As redes sociais, que ajudaram a produzir grandes mudanças no cenário político nacional e mundial nos últimos anos, também são usadas rotineiramente para alavancar empresas, marcas e produtos. Ninguém tem dúvida de que saber usá-las de maneira eficiente representa um ganho competitivo em qualquer atividade. Na política, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi amplamente favorecido pela manipulação das redes sociais pela sua equipe de campanha e por seus amigos esquisitos, como os espiões da Rússia. No Brasil, Jair Bolsonaro quase ganhou no primeiro turno pela avalanche que produziu no WhatsApp, Facebook, Twitter e Instagram na última semana, e que afinal confirmou seu favoritismo no segundo turno.
Redes são usadas para construir reputações. No caso de políticos, dourando perfis, impulsionando candidaturas. No caso de empresas, procurando associar marcas e produtos a questões positivas, do bem, que falem ao coração das pessoas. Na política, elas também podem ser usadas para produzir efeito contrário, torpedeando candidaturas adversárias. Foi o que a campanha de Bolsonaro fez com uma eficiência invejável com a campanha de Fernando Haddad. A candidatura do PT foi destroçada pela artilharia inimiga. Na eleição de 2014, com menos redes, mas com amplo apoio das comunidades digitais, o PT fez o mesmo com a candidatura de Marina Silva.
Está claro que o mesmo instrumento que alavanca, sustenta ou elege pode também derrubar, desmilinguir ou destruir uma reputação, uma candidatura, uma marca. O caso do cachorro morto por um segurança do Carrefour em Osasco é um bom exemplo de como as redes podem causar problemas graves para uma instituição. O episódio ganhou as redes, se espalhou pelo país, causando uma comoção, e ultrapassou as fronteiras nacionais, impactando a marca Carrefour até mesmo na França, seu país sede. O estrago para a marca do hipermercado é inestimável.
Na política, há também um exemplo francês de como as redes podem destruir programas ou propostas de governo, impedir ações governamentais ou até mesmo reduzir a confiança de um governante. Emmanuel Macron, presidente da França que assumiu o governo em maio do ano passado com apoio de 65% da população, hoje tem entre 25% e 32% de aprovação dos franceses, segundo diversos institutos de pesquisa. Pela sondagem do Ifop encomendada pela revista “Paris-Match”, a revolta dos coletes amarelos que param a França, depois de duas semanas, derrubaram a popularidade presidencial para 30%.
O episódio francês guarda muita semelhança com as jornadas de junho de 2013, que abalaram o Brasil e fizeram despencar os índices de apoio aos políticos no país. Tanto na França quanto aqui, as manifestações que aos poucos cederam lugar ao ódio, foram organizadas pelas redes sociais num movimento aparentemente sem líderes. Macron e Bolsonaro foram eleitos com o auxílio das redes sociais. O então candidato francês, em 2017, contratou a empresa de tecnologia eleitoral Liegey, Muller & Pons, que coletou dados de todas as sedes de regiões na França e criou um algoritmo para mostrar por onde deveria caminhar a campanha. E aí entraram as redes e os voluntários.
Por isso, o verso “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, de Augusto dos Anjos, não poderia ser mais atual. Todos estão sujeitos aos solavancos do caminho, mas o sacolejo provocado pelas redes é muito maior.