Comunidades unem iniciativas para preservar as águas do cerrado
Ana Maria Pol / Correio Braziliense
Sair dos muros da residência e entender a realidade dos arredores sempre é uma grande oportunidade socioeducativa. A cada dia, milhões de pessoas no mundo estão aderindo às causas em prol do planeta, tentando conscientizar a sociedade para o desenvolvimento sustentável. Foi a partir de um olhar atento para as águas que unem Planaltina, no sentido de Águas Emendadas, à Lagoa Formosa, em Planaltina de Goiás, da importância das regiões para a preservação do cerrado, que moradores das cidades do DF e de GO decidiram unir projetos de incentivo à preservação. O movimento, que já reúne cerca de sete grupos, tem o intuito de melhorar a comunicação entre os ativistas das duas regiões, que fazem grandes trabalhos em defesa das águas do bioma.
Desde sistemas agroflorestais, ecoturismo, artesanato, produção orgânica, ou, até mesmo, gastronomia, moradores de Planaltina e de Planaltina de Goiás têm promovido a economia criativa por meio de uma forma sustentável. "O que percebemos é que há pouca comunicação e articulação entre essas pessoas. Então, queremos imitar a natureza, ou seja, criar um ecossistema onde essas iniciativas se conectem, se protejam, se ajudem, cresçam e deem frutos admiráveis e que beneficiem toda a sociedade", pontua Marcelo Benini, especialista em comunicação socioambiental e coordenador dos Guardiães das Águas Emendadas (GAE), uma das entidades responsáveis pela iniciativa.
Segundo Marcelo, juntar as duas Planaltinas surgiu da necessidade de interromper as divisas e melhorar a comunicação entre as duas áreas que estão ligadas pelas águas e que precisam de mais cuidado e atenção por parte do governo. O especialista explica que a cidade de Planaltina de Goiás vem se expandindo na direção da divisa norte com o DF, onde já foram implantados vários bairros: Brasilinha 16 e 17, São Francisco 1 e 2, além de novas áreas em implementação. "A divisa está a menos de 7km da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Portanto, o adensamento da população pode acarretar perdas graves e irreversíveis para a Estação Ecológica e sua área de amortecimento de impacto ambiental, onde estão os núcleos rurais Bonsucesso e Quintas do Maranhão, ambos no DF, em áreas rurais ainda relativamente bem preservadas", diz.
Agora, a iniciativa ainda está em processo de convocação de participantes. "Estamos reunindo as pessoas, e convidamos todos aqueles que podem contribuir de alguma forma a se unirem a nós. Pretendemos fazer a primeira reunião geral de trabalho no mês de abril", diz. A partir disso, os envolvidos em diferentes projetos devem se conectar e unir objetivos. "Vamos conhecer as memórias, os saberes, as ações de cada um e estabelecer pontos de articulação. A partir daí, gerar uma voz comum, agregadora, que aja em prol da valorização da vida humana nos seus aspectos econômicos, ambientais e sociais", complementa Marcelo.
Após isso, o especialista diz que novos projetos devem ser criados. "Vamos criar projetos sempre pautados em economia criativa e sustentabilidade, e vamos atuar fortemente junto ao poder público do DF, Goiás e federal, propondo soluções e cobrando políticas públicas e atuação permanente dos responsáveis pela preservação do patrimônio natural da região", diz. De acordo com Marcelo, o intuito é que o movimento chame a atenção das populações e dos agentes públicos da região. "Queremos que haja uma grande mobilização para tornarmos a área rural norte do DF e a região de Planaltina de Goiás exemplos de preservação e boa convivência entre o homem e a natureza", reitera.
A Bamburiti é uma das empresas que dão esse exemplo. Vitor Hugo Moraes de Lima, 36 anos, dono do negócio explica que a iniciativa é uma empresa de soluções sustentáveis, que trabalha com tecnologias e produtos com a utilização do bambu e fibras naturais, com preceitos da agroecologia e da permacultura. O trabalho é exercido há 10 anos, com o objetivo de beneficiar a natureza e o homem. "A Bamburiti nasceu da paixão pela arte e da motivação de associar design moderno a materiais naturais. Produzimos bicicletas de bambu sob medida, ajustáveis para as medidas biométricas do ciclista: em qualquer nível, modalidade e tipo de bicicleta desejada", pontua.
Sobre a conservação do meio ambiente por meio do uso consciente dos recursos naturais, Vitor vê a educação como ponto-chave. "Somos o meio em que vivemos. Temos que reeducar a sociedade a ter empatia ao seu ecossistema mais próximo. No momento, isso parece invisível por entre as lentes dos dispositivos móveis. Colocamos nosso trabalho em destaque em outros cenários, trazendo informações para um público que antes não havia se atentado às questões ecológicas. Com as bicicletas de bambu, se pode fazer uma intervenção de educação ambiental naturalmente", comenta.
Importância
O administrador da Unidade de Conservação de Águas Emendadas, Gesisleu Darc Jacinto, explica a importância de ações como estas. "Uma unidade de conservação depende muito da qualidade da sua zona de amortecimento. Por isso, quanto mais armazenada a sua zona estiver, menores serão os impactos negativos para essa unidade", ressalta. Águas Emendadas está situada entre a expansão urbana e área rural, onde as atividades impactam diretamente na qualidade da sua preservação. "Então, as atividades conservacionistas desenvolvidas nessas áreas resultam em benefícios à estação ecológica", pontua Gesisleu.
De acordo com o coordenador, a região vem sofrendo impactos negativos sem precedentes com a ocupação desordenada. "Planaltina de Goiás tem um crescimento absurdo em direção à região de Planaltina-DF. Há uma fomentação em relação ao crescimento desordenado da região, onde estão localizados núcleos rurais que estão na zona de amortecimento de Águas Emendadas", esclarece.
Segundo Gesisleu, o parcelamento irregular da zona rural forma vilas especiais que aumentam muito a demanda por água. "A perfuração de poços prejudica muito o lençol freático, e a consequência disso é a redução de quantidade de água nas nascentes, localizadas dentro da estação. Além do desmatamento da vegetação, que traz todo um prejuízo para a zona silvestre rural", reitera. Por isso, a importância de ações que visam preservar essas áreas. "Elas são de suma importância para a manutenção das nossas nascentes dentro de Águas Emendadas. Nesse sentido, o trabalho que a GAE vem realizando na região deve ser incentivado, porque, assim, poderemos evitar um futuro desastroso.
Além da GAE e da Bamburiti, até o momento, participam do movimento a Ecovila da Lagoa, a propriedade Quinta dos Pirilampos e os projetos Planaltina Goiás Verde, Árvore da Amizade e o grupo de Caminhadas de Brasília. Todos unidos por um bem comum: a preservação das águas. Isso porque é no cerrado que nascem as principais bacias hidrográficas do continente sul-americano. Nele, ocorrem as mais ricas diversidades de flora e fauna. Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros.
Ailson José Rocha Juno, 44 anos, é dono da Ecovila da Lagoa, uma localidade própria para o ecoturismo na região que participa do movimento. O trabalho com sustentabilidade vem desde 2008, destacando o impacto da presença em um ambiente natural, como destaca o proprietário. "A forma de conservar o meio natural não é somente por estar no ambiente natural, mas entendendo como você mesmo é responsável pelo lugar. Assim, se entende a dinâmica da natureza, aplicando isso no dia a dia. A sustentabilidade não está nos materiais, mas sim na conduta: um ambiente natural incentiva uma conduta mais responsável. E essa é a ideia com a Ecovila", ressalta.
O proprietário diz que a ideia da Ecovila surgiu após uma experiência que vivenciou na Europa e sentiu isso como "algo libertador". "Quero proporcionar isso para mais pessoas: com alimentação orgânica e separação de lixo correta se pode fazer uma vida melhor", diz. Sobre o comportamento sustentável, Ailson alega que não deve ser algo imposto, mas incentivado. "Isso pode ser vivenciado mesmo em grandes cidades, como na Europa: com hortas em quadras, plantações urbanas, mesmo encontros para discutir construções mais sustentáveis. Essa consciência é possível sem que seja imposta, e referências não faltam. Mesmo o convívio com as pessoas contribui para a sustentabilidade. A responsabilidade é com a natureza humana, em cada ação, e não só com o meio ambiente, mas com cada um que convivemos", observa.
A ideia tem continuidade na Quinta do Pirilampos, com o dono, Sérgio Saretto, 44, que aplica a agrofloresta. "Com esse conceito e com o solo mais rico, por ter mais matéria orgânica, naturalmente se tem essa qualidade passada aos produtos: são frutos mais doces e com mais propriedade, principalmente por não haver a necessidade de uma produção tão rápida e que não faça uso de produtos orgânicos. A agrofloresta em larga escala melhora a aparência, sabor e riqueza do produto, além da qualidade do terreno onde este é plantado", define.
*Estagiário sob a supervisão de Adson Boaventura
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2022/02/4986515-comunidades-unem-iniciativas-para-preservar-as-aguas-do-cerrado.html
Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite reproduz política de Salles
Eliane Oliveira e Eduardo Gonçalves
21/02/2022 - 04:30
BRASÍLIA — A substituição de Ricardo Salles por Joaquim Leite no comando do Ministério do Meio Ambiente não trouxe mudanças significativas na atual política ambiental do governo, segundo especialistas e dirigentes de ONGs ouvidos pelo GLOBO.
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Mesmo com as chuvas constantes, que costumam frear a devastação florestal, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 430 quilômetros quadrados de alertas de desmatamento em janeiro deste ano. É quatro vezes mais do que no mesmo mês de 2021, quando Salles ainda era ministro, e Leite, secretário da Amazônia e Serviços Ambientais.
Apesar disso, integrantes do governo destacam, como fator positivo, o temperamento discreto de Leite, que foge de polêmicas e holofotes, ao contrário de Salles, cujo perfil era mais belicoso.
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A preservação da biodiversidade e a redução do desmatamento da Amazônia são a senha para que o Brasil seja considerado apto a ingressar como membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado “clube dos ricos”.
A continuidade, na prática, da gestão Salles se mostra, por exemplo, segundo ambientalista, no mesmo perfil da diretoria de órgãos de fiscalização, formada majoritariamente por policiais ou militares aposentados.
Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, nada mudou.
— Salles não saiu do ministério por causa do desempenho, mas por problemas com a Justiça — afirmou, antes de comparar o atual ministro e seu antecessor: — A única diferença era que Salles era verborrágico, e o Leite fica quieto. As ações são as mesmas.
Ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc destacou, como medidas prejudiciais da gestão Leite, o decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, que instituiu o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala (Pró-Mapa). A seu ver, a medida incentiva o garimpo ilegal.
Miguel Scarcello, secretário-geral da SOS Amazônia, avalia que não existe hoje no governo federal uma política de conservação florestal:
— O que existe é uma agenda de concessões. O governo quer votar no Congresso uma pauta liberal, com a participação mínima do Estado. A Amazônia está a Deus dará.
Eleição acirra disputa entre Bolsonaro e governadores por apoio de policiais
Bianca Gomes, Camila Zarur e Daniel Gullino / O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO — O desenrolar do ano eleitoral acirrou a disputa pelo apoio de uma categoria cortejada com frequência pelo presidente Jair Bolsonaro: os policiais. Governadores de 17 estados já deram aumentos salariais ou enviaram para debate nas assembleias propostas de reajuste — há casos de medidas destinadas especificamente ao grupo e de benefícios mais amplos, que englobam também outros servidores. Nas dez unidades da federação restantes, há acenos diversos, como projetos de reestruturação de carreira, compra de equipamentos e aumento de efetivo.
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Em paralelo, o titular do Palácio do Planalto, que viu o Congresso aprovar semana passada uma Medida Provisória do governo que ampliou o crédito para integrantes das forças de segurança comprarem imóveis, planeja enviar um texto que amplia a “retaguarda jurídica”, pleito antigo de agentes envolvidos em operações. Segundo estimativa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o universos das forças de segurança tem cerca de 18 milhões de pessoas, somando servidores da ativa e da reserva, cônjuges e filhos.
Na tentativa de diminuir sua alta taxa de rejeição e subir alguns pontos nas pesquisas, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência, foi um dos que lançou mão de reajustes para policiais civis e militares. A categoria receberá 20% de aumento, o dobro do anunciado para boa parte das categorias do funcionalismo público no início do ano. Ao anunciar o reajuste, o tucano lamentou a demora para a recomposição salarial e disse que gostaria de dar mais aos policiais, a quem chamou de “heróis”.
O deputado Delegado Olim (PP), que integra a base do governo na Assembleia Legislativa, reconhece a importância do reajuste, apesar de reclamar que o valor está aquém do necessário:
— Nós temos o pior salário do Brasil. Ele deveria dar 25% (de reajuste), no mínimo.
Ex-bombeiro, o governador de Santa Catarina Carlos Moisés (sem partido), que pretende concorrer a mais um mandato, concedeu valores ainda mais altos: 33% de aumento aos policiais na base das carreiras e 21%, aos níveis mais altos.
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Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rafael Alcadipani lembra que os policiais são uma das categorias mais numerosas do funcionalismo público.
— As medidas podem ainda ser vistas como resposta ao temor dos governadores pela bolsonarização das PMs e como uma ação defensiva diante das promessas de Bolsonaro de aumento salarial dos policiais federais. Com reajustes e outras melhorias de carreira, os chefes dos Executivos estaduais se “vacinam” contra uma manifestação ou greve em ano eleitoral — afirma Alcadipani.
Governadores também agem, dizem analistas, em resposta a pesquisas qualitativas que colocam a segurança pública como uma das principais preocupações dos eleitores, ao lado de saúde, educação e desemprego.
Bônus e concursos
Onde não foi possível dar um reajuste maior que o do resto do funcionalismo, os acenos à categoria se dão por meio de bônus, auxílios e melhorias na carreira. Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas e pré-candidato à reeleição, promoveu 1.923 policiais militares e bombeiros no fim do ano passado e lançou concursos públicos.
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Após vetar trechos do projeto de lei que reajustaria a Gratificação de Regime Especial de Trabalho (Gret) dos praças do Corpo de Bombeiros e dos policias em dois anos, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), que também pretende disputar a reeleição em outubro, cedeu à pressão e publicou um decreto em que concede a bombeiros e policiais militares uma gratificação correspondente a 150% do soldo já na folha salarial de janeiro. O benefício terá um impacto anual de R$ 278,4 milhões.
Quem não pode mais se reeleger também aprovou medidas favoráveis a policiais. Na Bahia, Rui Costa, possível candidato do PT ao Senado, concedeu incremento de R$ 300 para servidores da Segurança Pública, com validade a partir de abril. Além disso, entregou 150 motocicletas e 27 viaturas.
— Estamos construindo dezenas de unidades da Polícia Militar, que funcionavam em casas alugadas, e também da Polícia Civil — afirmou Costa, durante cerimônia com agentes, em fevereiro.
Projetos da presidência
O governo federal também está de olho em reajustes para forças de segurança. Bolsonaro chegou a reservar R$ 1,7 bilhão no Orçamento para dar aumento a policiais federais, rodoviários federais e agentes penitenciários. A reação de outras categorias de servidores, que também pedem um reajuste, emperrou a medida. Na quarta-feira, o presidente lembrou que maio é o limite para que a medida possa ser efetivada, em função da eleição, e reclamou das reações que a atrasaram:
— Por que não podemos ajudar uma categoria? Por todos tem que ser prejudicados?
A Casa Civil também estipulou como prioridade uma proposta, ainda em elaboração, que vai tratar da “retaguarda jurídica para policiais”. Não foram divulgados detalhes, mas o governo já tentou em outras oportunidades aprovar o chamado “excludente de ilicitude”.
— Agora existem condições de apresentar ao Parlamento uma proposição que trate mais detalhadamente dos limites da atuação policial — disse José Lopes Hott Junior, assessor da Casa Civil, em podcast do ministério.
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Na lista de projetos que o governo pretende aprovar no Congresso há tentativas de flexibilizar o porte e a posse de armas, que pode permitir que policiais tenham até dez armas de fogo — o limite para o resto da população é de quatro. Pode ir a votação em abril a Lei Orgânica da Polícia Militar, que dá mais autonomia à corporação e, segundo especialistas, pode abrir margem para um aumento salarial em cascata, ao passar a considerá-la como “carreira jurídica”.
— Essa (PM) é a grande base do presidente Bolsonaro, que tem o maior efetivo — diz o presidente da Frente Parlamentar de Segurança Pública, o deputado Capitão Augusto (PL-SP).
O governo também está elaborando um programa batizado de PraViver, que terá o objetivo é “garantir retaguarda social aos profissionais de segurança pública e suas famílias por meio de ações preventivas e de amparo”, segundo a deputada Major Fabiana (PSL-RJ).
— Existe um alinhamento ideológico, que é de um grupo mais conservador. E no momento eleitoral também existe uma tentativa das polícias de serem ouvidas, de abrir interlocução com todas as candidaturas — diz Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança, que continua:
— O que Bolsonaro está tentando fazer é saturar essa agenda, ou seja, ele está dizendo: “Olha, não precisa falar com nenhum outro porque eu que vou cuidar de vocês.” Mas não necessariamente ele vai conseguir impor o que quer.
Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/ano-eleitoral-acirra-disputa-entre-bolsonaro-governadores-por-apoio-de-policiais-1-25402253
Marqueteiros de candidatos focarão na internet para alcançar indecisos
Deborah Hana Cardoso / Correio Braziliense
Enquanto muitos eleitores já demonstram suas preferências para o pleito de outubro, como apontam pesquisas de intenção de voto — lideradas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro —, há uma gama de indecisos, dispostos a ouvir o que os outros pré-candidatos têm a dizer. É o caso de José Elias da Costa Melis, 55 anos, motorista de aplicativo e morador de Sobradinho. Ele está inclinado a repetir o voto de 2018, em Bolsonaro, mas não está totalmente convencido. A convicção dele é de que não votará em Lula: "Sem chance", frisou.
Já Maria Luiza Malves, 24 anos, estudante de hebraico da Universidade de São Paulo (USP), disse estar decidida no voto em Lula e enfatizou que a terceira via não a convence. "Fui eleitora do Ciro (Gomes, em 2018) e caí em suas promessas mirabolantes. Descarto uma terceira via no momento. Quem sabe na próxima eleição", ressaltou.
Entre os eleitores convictos e os indecisos, há muito trabalho para os marqueteiros dos postulantes ao Palácio do Planalto. Conforme explicou Djiovanni Jonas França Marioto — mestre e doutorando em ciências políticas e criador da consultoria Black Tech & Politics —, a atividade desses profissionais está calcada na comunicação persuasiva, a arte de convencer a opinião pública.
"Neste ano, as campanhas serão mais digitalizadas. Agora, os profissionais do marketing digital e cientistas de dados integram as equipes para entender os rumos do pleito durante o processo", disse. Ele reiterou que há, ainda, um público fiel à propaganda da tevê e que não são atingidos pelas redes sociais. "É o meio que ainda ultrapassa a barreira dos algoritmos, presente em todos os lares", destacou.
De acordo com o consultor de marketing político Marcelo Vitorino, a tevê ainda é o veículo que dá conhecimento a uma candidatura, enquanto a internet engaja o eleitor. Na avaliação dele, há muito uso inadequado dos meios. "Candidatos usam em suas redes sociais materiais produzidos para a televisão. O eleitor que assiste à tevê é o mesmo que usa a internet, mas, para cada plataforma, quer conteúdos diferentes", explicou. Ele deixou claro que likes não se convertem em decisão de voto.
Segundo o consultor político Fernando Vieira, diretor sudoeste do Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (Camp), o combate à desinformação será um desafio nesta eleição, já que os receptores de notícias falsas as replicam sem saber. "Os candidatos devem criar um canal próprio de comunicação, um ambiente seguro para combater as fake news", frisou.
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/02/4986964-propagandas-em-alta-tensao.html
Disputa por obra no São Francisco gera boatos nas redes sociais
Clarissa Pacheco e Pedro Prata / O Estado de S.Paulo
A disputa pela ‘paternidade’ da transposição do Rio São Francisco entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula, candidatos favoritos à Presidência, segundo as pesquisas eleitorais, movimentou a desinformação nas redes sociais. Exageros sobre responsabilidades de cada governo e atribuição equivocada de obras turvam o debate sobre um dos maiores projetos de infraestrutura hídrica do País.
As obras da transposição começaram oficialmente em 2007, no segundo mandato de Lula. Ela é composta de um eixo leste, de 220 km, e um eixo norte, com 260 km. Inicialmente prevista para ser entregue em 2010, sofreu sucessivos atrasos. Com os adiamentos, o valor da obra inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões aumentou. Até novembro de 2019, o governo Bolsonaro afirma terem sido gastos R$ 10,6 bilhões, com R$ 1,4 bilhão restantes para concluir a obra.
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Um compilado de vídeos sobre o projeto engana ao atribuir apenas a Bolsonaro a responsabilidade pela obra. Embora ele tenha inaugurado novos trechos no eixo norte, um relatório da Controladoria-Geral da União consultado pelo Projeto Comprova indica que, em 2017, esse segmento já estava 92,5% concluída. Já o eixo leste foi inaugurado integralmente na gestão Michel Temer, também em 2017.
Nota
Por meio de nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que “os percentuais de execução das obras divulgados pelas gestões anteriores não representam a realidade, já que, em decorrência das longas paralisações e necessidade de reparos em diversas estruturas e trechos concluídos, houve regressão nesses porcentuais, necessidade de novos investimentos, bem como atrasos no término do empreendimento”.
Outras postagens atribuem a Bolsonaro obras que foram entregues por seu antecessor, Michel Temer. É o caso da chegada das águas a Barra de Santana, na Paraíba, ocorrida em 2018. Já um vídeo que mostra um desvio da BR-232, em Pernambuco, e que passa por cima de um canal da transposição, foi entregue em 2017.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,disputa-por-obra-no-sao-francisco-gera-boatos,70003985433
“Ilustração sempre foi o patinho feio”, diz Chiarelli sobre Semana de 22
João Vitor*, com edição do Coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida
O professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) Tadeu Chiarelli afirma que “a ilustração sempre foi o patinho feio”. “A fotografia não entrou no modernismo da época. Então, também tinham outros patinhos feios”, disse. Ele vai discutir o assunto, na terça-feira (22/2), em webinar da Biblioteca Salomão Malina e da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília.
Em celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o evento será realizado a partir das 18 horas e transmitido no Facebook da biblioteca, assim como no site e Youtube da fundação. Além de Chiarelli, a historiadora Paula Ramos e o jornalista Sergio Leo confirmaram participação.
O professor afirmou que as produções de 1922 eram de cunho conservador. “O objetivo era falar da paisagem humana. Falar do Brasil, como Anita Malfatti fez, é um figurativismo muito conservador. Não que ela tenha sido nacionalista, mas tem viés conservador”, analisou.
Chiarelli ressaltou, ainda, que os modernistas se viam como herdeiros de uma tradição europeia. “As ligações com a Europa são desejadas. Você pinta o tema brasileiro, mas a visualidade e tradição são europeias”, explicou.
O jornalista Sergio Leo, por sua vez, diz que a semana de 1922 foi uma “aventura modernista”. Segundo ele, há quase 100 obras a serem analisadas, mas conforme ressaltou, alguns artistas foram esquecidos ao longo dos anos.
Sobre os artistas e agitadores da semana de 100 anos atrás, Leo destaca o trabalho de Tarsila de Amaral que estava em Paris, na época, mas que se juntou ao grupo que liderou a manifestação pouco depois. “Trouxe algo ousado. Não chegava a ser revolucionário porque tentava incorporar o clássico europeu, mas a brasilidade está lá”, analisou.
O jornalista enalteceu o trabalho de Di Cavalcanti, destacando algumas características. “Mantém ligação com elementos conservadores, ideias do real e representação. É impressionista. A arte questiona o modernismo, que é a ruptura de movimentos artísticos. É a modernidade contemporânea”, afirmou Leo.
Por outro lado, o jornalista também citou o trabalho de Anita Malfatti. “Teve representação relativamente pequena. [A arte dela] sofreu críticas de Monteiro Lobato”, ponderou.
Webinário sobre Artes na Semana de 22: moderna ou conservadora?
Dia: 22/02/2022
Transmissão: a partir das 18h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira
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Eduardo Gonçalves / O Globo
BRASÍLIA — Relegada à prateleira dos temas de menor importância em pleitos anteriores, a Amazônia deverá migrar para o centro dos debates na disputa pelo Palácio do Planalto deste ano. Da esquerda à direita, as pré-campanhas dos presidenciáveis têm defendido que a preservação da floresta não é mais um tema restrito à ordem ambiental, mas de economia, relações exteriores e desigualdade social.
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A pauta ganha força por se tratar de um ponto de fragilidade do presidente Jair Bolsonaro, postulante à reeleição. Dentro e fora do país, sua política ambiental é alvo de críticas contundentes. Grandes investidores internacionais, reiteradamente, ameaçam retirar seus ativos do país caso o governo não intensifique a fiscalização para coibir o desmatamento da floresta.
Só no último mês, três pré-candidatos à Presidência fizeram discursos e postagens relacionados à proteção do bioma amazônico. No último dia 2, Sergio Moro (Podemos) defendeu a necessidade de se “estabelecer uma meta ambiciosa de desmatamento zero”. No dia 6, Ciro Gomes (PDT) cobrou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal por investigações contra integrantes do governo Bolsonaro que “ampliam a marcha da devastação dos últimos santuários da Amazônia”. No dia 9, Lula declarou que “cuidar da floresta é obrigação ambiental e econômica”.
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Em contraponto, os planos e diretrizes das campanhas de 2018 de Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro não tinham sequer a palavra “Amazônia”.
Com equipes próprias para tratar do assunto, as pré-campanhas já começaram a rascunhar suas propostas sobre o tema. Elas vão desde a retomada da demarcação de terras indígenas e renumeração de povos tradicionais para preservar áreas de conservação a políticas de “tolerância zero” contra o crime ambiental. Em comum, apesar das diferenças ideológicas, está a visão de que a questão ambiental é um dos flancos com maior potencial de dano aos planos de Bolsonaro, assim como a gestão da pandemia de Covid-19.
Para tornar o assunto mais palatável aos eleitores, os candidatos devem pontuar que a crise climática acaba impactando a vida dos mais pobres, vide a tragédia das fortes chuvas que mataram mais de 150 pessoas em Petrópolis (RJ). Além disso, eles devem destacar a urgência de recuperar a credibilidade verde do Brasil para garantir os bons resultados do agronegócio e atrair investimentos estrangeiros.
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Um dos responsáveis por estudar o assunto na campanha de Lula, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) afirmou que o “enfrentamento da crise climática está hoje no mesmo patamar do debate sobre erradicação da desigualdade social”. Segundo ele, o PT pretende retomar as políticas que vinham sendo implementadas durante as gestões Lula e Dilma, como o programa “Bolsa Verde” que oferecia R$ 300 a famílias pobres que viviam em áreas de conservação; e destravar os processos de demarcação de terras indígenas paralisados no governo Bolsonaro.
— Mais de 50% dessas áreas ainda estão em fase de processamento — disse ele.
O comitê de campanha de Bolsonaro ainda não indicou quem vai capitanear a elaboração de propostas voltadas ao tema. Por ora, as manifestações sobre a pauta têm partido do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Durante a Conferência Mundial sobre o Clima, a COP26, em novembro, ele apresentou os planos do governo, que precisaria de mais dois mandatos para colocá-los em prática. Na ocasião, Leite anunciou uma nova meta de redução de 50% das emissões dos gases associados ao efeito estufa até 2030, a neutralização das emissões de carbono até 2050 e o fim do desmatamento ilegal até 2028.
Plano de investimento
Já o representante do meio ambiente na campanha de Moro, o agrônomo Xico Graziano não vê na criação de mais reservas ambientais a solução para acabar com a devastação do bioma.
— O diagnóstico que temos é que o desmatamento é maior em terras públicas. Criar unidades de conservação e não fiscalizar é só para inglês ver — afirma Graziano, que defende a criação de um cadastro de desmatadores.
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Coordenador de campanhas tucanas do passado, Graziano afirmou que antes a Amazônia era um assunto lateral na agenda ambiental, que geralmente priorizava questões de saneamento básico e administração de lixões.
— Inevitavelmente, o bioma agora é o grande tema —disse ele.
Guru econômico da campanha de Ciro Gomes, o economista Nelson Marconi tem elaborado o que chama de uma “política de desenvolvimento científico-tecnológico” que leve as universidades à Amazônia para “promover atividades farmacêuticas, químicas e de alimentos”.
— A pesquisa estimula o comércio, os serviços, os mercados de software no lugar da exploração predatória — afirmou ele.
Já o governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB, João Doria, anunciou no fim da COP26, em Glasgow, um aporte de R$ 100 milhões do estado para um programa de pesquisa na região.
Propostas e iniciativas para a Amazônia
Lula (PT)
Retomar programa “Bolsa Verde”, que oferecia R$ 300 a famílias pobres que viviam em áreas de conservação. Destravar processos de demarcação de terras indígenas paralisados no governo Bolsonaro
Bolsonaro (PL)
Fim do desmatamento ilegal até 2028. Nova meta de redução de 50% das emissões dos gases associados ao efeito estufa até 2030. Neutralização das emissões de carbono até 2050
Sergio Moro (Podemos)
Ampliar o monitoramento e a integração das forças de segurança na região, o chamado programa Vigia. Criar um cadastro de desmatadores para bloquear o acesso deles ao mercado financeiro
Ciro Gomes (PDT)
Elaboração de uma política de desenvolvimento científico tecnológico que leve as universidades à Amazônia para promover atividades farmacêuticas, químicas e de alimentos. O objetivo é estimular o comércio, os serviços e os mercados de software
João Doria (PSDB)
O governador de São Paulo anunciou no fim do ano na Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, um aporte de R$ 100 milhões do estado para um programa de pesquisa na região.
Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/amazonia-ganha-destaque-na-disputa-presidencial-extrapola-pauta-ambiental-25402962
Antipetismo e antibolsonarismo podem ser decisivos no resultado das eleições
Tainá Andrade e Taísa Medeiros / Correio Braziliense
Pesquisas de intenção de voto mostram que as eleições de outubro serão marcadas pela polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nos levantamentos, e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas especialistas também ressaltam que o antipetismo e o antibolsonarismo serão decisivos no pleito deste ano. Pesquisa Ipespe, divulgada em janeiro, mostrou que o chefe do Executivo é rejeitado por 64% dos entrevistados, e o petista, por 43%.
A vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018 é creditada, principalmente, ao antipetismo, na esteira dos escândalos de corrupção que atingiram a imagem do partido.
Na Câmara, o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), acredita que, ao começar a propaganda política, a rejeição a Bolsonaro vai cair. "Quando entrar o horário eleitoral, ele vai crescer muito e rápido. Bolsonaro comprou uma briga com a imprensa, então, pague o preço que comprou. Não é mostrado tudo o que ele construiu em seu governo", criticou. "Quando as pessoas tomarem conhecimento do que ele realizou, vai reforçar o discurso dele contra a imprensa e vai ficar na cabeça do eleitor confirmado que não foi mostrado tudo o que ele construiu no seu governo", apostou.
Na avaliação dele, as campanhas terão perfis diferentes. Enquanto Lula fará uma força-tarefa de mais "retaguarda", ou seja, com menos mobilização de rua e preferência por eventos internos, Bolsonaro seguirá na estratégia utilizada no ano de ascensão, com exposição e mobilização mais agressiva. "O bolsonarismo anda sozinho, sem patrocínio e com alto engajamento, tem um apoio muito aguerrido. Os petistas não têm tanto porque não têm a arrecadação sindical para patrocinar as mobilizações", alfinetou.
Aliados de Bolsonaro comentam que o candidato que concorre à reeleição não será o mesmo do primeiro ano de mandato. Apesar de continuar com um jeito particular de trabalhar, Bolsonaro teria entendido que, em uma democracia, tem de governar com os partidos políticos. Então, ultimamente, está lidando melhor com os grupos e isso tende a diminuir sua rejeição até mesmo entre os parlamentares.
Diálogo
Líder do PT na Casa, o deputado Reginaldo Lopes (MG) enfatizou que a melhor forma de lidar com a polarização ideológica é "evitar cair nas provocações de Bolsonaro". "Ele quer um Estado armado, um Estado miliciano, e nós queremos um Estado democrático. O governo dele já foi um governo que pregou o ódio, tudo por causa dessa ideologia fascista. Temos de superar com diálogo e debate de ideias", defendeu.
O senador Humberto Costa (PT-PE) definiu a preparação do PT para a corrida eleitoral com postura otimista, apesar de saber que será complicado. "Há uma possibilidade de o presidente Lula vencer, mas sabemos que não vai ser fácil. O bolsonarismo, no momento em que observar que pode perder, vai radicalizar o discurso e as ações, e estamos nos preparando para isso", ressaltou.
A aposta do parlamentar é de que, apesar das negociações de Lula ocorrerem, predominantemente, nos bastidores, com o mínimo de exposição, o ex-presidente vai atuar efetivamente no momento dos embates diretos com os adversários. "É de interesse dele participar dos principais debates, confrontar e demonstrar a diferença de preparo intelectual, apresentar seus projetos e ações", disse. "Agora, é hora de construção de alianças, acordos, muito mais negociações políticas. Mas muito em breve acredito que ele vai ter um processo de exposição."
Para o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni, o bolsonarismo "vai fazer de tudo para vencer, inclusive tumultuar o processo eleitoral". "Creio que Lula, para driblar o antipetismo, que hoje é menor do que foi em 2018, está se aproximando de (Geraldo) Alckmin, que é um político com longa trajetória. Quanto a Bolsonaro, considero que sua política não é combater o antibolsonarismo, pois ele não é de ceder, de amenizar sua rejeição, pelo contrário, sua política é de afirmar suas características, mesmo diante da oposição a elas", destacou.
Terceira via
Até agora, a terceira via, que prometia fazer frente aos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas, não tem causado impacto. Os postulantes à alternativa à polarização, como Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB), João Doria (PSDB) e Alessandro Vieira (Cidadania), não apresentam consideráveis mudanças nos levantamentos sobre intenção de voto para outubro.
Para David Fleischer, cientista político e professor de sistemas eleitorais na Universidade de Brasília (UnB), a terceira via ainda não aconteceu, mas é possível. "Baseado nas pesquisas da semana passada, tudo indica que Lula será presidente, mas não sabemos. Ao longo do ano, nós vamos ter uma visão se é possível ter uma terceira via mais fácil, que passará Bolsonaro e disputará com Lula. Lá para junho, julho e agosto haverá uma visão melhor", sustentou. "Porque a partir de agosto começarão os debates, e isso pode influenciar um pouco mais os eleitores."
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/02/4986980-antipetismo-e-antibolsonarismo-podem-ser-decisivos-no-resultado-das-eleicoes.html
Pesquisa CNT mostra governo Bolsonaro com rejeição e Lula na frente
Deborah Hana Cardoso / Correio Braziliense
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada nesta segunda-feira (21/2) mostrou que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) continua ruim ou péssimo para 42,7%. O percentual é 5,2 pontos porcentuais menor do que o registrado em dezembro. Isso se reflete nas pesquisas eleitorais. Na pesquisa espontânea, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mantém na liderança, confirmando a tendência de outras amostragens, em 32,8%, seguido por Bolsonaro com 24,4% das intenções de voto.
Há ainda uma fatia de 28,3% de indecisos. Também são citados na pesquisa Ciro Gomes (2,6%), Sergio Moro (2,1%), André Janones (0,5%) e João Doria (0,3%). Outros aparecem com 1,1% e branco e nulos, 7,9%.
Quando os candidatos são apresentados ao eleitor, Lula salta para 42,2% e Bolsonaro vem em seguida, com 28%. Já os indecisos diminuem para 6%. Aparecem ainda Ciro Gomes (6,7%), Sergio Moro (6,4%), João Doria (1,8%), André Janones (1,5%), Simone Tebet (0,6%), Felipe D’Avila (0,3%) e Rodrigo Pacheco (0,3%). Branco e nulos ficam com 6,2%.
Emprego e renda
Ao avaliar as opiniões sobre setores da gestão Bolsonaro, nota-se que há falta de ânimo entre os eleitores sobre alguma melhora em temas fundamentais como educação, segurança, emprego e renda. Mesmo com alguma perspectiva de melhora do desemprego, a inflação mantém a renda do brasileiro corroída e assim seu poder de compra. Com isso, os eleitores sentem o empobrecimento, mesmo com emprego e renda. A percepção sobre o aumento dos preços chegou a 93,2% dos entrevistados.
Para 42,1%, a expectativa é de que, nos próximos meses, a situação do emprego melhore. Já 18,4% acreditam que vai piorar e 37,2% esperam que fique igual. Apesar da expectativa sobre o mercado de trabalho, o mesmo não se repete quando se trata de renda mensal. 50,2% esperam que fique na mesma, enquanto 32,9% ainda acreditam em alguma melhora. Para 14,2%, as coisas vão piorar.
De acordo com 36,7% dos entrevistados, a situação econômica do Brasil só deve melhorar em 2023. Para 23,7%, somente em 2024. Apenas 16,8% acreditam que as coisas melhoram ainda este ano e 15,1% não esperam melhora. De acordo com 1,9% dos pesquisados, a economia está boa como está.
Saúde
Em meio à vacinação contra a covid-19, a mudança sobre o pessimismo na saúde é notável. 41,9% esperam que tudo fique como está, 36,4% esperam alguma melhora e 19,6% esperam uma piora. Em dezembro de 2021, 27,7% esperavam piora, uma diferença de 8,1 pontos percentuais.
Educação
No quesito educação, as opiniões não registraram grande mudança. Para 40,6% dos entrevistados, tudo vai permanecer como está e para 38,7% vai ocorrer melhora. De acordo com 19,2%, vai haver piora.
Segurança pública
A falta de mudança na opinião se mantém no quesito segurança pública. Para 48,6%, tudo deve permanecer como está e para 20,3% vai haver piora. Entre os pesquisados, 29,2% acreditam que pode ter melhora.
A pesquisa foi realizada de 16 a 19 de fevereiro deste ano por 2002 eleitores de todas as unidades federativas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais. O nível de confiança é de 95,6%.
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/02/4987037-pesquisa-cnt-mostra-governo-bolsonaro-com-rejeicao-e-lula-na-frente.html
Meneleu e a história do PCB/RN – O gráfico do jornal A Liberdade
O povo não tinha mágoa
Eu não sou de muita fala, mas tentarei dizer algumas coisas, relembrar fatos e vivências durante a Revolução de 1935. Quero começar dizendo que fiz parte dessa revolução.
Eu não era político, também não era comunista, eu era apenas um operário, que trabalhava para sobreviver.
No dia 23 de novembro de 1935, eu estava trabalhando no jornal A Ordem, era um jornal católico, que tratava só de assuntos religiosos, mas de manhã cedo veio uma patrulha do 21BC, e levou todos os companheiros gráficos para compor, para fazer parte da revolução.
Me entregaram um fuzil, mas eu não sabia nem mexer num fuzil, e disse a eles que não podia ir combater ao lado dos outros, então eles perguntaram o que era que eu fazia, eu disse que eu era gráfico, tipógrafo, então eles me mandaram para a oficina de A República, para compor e imprimir A Liberdade, o jornal do partido.
Fui com outros companheiros e comecei a trabalhar. Quando o jornal saiu, fui pra casa e notei que o povo estava muito satisfeito com a revolta, o povo estava alegre, sem fome, naquele dia houve fartura para todos, a passagem do bonde diminuiu para cem réis, e assim continuou. Eu imaginei que estivesse tudo muito bem.
O Partido Comunista naquele tempo era muito bem organizado, não ofendeu a ninguém, todos os adversários não sentiram nenhuma pressão. No entanto, no dia 27 de novembro, eu fui preso lá na Tavares de Lira e conduzido para o quartel da polícia, onde fiquei por quatro horas.
De lá, me mandaram para a detenção, eu e vários companheiros, então peguei o “tintureiro”, carro que conduzia os presos, saí em fila com os companheiros e fomos para a detenção.
Na detenção nos jogaram numa cela sem porta. Vi companheiros sendo torturados. Lembro quando entrou um rapaz, não sei se era o Lauro Lago, eu não me lembro bem, deram uma coronhada na testa dele, ele caiu e jogaram dentro da cela, ele ficou lá sofrendo.
Passados uns cinco ou seis dias, me tiraram da detenção e me mandaram para a Escola de Artífice, localizada na Avenida Barão do Rio Branco, no centro de Natal, onde fiquei um mês.
Lá o tratamento era melhor, pelo menos a gente tinha comida todo dia. Na detenção tinha uma vantagem, a amizade com os colegas de infortúnio, isso já em outra época.
Tínhamos vários amigos, fiz muitas amizades, com presos políticos inclusive com José Macêdo, Lauro Lago, Quintino, Miguel Moreira e vários outros.
Fiquei em Mossoró por três anos, o julgamento correu à revelia. Soube depois de alguns anos que eu tinha sido condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional.
Esse era um tribunal de exceção do Governo Vargas.
Fui preso novamente e retornei a Natal, onde sofri em vários momentos.
Na verdade, não eram torturas físicas, mas torturas psicológicas. Minha companheira sofreu muito em Mossoró, ela estava doente e eu não podia ajudá-la.
Naquela época, Aldo Fernandes era secretário de polícia, aquele homem não tinha coração, eu pedia para dar assistência a minha companheira e ele não deixava.
Lembro bem de todos os meus amigos, na detenção eram bons colegas, brincalhões, e assim a gente passava o dia, alimentados com a nossa amizade.
Tinha um pobre de nome Coutinho. Coutinho era um senhor idoso, dos seus setenta anos, porque falava demais (no bom sentido) foi preso. Pobre do velho!
Ele ficou lá vários meses. Tinha outro preso de nome Zé Paulo, que tinha dificuldade de visão, era míope, também evangélico, pregava a religião dele, ao modo dele.
Era bem engraçado. Quando contávamos anedotas, ele tapava os ouvidos para não ouvir aquelas palavras obscenas.
Na verdade, fazia que tapava os ouvidos para pensarmos que era puritano. Assim a vida passou e a gente foi atravessando todas essas coisas, mas o sofrimento foi grande. Me prenderam quando eu tinha dezoito anos e fui condenado a seis anos e seis meses.
Agora, voltando ao princípio, a revolução foi calma, não houve morte, não houve espancamento, houve respeito, todo mundo era respeitado, o povo alegre.
A gente notava que o povo não tinha mágoa e nem tinha ressentimento com os revolucionários.
Como não tenho vocação para falar, digo o que sinto, é isto que estou fazendo agora.
Francisco Meneleu dos Santos
Pablo Ortellado: Bolsonaro prepara alegação de fraude
Pablo Ortellado / O Globo
Nos últimos dias, começaram a despontar os primeiros elementos da estratégia de Bolsonaro de alegar fraude caso perca as eleições. De um lado, ele busca fomentar a desconfiança dos eleitores nas urnas por meio de uma campanha intensa de desinformação; de outro, pretende arrastar os militares para o centro da crise institucional que se anuncia.
Sem grandes surpresas, Bolsonaro resolveu descartar o compromisso de não atacar mais a confiabilidade do sistema eleitoral. O compromisso havia sido assumido após as duras reações das instituições aos protestos antidemocráticos de 7 de setembro de 2021 e depois que a proposta do voto impresso fora derrotada no Congresso.
Estudo da Fundação Getulio Vargas do Rio mostrou que, entre novembro de 2020 e janeiro de 2022, pelo menos 394 mil postagens no Facebook criticaram as urnas eletrônicas, gerando 111 milhões de interações (curtidas, comentários ou compartilhamentos). O número não considera as postagens de perfis pessoais. Entre as páginas que mais disseminaram conteúdo crítico às urnas estão as de políticos bolsonaristas como Carla Zambelli, Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro.
Nos Estados Unidos, o Facebook adota uma política de integridade eleitoral que adiciona um alerta rotulando “conteúdo que tenta deslegitimar o resultado das eleições ou discutir a legitimidade dos métodos de votação”. No Brasil, o Facebook não adotou essa política nas eleições de 2020 e não sabemos se adotará na campanha deste ano, que começa em agosto.
O YouTube já segue uma política que impede publicações que afetem a integridade das eleições, como informações falsas sobre a data do pleito ou conteúdo induzindo os eleitores ao erro na hora de votar. Mas ainda não há nada a respeito da difusão de informações falsas sobre a confiabilidade das urnas—o coração da campanha bolsonarista de descrédito ao sistema eleitoral.
Talvez a pressão empurre YouTube e Facebook a melhorar suas políticas, mas, ainda que isso aconteça, poderá ser tarde demais. Como os eloquentes números do estudo da FGV mostram, a campanha já começou e, para parte do eleitorado, a semente da dúvida já está plantada.
Além das já muitas vezes respondidas alegações de fraude no passado, os bolsonaristas estão produzindo novas dúvidas para tumultuar as eleições. Eduardo Bolsonaro fez uma consulta ao TSE perguntando se a Justiça Eleitoral exigirá comprovante de vacinação para dar acesso às salas de votação. O objetivo é insinuar que o tribunal prepara medida para restringir o acesso ao voto dos bolsonaristas que não quiseram se imunizar.
Outra estratégia de Bolsonaro é envolver os militares na disputa em torno da confiabilidade das urnas. Em setembro do ano passado, o TSE anunciou uma comissão de transparência das eleições que, entre assentos para a sociedade civil e a academia, previa um para as Forças Armadas. O general Heber Portela foi indicado pelo ministro da Defesa, Braga Netto, para compor a comissão e elaborou uma minuciosa lista com mais de 70 dúvidas técnicas sobre a segurança das urnas.
O que era para ser um esclarecimento técnico foi transformado em questionamento sobre a confiabilidade do sistema. Em entrevista ao ex-governador Anthony Garotinho numa rádio, Bolsonaro disse que as Forças Armadas levantaram “dezenas de dúvidas sobre o sistema” eleitoral. Com o vazamento das questões, o TSE optou por publicar todas as respostas aos questionamentos.
Não foi apenas Bolsonaro que tentou envolver os militares na querela. A Justiça Eleitoral também tentou usar os militares como fiadores da disputa ao indicar o general Fernando Azevedo e Silva como diretor-geral do TSE. A ideia era que, se a organização logística das eleições fosse feita por um militar com o respeito da tropa, a suspeita de fraude seria difícil de emplacar.
O general Azevedo, porém, anunciou na quarta-feira que não poderia mais assumir o cargo por motivos familiares e de saúde. Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo apurou que o verdadeiro motivo da desistência de Azevedo foi o descontentamento com a postura de Bolsonaro, que estava mais uma vez fomentando nas Forças Armadas a desconfiança no sistema eleitoral.
Se olharmos para o conjunto desses desdobramentos, é fácil observar como vai se preparando a estratégia de Bolsonaro de alegar fraude nas eleições. Se ganhar, dirá que o fez a despeito dos votos subtraídos. Se perder, dirá que foi roubado e insuflará uma revolta. É a mesma estratégia de Donald Trump, só que com o apoio de parte das Forças Armadas.
Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/bolsonaro-prepara-alegacao-de-fraude.html
Ascânio Seleme: 'Revogazo'
Ascânio Seleme / O Globo
Enquanto Lula anuncia que se for eleito quer rever as reformas tributária e trabalhista, gente do PT opera sobre bases mais realistas e elenca medidas infralegais tomadas pelo governo Bolsonaro e para as quais basta uma canetada do presidente ou do ministro da área para serem revogadas. Para mexer na Previdência ou nas leis trabalhistas, Lula vai precisar do Congresso. Este que está aí, já disse presidente da Câmara, Arthur Lira, é de centro e não quer rever nada. Mesmo que o Congresso eleito em outubro se mova para a centro-esquerda, mudanças legais tomam tempo e exigem dedicação política. Mexer em decretos, portarias e pareceres não custa nada, nem tempo.
São muitas as medidas que os petistas consideram antidemocráticas, retrógradas ou simplesmente absurdas. Elas estão sendo listadas por simpatizantes do partido espalhados em ministérios, autarquias e empresas públicas. O que se quer é promover um “revogazo” logo depois da posse do presidente e de seus ministros, caso Lula seja eleito, obviamente. Se for possível e não atrapalhar o cerimonial, o evento tomaria mais alguns minutos para a assinatura dos atos revogatórios. A ideia é não permitir que decretos como os que afrouxam restrições para compra e posse de armas e munições permaneçam em vigor um único dia do novo governo.
As revogações vão desde decretos de natureza ambiental até portarias sobre direitos humanos. Da boiada que Ricardo Salles passou enquanto era ministro, constam alterações na indicação de membros do Conama, redução de multas a agressores ambientais e permissões de exploração mineral em áreas de preservação ou indígenas. Bolsonaro também alterou por decreto a lei dos agrotóxicos permitindo que até pesticida que causa câncer seja comercializado no país. O decreto também muda procedimentos que afrouxam a fiscalização do emprego de agrotóxicos na lavoura brasileira. A recomendação é revogar os atos de Salles e o documento dos agrotóxicos, além de retirar da pauta do Congresso o PL do Veneno, que institui o “liberou geral” nos pesticidas.
Departamentos extintos em ministérios, como o de HIV/Aids da Saúde, devem ser reinstalados no mesmo pacote de primeiro dia de governo por se entender que seu fechamento foi determinado em razão da homofobia governamental, da mesma forma que a população LGBTQIA+ foi retirada das políticas de Direitos Humanos por Damares Alves com a extinção do comitê específico. Que seria recriado.
Ainda na área de Damares, um grupo de trabalho foi instaurado para rever toda a política de direitos humanos e criar uma nova, apelidada de PNDH3. O grupo é formado apenas por representantes governamentais, sem a participação de representantes da sociedade civil. Uma denúncia contra a medida foi enviada ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Caso Lula seja eleito, o grupo do PNDH 3 será extinto.
O governo Bolsonaro restringiu por decreto a Lei de Acesso à Informação, autorizando que alguns documentos públicos tenham sigilo eterno. O decreto foi cancelado por ordem do Supremo Tribunal Federal, e uma Medida Provisória baixada pelo governo acabou caducando sem votação. Mesmo assim, pareceres que embasaram o decreto continuam sendo usados com a mesma finalidade. Neste caso não há revogação a ser feita. E, embora o PT não tenha lá tanto apreço pela transparência, dificilmente estes pareceres serão usados por Lula para restringir o acesso a documentos oficiais.
O “revogazo” petista é diferente do “revogaço” do governo atual. O de Lula tem caráter ideológico. O de Bolsonaro, que já somam 4.154 decretos, alcançou apenas instrumentos normativos em desuso ou caducos. De qualquer modo, as revogações de Bolsonaro também serão revistas por um eventual governo petista. Programas como o Minha Casa, Minha Vida, estabelecidos por decreto, foram revogados e substituídos por outros que não funcionam por desinteresse ou pouco caso governamental. Eles serão restabelecidos no caso de Lula ser eleito.
Justiça militar
O julgamento do traficante de cocaína Manoel da Silva Rodrigues, preso na Espanha com 37 quilos de pasta base, prova mais uma vez como é desnecessária a justiça militar. O fato dele ser sargento da Aeronáutica e ter transportado a droga num avião militar (o da comitiva presidencial) não mudou em nada o seu destino, mas poderia ter mudado. Pelo Código Penal Militar, ele deveria ser condenado de um a cinco anos de prisão. Pela Lei de Drogas, a punição seria de cinco a 15 anos. O presidente da sessão de julgamento ignorou o Código e sugeriu uma pena de 14 anos, corroborada pelo coronel e pelos três capitães que compunham a corte. Em tempos de paz, a justiça militar deveria ser mínima, apenas para atender problemas da caserna. Por crimes cometidos fora do âmbito militar, melhor deixar que os códigos civis resolvam.
Militares e urnas
O melhor lugar para estacionar tropas é bem distante de urnas eleitorais. Não faz qualquer sentido associar as Forças Armadas ao processo eleitoral. O TSE errou ao incluir no ano passado o Ministério da Defesa na Comissão de Transparência das Eleições. Por essa razão, as arguições do seu representante causaram estresse agora, com Bolsonaro dizendo que haviam sido identificadas “vulnerabilidades” no sistema. Equivocado também foi o convite ao general Fernando Azevedo e Silva para assumir a direção-geral do tribunal. Parece que se queria buscar a simpatia das Forças Armadas. Simpatia desnecessária. O que se quer dos militares é o cumprimento das suas missões constitucionais, não sua simpatia.
Utilidade militar
Enfim uma situação em que as Forças Armadas puderam provar sua utilidade, sendo empregadas com eficiência e prestando serviço relevante para a comunidade. A tragédia de Petrópolis mobilizou Exército, Marinha e Aeronáutica que enviaram mais de 900 homens além de máquinas, equipamentos e veículos para o trabalho de resgate de vítimas e recuperação da cidade.
Roendo o osso
Além do garçom do palácio, que só lhe oferece café frio, o deputado Arthur Lira já o trata de você. Lira usa a segunda pessoa do singular e sua força política para dar orientações ao presidente. Numa entrevista ao Valor, o deputado disse que Paulo Guedes deveria se submeter hierarquicamente a Ciro Nogueira. Ato contínuo, Bolsonaro deu ao ministro da Casa Civil poder para mediar impasses entre pastas. Mesmo dando as cartas, o Centrão já sinalizou que tranquilamente abrirá mão de Bolsonaro quando a hora chegar. Enquanto isso, vai ficando no poder, fazendo política, distribuindo verbas, roendo o osso.
A Bahia aceita
Lula articula muito bem os entendimentos ao centro de maneira a expandir seu eleitorado. Por isso, faz todo sentido o movimento que alija o senador Jaques Wagner (PT) da disputa pelo governo da Bahia em favor do senador Otto Alencar (PSD). Mas, não custa lembrar, esse tipo de entendimento só acontece fora de São Paulo. Na Bahia, tudo bem, em Minas, nenhum problema, no Rio, que calem a boca. Mas em São Paulo, não mexam em São Paulo que o PT vira bicho.
Desmata-me de rir
O ex-ministro da Madeira e do Garimpo, Ricardo Salles, arrancou gargalhadas, mesmo entre os bolsonaristas mais convictos, quando disse que o presidente do Brasil evitou a terceira guerra mundial ao demover Putin de invadir a Ucrânia. Mas ainda pior foi Bolsonaro dizer que por “coincidência ou não” sua presença na Rússia apaziguou os ânimos. Logo em seguida os ânimos pioraram. Coincidência.
Boca torta
Ontem, em Petrópolis, depois de servir de mestre de cerimônias nas falas das autoridades, chegada a hora da entrevista, Bolsonaro provou mais uma vez que o uso do cachimbo deixa mesmo a boca torta. “Quem vai conduzir a imprensa?”, perguntou.
Orgulho
Na entrevista de Petrópolis, ao ser perguntado sobre seu encontro com Vladimir Putin, o presidente mostrou todo o seu orgulho e sua alegria ao informar que passou duas horas a um metro e meio do líder russo, destacando que houve até alguns momentos de grande descontração.
Mortes em Paris
Segundo levantamento da Prefeitura de Paris, 2,6 mil pessoas vivem nas ruas da capital francesa. Muitos são recolhidos à noite e levados a abrigos aquecidos. Outros tantos não atendem a demanda dos funcionários, alguns se escondem. Dez já morreram de frio desde o início do inverno em todo o país, dois em Paris. No Brasil, dezenas de milhares perambulam pelas ruas das cidades sem ter para onde ir. Não morrem de frio, mas de fome.
Fake snow
Além de gerar uma sensação de paz em razão das montanhas e dos horizontes brancos de neve, o cenário dos jogos de inverno costuma ser de uma beleza indescritível. Não em Pequim. Algumas das arenas foram construídas dentro da cidade, cercada por prédios feios, galpões e containers. Uma delas, a que abrigou a modalidade Big Air Skiing, que consiste numa descida de prancha com salto em alta velocidade, foi instalada ao lado de uma siderúrgica abandonada que mais se parece com uma velha usina nuclear. E, claro, apesar de ser inverno em Pequim, a neve das rampas e pistas urbanas é falsa.
Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/revogazo-25401509