Ascanio Seleme: Uma eleição sem Lava-Jato

Como seria o Brasil de hoje se a Odebrecht e a OAS continuassem dando as cartas?
Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

Como seria o Brasil de hoje se a Odebrecht e a OAS continuassem dando as cartas?

Se o bombardeio contra a Lava- Jato feito pelo PT e por outros partidos tivesse conseguido destruir a operação, a história desta eleição seria bastante diferente. Apesar da felicidade geral da nação petista, que teria seu Lula livre, o país seria outro. Ou talvez o mesmo de anos atrás. Vamos ver como estaríamos nesse momento caso Moro, Bretas, Dallagnol e suas equipes tivessem sido efetivamente impedidos de prosseguir investigando casos de corrupção e punindo corruptos.

Lula — Estaria em plena campanha eleitoral. Como não poderia viver o papel de vítima, muito provavelmente não teria 37% das intenções de voto. Passaria toda a campanha explicando a corrupção endêmica de seu partido, o desastre do governo de Dilma e as acusações contra ele que não foram adiante com o sepultamento da Lava-Jato. Odebrecht e OAS estariam financiando a campanha pelo caixa 2. Nas folgas da maratona eleitoral, relaxaria no seu tríplex no Guarujá ou no seu sítio de Atibaia.

Dilma — Sem Lava-Jato, o Congresso não teria reunido força política para afastá-la do cargo. Estaria pilotando uma economia agonizante. Seu índice de aprovação seria baixo, mas melhor do que Temer experimenta hoje, porque tem gente que não quer mesmo enxergar. Seguiria no Planalto até se aposentar em 31 de dezembro.

Temer — Teria se desincompatibilizado da vice-presidência para concorrer a uma vaga na Câmara. Como as acusações contra ele não seriam investigadas, muito possivelmente seria eleito na margem de erro.

Antonio Palocci — Esse já estava bastante sujo por falcatruas anteriores à Lava-Jato, mas mesmo assim seria candidato a uma vaga na Câmara. Não seria chamado para ajudar no plano de governo de Lula, muito liberal para este novo PT.

José Dirceu — Cumprida sua pena pelos crimes do mensalão, voltaria a encarnar o papel de guerreiro do povo brasileiro. E muita gente acabaria caindo nessa. Seria, claro, candidato a deputado federal. Não arriscaria uma eleição majoritária.

Eduardo Cunha — Solto, com dezenas de contas milionárias no Brasil e no exterior, continuaria achacando empresas e empresários. Seria o deputado federal mais votado do Rio e financiaria uma bancada gorda com mais de 100 parlamentares em diversos estados. Voltaria a presidir a Câmara.

Sérgio Cabral — Seria o candidato a vice de Lula. Agregaria o perfil do governador pop do Rio, o tempo de TV e o fundo partidário do MDB à campanha petista. Nas folgas de campanha descansaria com a serelepe Adriana Anselmo na sua casa de Mangaratiba cercado de quadros de Romero Brito e garrafas de vinho de US$ 2 mil a unidade.

Aécio Neves — Como Temer não teria sido presidente, a série de eventos provocados pelas gravações de Joesley não ocorreria. Aécio não teria sido flagrado chafurdando nos cofres dos Batistas e seria, portanto, o candidato do PSDB a presidente. O “bom moço” de Minas chegaria embalado pelo enorme recall de 2014 com chances de ir para o segundo turno.

Gleisi Hoffmann — Seria coadjuvante no cenário nacional. Mas certamente se candidataria mais uma vez ao governo do Paraná.

Lindbergh Farias — Não se conheceria o seu lado aloprado e não teria a visibilidade que ganhou com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Por isso, suas chances de sucesso na reeleição seriam menores.

Marcelo Odebrecht — Estaria hoje um pouco mais pesado, já que não teria passado dois anos na cadeia sem nada para fazer a não ser ginástica. Teria mantido o Departamento de Operações Estruturadas de sua empresa e continuaria jorrando dinheiro desviado do público para campanhas privadas. Todos os outros empreiteiros estariam muito bem, obrigado.

Léo Pinheiro — Já teria sido chamado para fazer algumas reformas e ajustes no tríplex dos Lula da Silva no Guarujá.

Petrobras — Não teria recuperado os R$ 2,5 bilhões com a Lava-Jato. A sangria continuaria em curso.

Pedro Barusco — Não seria conhecida a medida monetária em que um Barusco equivale a 100 milhões de reais.

Alberto Youssef — Com o dólar a R$ 4, estaria nadando de braçada.

Tesoureiros — Todos os do PT estariam bem e felizes. Nenhum teria sido preso.

Marqueteiros — João Santana e Mônica Moura estariam cuidando da campanha de Lula. Duda Mendonça continuaria no mercado.

Advogados — Alguns dos maiores do Brasil teriam dezenas de milhões de reais a menos em suas contas. E Zanin… que Zanin? Ninguém conheceria Cristiano Zanin.
Airbnb na mira

O presidente da Riotur, Marcelo Alves, encomendou a especialistas em tributação um esboço de projeto de lei para taxar os aluguéis feitos através da Airbnb no Rio. A ideia é cobrar tributos por quarto alugado. Claro que o imposto haveria de variar levando-se em conta o tamanho do quarto alugado e a sua localização. Hoje, a plataforma de locação de imóveis por temporada, uma gigante mundial, não paga um centavo sequer de imposto, embora movimente centenas de milhões de reais.

Presidente nada pode
Ingênuos são os que acreditam que Bolsonaro, eleito, vai botar pra quebrar, prender e arrebentar bandido. Não vai porque não pode. Sem o Congresso, presidente vai a lugar nenhum. O Congresso, por mais porcaria que seja, não dará apoio a qualquer aventura típica da bolsonaria. E mais, o Parlamento brasileiro sempre será de centro, não adianta querer caminhar para os extremos. Vejam o exemplo recente do PT.

Poste com vontade
Haddad não vê a hora da sua unção. Ele não aguenta mais falar do líder máximo, repetir que Lula tem que ser solto, que o Brasil atenta contra a democracia. O candidato está ansioso para mostrar o que ele próprio pensa. Mas não fala e ataca quem fale sobre tomar atalhos para se livrar logo de Lula preso. Vai que Lula ouve.

Quem tem medo do STF
Apesar de tudo, o STF impõe respeito. Talvez seja por esta a razão que apenas 22 de 214 parlamentares recorreram contra o envio de seus processos do Supremo para a primeira instância, como revelou a repórter Carolina Brígido. Melhor na Justiça original, com seus múltiplos recursos, do que correr o risco de não pegar a Segunda Turma.

Sorte mesmo tem o Genu
Sem qualquer amigo no STF, João Cláudio Genu calhou de estar ao lado de José Dirceu na hora crucial em que foi apanhado com a mão na botija. Foi solto e agora teve confirmada sua liberdade pela turma da Segunda Turma. Este homem, sim, tem estrela.

Favreto
O que houve com aquele juiz aloprado? Alguma punição, censura?

Campanha da Vale
Muito bonita a campanha Redescobrir da Vale. Mostra uma empresa bem posicionada em algumas das questões que mais importam ao país. A exploração sustentável dos recursos naturais, por exemplo. Pelas imagens e pelo discurso, trata-se mesmo de uma companhia do primeiro time. Só faltou mencionar o Rio Doce, ou o que sobrou dele depois do desastre da Samarco, empresa da Vale que até agora enrola os brasileiros que perderam suas casas e sustento com o lamaçal tóxico que a empresa deixou vazar.

Privacy Preference Center