deve ser tomada até o fim de março.

Fontes de tensão

PECs dos Combustíveis

  • Duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) promovem uma ampla redução dos impostos federais e estaduais sobre os combustíveis. A primeira foi escrita no Palácio do Planalto e tem um impacto de R$ 54 bilhões.
  • A outra proposta, do Senado, vai além: cria um “vale” de R$ 1.200 para caminhoneiros e socorre o setor de ônibus urbano. Com custo superior a R$ 100 bilhões, a medida é chamada de “PEC Kamikaze” na Economia.

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Refis para todas as empresas

  • O Congresso deve derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro ao programa de parcelamento de dívidas de micro e pequenas empresas, com impacto de R$ 1,7 bilhão.
  • Ao mesmo tempo, os deputados articulam a votação de outra proposta, que promove um amplo Refis para empresas de todos os portes.
  • O texto levaria o governo a arrecadar R$ 35,7 bilhões com as adesões. Mas a renúncia com descontos é bem maior, de R$ 127,8 bilhões.

Reajuste no piso dos professores

  • Contrariando a orientação da equipe econômica, que queria fixar um reajuste de 7,5%, Bolsonaro decidiu aumentar em 33% o piso salarial dos professores da educação básica. Embora os salários dos professores dessa fase da educação sejam pagos por municípios e estados, governadores pressionam por uma ajuda federal.
  • Caso essa ajuda seja efetivada, será mais um foco de tensão sobre as contas federais.

Aumento para servidores

  • Após o Orçamento de 2022 ter reservado, a pedido de Bolsonaro, um espaço de R$ 1,9 bilhão para reajustar os salários de forças de segurança, as demais categorias passaram a pressionar por aumentos.
  • Se houver reajuste para elas, será preciso cortar gastos de outras áreas. Chegou a ser aventada no Ministério da Economia a troca de reajuste por aumento de benefícios, mas sem força política foi deixada de lado pela pasta.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/macroeconomia/pec-dos-combustiveis-refis-projetos-em-ano-eleitoral-podem-deixar-bomba-fiscal-de-mais-de-100-bi-25381840


Bolsonaro tripudia de acidente, mortes na pandemia e decisões técnicas

Na última quarta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez piada com a cratera que se abriu nesta semana no asfalto na marginal Tietê, em São Paulo.

Parte do asfalto da pista da marginal cedeu após o rompimento de uma tubulação de esgoto, que inundou um poço de ventilação da obra da linha 6-laranja do metrô.

Funcionários conseguiram escapar daquilo que poderia ter sido uma tragédia, motoristas paulistanos viram o trânsito piorar na região e o prazo para a entrega da nova linha do metrô pode ser prorrogado.

Apesar disso, Bolsonaro zombou do acidente. "Semana que vem a gente conclui a transposição do [rio] São Francisco. Em São Paulo, eu vi a transposição do Tietê", disse, rindo, o presidente.

Essa foi a última de uma série de situações parecidas de Bolsonaro ao longo de seu governo. Abaixo, relembre alguns desses casos.

MORTE NA DITADURA

Em julho de 2019, seu primeiro ano de governo, Bolsonaro disse que poderia explicar ao presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).

afirmação em tom de provocação ocorreu ao reclamar sobre a atuação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo em 2018.

"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele."

"Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro.

Felipe é filho de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, após ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, no Rio de Janeiro.

Fernando era estudante de direito e funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo e integrante da Ação Popular. Felipe tinha dois anos quando o pai desapareceu.

No relatório da Comissão Nacional da Verdade, responsável por investigar casos de mortos e desaparecidos na ditadura, não há registro de que Fernando tenha participado da luta armada.

MORTES NA PANDEMIA

Em abril de 2020, no início da pandemia, Bolsonaro deu uma declaração que ficou marcada como um dos símbolos sobre a forma como tem tratado as vítimas da Covid.

Questionado na ocasião a respeito das mortes, Bolsonaro disse: "Eu não sou coveiro".


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ANVISA

Em novembro de 2020, portanto antes do início da vacinação contra a Covid no país, Bolsonaro afirmou que a então suspensão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) dos estudos clínicos da Coronavac no Brasil era "mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

Os comentários do presidente foram feitos no Facebook, em resposta a um seguidor que lhe perguntou se o imunizante contra a Covid-19 em desenvolvimento por uma farmacêutica chinesa e pelo Instituto Butantan seria comprada pelo governo federal.

"Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o [governador João] Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la", escreveu o presidente como resposta. "O presidente [Bolsonaro] disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

Junto à reposta, o presidente publicou o link de uma notícia sobre a decisão da Anvisa de suspender os testes. Na ocasião, a agência informou que determinou aquela interrupção do estudo clínico da vacina Coronavac no Brasil após a ocorrência de um evento adverso grave.

VACINA

Em janeiro de 2021, Bolsonaro ironizou o percentual de eficácia apresentado pelo Instituto Butantan para a Coronavac, vacina contra a Covid-19. O instituto detalhava naquele momento que o imunizante tem eficácia geral de 50,38%.

"Essa de 50% é uma boa?", indagou Bolsonaro a um apoiador que o abordou sobre a vacina no jardim do Palácio da Alvorada.

"O que eu apanhei por causa disso. Agora estão vendo a verdade. Estou há quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou irresponsável. Não estou a fim de agradar quem quer que seja", disse Bolsonaro.

O percentual de eficácia havia sido informado à Anvisa no pedido de registro emergencial da vacina e estava acima dos 50% requeridos universalmente para considerar um imunizante viável.

INSULTO A REPÓRTER

Em fevereiro de 2020, a se basear em declarações falsas de um depoente na CPI das Fake News do Congresso, Bolsonaro insultou, com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha.

"Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]", disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada. Após uma pausa durante os risos, Bolsonaro concluiu: "a qualquer preço contra mim".

O insulto de Bolsonaro foi repudiado por representantes de diversos partidos e políticos e por entidades jornalísticas, que consideraram a fala um ataque à democracia. A palavra "furo" é um jargão jornalístico para se referir a uma informação exclusiva.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/02/bolsonaro-tripudia-de-acidente-mortes-na-pandemia-e-decisoes-tecnicas-relembre-casos.shtml