Gabriel Sabóia / O Globo
RIO — Sete deputados alinhados ao bolsonarismo participam diretamente das decisões dos agentes de segurança pública de Minas Gerais que paralisaram suas atividades. Os parlamentares, que ocupam cadeiras na Assembleia Legislativa de Minas (ALMG) e na Câmara dos Deputados, em Brasília, estiveram na reunião realizada nesta terça-feira no Clube dos Oficiais da PM, na qual policiais civis e militares, bombeiros, agentes socioeducativos e policiais penais decidiram os novos rumos do motim. Ficou acordada, por exemplo, a suspensão das visitas íntimas em penitenciárias mineiras. A medida pode desencadear uma série de atos da população carcerária do estado, que é a segunda maior do país. Os profissionais de segurança pressionam o governador Romeu Zema (Novo) e cobram a recomposição salarial das perdas causadas pela inflação.
— Ficou decidido que o movimento de paralisação vai agir constitucionalmente, sem parar por completo, já que policiais não podem fazer greve. Mas, orientamos todos a fazer a “operação tartaruga”, reduzir o ritmo das ocorrências. Os policiais penais decidiram hoje pelo cancelamento das visitas íntimas e também de familiares. Isso pode gerar o caos. Será que vai haver uma rebelião? O governador precisa dialogar com a categoria — diz o sargento Marco Antônio Bahia, vice-presidente da Aspra (Associação dos Praças Militares e Bombeiros de Minas Gerais).
Na reunião, estiveram presentes os deputados estaduais Sargento Rodrigues (PTB), Coronel Sandro (PSL), Delegada Sheila (PSL) e Heli Grilo (PSL). Os deputados federais Subtenente Gonzaga (PDT), Junio Amaral (PSL) e Léo Motta (PSL) também participaram dos debates sobre a redução de trabalho. Todos eles estiveram na manifestação realizada nesta segunda em Belo Horizonte e se mostraram favoráveis ao motim.
No site da Aspra também é possível ver mostras de alinhamento ao presidente: em uma publicação de maio do ano passado, a Associação se diz “apoiadora do presidente Bolsonaro e favorável ao voto impresso e auditável”. Questionado sobre uma possível influência política nas decisões do movimento encabeçado pela Aspra, Bahia nega qualquer relação do alinhamento ideológico com as falas voltadas contra Zema durante os atos.
— Nesse sentido, de defender a causa dos profissionais de segurança, somos apartidários e independentes, indepente de qualquer manifestação anterior — assegura.
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Um dos parlamentares mineiros mais próximos de Bolsonaro, Junio Amaral diz que os policiais tomarão medidas para reduzir o volume de trabalho e, desta forma, forçar o diálogo da categoria com o governo.
— Os policiais podem, sim, tomar medidas de extrema legalidade que vão prejudicar o serviço rotineiro. O governo de Minas está mostrando uma indiferença à causa muito grande. A reação da categoria não é por semanas de insucessos nas tratativas. São anos de indiferença e desprestígio à segurança pública — afirma.
Negociação antiga
As forças de segurança reivindicam recomposição salarial para corrigir a perda com a inflação alta. Em 2020, Zema havia feito acordo com os policiais e enviou projeto de lei à Assembléia Legislativa que previa recomposição de 41% para os profissionais, a ser paga em três parcelas. No entanto, depois de aprovado pelo Legislativo, somente a primeira parcela foi paga, após Zema vetar as duas últimas. Agora, os servidores tentam fazer com que o governador cumpra o acordo inicial.
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Em nota, o governo de Minas Gerais informou que reconhece a necessidade de reposição salarial. Segundo o governo, o estado se mantém aberto ao diálogo e em busca de uma solução, “mas com responsabilidade e previsibilidade fiscal”. E condiciona a recomposição dos salários à adesão ao regime de recuperação fiscal. O governo diz ainda que acompanha as manifestações dos servidores e “confia que os integrantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Civil e da Polícia Penal não deixarão os mineiros sem a prestação de serviços essenciais para a garantia da ordem e segurança da sociedade”.