TSE: Fachin promete ser 'implacável' contra desinformação e autoritarismo
Weslley Galzo / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Em seu primeiro discurso no comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin mandou duros recados às milícias digitais e personalidades antidemocráticas do País, avisando que sua gestão será “implacável na defesa da história da Justiça Eleitoral”. Sem citar o presidente Jair Bolsonaro (PL), que não compareceu à cerimônia de posse nesta segunda-feira, 22, mesmo após ser convidado pessoalmente pela nova presidência, o ministro disse que a instituição “não se renderá” a ataques contra o processo eleitoral.
O novo presidente fez um movimento simultâneo de convite ao diálogo a todos os atores envolvidos nas eleições deste ano e alerta a essas mesmas autoridades, com sinalizações de que os integrantes do seu mandato serão firmes na defesa da democracia. “Parece-nos igualmente urgente e imprescindível cessar o esgarçamento dos laços sociais. Uma sociedade quista em comunhão não pode – simplesmente não pode! – flertar com o rompimento”, afirmou.
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“Como sabem, vivemos em um mundo novo, em que o espaço das redes digitais precisa ser defendido dos contra-ataques de criminosos que tentam vilipendiar as instituições”, disse. "A democracia é, e sempre foi, inegociável”, disse.
Além de anunciar o tom “linha dura” que a sua breve gestão deve adotar, Fachin destacou a importância de as autoridades relevantes do processo eleitoral se unirem ao TSE e à sociedade civil no “comprometimento integral” de garantir a “estabilidade democrática”. O ministro-presidente anunciou que uma de suas primeiras medidas à frente do cargo, já no mês de março, será a realização de reuniões com os dirigentes de todos partidos, com o objetivo de firmar cooperação institucional, sobretudo na área de combate às notícias falsas.
“A tolerância, a disposição para o diálogo e o compromisso inarredável com a verdade dos fatos afloram no povo quando, primeiramente, constituem faróis para o labor diário das autoridades de todas as esferas. Aos líderes e às instituições, portanto, toca repelir a cegueira moral e incentivar a elevação do espírito cívico e as condutas de boa-fé que abrem portas ao necessário comportamento respeitoso e dialógico”, disse. “Paz e segurança nas eleições em 2022, eis o que almejamos”, repetiu o slogan da gestão.
Objetivos da gestão
Como mostrou o Estadão, a gestão de Fachin, que deve ter duração de apenas seis meses, tende a representar entraves aos interesses eleitorais de Bolsonaro. Em resposta antecipada, o chefe do Executivo iniciou ataques diretos ao ministro. Apesar de ter se tornado alvo do discurso presidencial e das redes bolsonaristas, o presidente do TSE garantiu que seus objetivos no cargo envolvem o foco no diálogo com as instituições e a formação de alianças estratégicas com entidades “genuinamente interessadas” na manutenção da democracia. Outro pilar da sua atuação será coibir “as formas de expressão violenta da política”.
Fachin anunciou a criação do “Programa de Fortalecimento Institucional da Justiça Eleitoral”, com o objetivo de robustecer a capacidade de resposta do TSE aos ataques recebidos. A Comissão de Transparência Eleitoral e o Observatório de Transparência, criados durante a gestão de Luís Roberto Barroso, terão suas atividades ampliadas e fortalecidas.
Em sinal de comprometimento com o que declarou em entrevista ao Estadão, quando afirmou que a questão cibernética seria uma prioridade, o presidente prometeu apoio ao à Secretaria de Tecnologia da Informação do Tribunal.
“A Justiça Eleitoral é, para todos os efeitos, ao lado das instituições constitucionais, incansável fiadora da democracia e limite às alternativas opressoras do passado. Dentro desse contexto, as investidas maliciosas contra as eleições constituem, em si, ataques indiretos à própria democracia, tendo em consideração que o circuito desinformativo impulsiona o extremismo”, disse.
Além de listar os seus objetivos no cargo, Fachin indicou os principais desafios já identificados pelo TSE. Segundo ele, será necessário “proteger e prestigiar a verdade sobre a integridade das eleições”, garantir o respeito ao “escore das urnas” e combater a “perniciosa desconstrução do legado da Justiça Eleitoral” — eixos sob ataque das milícias digitais que promovem desinformação contra o tribunal nas redes sociais.
“É urgente e imprescindível: a união de atores comprometidos com o sistema democrático, a fim de preservar, mediante suas vozes, o protagonismo da verdade no sistema informativo”, disse. “Impende preservar a união e a concórdia, recusando, a todo o custo e por todos os meios legítimos, as armadilhas da pirataria informativa”, completou. cumpre-nos, assim, preservar o patamar civilizatório a que acedemos e evitar desgastes institucionais”, declarou em outro momento,
Embora Bolsonaro tenha se ausentado da cerimônia, o Palácio do Planalto se fez presente na posse de Fachin com o vice-presidente Hamilton Mourão. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Betto Simonetti, também compareceram ao evento, assim como o procurador-geral da República, Augusto Aras.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,novo-presidente-do-tse-fachin-promete-ser-implacavel-contra-desinformacao-e-autoritarismo,70003987718
Luiz Carlos Azedo: Doria está derretendo e pode disputar reeleição em São Paulo
Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense
Num encontro promovido pelo banco BTG Pactual para operadores do mercado financeiro, ontem, o governador de São Paulo, João Doria, pela primeira vez, admitiu que pode desistir de concorrer à Presidência da República, em razão da alta rejeição e do fraco desempenho nas pesquisas. “Não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole. Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil”, disse.
A declaração de Doria foi comemorada por gregos e baianos, uma vez que seus aliados estão aflitos com o mau desempenho do governador paulista na pré-campanha, e os desafetos tucanos ainda sonham com a candidatura do governador gaúcho, Eduardo Leite, que perdeu as prévias para Doria. A declaração dele abriu a possibilidade de um acordo com os demais candidatos da chamada terceira via, entre os quais Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania), que já vinham debatendo a possibilidade de uma candidatura unificada desse campo.
As pesquisas estão mostrando que Doria corre o risco de repetir a trajetória do ex-governador Orestes Quércia em 1994, quando concorreu à Presidência pelo então PMDB. Campeão de votos da legenda desde as eleições de 1974, Quércia tinha um grande acervo de realizações como governador paulista, principalmente obras de infraestrutura, e acreditava que sua administração poderia projetá-lo nacionalmente. Não foi o que aconteceu. Quercia acabou cristianizado pelos caciques do seu partido.
O governador de São Paulo também faz uma administração considerada eficiente por seus apoiadores, conclui a gestão com grande capacidade de investimentos e concedendo aumento salarial para o funcionalismo, mas nada disso alavanca sua candidatura no estado. Seu vice-governador, Rodrigo Garcia, principal responsável pela articulação política do governo, também não tem um bom desempenho nas pesquisas. Por essa razão, seus aliados pressionam Doria para que antecipe a saída do Palácio dos Bandeirantes, abrindo espaço para maior projeção do vice-governador, o candidato que escolheu.
Esse movimento, porém, tem cheiro de cristianização e pode virar um tiro pela culatra. A declaração de ontem é um sinal de que Doria pode concorrer à reeleição. Uma das razões do tucano para desistir da candidatura é a resiliência de Bolsonaro numa fatia expressiva do eleitorado paulista, que está alavancando o nome do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, ao governo de São Paulo.
Doria se elegeu cristianizando Geraldo Alckmin, quando o tucano foi candidato à Presidência da República, seu padrinho político, num caso típico de criatura que rompe com o criador. Agora, o ex-governador paulista dá o troco, ao fazer uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva, do PT, para ser seu vice. Além de Alckmin, outras lideranças do PSDB romperam com Doria, entre as quais Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal. A desistência, em tese, abriria espaço para uma recomposição.
A declaração de Doria, porém, pode ser apenas uma manobra tática para conter as dissidências da legenda, principalmente a saída de Eduardo Leite do PSDB, para ser candidato a presidente da República pelo PSD, de Gilberto Kassab. As negociações entre ambos estão muito avançadas e a consumação da mudança de legenda pode ser um golpe mortal na candidatura de Doria.
Terceira via
Quem está com o mico na mão é o Cidadania, que aprovou a federação com o PSDB por apenas um voto, mesmo sabendo que Doria estava se inviabilizando. O líder da bancada na Câmara, Alex Manente (SP), articula o nome da senadora Eliziane Gama (MA) para vice de Doria, mas a direção nacional da legenda manteve a candidatura do senador Alessandro Vieira (SE) à Presidência. Importantes lideranças do Cidadania consideram a federação com o PSDB um abraço de afogados e já admitem abandonar o partido na janela partidária, como fez o governador da Paraíba, João Azevedo, que voltou para o PSB.
A disposição de Doria em colaborar para unificar o campo da terceira via, porém, renovou as esperanças de que se chegue a um nome de consenso entre essas forças. Além de Leite, Simone e Alessandro, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT), que estão em melhor situação nas pesquisas, também pleiteiam essa condição, mas esbarram em dificuldades por causa de suas relações pregressas com Bolsonaro e Lula, respectivamente. Um é considerado muito à direita; o outro, muito à esquerda. Isso dificulta união do chamado centro político. O projeto de Doria era esse, a partir de seu posicionamento estratégico mais ao centro, mas falta combinar com os eleitores.
Jairo Nicolau: O efeito inesperado da federação partidária
Jairo Nicolau / O Globo
A federação partidária é a mais badalada alteração da legislação eleitoral que passará a vigorar em 2022. Pela nova regra, dois ou mais partidos federados são obrigados a funcionar como uma organização única por quatro anos. Isso significa que disputarão juntos as eleições deste ano e as municipais de 2024 e que terão uma bancada única no Congresso e nas Câmaras Municipais de todo o país.
Até onde eu saiba, a federação partidária é uma invenção brasileira. Em todas as democracias, as legendas se aliam para disputar uma eleição ou dar sustentação a um governo. Ocasionalmente, partidos próximos no espectro ideológico se fundem e viram uma nova organização. O Brasil inventou a fusão envergonhada: um casamento partidário com respaldo para acabar depois de quatro anos.
Não é fácil fazer uma federação. Os partidos brasileiros têm uma grande autonomia estadual e municipal. Em muitos casos, seus parceiros preferenciais (e adversários) nos estados e municípios não são os mesmos da política nacional.
Em que pese o grande destaque que a discussão em torno de formação de federações partidárias tem recebido, a mais importante mudança da legislação eleitoral que entrará em vigor em 2022 é o fim das coligações nas eleições para deputado federal e estadual.
Entre 1986 e 2018, as legendas puderam coligar-se nas eleições proporcionais sem a obrigatoriedade de que essas coligações fossem as mesmas em todo o país. Se um partido não estivesse coligado a outro na disputa para presidente, ele ficava livre para se aliar a qualquer um nos estados. E os partidos aproveitaram essa liberdade. Não me lembro do caso de duas legendas que tenham feito a mesma coligação em todos os estados para os cargos de deputado federal e estadual.
Sempre fui contra as coligações para cargos proporcionais. Elas distorciam a vontade do eleitor e produziam algumas aberrações na representação dos partidos. Mas nunca acreditei que um dia elas seriam extintas, já que a maioria das legendas se beneficiava de sua existência. Aliás, até hoje não compreendo as razões que levaram os congressistas não só a proibir as coligações, mas também a inscrever a proibição na Constituição.
A Câmara dos Deputados chegou a aprovar uma emenda constitucional que permitia a volta das coligações, mas o Senado não votou a matéria. Sem as coligações, a vida dos pequenos partidos ficará difícil em muitos estados (sobretudo os que têm uma bancada de até dez deputados na Câmara). Provavelmente, o número de legendas que conseguirão eleger representantes deverá ser reduzido drasticamente.
As federações partidárias foram criadas como mecanismo para os pequenos partidos “escaparem” das dificuldades trazidas pelo fim das coligações. Vale a pena lembrar o empenho do PCdoB pela aprovação do dispositivo. Os dirigentes perceberam que, sem a coligação, o partido perderia a representação em diversos estados e não conseguiria atingir a cláusula de 2%. Não é coincidência que o PCdoB tenha sido o primeiro a fazer uma federação com o PT.
O que mais surpreende é as grandes legendas negociarem para formar federações entre si. É o caso do PT e do PSB. Ambos são partidos bem estruturados, com ampla presença no território nacional e razoáveis diferenças ideológicas e conflitos em alguns estados. Sem contar que não teriam muito a ganhar com as alianças nas eleições proporcionais. Por que não preferem o velho modelo de aliança eleitoral para o Executivo?
Talvez esse seja um efeito não antecipado da nova regra. Criada para proteger os pequenos partidos dos efeitos das coligações, as federações podem acabar acelerando o inevitável enxugamento do sistema partidário brasileiro. Aguardemos até o dia 31 de maio, quando vence o prazo derradeiro para serem celebradas a tempo de valerem para a eleição.
*Pesquisador e professor da FGV/CPDOC
Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/o-efeito-inesperado-da-federacao-partidaria.html
Slam-DéF: “Poetas são cientistas da nossa atualidade”, diz coordenador cultural
João Vitor, com edição do coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida
Cultura, inclusão, lirismo e a valorização do artista é o foco do Slam-DéF, grupo cultural que vai realizar mais uma batalha de poesia, de forma online, na quarta-feira (23/2), a partir das 19 horas. No total, há 16 vagas para a disputa, e a inscrição pode ser realizada, por meio de formulário virtual, até um dia antes do evento. Pessoas de outros estados e países podem se inscrever.
“Costumo dizer que os poetas são cientistas da nossa atualidade, porque eles estudam a maneira como as pessoas agem e transformam tudo isso em poesia”, afirma o coordenador cultural do Slam-DéF, professor de língua portuguesa Will Júnio.
O webinar será realizado em parceria com a Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília. Neste ano, o vencedor receberá premiação de R$ 100 e um troféu personalizado com a data da edição.
O evento terá transmissão na página da biblioteca no Facebook, assim como nas redes sociais (Facebook e Youtube) da fundação. “O artista está sempre em constante trabalho, analisa e observa as coisas que acontecem ao seu redor e transforma tudo em palavra”, afirma o coordenador.
Segundo Will Júnio, os integrantes do grupo estão trabalhando firme para que o evento cresça cada vez mais. “Mesmo com os casos de covid-19 aumentando, nós podemos, de forma virtual, espalhar a palavra e a cultura do Slam”, disse.
“Somente o campeão de cada edição terá a premiação. Antes, primeiro, segundo e terceiro recebiam, além da pontuação no ranking que dava acesso à final do Slam-DéF”, afirmou Will. “
Will trabalha com a cultura desde 2012. Foi representante do DF no Slam-BR e da Festa Literária das Periferias, em 2015, assim como jurado do Duelo Nacional de MC’s, em 2017, em Belo Horizonte.
Batalha de Poesias Slam-DéF
Dia: 23/02/2022
Horário da transmissão: 19h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Slam-DéF, em parceria com Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
MP: Moïse foi morto como um "animal peçonhento"
João Vitor Tavarez* / Correio Braziliense
Assassinado como um "animal peçonhento". Dessa forma o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) classificou a morte do congolês Moïse Kabagambe, em 24 de janeiro, na denúncia apresentada, ontem, à Justiça. O crime aconteceu no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O jovem foi morto a golpes de porrete e de taco de beisebol, além de ter sido sufocado e amarrado pelos agressores.
"O crime foi praticado com emprego de meio cruel, eis que a vítima foi agredida como se fosse um animal peçonhento", salientou o documento do MP-RJ.
Os denunciados são Fábio Pirineus da Silva, o Bello; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota. Os três responderão por homicídio triplamente qualificado, uma vez que impossibilitaram que Moïse se defendesse.
"Fábio, Brendon e Aleson, ao agredirem a vítima com tamanha violência, e por longo tempo, mesmo quando ela já estava indefesa, concorreram eficazmente para a morte de Moïse", salientou o MPRJ na denúncia, acrescentando que o crime foi praticado por motivo fútil — pois foi efeito de um desentendimento entre o congolês e os agressores.
Imobilizado
Conforme a denúncia, Tota derrubou Moïse com um golpe de jiu-jítsu, o que o deixou indefeso. Em seguida, Bello deu diversas pauladas com um bastão de beisebol no congolês. Depois, passou a arma para Dezenove, que continua as agressões com o congolês manietado no chão. Mesmo brutalmente espancado, o jovem foi amarrado e totalmente imobilizado.
Ainda de acordo com a denúncia, o MP-RJ pede à Justiça que os três continuem presos preventivamente. Isso porque, conforme a avaliação dos promotores, caso sejam colocados em liberdade para que possam responder pelo assassinato, os denunciados teriam condições de causar risco à instrução criminal, "em especial contra a família da vítima, composta por pessoas socialmente vulneráveis".
O MP-RJ também investigará as condutas de Jailton Pereira Campos, conhecido como Baixinho e do funcionário do Tropicália, de Matheus Vasconcelos Lisboa e de Viviane Mattos Faria. A suspeita dos promotores é de que o trio deixou o local do crime sem prestar socorro a Moïse.
Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2022/02/4987617-mp-moise-foi-morto-como-um-animal-peconhento.html
Economia de Bolsonaro tem pior avaliação de todos os governos, aponta CNT/MDA
André Borges / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – A administração da economia do País realizada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) é a pior de todos os governos, desde a redemocratização, em 1985. O dado faz parte da pesquisa CNT/MDA, que avaliou o desempenho do presidente e dos candidatos às eleições que ocorrem em outubro.
Nas 2.002 entrevistas realizada entre 16 e19 de fevereiro, em 25 unidades da federação, a população foi questionada sobre a avaliação da economia no governo do presidente Bolsonaro em relação aos governos anteriores.
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Para 60,4%, a situação atual está pior quando comparada aos governos anteriores. Outros 19,8% disseram que continua de forma semelhante aos governos anteriores e 17,9% afirmaram que está melhor, enquanto 1,9% não sabe ou não respondeu.
O aumento no preço dos produtos nos supermercados em relação ao ano passado é um dos fatores que mais pesam na avaliação da população. Questionados sobre qual a percepção sobre os preços nas prateleiras no intervalo do último ano, 93,2% dos entrevistados declararam que “aumentaram muito”. Apenas 4,3% disseram que “aumentaram um pouco”, enquanto 1,6% disse que “se mantiveram” e 0,7% que “diminuíram. Outros 0,2% não sabe ou não respondeu.
Há ainda uma boa dose de ceticismo na avaliação da população em geral quando o assunto é a melhoria na situação econômica do Brasil. A maioria dos entrevistados – 36,7% – acredita que a situação econômica só vai melhorar em 2023. Para 23,7%, esse horizonte está ainda mais longe e só haverá melhora econômica de 2024 em diante. Outros 15,1% disseram que simplesmente não acreditam que haverá melhoria na situação econômica.
Para 16,8%, o cenário econômico vai melhorar ainda em 2022, enquanto 1,9% disse que “a situação econômica já está boa”. Entre os questionados, 5,8% sabem ou não responderam.
As entrevistas são distribuídas em 137 municípios, de 25 unidades da federação. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
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Pastores ensaiam recuo do bolsonarismo sem abraçar Lula
Anna Virginia Balloussier / Folha de S. Paulo
Uma a uma, grandes igrejas que estiveram com Jair Bolsonaro (PL) em 2018 vão emitindo sinais de que tamanho entusiasmo pode não se repetir neste ano. O recuo é associado ao bom desempenho eleitoral de Lula (PT), mas não só.
Quem atua nos bastidores do segmento avalia: claro que a perspectiva de uma vitória petista, talvez até mesmo no primeiro turno, assusta líderes evangélicos que têm por hábito manter boas relações com o governante da vez.
Ninguém esquece que o próprio Lula foi agraciado com aplausos de pastores que anos depois, na eleição de Bolsonaro, diriam-se alérgicos a tudo o que ele representa, usando como justificativa o avanço de pautas progressistas (dos direitos LGBTQIA+ ao aborto) e esquemas de corrupção atribuídos ao PT.
Mas há também um sentimento dúbio sobre Bolsonaro, um católico não praticante que melhor do que ninguém soube sintonizar com as demandas morais do grupo e cumpriu a promessa de emplacar um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal, André Mendonça.
Já havia certa insatisfação com a conduta presidencial na mais grave crise sanitária do século, como a recusa em se vacinar contra a Covid —não se tem notícia de um pastor de alcance nacional que não tenha se imunizado.
A performance nas pesquisas de intenções de voto, que o colocam bem atrás de Lula, ajudou a criar um clima de "bote salva-vidas", nas palavras de um pastor que já integrou comitivas evangélicas ao Palácio do Planalto bolsonarista.
Ninguém quer falar às claras sobre a possibilidade de desembarcar do bolsonarismo, até para não virar alvo de colegas hábeis em incitar turbas evangélicas contra desertores —o mais citado é Silas Malafaia, ex-apoiador de Lula que virou um dos mais vocais escudeiros do atual presidente.
Ele gosta de "esculachar", como diz um conterrâneo seu, sob reserva.
Mas os sinais estariam aí, só não os vê quem não quer.
Primeiro, veio um encontro de Manoel Ferreira, bispo-primaz da Assembleia de Deus Madureira, com Lula, na véspera do feriado de Corpus Christi de 2021. A reunião rendeu um belo retrato para petistas sedentos por uma amostra de que o ex-presidente ainda tem moral com megapastores.
Uma turma bem que tentou contemporizar: Manoel, ex-deputado que chegou a presidir a bancada evangélica durante o segundo mandato de Lula, nos anos 2000, já é quase nonagenário.
Não teria mais tanta influência assim na tomada de decisões. Quem manda mesmo no pedaço são seus filhos Samuel e Abner, sobretudo o primeiro.
Não foi, contudo, a única suspeita levantada de que Madureira não estaria tão firme no endosso a Bolsonaro.
O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), com inquestionáveis credenciais esquerdistas, foi recepcionado pelos irmãos bispos num dos templos da igreja, que é uma das principais ramificações da Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal do Brasil.
Sob aval de Lula, Freixo está em pré-campanha para o governo do Rio, e a igreja da família Ferreira é uma das mais fortes no estado. Um amigo seu, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, decidiu fazer o meio de campo.
Advogado de Samuel, ele conta que Abner falou abertamente sobre ter um pé atrás com Freixo numa reunião que agregou 90 bispos e 900 pastores da igreja, no fim de 2021.
A má impressão teria encolhido após o pré-candidato trocar de partido, do PSOL para o PSB, de coloração mais amena no degradê progressista.
A pompa com que Freixo foi recebido fortaleceu especulações de que a Madureira estaria estudando uma saída honrosa caso o projeto de reeleição de Bolsonaro vá a pique.
O ex-governador paulista Geraldo Alckmin, provável vice na chapa de Lula, também estaria ajudando nessa costura. O ex-tucano sempre teve boas relações com o nicho, inclusive tinha, em 2018, a simpatia de pastores que só na reta final daquele pleito aderiram a um já fortalecido Bolsonaro.
À Folha o bispo Abner diz que o presidente é o plano "A" da igreja, mas reconhece pastorear "eleitores de Bolsonaro, Lula, [Sergio] Moro, Ciro Gomes, [João] Doria e outros". "As pessoas são livres para escolher o seu candidato, isso é o pilar, o fundamento, a base da democracia."
Questionado sobre haver algum empecilho para apoiar candidatos da esquerda, ele primeiro ignorou a pergunta. Quando a Folha insistiu, devolveu apenas: "Deus te abençoe".
Segundo Kakay, não há uma indisposição, a priori, em voltar a dialogar com o PT, tanto que ele próprio procurou, em nome do cliente Samuel, a campanha do então presidenciável Fernando Haddad, em 2018. "Mas [os petistas] não deram valor à possibilidade", afirma.
Outros chefes de igreja, como o apóstolo Estevam Hernandes (Renascer em Cristo) e o bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra), concordam ser natural que Lula tente reatar pontes.
"Eu sou uma pessoa sempre aberta ao diálogo, o que não representa apoio", diz Hernandes, que reage assim quando perguntado se Bolsonaro o terá como assecla em 2022: "Prefiro não comentar, sorry".
Rodovalho diz não detectar "defecções significativas" no núcleo duro de pastores pró-Bolsonaro, alguém "naturalmente alinhado às nossas bandeiras".
O futuro, contudo, a Deus pertence. "Por enquanto, a gente não consegue enxergar espaço para fazer qualquer tipo de relacionamento com o PT. Infelizmente, porque tem muita fumaça, tá tudo muito nebuloso. Melhor coisa é deixar tudo isso assentar, deixar a sociedade enxergar cristalinamente as propostas [de cada candidato]."
Nas coxias da cúpula evangélica, usa-se uma metáfora vaticanista para se referir a líderes que não vestirão a camisa vermelha antes do tempo, mas começam a abrir canais caso o PT volte ao poder: estariam com um olho no padre e outro na missa.
No próximo dia 8, Bolsonaro deve abrir o Palácio da Alvorada para líderes evangélicos, numa tentativa de demonstrar força no bloco religioso que já foi alheio ao debate eleitoral, mas que hoje é o que mais se articula politicamente no Brasil.
Malafaia, uma das presenças confirmadas, diz não acreditar que muitos de seus colegas vão pular fora do bolsonarismo até outubro. "Você tá acreditando em Papai Noel ou em duende? Qual dos dois? Minha filha, agora é o joguinho da guerra de informação. Eu fico rindo, só isso."
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/02/pastores-ensaiam-recuo-do-bolsonarismo-sem-abracar-lula.shtml
Hélio Schwartsman: Para Lula, governar pode ser mais difícil do que vencer
Hélio Schwartsman / Folha de S. Paulo
O PT e o PSB conseguirão montar uma federação? O Kassab, cujo partido não é de esquerda nem de direita nem de centro, vai apoiar Lula, Bolsonaro ou vai mesmo insistir num candidato próprio? Eu não diria que essas questões sejam desimportantes, mas elas não parecem capazes de alterar muito o "grand jeu", que se encaminha para uma disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.
Na verdade, a menos que surjam os tais dos fatos novos, eu nem esperaria grandes mudanças nas pesquisas eleitorais até julho ou agosto, que é quando o eleitor começa a se posicionar mais seriamente em relação à sucessão presidencial e as campanhas efetivamente têm início.
Até lá, Lula deve continuar numa confortável liderança, e Bolsonaro não deve se afastar muito de seus 20-25%. Adoraria poder afirmar que é zero o risco de o presidente ser reeleito, mas não me parece prudente fazê-lo. Um dos problemas da democracia é que ela tem um forte viés situacionista. A taxa de reconduções numa base de quase 3.000 pleitos ao redor do globo é de 80%.
Bolsonaro, contudo, é sério candidato a ficar na minoria dos 20% de enjeitados. Não há sinal de espetáculo do crescimento que possa favorecê-lo nos próximos meses, e a inflação, que é eleitoralmente tóxica, até deve cair um pouco, mas permanecendo em terreno perceptivelmente positivo. Hoje, a aposta sensata é na vitória de Lula.
O que parece até mais preocupante do que o pleito para Lula é a governabilidade a partir de 2023. Nos últimos anos, os poderes da Presidência foram bem reduzidos. Os instrumentos que o Executivo tradicionalmente tinha para manter-se com a iniciativa política, como medidas provisórias quase ilimitadas e a possibilidade de liberar ou não emendas parlamentares, foram aos poucos transferidos para o próprio Legislativo. Hoje, os parlamentares se viram muito bem sem o presidente.
O que quer que Lula planeje fazer sairá caro.
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2022/02/para-lula-governar-pode-ser-mais-dificil-do-que-vencer.shtml
Andrea Jubé: Navalha na carne
Andrea Jubé / Valor Econômico
No comício de despedida da campanha de Fernando Haddad no Rio de Janeiro, a cinco dias da votação no segundo turno, o rapper Mano Brown jogou água no chope da festa petista. Ao discursar no palco do evento, ele criticou o distanciamento do PT do eleitor da periferia e a perda de comunicação da legenda com esse eleitorado.
“Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, alertou. “Partido dos trabalhadores tem que entender o que o povo quer, se não sabe, volta pra base e vai procurar saber. Se falhou, vai ter que pagar mesmo”. E o PT pagou com a derrota para Jair Bolsonaro após quatro vitórias consecutivas nos pleitos presidenciais.
Três anos depois, Mano Brown comentou o episódio ao entrevistar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o podcast “Mano a Mano”. Em setembro do ano passado, o músico explicou ao líder petista o motivo de seu momento de “explosão” no ato pró-Haddad:
“Eu olhei pra plateia e não vi os meus lá, a massa do morro. Vi a militância leal ao PT, mas não vi os meus. O motorista, o segurança, os garis, não estavam do nosso lado. Ali eu sabia que a gente tinha perdido a eleição. Eu fui pra lá em clima de velório e o clima lá era de festa”, relembrou.
“Foi um momento de explosão, de decepção. Foi como cortar na própria carne, navalha na carne. Foi como você dar um tapa no seu filho”, enfatizou o músico.
Em sua resposta, Lula, primeiro, agradeceu a sinceridade do rapper. “Eu prefiro que as pessoas digam a verdade nua e crua. Quando a gente ouve a verdade, toma um choque de realidade”.
Em seguida, Lula reconheceu que houve mudanças no PT depois que o partido começou a conquistar espaços de poder. “Obviamente, na medida em que um partido elege muitos deputados, muitos governadores, vai mudando a relação com a sociedade. Quem manda no deputado não é mais o povo da comunidade, é o gabinete dele. Muda a relação de forças”, argumentou.
O ex-presidente afirmou nessa mesma entrevista que o PT se esqueceu do seu discurso originário, que era “dar vez e voz ao povo trabalhador” e ressaltou que “o dia que o PT esquecer pra que nasceu, é melhor acabar”.
Quase quatro anos depois da “explosão” de Mano Brown, foi a vez do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos, no recente artigo “É a periferia, estúpido!”, acionar a sirene para que os partidos de esquerda não se deixem entorpecer pelo clima de festa e percam de vista o eleitor da periferia.
Ele vê com arrepios o mesmo clima de festa precipitado, que foi detectado por Mano Brown no comício de Haddad. “A questão é rebater o clima de já ganhou, que pode ser desmobilizador para uma campanha de risco como será a deste ano”, observou Boulos em conversa com a coluna.
Boulos vê explicação para o favoritismo de Lula na conjuntura de PIB provavelmente negativo no ano eleitoral, inflação crescente e desemprego elevado, ao mesmo tempo em que não acredita no crescimento da terceira via. Em contrapartida, não enxerga Bolsonaro como “cachorro morto”, lembrando que ele tem ferramentas para crescer, sobretudo entre os mais pobres.
O líder do MTST considera um erro subestimar instrumentos de Bolsonaro como o Auxílio Brasil de R$ 400, que começou a ser pago a mais de 18 milhões de famílias e milhares de pequenas obras em andamento em todo o país, além da liberação de emendas parlamentares, inclusive do orçamento secreto, de políticos da base governista.
“Vai ter um nível de investimento nos mais pobres que não houve em nenhum outro momento”, alerta Boulos.
Se em 2018 Mano Brown criticou a perda de interação da esquerda, em especial, do PT, com a periferia, Boulos acredita que essa questão se resolve com a liderança de Lula nesta campanha. “Ele tem uma relação forte, uma relação simbólica com os mais pobres, eles têm a memória do governo dele. Não tenho dúvida de que o Lula vai ganhar e vai ganhar bem no Nordeste e na maior parte das periferias urbanas”.
O erro, ressalta o líder do MTST, é que setores da esquerda começaram a achar que a eleição está decidida e veem Bolsonaro como liquidado, enquanto a máquina pública já começou a cumprir o seu papel.
Nesse ponto do raciocínio, Boulos observa que algumas pesquisas, de um mês pra cá, já começaram a identificar uma redução da distância entre Lula e Bolsonaro na corrida pré-eleitoral. Ele argumenta que, se essas pesquisas forem examinadas com lupa, esse movimento já seria decorrente dos primeiros pagamentos do Auxílio Brasil no valor de R$ 400, que começaram no fim de 2021.
Ele expôs essa preocupação no encontro com Lula em São Paulo no começo do mês e afirma que o presidenciável do PT está consciente desse cenário, bem como outras lideranças do partido, já que nem todos subiram no salto.
Alas do PT que se declaram conscientes do duro embate pela frente com Bolsonaro, citam outras ferramentas de atração dos mais pobres em poder do governo, como a renegociação das dívidas do fundo de financiamento estudantil (Fies), que pode favorecer pelo menos um milhão de estudantes. Para quem estiver inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), o desconto do débito pode chegar a 92%.
Boulos diz que essa campanha vai demandar mais empenho e mobilização das forças de esquerda, porque não será decidida com “jogadas de marketing tradicionais”.
Ele alerta que é preciso aprender com os erros de 2018, porque Bolsonaro vai “operar em frequência dupla”. Segundo Boulos, Bolsonaro sairá a campo com a mesma “forte operação de redes sociais”, o “ gabinete do ódio”, a “turma do zap” e, ao mesmo tempo, terá palanques fortes nos Estados e tempo de propaganda na TV.
Nesse cenário, Boulos afirma que a esquerda terá que fazer uma campanha suprapartidária, com “olho no olho” do eleitor e gastando a sola dos sapatos.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/politica/coluna/navalha-na-carne.ghtml
Eliane Cantanhêde: Em vez de cair, Bolsonaro recupera pontos lentamente e não está fora do segundo turno
Eliane Cantanhêde / O Estado de S. Paulo
No dia seguinte ao Festival da Ovelha, banhistas de Atlântida, no Rio Grande do Sul, divertiam-se fazendo churrasco na areia da praia. Cena inusual, digna de curiosidade e elogio. Mas o dono de uma das barracas reagiu mal, ao ver que a curiosa era de Brasília: “Sai ‘pra’ lá! Vai comer churrasco com o Lula!”
Isso mostra várias coisas: a politização de tudo, a grosseria de certos bolsonaristas, a força do “mito” no Sul e que, se adversários acham que o presidente Jair Bolsonaro já perdeu, estão enganados. Assim como o trumpismo nos EUA, o bolsonarismo está enraizado no Brasil.
Quem vai ao Rio se depara com a bandeira brasileira em casas, apartamentos e negócios da zona norte, da zona sul, da região dos Lagos, com o uso irritante dos símbolos nacionais na campanha de Bolsonaro, que tem base eleitoral no Estado. E quem tem endereço ou família no Centro-oeste ou no interior – de Minas, por exemplo –, testemunha com espanto, ou medo, o quanto o bolsonarismo “pegou”.
No maior colégio eleitoral do País, o candidato do presidente ao governo, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), já larga bem, mesmo sem ter nada a ver com São Paulo, e replica o Rio, onde a família Bolsonaro e toda a direita se unem em torno do governador Cláudio Castro, enquanto o centro e a esquerda estão rachados.
Assim, o ex-presidente Lula mantém a liderança nas pesquisas, mas a distância para Bolsonaro vai lentamente diminuindo e o sonho de vencer em primeiro turno vai se dissipando, como a estratégia do centro, que imaginava passar Bolsonaro e disputar o segundo turno com Lula, inclusive com apoio do eleitorado bolsonarista.
Ainda falta muito tempo para as urnas e muita sujeira vai borbulhar na campanha, mas o cenário assusta, pois um quarto do País finge que não sabe, ou, pior, releva o que Bolsonaro fez e disse contra a ciência, o bom senso, a realidade, o ambiente, a cultura, a educação, a política externa… Guerrear contra máscaras, isolamento, vacinas, até de crianças?! É o fim do mundo, mas eleição não é racional, é emoção e dogmatismo.
Assim, a alta rejeição não define a derrota de Bolsonaro desde já, ele não é um adversário fácil nem o Centrão está prestes a abandonar o barco. Isso é o que milhões gostariam que acontecesse, mas ele tem uma base fanática, marketing, fake news, queda da inflação, dinheiro na veia dos pobres e meios de mostrar força, com PMS fazendo paralisação e civis armados. Desses que reagem a gentilezas atacando estranhos: “Vai comer churrasco com o Lula!”
Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,em-vez-de-cair-bolsonaro-recupera-pontos-lentamente-e-nao-esta-fora-do-segundo-turno,70003986566
Merval Pereira: Maioria regressiva no STF
Merval Pereira / O Globo
O presidente Bolsonaro tem dito que sua reeleição neste ano representará uma espécie de “bônus” para os conservadores brasileiros, a possibilidade de nomear mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele já indicou dois, Nunes Marques e André Mendonça, que já deram mostra de compromissos retrógrados em relação à liberdade de expressão, e teria direito a indicar os sucessores de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Ambos têm 73 anos e, de acordo com as regras atuais, deixam a Corte em 2023 ao completarem 75.
A movimentação política em torno das nomeações para o Supremo tem repercutido no Congresso, com diversos projetos e emendas constitucionais sendo apresentados. Há na Câmara até uma proposta de emenda constitucional para que se volte à idade máxima de 70 anos para a aposentadoria compulsória de ministros do Supremo, em todos os tribunais superiores e mesmo no Tribunal de Contas da União. A ampliação para 75 anos, aliás, foi feita para impedir que a presidente Dilma pudesse nomear mais ministros durante sua gestão.
A aprovação abriria campo para o próximo presidente da República indicar outros três ministros, além dos dois citados anteriormente. O atual presidente do Supremo, Luiz Fux, teria de se aposentar em 2023, Cármen Lúcia em 2024, e Gilmar Mendes em 2025. A desordem é tão grande que acaba de ser aprovada no Congresso a ampliação para 70 anos do limite de idade para uma pessoa ser indicada ao STF. A alegação é que, quando o limite de idade para a aposentadoria passou para 75 anos, não foi redefinida a idade máxima para a indicação, que continuou sendo de 65 anos.
No Brasil tínhamos, apesar da garantia na Constituição, um ambiente de muito cerceamento à liberdade de expressão. Nos últimos 15 anos, se construiu jurisprudência robusta no Supremo protegendo essa liberdade em várias decisões. A derrubada da Lei de Imprensa teve um papel simbólico. Com aquele julgamento com efeitos vinculantes, o Supremo passou a podar pela raiz todos os males que ainda existem na sociedade brasileira no sistema Judiciário com repercussão no Legislativo, inclusive estadual e municipal.
Outros avanços foram a livre publicação de charges, críticas ou conteúdo humorístico (mesmo no período eleitoral, aquele em que existe menos liberdade); liberação das biografias não autorizadas; classificação indicativa; inexistência do direito ao esquecimento. Não temos — nem teremos — liberdade absoluta, mas se estabeleceu a precedência da liberdade de expressão sobre outros direitos e princípios constitucionais. Com a ausência de ministros liberais como Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Ayres Britto, a tendência atual é uma orientação mais conservadora, com os dois ministros indicados por Bolsonaro aproveitando a insatisfação de outros ministros com a imprensa para formar maioria regressiva no plenário.
O ministro Nunes Marques foi derrotado, mas votou a favor de indenização à família de Aída Curi — jovem assassinada em 1958 — no caso do direito ao esquecimento e, na fundamentação, demonstrou sua visão restritiva sobre liberdade de expressão em favor de outros direitos, como honra, imagem ou dignidade. Outro caso foi a liberdade de artistas fazerem shows gratuitos a favor de candidatos. Nunes Marques se colocou contra até a participação para arrecadação de fundos, que foi autorizada.
Na questão da propaganda eleitoral em jornais e revistas, em que a Associação Nacional de Jornais (ANJ) queria equiparação aos direitos da internet, Nunes Marques também votou contra. O ministro André Mendonça só participou até agora nessa questão, declarando-se pela maior restrição possível. No seu voto, disse que o Congresso deveria aprovar uma legislação mais restritiva, e, se não o fizer, o TSE deveria restringir mais a propaganda na internet. Como advogado-geral da União e ministro da Justiça, Mendonça fez representações com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), que acabou sendo revogada pelo STF, contra jornalistas e artistas.
Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/maioria-regressiva-no-stf.html
Míriam Leitão: Rui Costa defende um pacto nacional
Míriam Leitão / O Globo
O governador Rui Costa, da Bahia, acha que o PT deveria conversar com economistas de outras visões e com pessoas de todo o arco da sociedade, “porque para colocar o Brasil nos trilhos vai ser preciso a ajuda de muita gente e um pacto de governança”. Ele concorda com o senador Jaques Wagner de que o PT precisa de humildade durante o processo eleitoral e, se ganhar, para governar o Brasil.
— A situação está muito pior do que quando Lula assumiu em 2003. Nós tínhamos naquela época um país mais estável, com ferramentas e possibilidades macroeconômicas muito maiores do que temos hoje. Com imagem e credibilidade no exterior. O cenário interno e internacional era mais favorável. Temos que ter a dimensão do desafio e a noção de que precisamos de muitas pessoas para colocar o Brasil de volta nos trilhos —afirmou. Eu o entrevistei na Globonews.
Perguntei se o PT havia errado ao chamar de “herança maldita” a administração de Fernando Henrique Cardoso. Ele respondeu: “Sem dúvida.” E voltou a falar nos terríveis indicadores de hoje, inflação, desemprego, queda da credibilidade, aumento da pobreza, a fome de volta:
— É preciso um grande arco de aliança, sendo muito objetivo, um arco de governança. Historicamente, e eu já ouvi isso dentro do PSDB, essa polarização excessiva começou em São Paulo e levou os dois partidos, PT e PSDB, que tinham propostas comuns de social-democracia, a tornarem-se antagônicos.
Na economia, o governador Rui Costa também defende uma gestão próxima do setor privado. Na Bahia, houve muitos projetos em parceria com a iniciativa privada:
— A população quer ser bem atendida, não quer saber de quem é a gestão. Muitas vezes se colocou o interesse das corporações acima dos interesses da gestão pública. Com a queda da capacidade fiscal da União, até pior do que a dos estados, é necessário lançar mão de parcerias com o setor privado para alavancar investimentos em várias áreas, como infraestrutura e logística.
Rui Costa disse que vai anunciar só no dia 13 a solução do quebra-cabeças estadual. O PT na Bahia governa numa grande coalizão que tem o PP, do vice-governador João Leão, e o PSD, do senador Otto Alencar, que pode vir a ser o candidato do grupo ao governo do estado. Está entre Otto e Jaques Wagner. O governador, no entanto, disse apenas que está havendo diálogos entre os grupos políticos — o PSB faz parte também — para ver qual é a melhor composição. Não afasta a possibilidade de permanecer até o fim do mandato. Perguntei então se ele poderia vir a ser ministro, caso Lula ganhe a eleição. Ele disse que esse tipo de cargo é da escolha de quem é eleito. Costa esteve recentemente com o ex-presidente Lula e o descreve assim:
— Lula está com a cabeça ótima. Uma pessoa que passou o que ele passou e está sereno. Eu apoio e acho positivo o aceno ao governador Geraldo Alckmin e alguns dizem que ele não agregaria voto. Não é uma questão de contabilidade de voto, é sinalizar para a sociedade como nós pretendemos governar. Queremos governar abraçando o Brasil, mobilizando segmentos para fazer um grande pacto nacional que permita o crescimento, a geração de emprego e renda. Esse país precisa de estabilidade política, institucional e um pacto de longo prazo, não apenas para um governo, mas para planejar o longo prazo.
Quis saber por que não foi possível o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro. A relação entre ele e os governadores sempre foi conflituosa, principalmente os do Nordeste:
— O atual governo é um vazio de conteúdo em todas as áreas. A lógica de Bolsonaro é, para manter seu grupo mobilizado, agredir, agredir, agredir. Minha surpresa não é com ele, é que 25% da população o acompanhe. É decepcionante, porque ele é uma pessoa completamente desqualificada, vazia, sem a menor capacidade de administrar o país.
Perguntei a ele o que o ex-presidente Lula quer dizer com regulação da mídia. Rui Costa disse que não conversou com ele sobre isso. Citou as redes de mentira na internet, mas ao mesmo tempo falou de modelos que regulam “a propriedade, mas não o conteúdo do que é divulgado”.
Sobre a federação, Costa disse que é boa ideia para diminuir o número de partidos, mas que não faz sentido atrelar o acordo nacional com a administração municipal a ser eleita daqui a dois anos.
Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/rui-costa-defende-um-pacto-nacional.html