No partido há dois grupos: o de Lula, que manda, e que entende que é urgente um entendimento entre as forças políticas democráticas
A coluna de sábado passado, em que defendi o perdão ao PT e a sua reinclusão no debate político nacional, sem ressentimento e sem ódio, gerou uma enxurrada de mensagens e comentários que chegaram por e-mail, WhatsApp e outros meios digitais ou foram publicados em sites e blogs. Muitos deles partiram de uma premissa errada, de que o meu texto representava a opinião do GLOBO. Como obviamente não é este o caso, não precisam ser comentados. Mas o que a maioria revelou, de ambos os lados do espectro político, é que uns não querem ser perdoados e outros se recusam a perdoar.
Claro que não se trata de uma amostragem confiável, que represente a média brasileira. Ao contrário, os que se manifestaram são sobretudo militantes ou pessoas engajadas que redistribuem tudo o que recebem nas suas timelines sem refletir um pouco mais. Mas são formuladores, influenciadores, que de um modo ou de outro acabam contaminando o resto do seu segmento político. Nenhuma surpresa na reação dos que apoiam cegamente Bolsonaro. Destes, o que se viu foram respostas iradas, agressivas e grosseiras que melhor alinham seus emissores ao perfil patológico do presidente.
Mas houve também eleitores do capitão, mesmo os arrependidos, afirmando que só se pode perdoar quem mostra arrependimento e pede perdão. E este não foi o caso do PT, que, segundo eles, jamais fez um mea-culpa e nunca tentou se alinhar às forças políticas democráticas. Embora seja exagerado, faz muito sentido esse raciocínio. Grande parte dos petistas, a começar pela sua presidente, deputada Gleisi Hoffmann, entende que o PT não cometeu crime algum para ser perdoado. Eles afirmam que Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe e que Lula foi preso sem provas. Não admitem que houve desvios bilionários da Petrobras, e por segurança nem tocam no assunto, e afirmam que o mensalão foi uma invenção da direita e da mídia.
Se o Partido dos Trabalhadores se organiza internamente através de algumas tendências políticas que lutam pelo poder na legenda, do lado de fora se consegue ver apenas dois PTs distintos. Um deles é o de Lula, o que manda, e tem entre seus expoentes Gleisi Hoffmann e José Dirceu. Estes não querem nem ouvir falar de entendimento político, de frente contra Bolsonaro. Apostam na ruptura como única forma de retomar o poder. Entendem que um alinhamento com as demais forças do campo democrático pode resultar na eleição de um não petista. Além disso, afirmam que se a rejeição ao PT acarretar a reeleição de Bolsonaro, esse será um problema do Brasil, não do partido.
Mas há um outro PT, tão de esquerda quanto o de Lula, ou até mais do que este, que entende que é urgente superar a etapa do “nós contra eles” e que um grande entendimento entre as forças políticas democráticas não é apenas necessário, é urgente. Essa turma, liderada pelo ex-ministro, ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato a presidente Fernando Haddad, já reconheceu publicamente os erros do PT e se mostrou pronta para reconstruir e reerguer o partido. Esse grupo não tem as amarras populistas de Lula e companhia, é mais moderno, pensa no futuro e não se contenta apenas com o atendimento de interesses imediatistas e corporativistas.
O futuro do maior partido de esquerda do Brasil será determinado pela prevalência de um grupo sobre o outro. Hoje, o PT de Haddad é minoritário, sofre aberta censura do campo majoritário e muitas vezes precisa se calar para sobreviver e seguir brigando internamente pela transformação do partido. Enquanto o dono da bola se recusar a sentar à mesa para trabalhar em conjunto em favor de todos, quem perde é o Brasil. Um país como o nosso, com um abismo social que mantém dezenas de milhões de brasileiros à margem do bem estar e do progresso, precisa de um partido de esquerda forte, moderno e eficiente. Coisa que o PT de Lula não é.
Reforma para quem?
A urgente reforma tributária que vai começar a caminhar mais uma vez no Congresso tem que levar em conta duas premissas fundamentais. A primeira e mais evidente é que ela tem que atender ao cidadão, ao contribuinte, e só depois ao Estado. Além disso, as pessoas querem redução na carga e simplicidade na forma. O sistema tributário brasileiro é um paraíso para os contadores. Só eles conseguem navegar com alguma inteligência nas malhas tributárias e apenas eles sabem onde encontrar aquele gatilho para reduzir o imposto a pagar. O brasileiro está cansado de gatilhos.
O atleta burro
A explicação é do vice-presidente Hamilton Mourão. Para quem não viu, trata-se de uma entrevista que ele concedeu à GloboNews. Mourão disse que Bolsonaro saiu do Exército “no posto de capitão, onde você é muito mais físico do que intelectual”. E que ele não viveu na sua carreira militar a etapa em que “você muda da parte do físico para o intelectual”. Agora dá para entender a explicação do presidente de que a Covid-19 bateria nele como uma gripezinha dado o seu passado de atleta.
Bolsonaro desafia
Ao afirmar na sua live de quinta-feira que o general Pazuello fica no Ministério da Saúde, Bolsonaro desafiou o Exército. Todos sabem da insatisfação dos militares pela associação da sua imagem à pandemia do coronavírus, ressaltada na semana passada pelo ministro Gilmar Mendes. Forçar a permanência de Pazuello acarretará em um desgaste ainda maior para o conjunto das Forças Armadas ou na aposentadoria precoce de Pazuello sem a cobiçada quarta estrela.
Progressão fatal
Se o ritmo do crescimento das infecções por coronavírus continuar como verificado nos últimos 30 dias, quando o número dobrou, em sete meses todos os brasileiros estarão contaminados. Trata-se ou não de um genocídio?
Por outro lado
Nos estados americanos onde a maconha é liberada, o consumo aumentou 50% em junho em relação ao início de maio. No Brasil, as estatísticas que temos são apenas policiais, mas estas valem pouco em tempo de pandemia.
À bala ou pela língua
Todos sabem que Paulo Guedes gosta de usar figuras de linguagem fortes e muitas vezes faz graça com coisa séria. Mas, agora, ele corre o risco de se dar mal. Disse numa entrevista na quinta que só sai do governo “abatido à bala”. Essa foi a gracinha, o perigo de se dar mal foi ter voltado atrás. O ministro se corrigiu em seguida afirmando: “Isso é uma linguagem desagradabilíssima, não posso nem brincar com isso”. Como quem demite é um presidente armamentista, que aumentou o volume de munições que os cidadãos comuns podem comprar e revogou portaria que estabelecia o rastreamento e a identificação de armas, dizer que o tema é desagradável demais pode dar dor de cabeça.
Passando a boiada
Queimadas sazonais acontecem no mundo inteiro e não são exclusividade da Amazônia. Vejam o exemplo da Califórnia, que arde a cada ano provocando mortes e prejuízos importantes. Elas ocorrem também na Europa, na Ásia, na África e na Oceania. Quem não se lembra das tragédias do último verão australiano? No Irã, de acordo como jornal “The New York Times”, houve mais de 1.000 queimadas espontâneas nas florestas locais no últimos três meses. Todo mundo sabe que queimadas espontâneas precisam ser monitoradas e as ilegais devem ser combatidas. No Brasil, as ilegais são incentivadas e as naturais são ignoradas.
Segura as pontas
Dispositivo digital que monitora a forma de dirigir de um motorista está sendo empregado por companhias de seguro americanas nos carros dos segurados que autorizarem sua aplicação mediante um desconto de até 20% no valor que pagam sobre suas apólices. Ajuda muito quem não tem pressa e não acelera. Para o motorista abusado, o resultado do monitoramento pode ao final aumentar o custo da apólice ou levar a companhia a não renovar o seguro.
Que medo é esse
Eles nem existem mais, mas ainda tem gente no Brasil que morre de medo de comunistas, que enxergam em todos os que pensam de maneira diferente da sua. São normalmente pessoas que não gostam muito de pensar. E são tão mal informadas que chegam ao ponto de chamar de comunista até quem se manifesta contra o racismo.