Ascanio Seleme: Lula está fora, e agora?

É hora de saber como os candidatos que valem vão se apresentar na campanha.

É hora de saber como os candidatos que valem vão se apresentar na campanha

Apesar de Lula ser carta fora do baralho eleitoral desde sexta-feira, vamos ainda ouvir muito do PT e de sua militância o discurso do injustiçado, do perseguido. Mas a História registrou o inequívoco, Lula foi condenado pela quinta vez. Pelo juiz de primeira instância, Sergio Moro, pelo TRF-4, pelo Superior Tribunal de Justiça, pelo Supremo Tribunal Federal e agora pelo Tribunal Superior Eleitoral. Quatro órgãos colegiados se manifestaram contra Lula. É preciso acreditar em bruxas para aceitar a hipótese da perseguição.

Terminada a farsesca candidatura de Lula, que desde o começo todos sabiam que não prosperaria, o PT inclusive, é hora de saber como os candidatos que valem vão se apresentar na campanha. Bolsonaro já se sabe como vai caminhar. O seu discurso não se afastará um centímetro do caminho que o trouxe até aqui. Ele decorou algumas frases sobre economia e vai aproveitar a mídia e as redes sociais para ficar no foco, já que seu tempo de TV é ridículo. E vai pregar continuamente contra isso tudo que está aí.

Com o líder das pesquisas fora, a pergunta que se faz é se atacar o segundo colocado ajudaria os demais candidatos a obter uma vaga no segundo turno. Parece pouco provável e há muitas razões para não se acreditar nisso. Primeiro, o discurso de segurança de Bolsonaro, de ataque frontal e sem trégua a bandidos, não pode ser ignorado, menosprezado ou, o que é pior, tratado como mera truculência de candidato de direita. A maioria da população brasileira apoia o combate à criminalidade com o uso de todas as forças.

O primeiro filme da campanha do PSDB, “Não é na bala que se resolve”, é bonito, bem produzido e impactante, mas é óbvio demais. Filme de oportunidade para surfar numa onda do momento. Ocorre que surfa contra a onda e não a seu favor. Não estou dizendo que as pessoas querem resolver tudo na bala, embora haja muita gente que queira. Mas, sim, que a segurança é um dos principais problemas do país. Descuidar no discurso ou na publicidade pode parecer fraqueza ou sinal de que esta não é uma prioridade.

Adotar o papel de anti-Bolsonaro também não resolve. Fora as questões evidentes e graves que afastam Bolsonaro da civilidade, pontos do seu discurso decorado, além do combate à violência, fazem sentido. Enxugar o Estado, acabar com privilégios, cortar gastos são temas que atendem anseios de parte expressiva do Brasil e estão presentes nos discursos de seus adversários. Bater em Bolsonaro pode parecer incoerência, ou na pior das hipóteses, que se está contra essas medidas.

É preciso denunciar Bolsonaro nos seus ângulos verdadeiramente frágeis, nas questões de comportamento, da mulher ou no seu pouco apego à democracia, mas tampouco isso basta para levar uma candidatura ao segundo turno. Os candidatos devem apontar para a ruína econômica do Brasil gerada a partir do segundo mandato de Lula e pelos governos de Dilma e Temer. Os candidatos precisam ter coragem para denunciar os culpados pelo estado de pré-falência nacional. Essa é a raiz dos problemas.

Haddad vai focar em Temer, a quem culpará pelo desastre econômico, e usará o discurso do golpe todos os dias. Se os canhões dos demais candidatos continuarem mirando apenas na direção de Bolsonaro, deixarão que acabe colando a mensagem de que a tragédia em que estamos metidos, com 13 milhões de desempregados, é culpa exclusivamente do atual presidente. E, claro, o PT ignorará todas as denúncias de corrupção.

O plano é muito bom e, com a ajuda de Bolsonaro e seus adversários, pode ser perfeito. Enquanto os demais candidatos cuidam de atacar o candidato do PSL, o PT vai reconstruindo a História, modulando nela o seu papel de maneira a fazer o eleitor acreditar que o partido é inocente e honesto, e que a solução para o país é o seu retorno ao governo. Se esta estratégia vingar, o segundo turno será entre Haddad e Bolsonaro. E Haddad ganhará a eleição.

ECOS DA VOTAÇÃO DO TSE
Antes de votar a favor da manutenção da candidatura de Lula, o ministro Edson Fachin elogiou seu colega Luís Roberto Barroso, o relator da impugnação. “Uma das mentes mais iluminadas do país”, disse ele. Talvez tenha sido por isso que Barroso ganhou de Fachin por 6×1. E a pegadinha do ministro Og Fernandes? Sua primeira frase foi um verso de Chico Buarque. Parecia que votaria com Lula. Votou contra.

CÍRCULO VICIOSO
Se já é difícil renovar o Congresso com as regras políticas em vigor, imagine se à moda tucana de financiamento das campanhas pegar. O PSDB só dará dinheiro do fundo partidário a candidatos a deputado e a senador que já tenham mandato. Os novatos terão que navegar com recursos próprios. Mulheres candidatas novatas são exceção, por lei, mas mesmo essas receberão soma menor do que as senhoras que buscam a reeleição.

JUCÁ ESTÁ FORA MESMO?
Um observador atento pergunta, sem a intenção de ofender, se, além da liderança no Senado, Romero Jucá (MDB) vai devolver os cargos que detém no governo e parar de liberar emendas ao Orçamento com sua ingerência no Planejamento. Vai pedir também para que Dyogo Oliveira deixe o BNDES? E que sua irmã Helga se demita do cargo de assessora especial da Secretaria de Políticas para Mulheres?

A FOTO GENÉRICA
O Senado promoveu na segunda-feira passada um debate sobre fotografia e gênero. Teorizou-se sobre o olhar da mulher na fotografia. Segundo Ramila Moura, jornalista da Procuradoria da Mulher no Senado, “é importante a gente ter este olhar diferenciado de gênero, porque daí a gente vai perceber quem são as pessoas retratadas”. Se essa coluna fosse do Ancelmo Gois, a nota terminaria assim: “É, pode ser”.

É CARO SALVAR VIDAS
No ano passado a Anvisa aprovou o medicamento Spinraza, único capaz de combater a amiotrofia muscular espinhal (AME), doença que acomete uma em cada dez mil crianças nascidas no Brasil. Embora considerado eficiente pela Anvisa, o medicamento não entrou na lista do SUS. Segundo a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do órgão, “a análise de custo-efetividade mostra que o medicamento não apresenta resultados clínicos condizentes com o (seu) preço, e (causaria) um impacto orçamentário da ordem de R$ 1 bilhão que pode comprometer a sustentabilidade do SUS”. Cada dose de Spinraza custa R$ 372 mil. Com seis doses salva-se a vida de uma criança.

 

 

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