Evandro Milet: Metaverso - o mundo real já não é mais suficiente

Evandro Milet / A Gazeta

As ideias em torno de um novo mundo, com novas regras e novos tipos inusitados de relacionamento vinham acontecendo com as novas tecnologias de realidade virtual e aumentada, com criptomoedas independentes de países e bancos centrais, com a inteligência artificial ultrapassando a capacidade humana em alguns setores, com games cada vez ampliando mais a realidade e com o aumento da velocidade de comunicação. Alguns experimentos específicos de mundos virtuais começavam a apresentar a ideia de que o mundo real em que vivíamos já não era mais suficiente. De repente, tudo ganhou velocidade com a declaração de Mark Zuckerberg sobre o Metaverso como estratégia do Facebook, inclusive com a mudança do nome da empresa para Meta.

Mas o que é o Metaverso? Metaverso é uma espécie de nova camada da realidade que integra os mundos real e virtual. Na prática, é um ambiente virtual imersivo construído por meio de diversas tecnologias. Na verdade, já existem alguns metaversos, cada um com suas características. A tendência é que os grandes players, que se movimentam no mesmo sentido, comecem a consolidar esse ambiente, que muitos consideram como a nova internet.

A ideia é que o metaverso tenha uma economia virtual própria, e que as pessoas possam trabalhar, adquirir casas, comprar roupas, ir a festas, fazer reuniões, assistir shows e ter de fato uma vida online, representado por avatares. Pode-se perguntar: mas isso faz sentido? No início da internet também não se tinha ideia do que era aquilo e para que servia. Havia a ideia que aquilo não tinha finalidade comercial, apenas para pesquisa. Correio eletrônico era incipiente e limitado, as empresas não se apresentavam ali, redes sociais não existiam e nem mecanismos de busca. Hoje é inimaginável viver sem isso. Será que com o Metaverso acontecerá o mesmo desdobramento imprevisível?

Com a internet de hoje você vê, fala e ouve. Com o Metaverso você vive. É uma imersão sem parâmetros como conhecemos. Você poderá ter vários avatares seus, cada um com as características que você determinar. Inicialmente você comanda diretamente, mas com o tempo um algoritmo de inteligência artificial poderá representá-lo em alguns ambientes.

Já existem vendas de terrenos e casas no Metaverso. O valor é determinado pela procura e pelo interesse. Se uma loja conhecida monta sua réplica no Metaverso, os terrenos ao lado podem ficar valorizados, porque muitos avatares vão transitar por ali. Em novembro, um terreno virtual de 566 metros quadrados de um game do metaverso foi vendido por US$ 2,4 milhões em criptomoedas. No ambiente virtual a imaginação de um arquiteto ou de um publicitário não terá limites físicos, a criatividade será ilimitada em 3D.

Bill Gates já aponta que este é o futuro e que praticamente todas as reuniões de negócios migrarão para o metaverso até 2024. Por enquanto serão avatares nos representando, depois poderão ser hologramas muito mais agradáveis de se lidar.

O fato é que grandes empresas estão correndo para se estabelecer nesse ambiente criando roupas para vestir os avatares com sua grife, patrocinando shows de artistas representados pelos seus avatares ou cunhando NFTs colecionáveis, em um mundo com suas próprias criptomoedas baseadas em blockchain.

Há alguns anos houve uma tentativa de criar esse mundo no que se chamou de Second Life, mas com vida curta. Hoje, as tecnologias fundamentais de realidade virtual, blockchain e 5G, principalmente, permitem imaginar que essa segunda vida vai acontecer de fato. Ou será apenas um delírio tecnológico?

Fonte: A Gazeta
https://www.agazeta.com.br/colunas/evandro-milet/metaverso-o-mundo-real-ja-nao-e-mais-suficiente-0222


Ucrânia: Presidenciáveis apostam em antigos conselheiros sobre diplomacia

Juliana Braga / Folha de S. Paulo

A eclosão da guerra na Ucrânia tende a trazer a diplomacia e a política externa para o centro dos debates na campanha eleitoral.

A maior parte dos presidenciáveis, no entanto, tem aproveitado conselheiros antigos para se orientarem e formularem seus posicionamentos, sendo exceção o caso de "sangue novo".

O PT, por exemplo, conta com o ex-ministro de Relações Exteriores e de Defesa, Celso Amorim.

No PSDB, do governador João Doria, o ex-ministro Celso Lafer e o embaixador Sergio Amaral cumprem o papel de porta-vozes informais do partido há anos.

Já Ciro Gomes (PDT) tem ouvido o ex-ministro Mangabeira Unger, com quem já escreveu um livro em 1996.

A exceção é Sergio Moro (Podemos). Segundo sua assessoria, um grupo de conselheiros de política externa, que já fazia parte do núcleo da pré-campanha, está mapeando os possíveis impactos da guerra no Brasil. Mas os nomes dos que o compõem só serão divulgados mais à frente.

Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve dificuldade em unificar o discurso sobre o tema. Em viagem à Rússia, em 16 de fevereiro, afirmou que o presidente Vladimir Putin buscava a paz.

Dias depois, o vice-presidente Hamilton Mourão deu declarações duras e defendeu o uso da força em favor da Ucrânia. O Itamaraty se esforça para centralizar as manifestações no embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/03/com-guerra-na-ucrania-presidenciaveis-apostam-em-antigos-conselheiros-sobre-diplomacia.shtml


Alckmin, Leite, ministros e governadores: março é mês decisivo na corrida eleitoral

Gabriel Sabóia / O Globo

RIO — O mês de março começou e, com ele, as principais definições do mundo político são traçadas visando as eleições deste ano. Com a abertura da janela partidária, nesta quinta-feira, todos aqueles que quiserem trocar de legenda para concorrer a cargos públicos terão até o dia 1º de abril para fazer a mudança. Quem precisa se desincompatibilizar do cargo que ocupa para concorrer a uma vaga também terá que tomar a decisão até o mês que vem. Enquanto isso, as principais chapas que vão concorrer à Presidência da República ganham os seus contornos finais, com as definições dos vices e as respostas aos últimos convites partidários.

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Após saída do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin tem conversas adiantadas com PSB, mas também há convites do PV e do Solidariedade Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo
Após saída do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin tem conversas adiantadas com PSB, mas também há convites do PV e do Solidariedade Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo

Uma das principais expectativas deste mês gira em torno da nova legenda do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que se desfiliou do PSDB após 33 anos no partido e é apontado como provável vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As conversas com o PSB estão adiantadas, embora o PV ainda seja cogitado como destino do ex-tucano.

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Derrotado nas prévias do PSDB, o governador Eduardo Leite negocia migrar para o PSD para concorrer ao Palácio do Planalto Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo
Derrotado nas prévias do PSDB, o governador Eduardo Leite negocia migrar para o PSD para concorrer ao Palácio do Planalto Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo

Por outro lado, a migração do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSDB para o PSD parece certa. O convite feito pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab, é bem visto por Leite, mas ainda é condicionado a outra decisão: a formalização da desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), de concorrer ao Palácio do Planalto. Filiado ao PSD desde o ano passado com a expectativa de ser candidato à Presidência, Pacheco deve dar lugar a Leite na corrida eleitoral.

Ministros candidatos
Rogério Marinho, hoje ministro do Desenvolvimento Regional, planeja concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Norte Foto: Arte / Agência O Globo
Rogério Marinho, hoje ministro do Desenvolvimento Regional, planeja concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Norte Foto: Arte / Agência O Globo

Até 11 ministros do governo Bolsonaro devem deixar seus cargos para concorrer a governador, senador ou deputado federal nas eleições do ano que vem. Se confirmada, será a maior reforma ministerial pré-eleições desde 2010. Nesta terça-feira, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, confirmou que vai deixar o comando da pasta em março para se candidatar a deputado federal por São Paulo. Ele disputará a vaga na Câmara pelo mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL.

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Outros ministros miram uma vaga no Senado: Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), pelo Rio Grande do Norte; Flávia Arruda (Secretaria de Governo), no Distrito Federal; Gilson Machado (Turismo), em Pernambuco, embora também esteja cotado para vice na chapa de Bolsonaro; e Tereza Cristina (Agricultura), em Mato Grosso do Sul. Outros três integrantes da Esplanada dos Ministérios devem disputar governos estaduais: Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), em São Paulo; João Roma (Cidadania), na Bahia; e Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), no Rio Grande do Sul.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, é pré-candidato a deputado federal pelo Distrito Federal. Também analisam a possibilidade de entrarem na disputa Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Marcelo Queiroga (Saúde). Na semana passada, mesmo sem confirmar a candidatura, Damares disse que o estado de preferência para concorrer seria o Amapá e afirmou ao senador Davi Alcolumbre (União-AP), seu possível adversário, que está "chegando".

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Governadores de volta às urnas
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), deve concorrer ao Senado Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), deve concorrer ao Senado Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo

Ao menos quatro governadores, todos do Nordeste, devem concorrer a uma vaga no Senado. Um deles é Camilo Santana (PT), do Ceará, que faria parte de uma chapa encabeçada pelo PDT. Os dois partidos são aliados no estado, onde haveria um palanque duplo para os presidenciáveis Lula e Ciro Gomes. 

No Piauí, Wellington Dias (PT) deve tentar repetir o feito de 2010, quando deixou o governo para concorrer ao Senado e venceu a disputa. 

No Maranhão, Flávio Dino (PSB) mira o Senado, mas ainda precisa resolver uma pendência antes de deixar o governo: ele quer o apoio de Lula ao vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que deve migrar para o PSB. O ex-presidente, no entanto, prefere apoiar o senador Weverton Rocha (PDT). Os dois são da base de Dino, que rachou.

Na Bahia, a decisão do governador Rui Costa (PT) de disputar o Senado embaralhou o cenário pré-eleitoral. A primeira consequência foi a desistência do senador Jaques Wagner (PT) de disputar o governo. O diretório petista na Bahia avalia se apoiará o senador Otto Alencar (PSD) ou se lançará outro nome.

Mudanças em prefeituras
Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) vai concorrer ao governo de Minas Gerais Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo
Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) vai concorrer ao governo de Minas Gerais Foto: Editoria de Arte / Agência O Globo

No "quebra-cabeça" eleitoral, março também deve ditar o rumo de seis prefeituras de capitais brasileiras. Eleitos ou reeleitos em 2020, os chefes dos Executivos municipais se preparam para concorrer aos governos dos seus estados. Para isso, precisam se desincompatibilizar até abril.

Em Minas Gerais, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), deve concorrer com o governador Romeu Zema (Novo), que pretende se manter no cargo. Situação parecida deve ocorrer no Mato Grosso do Sul, onde o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), dever ser candidato ao governo contra o atual ocupante do cargo, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Gean Loureiro (União) deve deixar a prefeitura de Florianópolis para tentar o governo de Santa Catarina. 

O grupo dos indecisos também está com os dias contados. O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), terá até o fim do mês para definir a sua candidatura ao Executivo estadual. O mesmo deve acontecer com João Henrique Caldas (PSB), que avalia a renúncia da prefeitura de Maceió para se candidatar em Alagoas, e, em Sergipe,  Edvaldo Nogueira (PDT) pode deixar a prefeitura.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/alckmin-leite-ministros-governadores-marco-mes-decisivo-na-corrida-eleitoral-25416128


Janela partidária deve tornar partido de Bolsonaro o maior da Câmara

Bruno Góes e Julia Lindner / O Globo

BRASÍLIA — As legendas do país iniciam uma temporada de perdas e conquistas de filiados a partir de hoje, com a abertura da janela partidária, período no qual deputados podem migrar de sigla sem perder seus mandatos — a regra vale até 1º de abril. Como grande parte das negociações está em curso desde o ano passado, líderes e dirigentes já identificaram as principais movimentações e o impacto na correlação de forças do Congresso. Na Câmara, o maior beneficiado deve ser o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, fortalecendo assim ainda mais o Centrão. Com 42 deputados, a bancada tende a receber cerca de três dezenas de nomes. A maior parte virá do União Brasil, agremiação que mais deve perder quadros na dança das cadeiras.

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O PL deve se beneficiar justamente pela chegada de Bolsonaro, que se filiou no final do ano passado e, desde então, começou a trabalhar para atrair para a legenda nomes com forte potencial eleitoral, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), um de seus filhos, e Bia Kicis (DF), ambos do União Brasil.

Na outra ponta dessa balança, o União Brasil, resultado da fusão entre DEM e PSL, deve encolher dos atuais 78 deputados para menos de 60. Assim, poderá ser rebaixado da liderança à segunda maior força da Casa. Isso porque grande parte da tropa bolsonarista ainda está vinculada ao PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu em 2018, e que agora deve ir para o PL.

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O GLOBO procurou os presidentes das principais agremiações e lideranças políticas para fazer uma estimativa de como estará o quadro político nacional após o fechamento da janela. Presidente do União Brasil, Luciano Bivar admite as perdas, mas enxerga na eleição a oportunidade de reverter o quadro.

— Ao fim da janela, devemos ter uns 55 deputados, mas isso não significa nada. Vamos eleger 70 — minimizou.

Bancadas em movimento

Crise na base

O movimento de incentivar aliados do presidente a optar pelo PL, feito pelo próprio Palácio do Planalto, causou uma crise com um dos principais partidos da base, o Republicanos. Na semana passada, o presidente da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), disse que Bolsonaro “só atrapalhava” as negociações da sigla. Ontem, evitou fazer previsões

— Não sabemos ainda (como será o saldo da janela) — disse.

Outro braço de apoio do governo, o PP também já contabiliza chegadas e partidas. O presidente da sigla, deputado Claudio Cajado (BA), espera que o resultado final seja positivo, mas evita fazer previsões — hoje a bancada conta com 43 nomes. O líder do PP, deputado André Fufuca (MA), aposta na atração de pelo menos sete parlamentares, chegando a 50 deputados.

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Além da janela, a nova configuração do Congresso dependerá da formação de federações partidárias. Nesse tipo de aliança, as legendas se unem por pelo menos quatro anos. MDB e União Brasil ainda dialogam nessa direção, mas a possibilidade de o acordo sair é cada vez menor.

Independentemente da negociação, o MDB contabiliza quatro possíveis saídas. Até oito, porém, poderiam chegar, segundo cálculos do seu presidente, deputado Baleia Rossi (SP).

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— Nossa expectativa é de manutenção da bancada atual ou pequeno crescimento — resume Rossi.

Por enquanto, a federação que tem mais chances de sair é a negociada entre PSDB e Cidadania — com bancadas de 30 e oito, respectivamente. Entre os tucanos, há apreensão sobre o possível encolhimento na Câmara em caso da manutenção do nome do governador de São Paulo, João Doria, na disputa pela Presidência. Hoje, ele patina no patamar dos 3% nas pesquisas de intenção de voto. Paralelamente, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), negocia sua ida para o PSD, por onde poderá concorrer ao Planalto. A costura, porém, depende da desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), atual pré-candidato à Presidência da sigla de Gilberto Kassab.

Segundo o líder do PSD, Antonio Britto (BA), a expectativa é que a bancada saia dos 37 deputados para um patamar de 45 a 50 integrantes.

— As bancadas querem a candidatura própria — ressaltou Brito, para justificar o seu otimismo. 

O peso do governismo

Outra negociação de federação segue empacada: entre PSB e PT. Nesse cenário, petistas estimam que a bancada deve ficar do mesmo tamanho, recebendo no máximo um deputado, o que deixaria o partido com 54 parlamentares.

— Não trabalhamos muito com a iniciativa de trazer deputados federais. Trabalhamos mais com a expectativa de consolidar a federação — disse Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.

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Por sua vez, o PSB vê risco de perder boa parte dos seus integrantes, caso as negociações com o PT naufraguem. Seus dirigentes, contudo, evitam arriscar palpites sobre números.

— Sem federação, corremos risco de perder parlamentares, mas não tenho como nominar nem quantificar — afirmou Bira do Pindaré (MA), líder da legenda na Câmara.

Dentro da bancada, no entanto, há quem aposte na saída de 14 deputados, de um total de 30, se as conversas com os petistas não evoluírem.

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O cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que o fato de Bolsonaro ser o maior beneficiado é resultado de um “governismo” identificado no Congresso.

— Estão mudando os deputados que já vinham votando com o governo e que vão querer disputar a próxima eleição com a máquina do governo a lhes beneficiar. Ainda mais tendo um presidente que vai puxar votos para a legenda — afirma Couto.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/janela-partidaria-deve-tornar-partido-de-bolsonaro-maior-da-camara-entenda-as-movimentacoes-25416772


Eduardo Bolsonaro mobiliza Legislativos nos Estados para facilitar porte de armas

Vinícius Valfré / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Com dificuldade para fazer avançar no Congresso projeto que beneficia caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, o deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) articula um movimento com aliados nas assembleias estaduais para dar porte de arma irrestrito aos integrantes dessa classe. O plano é aprovar regionalmente leis que buscam esvaziar a atuação de delegados da Polícia Federal, responsáveis pela análise dos pedidos de porte.

Levantamento do Estadão identificou projetos com a mesma finalidade em 13 Estados e no Distrito Federal, apresentados até o início de fevereiro. Em pelo menos dois deles (DF e Rondônia), já foram aprovados. Os textos, fomentados pelo filho do presidente Jair Bolsonaro, são semelhantes. Dois autores admitiram à reportagem que o projeto teve participação de lobistas pró-armas.

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Os projetos visam reconhecer os CACs, o maior segmento armado do País, como “atividade de risco”. Esse status não assegura direito imediato ao porte de arma para a categoria, mas pode impossibilitar a PF de analisar caso a caso as novas solicitações.

Cabe a delegados federais avaliar a “efetiva necessidade” de quem solicita o porte – condição que possibilita a livre circulação com armamento. Os CACs já estão autorizados a transitar com armas municiadas desde que estejam se deslocando de casa para o local oficial de tiro. Eles alegam que a condição é restritiva e pode colocá-los em situações irregulares em caso, por exemplo, de mudança de rota por razões emergenciais. 

Crescimento

Uma série de portarias e decretos de Bolsonaro tem ampliado a expedição de registros de CACs pelo Exército e permitido compras de mais armas e munições. Os CACs eram 255 mil, em 2018. Agora, de acordo com dados oficiais de dezembro, são 465 mil – um atirador pode ter até 60 armas. O efetivo das polícias militares de todo o Brasil, na ativa, é de cerca de 406 mil homens, segundo dados oficiais. Nas três Forças Armadas, são cerca de 350 mil militares.

O lobby de Eduardo Bolsonaro é operado em conjunto com Marcos Pollon, presidente da Pró-Armas. A entidade se inspira na Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. “Comentem, falem, mandem e-mail, telefonem para o seu deputado estadual. Fazer um projeto de lei é simples”, disse Eduardo em conversa com Pollon, no início de fevereiro. 

Lobby

Pollon orienta pessoalmente os deputados sobre como propor o projeto. Ele admite que o objetivo de aprovar leis nos Estados é fugir da pressão em Brasília. No Congresso há um projeto de lei com finalidade parecida desde 2019. “É mais fácil se organizar nos Estados. Se for pautado na Câmara e no Senado, eles serão achincalhados, como está acontecendo. Nos Estados, o ataque é menos incisivo”, afirmou, durante transmissão com Eduardo, na internet.

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Eduardo Bolsonaro discursa ao lado de Marcos Pollon, presidente do Pró-Armas, durante Manifestaçãoo a favor do presidente Jair Bolsonaro e da flexibilização do porte e posse de armas de fogo. Foto: Dida Sampaio/Estadão - 9-7-2020

Para o presidente da Pró-Armas, o apoio de Eduardo tem sido fundamental. “Vocês não têm ideia do que esse cara faz de bastidor. Ele é um monstro, um gigante. O que aparece é só a ponta do iceberg”, afirmou. O deputado Roberto Duarte (MDB-AC) admitiu que o projeto que apresentou veio pronto de representantes da Pró-Armas. O soldado Adriano José (PV), deputado no Paraná, disse que seu projeto “foi construído” por sua assessoria jurídica “juntamente com o Pró-Armas no Estado”.

As consequências da mobilização preocupam especialistas. “É um esforço para vencer no cansaço”, disse a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo.

Procurado, Eduardo não respondeu. Pollon negou que tenha enviado projetos prontos a deputados estaduais. Disse que apenas tem “atuação política” na defesa da pauta.

Para entender:

Projetos nos Estados têm redação semelhante

  • CACs: São os colecionadores, atiradores desportivos e caçadores. Eles têm o direito, conferido pelo Exército, à posse de arma de fogo e munições para exercer as atividades de colecionismo, tiro desportivo e caça. Mas o direito de porte, para carregar livremente as armas, não é automático. 
  • Registros: A atividade de CACs tem crescido nos últimos anos. Segundo dados de dezembro, há 465 mil registros em todo o Brasil. Para efeito de comparação, as PMs têm, na ativa, cerca de 406 mil homens.
  • Circulação: Decretos e portarias do governo de Jair Bolsonaro facilitaram o acesso a armas e munições para CACs. Eles, inclusive, podem andar armados, mas há condições específicas para o deslocamento. As condições não se aplicam a quem tem o porte de arma. 
  • Projetos de lei: O objetivo dos projetos de lei é colocar, nas legislações dos Estados, o reconhecimento de que ser CAC é uma atividade de risco. Isso facilitaria a esse grupo a obtenção, na Polícia Federal, do direito de portar arma.
  • Alcance: Já existem projetos – todos com redações semelhantes – em pelo menos 14 Estados: AC, BA, CE, MG, PA, PR, RN, RO, RJ, RS, SC, SP, TO e DF.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,eduardo-bolsonaro-mobiliza-legislativos-nos-estados-para-facilitar-porte-de-armas,70003996194


Luiz Carlos Azedo: Com guerra, Putin volatilizou US$ 630 bilhões em reservas

Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

Após três dias de debates, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, ontem, uma resolução contra a invasão da Ucrânia pela Rússia por 141 votos a favor, cinco contra e 25 abstenções. Foi uma derrota acachapante do presidente russo, Vladimir Putin, que obteve apoio apenas de Belarus, Coreia do Norte, Eritreia e Síria, além do voto da própria Rússia. África do Sul, China e Índia, parceiros dos Brics, se abstiveram, mas o Brasil votou contra a Rússia, apesar da retórica de neutralidade do presidente Jair Bolsonaro.

Há um significado adjacente à condenação que precisa ser levada em conta: a ONU legitima as sanções econômicas duríssimas adotadas pelos Estados Unidos e seus aliados do Ocidente, sobretudo o Canadá, o Reino Unido e a União Europeia. Nunca antes mecanismos de governança da economia mundial foram acionados dessa maneira, o que praticamente deixa a Rússia fora das principais cadeias de produção e comércio mundial. Mesmo a China, que é a segunda maior economia do planeta, sente a pressão das medidas, que não adotou. A operação de cerco à economia russa inclui, também, as redes sociais e as criptomoedas.

Ontem, no Twitter, a economista Monica de Bolle fez algumas considerações muito importantes sobre o impacto das medidas na economia da Rússia. Seu foco principal foi o acesso do Banco Central russo às reservas acumuladas por Putin nos últimos anos, aparentemente com o propósito de resistir às sanções econômicas do Ocidente caso invadisse a Ucrânia, o que acabou acontecendo. “Mas a Rússia tem US$ 630 bilhões em reservas, eles têm dinheiro”, aspas dela. “Têm mesmo?”, indaga.

Vou resumir seu raciocínio: reservas internacionais são a contraparte de transações de comércio e investimentos no balanço de pagamentos de um país. Esses ativos líquidos podem ser facilmente transacionados no mercado internacional, mas não em dinheiro vivo. “Não há US$ 630 bilhões armazenados em algum cofre blindado subterrâneo. Reservas são tipicamente detidas na forma de títulos e de ouro. Majoritariamente, títulos. Que títulos? Títulos dos governos que emitem moedas de reserva. Quais moedas de reserva? O dólar, o euro, o iene e até o yuan.”

Esses títulos funcionam como uma espécie de notas promissórias, emitidas de um governo para o outro, que se compromete a honrar o valor dos títulos. Ou seja, as reservas estão em títulos e não em dinheiro. Se os governos se recusam a ressarcir esses títulos, os mercados não podem intermediar esses recursos. Ou seja, as reservas nada valem. Com isso, os rublos viram uma moeda podre. “Se o sistema bancário perde a sustentação porque o Banco Central não pode acionar reservas, os depósitos das pessoas estão em risco. Como? Bancos operam com liquidez fracionada. Nenhum banco consegue ressarcir 100% dos depósitos.”

Segundo ela, inevitavelmente, a população perceberá isso. “Desvela-se, portanto, a crise bancária clássica, aquela que conhecemos muito bem. Suponhamos que as pessoas queiram a devolução dos seus depósitos denominados em rublos — a corrida bancária sobre a qual falava. Suponhamos que o Banco Central imprima rublos para dar conta da demanda e segurar os bancos. O rublo, já derretido, vira pó”, conclui.

Governo mundial

A envergadura das sanções econômicas lançadas contra a Rússia e sua adoção por grandes corporações multinacionais, num momento em que a economia mundial começa a dar sinais de recuperação econômica, depois de mergulhar na recessão decorrente da pandemia de covid-19, merecem outra reflexão específica. É um novo sistema de governança da economia mundial que está sendo configurado. Na crise ucraniana, a ação institucional do Ocidente, alicerçada na definição e garantia dos direitos de propriedade, parece ultrapassar o velho modelo neoclássico.

De um lado, os Estados Unidos, o Canadá, o Reino Unido e a União Europeia incorporam a narrativa ideológica como paradigma de divisão do mundo entre o Ocidente democrático e o Oriente autocrático, sustentada pela projeção de poder dos Estados Unidos por meio da Otan. Esse eixo das relações internacionais subordina as relações comerciais especificamente. De outro, rechaçam a caracterização de governantes como Putin como um ser autônomo em relação à sociedade e seus mecanismos de representação, ou seja, situa a Rússia e seus aliados no campo dos estados autocráticos, ainda que o presidente russo tenha sido eleito pela maioria.

No caso das sanções econômicas, na prática, o Estado liberal ganha a possibilidade de definir e cassar direitos de propriedade em casos de conflitos internacionais, como está acontecendo agora com dirigentes políticos e oligarcas russos, inclusive os que vivem no Ocidente. É uma grande mudança de paradigma, cujas consequências se projetam para o futuro das relações econômicas globais. O mercado e a sociedade, por meio de convenções e outros mecanismos, estimulam o cumprimento de contratos e garantem os direitos de propriedade, porém, nessa crise, esse status é insuficiente. A mão pesada do Estado democrático do Ocidente estabelece novas regras do jogo, que podem não se restringir à Rússia.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-com-guerra-putin-volatilizou-us-630-bilhoes-em-reservas/

Everardo Maciel: Será crucial esforço de criatividade para lidar com a guerra na Ucrânia

Everardo Maciel / O Estado de S.Paulo

É nessa data do calendário religioso que assisto apreensivo à injustificada e insana agressão, com ameaças de uso de armas nucleares, da Rússia ao heroico povo ucraniano, ratificando o entendimento do biólogo Edward O. Wilson (1929-2021) de que nossas emoções pouco evoluíram desde a Idade da Pedra, quando cotejadas com a evolução do conhecimento científico e tecnológico.

Ninguém é capaz de prever os desdobramentos dessa agressão, especialmente quando combinada com uma insidiosa pandemia, ainda não totalmente debelada, e eventos climáticos extremos, decorrentes da desatenção com o meio ambiente. Desconheço precedente histórico de tão insólita combinação.

Destroços em Kiev, na Ucrânia
Destroços deixados por ataque russo em Kiev, na Ucrânia. Ninguém é capaz de prever os desdobramentos dessa agressão. Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters - 2/3/2022

É certo, contudo, que, para além da tragédia, serão graves e persistentes as repercussões econômicas e sociais em todo o mundo. Para enfrentá-las, será crucial um incomum esforço de criatividade, determinação, resiliência e solidariedade, do qual o Brasil não poderá se eximir. Alienação não é uma boa escolha.

No Brasil, hoje, há escassez de lideranças públicas, pouca qualificação nos debates e elevado grau de polarização política. A despeito disso, não custa suscitar a conveniência de instalar um gabinete de crise, como já foi feito em situações muito menos graves, para construir convergências e confortar a sociedade.

Neste contexto, é totalmente inoportuna a tramitação de legislações controversas ou que causem impactos severos sobre preços, entes federativos ou regiões, como: a legalização dos jogos de azar, cujas repercussões sobre lavagem de dinheiro e corrupção nem sequer foram exploradas; a PEC dos Combustíveis, que, além de inconsistente, é incapaz de minimamente enfrentar as turbulências que se anunciam no mercado internacional de combustíveis; a PEC 110, que, desabastecida de estudos e projeções, introduz ou altera mais de duas centenas de dispositivos constitucionais, agride o federalismo fiscal em desfavor dos municípios, desloca carga tributária das indústrias não intensivas em mão de obra e instituições financeiras para o agronegócio, comércio, serviços e pequenas e microempresas, e prevê um prazo de implantação de 40 anos, sem resolver os problemas de hoje e contratando problemas futuros.

O poeta T. S. Eliot, que inspirou o título deste artigo, fez um terrível presságio em Os Homens Ocos: “Assim expira o mundo / Não com uma explosão, mas com um gemido”. Esta é a hora de apoiar governos, instituições e pessoas que militam em favor da prevalência da civilização sobre a barbárie.

*CONSULTOR TRIBUTÁRIO, FOI SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL (1995-2002)

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,everardo-maciel-guerra-russia-ucrania-impacto-economico-social,70003996207


William Waack: Guerra e liderança

William Waack / O Estado de S.Paulo

Guerras oferecem excelentes lições sobre liderança política, algo que os militares brasileiros talvez estejam aprendendo com a invasão russa da Ucrânia. Na Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), que forma os futuros generais, um ponto central estudado no presente conflito é a “guerra informacional”, diz um de seus docentes, o professor Tasso Franchi.

Trata-se de qual lado num conflito manipula melhor as informações ao público. E qual lado no conflito toma as melhores decisões baseado em quais informações, evitando ser levado por desinformação. O mundo da revolução digital acentuou brutalmente a gravidade do problema, mas não alterou a sua natureza.

Como “desinformação” entende-se também subestimar a capacidade de resistência do adversário, ou superestimar a própria força – o noticiário sugere que Vladimir Putin estava desinformado ao iniciar a invasão da Ucrânia. É algo que ainda pode corrigir, embora já esteja pagando um preço altíssimo.

Muito mais importante é a liderança política, que remete a clássicos como Clausewitz (que por esse motivo continua sendo lido na Eceme e em academias militares pelo mundo). Guerras e a sua condução têm de ser entendidas no contexto político e histórico, sujeito ao acaso. Sim, ao acaso, o que torna consequências às vezes imprevisíveis.

Por razões que ele considera objetivas (mas seus adversários consideram irracionais), Putin se dedicou a assegurar pela força bruta um espaço de vital importância estratégica para ele (e de bem menos importância para seus adversários). Conseguiu até aqui aumentar a própria dependência estratégica da China – que detém a capacidade de controlar o conflito sem ser parte direta dele – e devolveu ao inimigo da aliança militar ocidental um sentido de existência.

Mesmo conseguindo “negar” a Ucrânia ao adversário, território que Putin já inviabilizou como país por muitos anos adiante, a “liderança política” do autocrata em Moscou o deixou em situação mais perigosa e vulnerável do que antes da guerra. Para oficiais-generais estudando decisões políticas, a invasão da Ucrânia é a mais recente lição de que prevalecer no campo de batalha (que se antecipa que os russos consigam) não significa vencer a guerra, nem resolver a questão estratégica.

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Presidente da Rússia Vladimir Putin, em Moscou; para oficiais-generais estudando decisões políticas, a invasão da Ucrânia é a mais recente lição de que prevalecer no campo de batalha (que se antecipa que os russos consigam) não significa vencer a guerra, nem resolver a questão estratégica. Foto: Mikhail Klimentyev/EFE/EPA/Kremlin Pool/Sputnik

Há debate fascinante sobre o tamanho da desinformação (ou visão de mundo equivocada, pois se julgaram “donos da História”) de sucessivos líderes ocidentais ao lidar com o dilema milenar do equilíbrio entre potências, e seu tratamento da Rússia. E do tamanho da desinformação de Putin ao lidar com dados da realidade.

Resta saber o que oficiais-generais brasileiros acham que é “liderança política” quando olham para o Palácio do Planalto.

*JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,guerra-e-lideranca,70003996141


Clima: Dez previsões mostram que prazo para agir está se esgotando

Emilio Sant’Anna / O Estado de S.Paulo

Que os efeitos das mudanças climáticas causadas já estão em curso e são sentidos não se discute. Ondas de frio e de calor recorde na Europa e América do Sul, tempestades mais fortes, mais concentradas e mais frequentes, assim como furacões e secas prolongadas. Seja qual for o recorte de tempo e espaço, não há como fugir da dura realidade que o homem impôs a si mesmo. O relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), da ONU, divulgado nesta semana é mais uma comprovação.

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Para além dos efeitos que já se sentem hoje, no entanto, o relatório aponta para o que nos espera caso o caminho das altas emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e mudanças no uso da terra não seja abandonado. A publicação do grupo de trabalho 2 do IPCC é resultado da avaliação científica feita por 270 especialistas e coloca seu foco nos impactos, vulnerabilidades e adaptação às mudanças climáticas.

Confira alguns pontos do relatório e suas previsões, muitas delas já não mais evitáveis:

Populações mais vulneráveis serão as mais atingidas

Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), da ONU, divulgado na segunda-feira, 28, entre 3,3 bilhões e 3,6 bilhões de pessoas estão vulneráveis hoje aos efeitos das mudanças climáticas, até mais de 50% de toda a população mundial – com consequências diferentes entre países e regiões, mas marcadamente piores de acordo com a fragilidade socioambiental.

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Bombeiros tentam conter incêndio em floresta na região sul da França; efeitos das mudanças climáticas já estão em curso e são sentidos em todo o mundo Foto: NICOLAS TUCAT/AFP - 17/08/21

A mortalidade média observada por inundações, secas e tempestades é 15 vezes maior para países classificados como muito vulneráveis, como Moçambique, Somália, Nigéria, Afeganistão e Haiti em comparação com países de vulnerabilidade muito baixa, como Reino Unido, Austrália, Canadá e Suécia.

A extensão e a magnitude dos impactos são maiores do que os estimados em avaliações anteriores. Alguns deles estão se aproximando da irreversibilidade, como as mudanças hidrológicas resultantes do recuo de geleiras e o aumento do nível do mar e a acidificação dos oceanos.

Mundo terá 250 mil mortes a mais por ano até 2030; África terá mais de 50% delas

As mudanças climáticas aumentarão significativamente os riscos à saúde resultantes de uma série de doenças, com a escala dos impactos dependendo das emissões e dos caminhos de adaptação adotados. Estudos relacionados pelo IPCC projetam, além de impactos na saúde mental, mais 250 mil mortes por ano (em comparação ao período de 1961 a 1990) até meados do século. As principais causas devem ser o calor, a desnutrição infantil, a malária e doenças diarréicas.

No geral, mais da metade desse excesso de mortalidade deve ocorrer na África. Em cenários de altas emissões, mais de 9 milhões de mortes adicionais por ano devem ocorrer até 2100. O relatório revela que o chamado bulbo úmido, a combinação entre calor e umidade, deve subir. A temperatura do bulbo úmido de 31°C é  perigosa para o homem e acima de 35°C por mais de seis horas torna-se insuportável. Caso as emissões sejam cortadas aos níveis atualmente previstos, parte da região amazônica terá temperaturas de 32°C de 1 a 12 dias por ano, segundo estudo citado pelo IPCC. 

A pesquisa afirma que se as emissões forem ainda mais altas, a maior parte do território nacional terá temperaturas de 32°C por pelo menos um dia por ano. Já em partes do Norte e do Centro-Oeste, essa condição deve chegar a até 30 dias por ano. Em algumas regiões do Nordeste, no entanto, a valores podem chegar aos 35°C.

PIB global vai cair até 23% neste século; no Brasil queda pode chegar a 83%

As consequências econômicas causadas pelas mudanças climáticas serão devastadoras até o final deste século se as emissões de gases causadores do aquecimento global não forem drasticamente reduzidas. De acordo com o relatório do IPCC, os danos de se ultrapassar o limite de 1,5º acima do nível anterior à Revolução Industrial serão sentidos na redução da produção agrícola, disparada de preços das commodities e danos à infraestrutura das cidades. A consequência será a queda do PIB global de 10% a 23% até o final deste século, comparado a um mundo sem aquecimento.

Grandes economias sofrerão ainda mais, de acordo com um estudo citado no relatório. Na China, esse declínio do PIB até o final do século deve ser de até 42%, e de até 92% na Índia, se as emissões forem mantidas altas. No Brasil, onde o PIB já é cerca de 13,5% menor do que seria sem o aquecimento causado pelo homem desde 1991, a queda pode chegar a 83%.

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Morro da Oficina, em Petrópolis, na tarde da quarta-feira, 16, após temporal que deixou mortos, feridos e desabrigados; prefeitura da cidade declarou estado de calamidade pública. Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO - 16/02/2022
Nos próximos 8 anos, 132 milhões de pessoas podem cair na extrema pobreza

O relatório do IPCC traz evidências científicas de que os perigos causados por um clima com eventos mais extremos e frequentes (por exemplo, tempestades, inundações, secas, estresse térmico) podem minar os esforços de redução da pobreza ao longo de uma década, particularmente em regiões mais vulneráveis. De acordo com um relatório do Banco Mundial listado entre as fontes do IPCC, entre 32 e 132 milhões de pessoas podem cair em situação de extrema pobreza até 2030 devido aos impactos das mudanças climáticas.

Seca será ainda maior no Nordeste brasileiro

Grandes períodos de estiagem são cada vez mais frequentes em algumas regiões do mundo e do Brasil, como o Nordeste do País, que já sofreu ao menos um mês de estiagem 65% a mais entre 2010 a 2019 em comparação com 1950-1959. A previsão do IPCC é que a mudança climática impulsione ainda mais esse fenômeno. As chuvas devem diminuir mais 22% no Nordeste neste século se as emissões de gases causadores do aquecimento forem elevadas. Também sofrerá a região amazônica nesse cenário. Até 2100, o aquecimento  reduzirá em 27% o fluxo para a bacia do Tapajós e 53% para a bacia do Araguaia-Tocantins. A derrubada da floresta para a criação de pastagens secas pode causar reduções de chuvas de 40% na região e alterar a circulação de monção sul-americana.

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A previsão do IPCC é que a mudança climática impulsione ainda os períodos de estiagem no Brasil e no mundo. Foto TIAGOQUEIROZ/ESTADÃO 18/09/2021
População afetada por inundações deve dobrar no Brasil e países vizinhos

Se a seca será cada vez mais um problema no Brasil, as chuvas fortes e concentradas também deverão aumentar, o que significa um aumento nas enchentes e deslizamentos de terra é altamente provável, de acordo com o IPCC. Os maiores riscos de inundações mais frequentes e extremas estão nos estados do Acre, Rondônia, sul do Amazonas e Pará. Um aumento de 1,5ºC resultaria em um aumento de 100% a 200% na população afetada por inundações na Colômbia, Brasil e Argentina, 300% no Equador e 400% no Peru.

Brasil terá quase um milhão de migrantes do clima até 2050

O relatório do IPCC aponta para o perigo de no futuro grandes massas migratórias se formarem no Nordeste, causadas por eventos extremos como secas e inundações mais frequentes. A magnitude e a frequência de secas e furacões devem continuar aumentando até 2050 nas Américas Central e do Sul, o que pode forçar milhões de pessoas a deixar suas casas. No Nordeste brasileiro, o relatório prevê que ao menos 0,9 milhão de pessoas migrarão inter regionalmente sob as condições climáticas futuras. De acordo com especialistas, os efeitos desse processo serão duplamente negativos. Além de forçar o deslocamento de grandes massas de população, esse fluxo deve ir parar em cidades já inchadas e com serviços e planejamento públicos precários.

Agricultura em queda, aumento da fome e menor acesso a água levará a conflitos

Com a queda da produção agrícola, o fornecimento de alimentos ficará imediatamente ameaçado. Os riscos de perdas das colheitas causadas por eventos extremos aumentarão exponencialmente se as emissões não forem reduzidas rapidamente, de acordo com o relatório. Isso associado à escassez de água deve levar ao aumento do risco de agitações sociais e guerras. Para culturas como a do milho, a probabilidade de perder 10% ou mais da safra em vários lugares do mundo em um mesmo ano chega a 86%. No Brasil, a produção agrícola, principal impulsionadora do PIB em anos de crise econômica, deve ser duramente atingida. A produção de trigo no País pode cair 21% e a de milho em 10% com a manutenção de altas emissões. No entanto, esses índices também podem ser piores, com queda de até 71% para o milho produzido no Cerrado, por exemplo, e menor produtividade na pecuária e na pesca.

880 milhões de pessoas ficarão expostas nas cidades costeiras

Grande parte da população mundial, atividades econômicas e infraestrutura crítica estão concentradas perto do mar, com quase 11% da população global, ou 896 milhões de pessoas vivendo em costas baixas diretamente expostas a riscos costeiros climáticos e não climáticos interativos. Os cientistas reunidos pelo IPCC veem grande probabilidade de que as cidades e as planícies costeiras estejam expostas ao aumento do nível do mar na forma de inundações costeiras e erosões. Esses perigos podem afetar assentamentos humanos, portos, indústrias e outras infraestruturas. Se processos de adaptação e mitigação de riscos não forem adotados, os riscos para essas áreas e as pessoas aumentarão substancialmente até 2100. De acordo com estudos listados pelo relatório, até 880 milhões de pessoas terão maiores riscos até o final do século. Resultado desse processo, inundações com maior frequência e tempestades mais fortes também afetarão o estuário do Rio da Prata e delta inferior do Rio Paraná, onde está localizada a região metropolitana de Buenos Aires.

44% das espécies nativas entrarão em risco se temperatura não parar de subir

O risco de extinção de espécies aumenta com o aquecimento em todas as projeções de mudanças climáticas feitas pelo IPCC, sendo cerca de dez vezes maior para espécies endêmicas com a elevação de 1,5°C a 3°C acima dos níveis pré-industriais. Das 6.116 projeções analisadas pelo IPCC para mais de 2.700 espécies avaliadas nos chamados hotspots de biodiversidade cerca de 44% foram encontrados em alto risco de extinção e cerca de 24% em risco de extinção muito alto devido às mudanças climáticas. O Brasil está no centro desse cenário. Na Amazônia brasileira, por exemplo, metade das espécies de peixes avaliadas foram considerados sensíveis ao aumento da temperatura e redução do oxigênio devido às mudanças climáticas.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mudancas-climaticas-ipcc-aquecimento-global-desastre-chuvas-seca-mortes,70003995091


Depois de suspensão no Instagram, Bia Kicis é bloqueada no YouTube

Marlen Couto / O Globo

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, foi bloqueada no YouTube por sete dias. A punição ocorreu após um vídeo do canal da deputada com desinformação sobre vacinação infantil ser excluído pela plataforma por violar suas regras sobre Covid-19 na última sexta-feira, de acordo com monitoramento da consultoria Novelo Data.

O vídeo excluído é uma live com duração de mais de quatro horas postada em 6 de janeiro em que há defesa de que crianças não sejam vacinadas. A transmissão ao vivo conta com a participação dos deputados Chris Tonietto (União Brasil-RJ) e Diego Garcia (Podemos-PR), do procurador de Sergipe José Paulo Veloso, da médica bolsonarista Roberta Lacerda e de outros críticos à vacinação. O mesmo conteúdo segue no ar no Facebook e Twitter.

O anúncio sobre o bloqueio foi feito por Bia Kicis em redes sociais. Para burlar a punição da plataforma, a parlamentar pediu que seus seguidores acompanhassem uma página reserva com quase 3 mil seguidores, na qual chegou a postar dois vídeos. Em um deles anunciou uma live para a noite do último domingo, mas em seguida foi alertada pelo YouTube que a prática não é permitida.

"Agradeço a todos que se inscreveram no meu canal reserva, mas fui informada pelo YouTube que se eu fizer a live por lá, isso seria considerada (sic) uma burla à minha suspensão e poderei perder em definitivo ambos meus canais", escreceu em sua página no Telegram.

Live de Bia Kicis removida pelo YouTube

Live de Bia Kicis removida pelo YouTube | Reprodução / Facebook

As regras do YouTube estabelecem que a punição a um canal pode acontecer por violações recorrentes ou depois de uma infração grave, como spam e pornografia. No caso das normas sobre a Covid-19, há um sistema de avisos.

Na primeira violação, é emitido um alerta, enquanto na segunda vez, há o impedimento de postar novos conteúdos por sete dias, caso da parlamentar. Em março do ano passado, Bia Kicis já havia sido alvo de remoção na plataforma por postar um vídeo com desinformação sobre a Covid-19.

Se dentro de 90 dias, a parlamentar for alvo de um novo aviso por violar regras ficará bloqueada por 14 dias. Se cometer outra infração no mesmo período de 90 dias, o canal é removido permanentemente.

De acordo com levantamento da Novelo Data, o vídeo de Bia Kicis se soma a outros 47 removidos de canais da base bolsonarista nos últimos três meses — a maioria por violações à política sobre Covid-19. Nesse grupo, estão conteúdos do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o pastor bolsonarista Silas Malafaia. Como mostrou O GLOBO na segunda-feira, em meio a brechas do YouTube como a própria janela de 90 dias, bloqueios para a postagem de novos vídeos não foram aplicados nos canais de Flávio e Malafaia mesmo com a reincidência no desrespeito às normas internas

A punição a Bia Kicis no YouTube ocorre um mês depois da deputada também ficar temporariamente impedida de fazer transmissões de vídeo ao vivo no Instagram. Bia Kicis está entre os investigados no inquérito que apura fake news e ameaças contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em andamento na Corte. Ela já coleciona uma série de remoções de conteúdo em diferentes plataformas por compartilhar desinformação.

O GLOBO procurou a deputada para se manifestar sobre o bloqueio, mas ainda não houve resposta. Já o YouTube afirmou, em nota, que remove vídeos que violem diretrizes de desinformação médica. "Não permitimos conteúdo com alegações de que as vacinas causam efeitos colaterais crônicos além das reações adversas raras que são reconhecidas pelas autoridades de saúde, que questione a eficácia dessas vacinas com alegações de que elas não reduzem a transmissão e a contaminação por doenças ou ainda que questione as substâncias contidas nas vacinas", ressaltou.

Fonte: O Globo
https://blogs.oglobo.globo.com/sonar-a-escuta-das-redes/post/depois-de-suspensao-no-instagram-bia-kicis-e-bloqueada-por-7-dias-no-youtube.html


Após feriado, Supremo retoma julgamentos importantes

Luana Patriolino / Correio Braziliense

O Supremo Tribunal Federal (STF) volta do feriado de Carnaval com dois julgamentos importantes na pauta. A ação que analisa o fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões para as eleições de 2022, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, é o primeiro item a ser analisado. Encerrado esse processo, a Corte versa sobre os limites da inelegibilidade gerada pela Lei da Ficha Limpa.

A ação do fundão foi a estreia do ministro André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), como relator. No entanto, o voto dele permanece isolado. O placar está em 5 a 1 para rejeitar uma ação do partido Novo contra a aprovação do fundão. A expectativa é que os outros magistrados votem pela manutenção da verba.

A ação proposta pelo Novo pede que o STF derrube a mudança na fórmula de cálculo do valor destinado ao fundo e argumenta que a fixação do valor foi aprovada de maneira irregular e é inconstitucional.

Os magistrados citaram que, apesar de ser um valor recorde para bancar a campanha, não há inconstitucionalidade do Congresso em aprovar o fundo. Apostava-se que Mendonça teria o apoio de Luís Roberto Barroso. No entanto, tanto o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como o atual, Edson Fachin, e o vice, Alexandre de Moraes, se posicionaram de forma contrária.

O plenário do STF está a um voto de formar maioria favorável à manutenção do fundo eleitoral. Apesar de ainda faltarem cinco ministros para votar — Rosa Weber, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes — as chances do placar virar são quase impossíveis.


Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Ministro Alexandre de Moraes. Foto: Nelson Jr/SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Ministra Rosa Weber. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Ministro Alexandre de Moraes. Foto: Nelson Jr/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
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Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Ministro Alexandre de Moraes. Foto: Nelson Jr/SCO/STF
Plenário do STF. Foto: SCO/STF
Ministra Rosa Weber. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Ministro Alexandre de Moraes. Foto: Nelson Jr/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
Supremo Tribunal Federal. Foto: Felippe Sampaio/SCO/STF
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Ficha Limpa

Na quinta-feira (3/3), o Supremo retoma a análise das alterações da Lei da Ficha Limpa. De acordo com a legislação, são dez tipos de crime que acarretam inelegibilidade. Entre eles: crimes praticados contra a economia popular, o sistema financeiro e o patrimônio privado. Estão incluídos também lavagem de dinheiro, crimes ambientais, contra a vida e o abuso de autoridade, por exemplo.

O processo foi interrompido em setembro do ano passado por um pedido de vistas do ministro Alexandre de Moraes e será retomada com o voto dele.

Na ação, o PDT contesta a expressão "após o cumprimento de pena" na Lei da Ficha Limpa. A redação compreende que só poderiam voltar a se candidatar políticos condenados pela Justiça em um prazo de oito anos após o cumprimento da pena. Segundo a legenda, a expressão contestada pode gerar cassação de direitos políticos, resultando em inelegibilidade por tempo indeterminado.

Até o momento, votaram os ministros Nunes Marques e Luís Roberto Barroso. Na avaliação de Marques, a inelegibilidade deve contar a partir de condenação por tribunal colegiado, ou seja, por mais de um juiz ao mesmo tempo.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/03/4989573-apos-feriado-supremo-retoma-julgamentos-importantes.html


Canadenses têm 149 pedidos de exploração de potássio na Amazônia

André Borges / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA — A empresa canadense que foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira, 2, em referência a planos de exploração de potássio no Brasil, concentra nada menos que 149 pedidos ativos de exploração do mineral em diversos municípios do Pará e do Amazonas. Os dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) apontam que a Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense de investimentos Forbes & Manhattan, aguarda a conclusão do processo ambiental de dezenas de projetos para dar início efetivo à exploração no País.

No vídeo de 2016 publicado por Bolsonaro nas redes sociais, quando era deputado federal, o presidente criticou que os direitos minerários na região “estão nas mãos de uma empresa canadense” e disse que essas explorações teriam sido “acertadas via Petrobras, Deus lá sabe como”. Bolsonaro não dá detalhes sobre suas afirmações. “Ou seja, não podemos explorar nosso próprio potássio”, conclui.

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Potássio do Brasil aguarda a conclusão do processo ambiental de dezenas de projetos para dar início efetivo à exploração.  Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Na gravação, Bolsonaro critica a dependência do insumo do agronegócio que é importado da Rússia e que o Brasil precisa buscar sua produção local, mas que a atuação dos canadenses é um dos “problemas” a serem resolvidos. 

O fato é que, com Bolsonaro já na presidência, a empresa não apenas deu andamento a processos mais antigos, como apresentou oito novos pedidos de exploração desde janeiro de 2019, mirando áreas de exploração em municípios como Autazes, Itacoatiara e São Sebastião do Uatumã, no Amazonas. 

O banco canadense de investimentos Forbes & Manhattan também está por traz do projeto da mineradora Belo Sun, que pretende implantar um projeto de exploração industrial de ouro no Pará, na região da hidrelétrica de Belo Monte. Nos últimos anos, conforme revelou o Estadão, a empresa adquiriu irregularmente uma série de terrenos de reforma agrária na região, para abrir espaço para a sua exploração. 

Em fevereiro, reportagem da Agência Pública revelou que, apesar das críticas passadas de Bolsonaro à atuação canadense na região, seu governo tem atuado diretamente nos processos minerários com o banco Forbes & Manhattan para acelerar a liberação dos projetos. O apoio tem incluído membros ligados às Forças Armadas no Executivo e chegou até o vice-presidente da República e general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), que fez reuniões em Brasília para tratar do assunto.

A reportagem questionou a Potássio do Brasil sobre a situação dos seus empreendimentos no País, mas não houve posicionamento até o fechamento deste texto. Hoje, os projetos ainda aguardam a conclusão do processo de licenciamento ambiental para serem efetivados. Apesar de todo o envolvimento do governo federal com o tema, as autorizações ambientais não passam pelo Ibama, mas por licenças a serem emitidas por órgão estadual. 

É grande a controvérsia, porém, em regiões que podem ter impacto indireto em terras indígenas. A empresa realiza consultas públicas neste momento, como parte do processo de licenciamento.

A Potássio do Brasil tem a sua base em Autazes, a 120 quilômetros de Manaus, onde está o depósito mineral identificado pela empresa. Em junho do ano passado, a empresa informou que “deu um passo firme e muito importante” no processo de licenciamento ambiental de outro empreendimento, o “Projeto Potássio Itapiranga”. 

Foi protocolado junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) o requerimento para a obtenção da licença prévia do projeto, para produção de fertilizantes de potássio no município a 226 km de Manaus. A previsão é produzir cerca de 2 milhões de toneladas de fertilizantes de potássio por ano. 

Até o ano de 2020, a empresa afirma que foram investidos mais de US$ 190 milhões na descoberta e desenvolvimento de seus projetos no Brasil e outros US$ 2 bilhões serão investidos até o final da construção de suas operações.

O Brasil adquire no exterior aproximadamente 85% do volume de fertilizantes aplicado anualmente nas lavouras. A Rússia é uma das principais exportadoras do insumo para o Brasil e, em janeiro, respondeu por 30,1% dos adubos e fertilizantes que entraram em território nacional, segundo informações do Ministério da Economia. Durante os 12 meses do ano passado, os russos foram responsáveis por 23,3% de todo fertilizante que entrou no Brasil.

As relações comerciais do Brasil com a Rússia estão majoritariamente concentradas na compra de fertilizantes. Dos US$ 5,7 bilhões em importações brasileiras da Rússia em 2021, US$ 3,5 bilhões – ou 62% do total – estão relacionados à compra do insumo usado no agronegócio. Esse resultado do ano passado foi 97% superior ao registrado em 2020, quando o Brasil desembolsou US$ 1,75 bilhão na importação desses produtos.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,canadenses-criticados-por-bolsonaro-tem-149-pedidos-de-exploracao-de-potassio-na-amazonia,70003995454