Curso de japonês da Biblioteca Salomão Malina faz alunos alcançar sonhos

Cleomar Almeida e João Vitor*, da equipe FAP

Estudante de antropologia na Universidade de Brasília (UnB), Pedro Henrique Monteiro da Silva, de 20 anos, deseja “muito fazer mestrado no Japão”. A produtora de vídeo Giovanna Gati, de 19, pretende intensificar seu contato com a comunidade japonesa em Brasília. O ator e dançarino Nickolas Campos, de 29, afirma que “superar a barreira linguística é fascinante”.

Pedro Henrique, Giovana e Nickolas estão entre dezenas de alunos que buscam alcançar seus sonhos com o apoio da Biblioteca Salomão Malina, que oferece curso gratuito de japonês, no Conic, no Setor de Diversões Sul (SDS), em Brasília. As aulas são presenciais. Há possibilidade de novas turmas serem abertas futuramente.

A proposta da Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), é estimular a cultura e a difusão do conhecimento. Ela completou 14 anos no último dia 28 de fevereiro e tem conquistado ainda mais o público de Brasília e demais regiões administrativas do Distrito Federal (DF), com mais de 4.800 exemplares à disposição para empréstimo gratuito.

Pedro Henrique mora na periferia de Brasília e diz que sua família não tem condições de pagar aula particular de idioma por ser de baixa renda. Com muito esforço, ele conquistou uma vaga no curso de antropologia da UnB, onde cursa a graduação, mas sabe que esse é só o início para trilhar uma carreira de sucesso. Por isso, com a cabeça no presente, já planeja o futuro.

 "Desejo muito fazer um mestrado no Japão. O curso me deu a possibilidade de alcançar meus sonhos e me ajudar, dando esse primeiro passo”, afirmou o futuro antropólogo, confiante de que a Biblioteca Salomão Malina é uma grande aliada para que consiga atingir seu objetivo.

A diminuição das barreiras entre os países e o aumento da necessidade de diálogo e cooperação entre as nações fizeram Pedro Henrique valorizar o novo idioma como a porta de acesso a outras culturas, presencial ou virtualmente. Isto porque, em um mundo cada vez mais interconectado, a humanidade usa a tecnologia também para superar os muros dele.

“O mundo está cada vez mais globalizado, e a possibilidade de conhecer novas culturas, pessoas e línguas sempre me fascinou”, ressaltou Pedro Henrique, que diz ser apaixonado pela cultura do Japão. "Desde animes à história do país insular. Quero me aprofundar mais no estudo e ter a possibilidade de ir algum dia lá”, disse.

A jovem Giovanna, por sua vez, contou que sempre quis aprender japonês, mas ainda não havia conseguido por falta de oportunidade. “Porque contribui para um raciocínio novo e permite que tenha acesso a mais conteúdos culturais de outro país”, afirmou.

Em Brasília, a produtora de vídeo integra a comunidade Nikkei, denominação em língua japonesa para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para japoneses que vivem regularmente no exterior. De acordo com a Embaixada do Japão, mais de 2 milhões de pessoas da comunidade Nikkei vivem no Brasil.

Segundo Giovanna, o curso de japonês da Biblioteca Salomão Malina aumenta a possibilidade de integração dela na comunidade Nikkei, já que o novo idioma é o meio que abre caminhos não somente para ler, escrever e falar em japonês, mas, também, para mergulhar nas diversas nuances da cultura do país que fica no extremo leste do continente asiático.

O ator e dançarino Nickolas aposta no curso como um grande aliado para aumentar as chances de ele cursar mestrado na área de educação especificamente no Japão. De acordo com ele, o país insular “realmente investe na educação e enxerga nas metodologias educacionais uma ferramenta de integração”.


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Além disso, Nickolas afirma que colabora para a preparação para intercâmbios futuros e novas oportunidades de trabalho em um público cada vez mais diversificado. “São benefícios demais, mas acredito que o estímulo constante ao aprendizado é o principal deles”, destacou ele.

Nickolas também disse que a língua japonesa é o quarto idioma que está aprendendo. Ele disse que já domina espanhol, francês e inglês.

As aulas são ministradas pelo professor Ítalo Bernardes, graduado em língua e literatura japonesas pela Universidade de Brasília (UnB). Ele também cursa mestrado em Literatura e Práticas Sociais pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura da UnB.

Mais informações sobre a biblioteca podem ser solicitadas por meio do telefone ou WhatsApp (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).

Curso de japonês para iniciantes
Onde: Biblioteca Salomão Malina
Endereço: SDS, Bloco P, ED. Venâncio III, Conic, loja 52, Brasília (DF). CEP: 70393-902
Telefone: (61) 3323-6388
WhatsApp: (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web)

*João Vitor é integrante do programa de estágio da FAP, sob supervisão do jornalista, editor de conteúdo e coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida

Biblioteca Salomão Malina oferece curso gratuito de japonês para iniciantes


100 anos do PCB: História, princípios e identidade em nova série da Rádio FAP

João Rodrigues, da equipe da FAP

Em 25 de março de 2022, será comemorado o centenário do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Também conhecido como "Partidão", atraiu operários, estudantes e intelectuais na busca de um Brasil mais justo. Para celebrar os 100 anos do PCB, que em 1992 passou a ser chamado de Partido Popular Socialista (PPS), e em 2019 tornou-se o Cidadania, o podcast Rádio FAP fará quatro programas especiais ao longo deste mês.

No primeiro episódio, o diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e consultor do Senado Federal, Caetano Araújo, fala sobre a história, princípios e identidade do PCB. Ele é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e tem experiência na área Teoria Sociológica e Sociologia Política, além de integrar o partido há mais de 40 anos.



A importância do PCB para a consolidação da democracia no Brasil, os princípios herdados pelo Cidadania23 do Partidão e a contribuição do partido para a cultura do Brasil estão entre os temas do programa. O episódio conta perguntas de ouvintes de diversas partes do Brasil e do exterior e áudios do Jornal O Poder Popular e de entrevista do poeta Ferreira Gullar para série Brasileiros e Militantes.

O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google Podcasts, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues.




Guerra na Ucrânia pode atrapalhar medidas econômicas de Bolsonaro

Ingrid Soares / Correio Braziliense

A fim de evitar que a invasão da Ucrânia pela Rússia cause desgastes que se reflitam na campanha de reeleição, Jair Bolsonaro (PL) voltou seus esforços para medidas de cunho popular que desviem a atenção do eleitorado de problemas econômicos causados pelo conflito no Leste Europeu. Já é certa, por exemplo, a liberação do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de até R$ 1 mil por trabalhador com saldo disponível na conta, além de um pacote de crédito de R$ 100 bilhões para micro e pequenos empresários. O presidente também tem especial interesse nas votações relacionadas aos combustíveis no Congresso, que devem se intensificar esta semana. As bondades devem chegar a R$ 150 bilhões e começam a ser divulgadas amanhã, Dia Internacional da Mulher.

Todo esse aceno ao eleitor, porém, tem custos — e são altos. Isso porque, entre especialistas, aumenta o receio de um desequilíbrio fiscal, que, no médio prazo, engoliria o pacote de benesses. A inflação, em rota de subida, ainda pioraria o cenário, pois refletiriam a fatura da guerra. Não apenas a importação de fertilizantes — fundamentais para o agronegócio — e o aumento do barril de petróleo no mercado internacional impactariam a carestia, mas também a redução na oferta de grãos, como trigo, pela Rússia e pela Ucrânia empurra os preços para cima. Já há a expectativa de que aves e suínos ficarão mais caros nas gôndolas exatamente por causa do fechamento do mercado dos dois países em guerra.

O primeiro vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), classifica o governo como "desastrado e incompetente". "Basta ver a economia se arrastando, desemprego, pobreza e miséria aumentando em nosso país. Populismo é a marca de um governo completamente despreparado para enfrentar momentos durante quatro anos e agora bate o desespero", critica.

Para José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), os efeitos econômicos virão independentemente da posição de Bolsonaro em relação ao presidente russo, Vladimir Putin. Ele cita o aumento do preço internacional do petróleo, do gás, do milho, do trigo e da soja como consequências internas do conflito no Leste Europeu.

"Temos uma desvalorização das moedas dos países emergentes, em particular do Brasil ante o dólar, representando aceleração da pressão inflacionária, contrariando as expectativas iniciais do Banco Central de que a inflação começaria a ceder a partir de abril. Nenhuma das medidas que Bolsonaro adotar terá qualquer impacto sobre a cotação internacional das commodities", diz.

Ritmo lento

Oreiro observa, ainda, que a economia vem em ritmo fraco, e a guerra não ficará de fora da campanha eleitoral. "O boletim Ibre do FGV já mostrava crescimento em ritmo menor do que esperado no início de 2022. Essas medidas do presidente preparadas para o presidente podem ter alguma importância num primeiro momento, mas o impacto (da guerra) sobre a economia brasileira, a partir de abril, vai ser muito forte com a alta inflação de alimentos, economia retraindo e aumento do desemprego. Contra isso, não existe mágica possível", avalia.

Sérgio Praça, cientista político e professor da FGV, concorda que será inevitável que a inflação e a gasolina subam com o conflito entre Rússia e Ucrânia. "As consequências internacionais serão grandes, e o Brasil vai sentir, assim como o resto do mundo. Não acho que tenha como escapar. As medidas propostas pelo presidente são boas, mas serão engolidas pelo aumento da inflação. Melhor fazer do que não fazer, mas o efeito eleitoral (positivo) será pequeno, pois não fazem parte de um plano econômico coeso. São medidas pontuais."

Segundo Praça, medidas populistas não são "uma boa maneira de conduzir a economia do país. É um conjunto de erros que a gente vai sentir nos próximos meses. Se pesar no bolso do brasileiro, mesmo que não seja culpa direta (de Bolsonaro), se reflete na popularidade", garante.

Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que o pacote de bondades do presidente terá impacto positivo inicialmente. Mas tem dúvidas se será capaz de ajudar na aprovação do presidente.

"Persistindo o cenário de guerra, o aumento dos combustíveis, que vinha em uma crescente, é um fato que pode deteriorar a aprovação do presidente. Além de questões como o aumento do trigo e, consequentemente, o do pão. Tem ainda os fertilizantes, que podem atrapalhar os produtores e o agro", salienta.

Para Prando, o governo Bolsonaro é reativo e, quando reage, o faz tardiamente e de maneira malfeita. "Gasto público em ano eleitoral costuma ter um impacto, é inegável. Melhoria do pagamento do Auxilio Brasil, linhas de crédito, tudo isso pode ajudar em regiões em que a pobreza e a miséria são maiores. Tem que ver se haverá tempo para que esse efeito seja traduzido em ganho de popularidade e se converta em voto. Quando a campanha engrenar, os adversários farão de tudo para desgastar e colocar repetidas vezes as ações e as falas de Bolsonaro nesses três anos", salienta.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/03/4990911-bolsonaro-e-o-custo-da-guerra.html


Guerra trouxe 'boa oportunidade' para explorar terra indígena, diz Bolsonaro

Eduardo Gayer / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira, 7, que a guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe uma “boa oportunidade” para o Brasil aprovar a exploração mineral em terras indígenas. O governo tem cobrado a aprovação do projeto de lei 191/2020, que libera a mineração em terras indígenas, como forma de superar a dependência do País dos fertilizantes russos. A oferta do insumo, que já vinha em queda, foi reduzida ainda mais com a guerra e as sanções econômicas impostas a Moscou.

“Essa questão da crise entre Ucrânia e Rússia… da crise apareceu boa oportunidade para a gente. Temos um projeto que permite explorarmos terras indígenas de acordo com interesse dos índios. Por essa crise internacional, da guerra, o Congresso sinalizou em votar esse projeto em regime de urgência. Espero que seja aprovado na Câmara já agora em março”, afirmou Bolsonaro em entrevista à Rádio Folha de Roraima. Como mostrou o Estadão, o líder do governo na Casa, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR) colheu assinaturas para tentar aprovar a tramitação de urgência do texto, eliminando, por exemplo, a necessidade de o PL ser aprovado nas comissões técnicas antes de ir a plenário. A reportagem mostrou ainda que a argumentação do presidente desconsidera o fato de que há mais de 500 jazidas fora de reservas em fase de licenciamento para pesquisa e exploração no País.  

De acordo com Bolsonaro, as reservas indígenas brasileiras são ricas em potássio, matéria-prima de alguns tipos de fertilizantes. Assim, com a exploração, o País poderia se tornar menos dependente das exportações russas. “Espero que daqui a dois, três anos possamos dizer que não somos mais dependentes de importação de potássio para o agronegócio", afirmou ainda o presidente na entrevista. 

O chefe do Executivo também fez comentários sobre as áreas indígenas de Roraima. “Roraima é minha menina dos olhos. Se eu fosse rei de Roraima, em 10 anos teríamos economia semelhante à do Japão. É um Estado fantástico. [...] Isso tudo foi perdido, mas dá para ser recuperado. É inadmissível, dois terços do Estado estão inviabilizados [com as reservas]”, seguiu Bolsonaro. “Espero que Roraima possa ser um Estado que possa usar suas riquezas, em especial das minerais.” 

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-diz-que-guerra-na-ucrania-trouxe-boa-oportunidade-para-brasil-explorar-terra-indigena,70004000619


Série de entrevistas com militantes históricos celebra centenário do PCB

Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP

Defensores da democracia destacam a importância do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que faz 100 anos no dia 25 de março, para vencer a ditadura militar no país. O centenário é celebrado em diversas atividades da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), que também apoia iniciativas dos estados e entrevistas com militantes que veem o marco histórico como imprescindível ao fortalecimento do regime democrático no país.

A FAP destaca uma série de entrevistas sobre a história do partido no Rio Grande do Norte, como a do militante Atualpa Arruda Mariano. O quinto episódio será transmitido, a partir das 16 horas deste domingo (6/3), no canal da TV DHnet Direitos Humanos no Youtube. A fundação organiza, ainda, o Seminário Internacional PCB 100 Anos, que será realizado de forma online de terça (8/3) a quinta-feira (11/3).

https://youtu.be/cYL2zUaimww

No primeiro episódio da série de entrevistas, realizadas pelo jornalista Luiz Gonzaga Cortez Gomes, Sacha Lídice lembra da importância de seu pai na luta pela democracia no país. Ela é filha do combatente comunista Hiram de Lima Pereira, potiguar que nasceu na cidade de Caicó (RN) e desaparecido político.

“No dia 1º de abril de 1964, eu estava em casa. Eu cheguei, e ele abriu a porta do guarda-roupa, começou a pegar roupas, sacolinha, cueca, camiseta, e, conversando com ele, me disse: ‘Filha, no mínimo 25 anos’. Ele saiu de casa e caiu na clandestinidade em Recife”, lembra ela, sobre a perseguição da ditadura contra seu pai. Anos depois, ela citou a possível morte de seu pai. “Acho que podemos sair por aí denunciando que o pai morreu”, lembra, na entrevista.

https://www.youtube.com/watch?v=Co84F8jSCCg

Hiram foi preso no dia 15 de janeiro de 1975, como parte da operação Radar, grande ofensiva do Exército iniciada em 1973 para dizimar o PCB. A informação consta de depoimento do ex-sargento e agente do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) Marival Dias Chaves do Canto para a revista Veja, publicado em 18 de novembro de 1992.

No segundo episódio da série de entrevistas, publicado no dia 13 de fevereiro deste ano, a equipe de TV fez uma homenagem a Maria Ribeiro Prestes, que sempre destacou a importância de outros militantes do PCB e morreu, aos 92 anos, oito dias antes. Ela é mãe de sete filhos de Luiz Carlos Prestes, com quem viveu por 40 anos. Ele foi uma das personalidades políticas mais influentes no país no século 20 e morreu em 7 de março de 1990.

“São personagens que devemos valorizar, pesquisar e saber valorizar sua história para mostrar a essa juventude que tivemos homens capazes de querer mudar ou ajudar uma sociedade a se livrar da exploração do capitalismo”, destacou Maria Prestes, na entrevista. Ela também citou o jornal Voz Operária como um importante meio de comunicação da época.

https://www.youtube.com/watch?v=mUDpy5BFAv4

Maria Prestes ainda fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro. “Muitos companheiros perderam a vida com a ditadura. Acho que a intenção deste presidente que temos aí [Jair Bolsonaro] é destruir todo o arquivo daqueles que mataram e torturaram companheiros nossos que foram presos e mortos por eles”, lamentou.

De acordo com Maria Prestes, é muito importante a juventude hoje conhecer os “democratas” que lutaram unidos com o PCB. “A vida dessas pessoas, o que passaram e sofreram para que a gente ainda esteja aqui contando a sua história. Para a gente, era doloroso ver esses companheiros aqui no Brasil passando por situação de perseguição e tortura”, disse ela, referindo-se aos crimes praticados pela ditadura militar.

A conversa com Maria Prestes ocorreu no mês de julho de 2021, na cidade do Rio de Janeiro, na ocasião em que a equipe de TV enviou uma equipe para fazer entrevistas para uma série sobre Luiz Ignácio Maranhão Filho, no ano de seu centenário 1921-2021. A conversa com ela só foi possível após articulação com sua filha Mariana.

No terceiro episódio da série de entrevistas, o entrevistado é Francisco Meneleu dos Santos, que atuou como o gráfico do Jornal A Liberdade, de 1935, em Natal (RN). Ele lembrou os anos de tortura que passou no Brasil.

“Na detenção, nos jogaram numa cela sem porta. Vi companheiros sendo torturados. Lembro quando entrou um rapaz. Não sei se era o Lauro Lago, eu não me lembro bem. Deram uma coronhada na testa dele, ele caiu e jogaram dentro da cela, ele ficou lá sofrendo”, afirmou Francisco.

https://www.youtube.com/watch?v=s0CfQchBWLg

O quarto episódio da série destacou a entrevista com Bento Ventura de Moura e sua importante atuação na história do PCB no Rio Grande do Norte. “Eu participei das lutas diretas já, apoiando o governo Jango”. O governo de João Goulart, o Jango, ficou conhecido como a primeira experiência democrática do Brasil e marcado na história nacional por ter sido um mandato abreviado por conta do golpe militar de 1964.

https://www.youtube.com/watch?v=YSZ22TBqy1I

Para celebrar o centenário do PCB, a série também publicará entrevistas com outros nomes importantes da história do PCB, como Hermano Paiva, José Praxedes, Chico Guilherme, Lauro Reginaldo da Rocha Bangu e Manoel de Torquato. 


Onda de mulheres vices reflui, e eleitas em 2018 traçam novos planos para 2022

Victoria Azevedo e João Pedro Pitombo / Folha de S. Paulo

Quatro anos depois de uma onda que abriu espaço para uma presença recorde de mulheres em disputas majoritárias, as eleições de outubro indicam que haverá menos espaço para candidaturas femininas aos cargos mais importantes em disputa em 2022.

No ano em que a conquista do voto feminino no Brasil completa 90 anos, o país vive um panorama de maior pragmatismo dos partidos, o que fortalece a aposta em nomes da política tradicional, em sua maioria homens, para a disputa nacional e também nos estados.

O principal sintoma do menor espaço está nas vice-governadoras. Das sete que foram eleitas em 2018, nenhuma vai concorrer ao mesmo cargo este ano. Duas são cotadas para concorrer a governos estaduais, mas sem garantia de apoio aos seus nomes pelas coalizões nos estados.

Regina Sousa
A vice-governadora do Piauí, Regina Sousa (PT), deve assumir o comando do governo do estado em abril, mas não é cotada à sucessão - Reprodução/Instagram

avanço do número de vices há quatro anos aconteceu na esteira da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que definiu que ao menos 30% do fundo público de financiamento de campanhas deve ir para candidaturas femininas. Naquele ano, foram 67 candidatas a vice, contra 45 em 2014.

Para os demais cargos majoritários, a situação não é diferente. Até fevereiro, foram lançadas ao menos 24 pré-candidaturas a governos estaduais, mas apenas 10 dentre os maiores partidos do Congresso. Para o Planalto, são pré-candidatas a senadora Simone Tebet (MDB) e a líder sindical Vera Lúcia (PSTU).

Única governadora eleita em 2018, Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte, concorrerá à reeleição. Também são cotados nomes como os da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), em Pernambuco, e o da ex-prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), em Roraima.

Dentre as vice-governadoras, Izolda Cela deve assumir o governo do Ceará em abril, com a renúncia do governador Camilo Santana (PT) para concorrer ao Senado. Mesmo com a missão de completar o mandato, ela ainda disputa com outros três postulantes a pré-candidatura ao governo do estado pelo PDT.

De perfil técnico e com uma trajetória ligada à educação, Izolda começou a ganhar força nos últimos dias, sobretudo por um nome que enfrentaria menos resistência da ala do PT cearense que defende candidatura própria em detrimento da manutenção da aliança com o PDT.

Não é o caso de Lígia Feliciano (PDT), da Paraíba, que adotou nos últimos meses um discurso de oposição ao governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição. Apesar de se assumir como candidata ao governo, está isolada politicamente frente aos três principais grupos políticos do estado.

Assim como Izolda Cela, a vice-governadora do Piauí, Regina Sousa (PT), também deve assumir o comando do governo do estado em abril com a renúncia do governador Wellington Dias (PT) para ser candidato ao Senado.

Mas Regina não é cotada para concorrer à sucessão: o PT escolheu o secretário estadual da Fazenda, Rafael Fonteles, como pré-candidato ao governo, em uma chapa que deve ter outro homem, o deputado estadual Themístocles Filho (MDB), como candidato a vice.

À Folha Regina celebra a provável ascensão ao cargo de governadora em abril e diz que não pleiteou concorrer à sucessão por uma decisão pessoal: "Se quisesse concorrer, teria apoio. Mas não tenho mais muito apetite para fazer política".

As articulações em curso devem resultar em uma chapa sem presença feminina, ao contrário de 2018 e 2014, quando Wellington Dias teve mulheres como vice. Para Regina Sousa, o cenário é resultado das negociações para manter a aliança que sustenta o governo petista no Piauí.

"Pesa essa questão da coalizão. Não é uma coisa simples, e às vezes, a gente perde espaços. Ninguém governa sozinho", diz.

Das outras quatro vice-governadoras eleitas em 2018, ao menos três anunciaram que são candidatas a deputada federal, a despeito de poderem legalmente concorrer ao mesmo cargo. São elas Eliane Aquino (PT), de Sergipe, Daniela Reinehr (PL), de Santa Catarina, e Jacqueline Moraes (PSB), do Espírito Santo.

Luciana Santos (PC do B), vice-governadora de Pernambuco, é pré-candidata ao Senado. Mas sua candidatura ainda depende de um consenso na base aliada do governador Paulo Câmara (PSB), que tem outros pré-candidatos ao cargo.

Presidente nacional do PC do B, ela afirma que seu partido dá espaço e valoriza candidaturas de mulheres para cargos majoritários. Por outro lado, lembra que a escolha para candidaturas de governador e senador, por exemplo, são fruto de ampla composição de diferentes forças políticas.

"Quanto mais ampla a frente, mais a subjetividade do machismo se apresenta e, portanto, há mais dificuldade para viabilizar as mulheres em posições de candidaturas majoritárias", afirma.

Apesar de reconhecer o crescimento da presença de mulheres nas majoritárias em 2018, Luciana destaca que será difícil repetir este cenário nas eleições de outubro.

"Estamos em um ambiente de muitos retrocessos sob a presidência de Bolsonaro, há uma ausência completa de políticas que promovam o papel da mulher. O cenário não é muito alvissareiro em função desse retrocesso", diz.

Eliane Aquino (PT), vice-governadora de Sergipe, tem uma avaliação semelhante. Ela diz que falta continuidade na trajetória política de parte das mulheres que assumem cargos eletivos, resultado da falta de espaço em ambientes de decisão nos partidos.

"A mulher ocupar a posição de vice em uma chapa majoritária é importante. Mas daí para chegar nos espaços centrais de poder é outra luta", diz Aquino, que se lançou pré-candidata a deputada federal.

Primeira vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes (PSB) também vai disputar um assento na Câmara dos Deputados –segundo ela, esse é o "trajeto normal" dos vice-governadores no estado.

Ex-camelô e ex-vereadora, Jacqueline também reforça que, historicamente, os partidos políticos não dão espaço às mulheres. Em 2016, idealizou a campanha Não Seja Laranja, que condena práticas que colocam a mulher como uma espécie de figurante do processo eleitoral e político. Em 2019, a Folha revelou a existência esquemas de candidaturas laranjas nos estados de Pernambuco e Minas Gerais.

Para Jacqueline Moraes, ainda há uma série de obstáculos a serem superados. "Assumi o governo três vezes nesses últimos quatro anos e sempre escutei coisas do tipo 'a senhora vai dar conta?', 'a senhora tem medo?' como se fosse uma incapacidade. Existe o conceito de que a mulher não dá conta do recado e esse é um estereótipo que precisamos quebrar", diz ela.

No campo bolsonarista, deve ser candidata a deputada federal a vice-governadora de Santa Catarina Daniela Reinehr (PL), rompida com o governador Carlos Moisés (sem partido) desde 2020.

Professora da Universidade Federal de Pernambuco, a cientista política Priscila Lapa reforça que a consolidação de um ciclo político conservador entre 2019 e 2022 tende a deixar em segundo plano a pauta da participação das mulheres na política.

"A gente vinha numa crescente das agendas femininas, seja com mais mulheres candidatas, seja com candidaturas mais competitivas. Mas em 2022 devem prevalecer pautas mais pragmáticas. A variável do voto feminino perde fôlego em comparação com 2018", avalia.

Por outro lado, ela destaca que o bolsonarismo abriu espaços para a ascensão de mulheres no campo conservador, caso da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que deve ser candidata ao Senado.

"É um perfil de candidata que defende que a mulher na política não necessariamente representa o rompimento com a tradição".

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/onda-de-mulheres-vices-reflui-e-eleitas-em-2018-tracam-novos-planos-para-2022.shtml


Total de eleitores entre 16 e 17 anos chega ao menor patamar em 3 décadas

Gustavo Côrtes e Davi Medeiros / O Estado de S.Paulo

A sete meses das eleições, o engajamento de jovens de 16 e 17 anos é o mais baixo já registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Até o fim de janeiro, 731 mil cidadãos dessa faixa etária, para a qual o voto é facultativo, tinham se cadastrado como eleitores. As inscrições seguem abertas até 4 de maio, mas, hoje, esse número representa cerca de 10% dos menores de idade aptos a votar e pouco menos de um quarto do total que foi às urnas três décadas atrás.

Aos 16 anos, Antônio Lacerda resume esse desinteresse pelas eleições e a desilusão com a política. “Estudar é muito mais recompensador do que ler o projeto dos candidatos, sabendo que, no fim, tudo pode não ter passado de fachada”, disse o estudante, morador de Cruzeiro (SP). “Minha única ligação com a política foi escutar na família como o candidato X roubou e como o Y foi bom. Não acho essa fonte tão confiável.”

Todo esse desânimo tem crescido a despeito dos esforços do TSE. Desde 2020, a Corte vem promovendo ações para incentivar a participação de jovens na política. Nas últimas eleições municipais, o tribunal lançou uma campanha para que cidadãos de 15 a 25 anos gravassem vídeos com sugestões de como melhorar suas cidades. A ideia era aumentar o número de votantes menores de 18 anos que, na época, foi de 914 mil.

O voto facultativo para pessoas de 16 e 17 anos foi aprovado na Constituição de 1988, mas a Corte tem dados comparativos somente a partir de 1992, quando o total de eleitores nessa faixa etária alcançou 3,2 milhões. 

No ano passado, o TSE lançou nova campanha, no rádio e na TV, de vídeos protagonizados por atores de aparência juvenil com mensagens de estímulo à participação nas eleições. Também explorou redes sociais e plataformas de áudio. O empenho do tribunal, contudo, não bastou para superar fatores estruturais que, segundo analistas, têm afastado os jovens das urnas.

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Ana Maria Fukuda, de 17 anos, diz que desconhece os candidatos e não se sente preparada para votar. Foto: Felipe Rau/Estadão

Questões como envelhecimento de líderes partidários, desconfiança no sistema político e falta de perspectiva de emprego e renda são apontadas como causas do encolhimento do voto jovem. Para o cientista político da USP José Álvaro Moisés, a retórica de deslegitimação da política, usada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros candidatos em 2018, reforçou essa tendência. “Jovens nessa idade estão na fase de serem atraídos para a política. Justamente no momento em que são convocados pelas instituições a participar, os discursos antipolítica os afastam.”

Moisés citou, ainda, a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como fator limitante neste ano. “A polarização tira opções inovadoras e impõe a repetição daquilo que já ocorreu com o País. São dois personagens muito conhecidos e considerados velhos na política. Lula teve dois mandatos e apoiou dois da Dilma (Rousseff). Os resultados, sobretudo do ponto de vista econômico e do emprego, foram negativos. Ficou uma imagem ruim.”

Morador de Belo Horizonte, Cristiano Rodrigues, de 17 anos, pretende votar em outubro, mas critica a ausência de candidatos mais novos nas disputas. “É frustrante saber que a decisão do Brasil está relacionada só a duas pessoas.”

A estudante Ana Maria Fukuda, de 17 anos, de São Paulo, por sua vez, disse não se sentir preparada para votar em outubro por desconhecer os candidatos. E essa falta de informações, segundo ela, é resultado do desinteresse pela política e pelos projetos de quem vai se candidatar. “É uma grande responsabilidade e eu nunca tive interesse em política.” O argumento é o mesmo de Ellen Gerding, de 17 anos. “Quando você vai votar, é preciso saber quem é o candidato, e eu não tive interesse para pesquisar”, afirmou a estudante de Itapecerica da Serra (SP). 

Para Moisés, a ausência de eleitores abaixo dos 18 anos gera um “déficit democrático”. Isso significa que pautas importantes para o segmento, como inserção no mercado de trabalho e enfrentamento de mudanças climáticas, ficam em segundo plano nos projetos de governo. “A possibilidade de novos temas e novas agendas se reduz. Há, hoje, no governo, decisões contra direitos caros aos jovens, como de escolha sexual e respeito a etnias. E vemos violentos ataques a mulheres.” 

Cofundadora do instituto Update, Beatriz Della Costa também vê prejuízos ao sistema democrático. Segundo ela, isso reflete nas universidades, que perdem o papel de espaço de articulação. “Política virou sinônimo de briga, assunto chato, que desgasta. Afasta o jovem essa sensação de guerra.”

Na avaliação do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, a atuação dos jovens na política é limitada, hoje, pela incapacidade das legendas de adaptar suas estruturas internas. “Muitos partidos, sobretudo na esquerda, que sempre mobilizou mais os jovens, têm gente na direção partidária há 40 anos. As estruturas burocráticas, hierarquizadas, abriram pouco espaço.”

Diretor de Ensino Médio da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Pedro Feltrin reconhece que a entidade sofreu esvaziamento. “Vemos cada vez mais desinteresse, porque as condições de vida atuais deixam a juventude sem perspectiva.”

O cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV-SP, vê um paradoxo neste cenário. O engajamento está em queda no momento em que, segundo ele, existem mais canais de formação política. É o caso dos grupos suprapartidários e de renovação. “Isso significa que a situação poderia estar pior. O que poderia mobilizar o jovem hoje seriam políticas de emprego e de inserção na universidade. Se participar pouco do processo decisório, sem dúvida diminui sua capacidade de pressão por políticas públicas voltadas para essa faixa etária.”

O estudante Vinicius Benevides, de 16 anos, de Fortaleza, se associou, em fevereiro, ao movimento de renovação Acredito, do qual fazem parte, por exemplo, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (PSB-SP). “No meu círculo não tem muita gente engajada e eu queria ter mais trocas”, disse ele, que votará em outubro. “É uma forma de mudar as coisas, de ter esperança.”

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,total-de-eleitores-entre-16-e-17-anos-chega-ao-menor-patamar-em-3-decadas,70003999403


Eliziane Gama: Machismo que envergonha uma nação

Eliziane Gama / O Estado de S.Paulo

06 de março de 2022 | 05h00

Declarações repugnantes como as do parlamentar Arthur do Val nos causam perplexidade e indignação em uma escala monumental. É inaceitável que em um cenário de guerra, em uma missão oficial, um homem público tenha comportamento tão desprezível e se defenda dizendo que mandou os áudios para um grupo de amigos pessoais. 

Seu erro é irreparável e joga luz em um problema real vivido diariamente por milhares de mulheres em diferentes tipos de ambientes, o machismo, que permeia todas as classes sociais e ideologias. Nos espaços de poder, o machismo passa pelo desprezo à capacidade técnica e profissional da mulher. Tenta-se alijar a mulher das decisões, calar sua voz e entendê-la como figura decorativa.

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Se uma mulher luta e esbraveja pelos seus direitos e ideias, logo o machismo a classifica como histérica. Foi assim na CPI da Pandemia, em que a assertividade feminina era lida pelos homens como nervosismo e desequilíbrio. O homem pode gritar e bater na mesa; é visto como liderança forte.

Somente em 2021, uma senadora relatou a indicação para um ministro do Supremo Tribunal Federal. O mesmo acontece com os projetos e temas mais relevantes que são relatados quase sempre por parlamentares homens.

No Brasil, a mulher é julgada pela aparência, pela roupa que veste. Um deslize e você é ridicularizada ou vira motivo de piadinhas infames. O Parlamento é um lugar ainda machista. Ali brigamos contra uma hierarquia de gênero. É só uma parlamentar pegar o microfone, seja no plenário ou nas comissões, que as conversas paralelas aumentam de volume. 

O deputado Arthur do Val é um dos expoentes dessa sociedade machista. Na frente dos holofotes, fala como bom moço, se elege com a bandeira da moralidade e da nova política, mas, nos bastidores, reflete postura baixa, vulgar, nojenta e atrasada. Isso precisa mudar. Não podemos aceitar a condição de cidadã de segunda classe.

É simbólico que esses áudios tenham sido feitos no mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, no mês em que o Senado e a Câmara vão apreciar dezenas de projetos que interessam às mulheres. Precisamos tornar nossa legislação mais arrojada e eficiente para punir agressores e impedir que ações asquerosas como as que vimos tornem a acontecer. 

Esse comportamento misógino nos dá combustível para nossa luta por mais espaços, por mais respeito, por mais Justiça. Que os homens entendam de uma vez por todas: o lugar da mulher é onde ela quiser, na política principalmente. 

* Senadora (Cidadania-MA), líder da Bancada Feminina no Senado

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,machismo-que-envergonha-uma-nacao-leia-artigo,70003999427


Lei das fake news é alvo de pressão de big techs, e especialistas veem risco de judicialização

Danielle Brant / Folha de S. Paulo

Em meio à ofensiva das plataformas para tentar flexibilizar o projeto de fake news em tramitação na Câmara, especialistas dizem haver risco de judicialização de pontos da atual versão, como o do compartilhamento de dados para uso em publicidade.

A proposta atual, aprovada em dezembro por um grupo de trabalho de deputados, ainda deve sofrer ajustes.

O relator, deputado Orlando Silva (PC do B-SP), já se reuniu com a maior parte das bancadas partidárias e pretende conversar com senadores e com o governo antes de entregar o parecer final ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) —o que deve ocorrer até o fim de março.

As gigantes de tecnologia intensificaram a pressão e publicaram, em diferentes veículos de comunicação, anúncios afirmando que o projeto traria consequências negativas às pequenas empresas que usam publicidade online em seus negócios.

O anúncio direciona para uma carta aberta publicada no site da Meta —dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, entre outras.

No documento, assinado por Facebook e Instagram, Google, Mercado Livre e Twitter, as empresas afirmam que o texto relatado por Orlando Silva "passou a representar uma potencial ameaça para a internet livre, democrática e aberta que conhecemos hoje e que transforma a vida dos brasileiros todos os dias."

Segundo o texto, pequenas e médias empresas não poderão mais anunciar seus produtos com eficiência e a custo baixo na internet. "O PL das fake news deveria combater fake news, e não a lanchonete do seu bairro", diz o anúncio.

O argumento é que o artigo 7º do projeto afeta a publicidade dirigida feita pelas plataformas, o que não ocorre nem na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Especialistas veem eventual conflito do texto como está na versão atual com as regras estipuladas pela LGPD, que versam sobre a utilização de dados por qualquer empresa.

Na avaliação de Camila Borba Lefèvre, advogada do escritório Vieira Rezende, o projeto relatado por Orlando Silva pode dar margem para judicialização ao trazer uma exceção à LGPD, sem alterar essa lei.

"Essa lei vem dizer que os dados não podem ser usados pelas plataformas em combinação com terceiros provedores de outros serviços. Isso é muito estranho e está em contradição com a LGPD."

É a mesma avaliação de Pedro Henrique Ramos, advogado e conselheiro da associação IAB Brasil, que atua em publicidade digital e tem cerca de 230 empresas associadas.

"Isso afeta diretamente a publicidade. Quando eu tenho jornal, por exemplo, e eu combino dados para poder oferecer publicidade, eu já não poderia oferecer a publicidade porque aquilo não é minha função principal, minha função principal é oferecer o jornal. Então, isso é uma vedação inédita no mundo", afirmou.

Segundo ele, o dispositivo cria insegurança jurídica. "No direito, você utiliza a regra da lei mais recente ou da lei mais especial. Nesse caso, você vai ter um conflito, porque a lei mais especial seria a LGPD. Ao mesmo tempo, você tem uma lei específica que vem depois da LGPD. Vai dar briga se passar esse artigo, com certeza."

Cris Camargo, CEO da IAB Brasil, exemplifica. "Você tem uma perda de receita. Eu quero vender pneu. Eu já tenho uma lista de possíveis compradores de pneu que compraram meu carro há quatro anos. Como eu faço para dirigir essa publicidade dentro de outros portais, veículos de comunicação? Você cruzaria, talvez, as bases, os dados, chegaria nessa audiência. Então, você perderia esse possível impacto", ponderou.

Além disso, diz, a outra ponta, que recebe o dinheiro da publicidade, também é afetada. "Tem uma perda em toda a cadeia, desde o anunciante perde negócio, a agência de publicidade não vai poder oferecer esse tipo de solução", complementou.

Ela destaca ainda que a versão atual do PL dificulta o impulsionamento de mensagens.


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Já a advogada Patricia Peck, sócia-fundadora do Peck Advogados, reconhece que os requisitos dispostos na versão atual do texto impactam os modelos de negócios de hoje, mas ressalta que são como efeitos colaterais de medicamentos.

"Se você tem hoje um modelo de mercado em que você construiu toda uma forma de publicação de conteúdos e anúncios que, quando você impulsiona, isso pode ser, de alguma forma, desvirtuado com a utilização de fake news, ou seja, posso acabar tendo mais audiência, mais tráfego e mais ganho financeiro devido à própria disseminação de fake news, existe uma distorção dentro do modelo", argumenta.

Eles criticam ainda pontos como a remuneração de conteúdo jornalístico, afirmando que não há regras claras, o que poderia favorecer "apenas os grandes e tradicionais veículos de mídia, prejudicando o jornalismo local e independente, e limitando o acesso das pessoas a fontes diversificadas de informação".

Orlando Silva afirmou que o Facebook não quer diálogo. "Eu estou aqui [na última quinta, 3] na porta de entrada de uma reunião com o Tik Tok. Amanhã [sexta, 4] eu tenho uma reunião com o YouTube. Na semana passada, [tive] com o Google. Todo mundo senta à mesa para conversar, menos eles", afirma.

Segundo o relator, a empresa não quer se submeter às regras de publicidade aplicadas no mercado brasileiro.

"Eles querem manter regras próprias, um sistema próprio de contratos de publicidade", disse. "E o pior. Ter diferença, para mim, não é problema. O problema é você ter uma postura intransigente e fazer chantagem."

O deputado citou as conversas que manteve com diferentes partidos, frentes parlamentares e com a sociedade civil para negociar o texto.

"A publicação que eles compraram a peso de ouro nos jornais é inclusive uma fake news, como se houvesse uma ameaça aos micro e pequenos empresários do Brasil. É risível a posição."

Em resposta às críticas de Orlando Silva, a Meta afirmou manter diálogo constante sobre o texto com o Congresso e lembrou que participou de audiências públicas e reuniões a respeito do tema.

"No texto atual proposto, o artigo 7º, que não versa sobre desinformação e foi inserido sem passar por nenhum debate, impede o uso responsável de dados pessoais para entrega de anúncios e serviços online, prejudicando empresas de todos os portes, mas principalmente os pequenos negócios que possuem hoje na internet um canal de marketing para encontrar clientes, vender mais e movimentar a economia", disse, em nota.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/03/lei-das-fake-news-e-alvo-de-pressao-de-big-techs-e-especialistas-veem-risco-de-judicializacao.shtml


Noronha: invasor, peixe-leão vira alvo de buscas por cientistas e mergulhadores

Mariana Alvim / BBC News Brasil

Além dos milhares de turistas que se dirigem anualmente à ilha, parece que tem alguém que encontrou também em Fernando de Noronha (PE) um paraíso: o peixe-leão. Mas diferente dos visitantes que movimentam o turismo ali, este animal não é bem-vindo.

O peixe, originário do Indo-Pacífico, se espalhou nas últimas três décadas pela costa leste dos Estados Unidos, chegando ao Caribe e, em dezembro de 2020, foi registrado pela primeira vez em Noronha — depois de outros avistamentos pontuais no Brasil (leia mais abaixo). Segundo já escreveram dois cientistas da Universidade Estadual de Oregon (EUA), a presença deste peixe em locais do qual não é nativo tem potencial de ser uma das invasões marinhas mais prejudiciais ecologicamente já observada.

Tamanha ameaça tem mobilizado Fernando de Noronha, onde operações de buscas pelo peixe-leão têm acontecido quinzenalmente, em uma parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com empresas de mergulho locais. No último dia 23, nenhum animal foi encontrado; no início de fevereiro, no dia 8, quatro peixes-leão foram achados.

Mergulhador embaixo do mar com peixe-leão capturado
O mergulhador Fernando Rodrigues com um peixe-leão capturado em Noronha: 'A gente já chegou a ver oito peixes-leão em um único mergulho'

Segundo Ricardo Araújo, coordernador de pesquisa, monitoramento e manejo do ICMBio Noronha, estas buscas têm sido como uma "corrida de gato e rato".

"O mar não tem barreira, então o bicho pode ir para qualquer lugar que ele quiser, e nós somos poucos", explica Araújo, que tem coordenado as operações com empresas de mergulho locais.

"O melhor seria que ele não tivesse aparecido, mas agora que chegou, é praticamente impossível que não se estabeleça. Noronha é um local equilibrado, com uma fauna marinha muito grande, a água é quente", diz o pesquisador, apontando que o peixe-leão não tem predadores no arquipélago (cuja ilha principal é homônima, Fernando de Noronha) e, por outro lado, tem alimentos em plenitude, principalmente peixes pequenos.

"Ou seja, ele tem todas todas as condições favoráveis para se desenvolver aqui. Temos encontrado animais super sadios. Ele já se estabeleceu e deve estar se reproduzindo."

Depois do primeiro avistamento de um peixe-leão, no final de 2020, não houve mais avistamentos registrados no primeiro semestre de 2021. E então, a partir de julho de 2021, todo mês houve avistamentos. Até 24 de fevereiro deste ano, foram registrados no total 62 peixes avistados e 38 coletados.

Várias pessoas em barco sorriem para foto, um delas mostrando um peixe-leão
Um peixe-leão capturado em Noronha

Os peixes encontrados são capturados, mortos e congelados até serem encaminhados para estudo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Universidade Federal Fluminense (UFF) — parte deles seguem para os Estados Unidos, onde estão sendo feitas análises genéticas com o objetivo de esclarecer a origem dos animais. Os resultados destas análises ainda não estão disponíveis, mas elas ajudarão, entre outras coisas, a responder precisamente qual espécie está vivendo em Noronha, já que são duas que costumam invadir habitats e são chamadas de peixe-leão: Pterois miles e Pterois volitans.

A cada peixe capturado, são registradas informações sobre local em que foi encontrado e seu comprimento, que tem aumentado com o passar dos meses — passando dos 18 cm em novembro de 2021. Também há previsão de análise do que está no estômago dos animais, para que se possa entender exatamente que espécies ele está predando.

Mobilização de mergulhadores

Embora haja sinais de que o peixe-leão está gostando bastante de Fernando de Noronha, o arquipélago tem uma característica que tem favorecido aqueles que estão participando das buscas pelo animal.

Por ser um dos principais destinos turísticos no Brasil, inclusive no segmento do mergulho, Noronha tem "sempre olhos" debaixo d'água — os dos mergulhadores — capazes de eventualmente encontrar um peixe-leão, explica Ricardo Araújo.

"O que tem funcionado muito realmente é essa relação com as empresas de mergulho, basicamente é com eles que a gente tem feito o manejo", diz o pesquisador do ICMBio.

"A empresa sai para fazer um mergulho com o visitante, e no meio dessa atividade, o mergulhador que está trabalhando avista o peixe-leão. Se já está com o equipamento, ele mesmo pode recolher esse animal. Se não, ele relata ao ICMBio."

O órgão ambiental já fez capacitações com quatro turmas de mergulhadores para prepará-los para o avistamento e captura destes peixes. Também foi solicitado que os instrutores de mergulho mostrem fotos do peixe aos turistas e os orientem como proceder ao avistar um — além de tudo, o peixe-leão tem espinhos venenosos pelo corpo, que podem causar muita dor e eventualmente reações alérgicas graves.

Aliás, já houve três informes de turistas do que seriam avistamentos de peixes-leões, mas segundo Araújo, eles não procediam.

Os avistamentos costumam acontecer durante a prática do mergulho autônomo (com equipamento autônomo de respiração) e longe da areia, mais ao fundo. Por isso, quem tem ajudado a encontrar peixes-leão são mergulhadores muito experientes que conhecem bem as espécies da ilha e vão até as faixas de profundidade em que os animais invasores têm circulado. Alguns dos mergulhadores e a equipe do ICMBio têm um grupo no WhatsApp para trocar informações sobre avistamentos.

Mergulhador e proprietário da escola de mergulho Sea Paradise, Fernando Rodrigues conta que sua equipe foi a primeira a avistar o peixe-leão em Noronha, em dezembro de 2020 em um ponto de mergulho chamado Laje dos Cabos.

Dois peixes ao lado de fita métrica
Peixes-leão encontrados em Noronha estão cada vez maiores

"A gente filmou, entrou em contato com diversos cientistas e com o ICMBio, e eles nos orientaram como deveria fazer dali pra frente", lembra Rodrigues, acrescentando que ele e sua equipe já trabalham há algum tempo com cientistas em suas expedições.

"Hoje, a gente já tem avistamentos de peixe-leão a 85m, 50m de profundidade... E a gente já chegou a ver oito peixes-leão em um único mergulho. Então, hoje, a gente está só confirmando o que especialistas falam: que é um peixe que se reproduz muito rápido e tem uma capacidade de adaptação muito grande. Aqui em Noronha, ele encontrou um paraíso."

Além dos avistamentos durante as atividades cotidianas com turistas, há as operações periódicas em que as empresas de mergulho se revezam cedendo seus barcos e equipamentos para buscar por peixes-leão. Além da Sea Paradise, a empresa Noronha Diver é uma delas.

"Desde o começo, as empresas se colocaram à disposição do ICMBio. Lógico que é uma filantropia, mas todo mundo em Noronha vive do turismo e do mar. O mergulho é a principal atividade turística de Fernando de Noronha, então nós temos que preservar o mar, porque é disso que a gente vive. Não tem nenhum sentido a gente não fazer isso", explica Paulo Ferreira, diretor da Noronha Diver e mergulhador desde 1986.

Peixes soltos de aquários
Imagem de reunião no Zoom mostra Paulo Bertuol exibindo grande equipamento
Em entrevista à BBC News Brasil, o biólogo Paulo Bertuol mostra um 'zookeeper', equipamento usado para capturar peixes-leão

O biólogo brasileiro Paulo Bertuol sabe bem da importância de envolver mergulhadores no controle do peixe-leão.

Ele mora desde 2012 em Bonaire, uma pequena ilha no Caribe em que o peixe-leão foi capturado pela primeira vez em 2009, segundo conta. Embora ainda não para se estabelecer definitivamente, Bertuol já foi em 2010 fazer uma consultoria na ilha caribenha para tentar controlar o animal.

Hoje, ele é biólogo sênior da fundação Stinapa, que administra os parques terrestre e marinho de Bonaire. No ano passado, ele esteve em Fernando de Noronha, onde fez uma apresentação e treinamentos com a equipe do ICMBio e mergulhadores para fazer o controle do peixe-leão.

"Peguei a situação (do peixe-leão em Bonaire) bem no começo, então essa experiência foi extremamente válida até para compartilhar com Fernando de Noronha, porque eu peguei mais ou menos o estágio (da invasão) que ocorre lá. Levei algumas ideias para eles e estimulei o ICMBio o máximo possível a compartilhar e utilizar os recursos da indústria do mergulho, porque é a melhor maneira de tentar se controlar o peixe-leão. É o que fez de Bonaire um caso de sucesso", diz Bertuol, apontando que nos últimos anos a ilha em que trabalha manteve a densidade de peixes-leão por hectare "relativamente estável".

Peixe-leão perto de corais e outros peixes menores
Um peixe-leão em Bonaire; lá, há até competição para pegar o animal

O biólogo, graduado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestre em ciência e tecnologia ambiental pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), explica que espécies exóticas são aquelas que não são nativas de um lugar — e estas se tornam invasoras no momento em que causam um desequilíbrio e danos à fauna local.

Quando perguntado pela reportagem se é uma lenda o relato de que os peixes-leão se tornaram invasores depois de serem despejados do cativeiro em aquários para o mar, Bertuol diz que esta versão é verdadeira.

"Possivelmente são dois fatores principais (que explicam o aparecimento do peixe-leão como invasor). Tem uma corrente que diz que pode ter sido a partir de um aquarium nos EUA em que os tanques quebraram depois de um furacão, e os peixes escaparam. E tem outra corrente que diz que as pessoas tinham o peixe-leão como pet, de repente ele cresce e começa a comer outros peixes do aquário, e as pessoas soltam no mar. É interessante porque essa é uma história recorrente em várias invasões de diferentes espécies: a pessoa tem um pet exótico e de repente, por qualquer motivo, solta na natureza."

Segundo o especialista, há ainda uma terceria via para a propagação: a água de lastro de navios e plataformas que acabam carregando águas com larvas dos peixes.

Para ele, possivelmente os animais que chegaram a Noronha têm origem em larvas e peixes-leão que, com as correntes marítimas, desceram do Caribe para a América do Sul, com alguma passagem pelo rio Amazonas (o animal tem a capacidade de suportar por algum tempo em água doce). Já foram encontrados pontualmente alguns peixes-leão na foz do rio Amazonas no Pará, assim como em Arraial do Cabo (RJ) — mas em nenhum destes lugares ele se estabeleceu firmemente como em Noronha.

"Eu acho que em algum momento vai chegar na costa do Brasil inteira, é algo que não tem muito como evitar", lamenta Bertuol.



Fonte: BBC Brasil
https://www.bbc.com/portuguese/geral-60532568


Lula e Bolsonaro lideram formação de palanques, e terceira via patina

Julia Lindner e Daniel Gullino / O Globo

BRASÍLIA — Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sedimentaram palanques na maioria absoluta dos estados, os seus principais concorrentes ainda patinam para conquistar candidatos a governador dispostos a lhes declarar apoio. Entre os nomes da terceira via, João Doria (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) são os que têm as negociações mais avançadas Brasil afora, enquanto Sergio Moro (Podemos) e Simone Tebet (MDB) ainda buscam ampliar alianças — que podem contemplar, no caso de governadores, mais de um candidato à Presidência.

A rede de sustentação é importante para dar capilaridade aos candidatos, sobretudo nas unidades da Federação em que são menos conhecidos ou amargam índices de rejeição substanciais. Nesses casos, cabe aos aliados locais trabalhar com suas bases para conquistar votos para o postulantes ao Planalto de sua preferência.

Na reportagem completa, para assinantes do GLOBO, você saberá quais são os estados em que Lula, Bolsonaro, Ciro, Doria, Moro e Tebet já têm alianças acertadas, e em quais estados as negociações de cada um estão avançadas para fechar palanques. A reportagem explica também onde estão os principais entraves de cada pré-candidato para ampliar suas bases estaduais.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/lula-bolsonaro-lideram-formacao-de-palanques-terceira-via-patina-nos-estados-1-25420913


Cristovam Buarque: Desarmamento nuclear - a voz do Brasil

Cristovam Buarque / Blog do Noblat / Metrópoles

A Ucrânia faz lembrar os dias de outubro de 1962 em que olhávamos para os céus querendo saber se Estados Unidos e União Soviética haviam iniciado a guerra nuclear. O mundo temia que isto acontecesse, devido a reação dos norte-americanos contra a existência de foguetes russos em Cuba. Trinta anos depois, o mundo respirou aliviado quando o fim da União Soviética terminou com as razões para a guerra nuclear em escala mundial. Um engano, porque este risco sempre existirá enquanto a tecnologia for capaz de fazer as bombas e a política foi capaz de usá-la. Sessenta anos depois, a história se repete, mudando apenas o fato que, em vez de Cuba cercada pelos Estados Unidos, contra a União Soviética, agora é a Ucrânia cercada pela Rússia, contra foguetes dos Estados Unidos/OTAN. O risco é o mesmo: algum dirigente apertar o botão da guerra nuclear.

No começo dos anos 1960, um escritor húngaro de nome Arthur Koestler levantou a ideia de que o ser humano é um animal suicida: com uma inteligência capaz de fazer bomba atômica e uma moral capaz de usá-la, se autodestruindo, mesmo quando atinge o adversário. Segundo ele, o cérebro humano carrega um defeito de fabricação: de um lado a lógica da ciência e da engenharia, de outro a moral da guerra e da destruição.

Ainda que a bomba só tenha sido usada duas vezes, pelos Estados Unidos, em 1945, sua simples existência é prova de estupidez: se for para usá-la é suicídio, se for apenas para assustar é burrice. Até porque se ela existir, um dia será usada por um dos países que já dispõem dela ou dos muitos que nas próximas décadas vão dispor, ou por mãos privadas de terroristas ou chantagistas nucleares. Em um tempo em que viagem espacial já é promovida por empresas, tudo indica que em breve as bombas atômicas estarão disseminadas. Imaginar o fim de todas as guerras é uma crença exagerada na qualidade moral dos seres humanos, divididos em nações, tribos, clãs, famílias, indivíduos em permanente disputa pelo enriquecimento. A única saída para o ser humano desmentir Koestler é abolir bombas nucleares: promover um radical desarmamento de todas as bombas atômicas. Este desarmamento faz sentido lógico porque a bomba atômica ameaça a própria nação que a dispõe.

Neste momento em que outra vez se repete o risco de uma hecatombe, o Brasil deveria defender o desarmamento nuclear irrestrito: todas as bombas nos países que já dispõem delas e todos que se propõem a construir novas. Talvez este propósito seja impossível porque nenhum dos países nucleares vai querer abrir mão de suas armas e talvez seja impossível impedir novos países, empresas, famílias, grupos capazes de fazê-las no futuro, mas a defesa do desarmamento nuclear seria demonstração de força moral na tentativa de barrar a insensatez.

O Brasil daria prova de liderança humanista. Temos a ciência, a dimensão e a economia para sermos um país nuclear e abrimos mão deste poder, temos moral para sugerir isto ao mundo. A volta do risco na Ucrânia é o momento para o Brasil levantar esta voz. Difícil imaginar o atual governo com autoridade e vontade para propor desarmamento, mas os candidatos à presidência, já em campanha, poderiam verbalizar esta proposta do Brasil para o mundo, tomando-a como compromisso de política externa a partir de 2023.

*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

Fonte: Blog do Noblat / Metrópoles
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/desarmamento-nuclear-a-voz-do-brasil-por-cristovam-buarque