Ascânio Seleme: A farra dos guardanapos vista por dentro

Bastidores da noite em que a ruína de Sérgio Cabral começou são contados em livro.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Bastidores da noite em que a ruína de Sérgio Cabral começou são contados em livro

Estão enganados os que acham que já viram tudo no ataque praticado pelo ex-governador Sérgio Cabral e sua turma aos cofres públicos e às boas práticas políticas e comportamentais. Vem aí um livro que conta com uma riqueza impressionante de detalhes o primeiro e decisivo capítulo da destruição de Cabral, a festa parisiense conhecida como a farra dos guardanapos. Todos os bastidores da esbórnia de Cabral, seus secretários, amigos empresários e suas mulheres estão ali relatados.

Há inúmeras passagens exóticas que nunca foram contadas. O livro escrito pelo jornalista Sílvio Barsetti passa por tudo, conta desde o volume etílico consumido na bagunça até uma cena de ciúmes de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, que quase estraga a festa. O autor entrevistou dezenas dos convidados para reproduzir o capítulo mais constrangedor da trajetória do governador que agora cumpre mais de cem anos de cadeia por desvios financeiros e éticos durante seu mandato.

Patrocinada pela Peugeot, a festa ocorreu no Hotel La Paiva, um palácio destinado a recepções de luxo na Avenida Champs-Élysées e que pertencera à marquesa Theresa Lachmann, uma conhecida cortesã parisiense do século 19. O banquete foi servido por maîtres e 25 garçons, um para cada cinco convidados. Ao final, 300 garrafas da champagne Dom Pérignon e do vinho português Barca Velha teriam sido consumidas. Além de uísques e cognacs.

Cabral e Adriana chegaram a Paris dois dias antes e se hospedaram no Hotel Le Bristol. O luxo do hotel impressionou os pais de Cabral, também presentes. Sérgio Cabral pai disse à mulher Magaly: “Essa realidade não nos pertence. Daqui a pouco vão pegar a gente no colo”. Não tinha visto nada ainda. Luxo mesmo ele conheceria na noite da festa. Mas, além do luxo, os modos da turma é que deixariam estarrecidos até mesmos os serviçais do Palácio.

Além dos guardanapos nas cabeças de um quinteto para lá de embriagado, houve momentos de descontração de tal ordem que um dos convidados passou parte da festa com dois copos nas mãos, um de vinho e outro de champagne. Em outro, dois deles subiram em uma mesa para dançar. Foram convidados a descer por um maître. Ao ver a cena, o patrocinador Thierry Peugeot disse que a cortesã dona da casa “marquesa Lachmann estaria radiante aqui”.

A cena de ciúmes se deu quando uma sensual cantora francesa contratada para animar os convivas se insinuou a Sérgio Cabral. Adriana afastou a moça dizendo com fúria e em bom e sólido português: “Aqui não, pode sair de perto”.

Outro barraco foi de Cabral, que brigou com sua assessoria que pediu para uma convidada parar de fotografar a festa. Ela se queixou, e o governador deu uma bronca num assessor. “Que merda é essa? Você está maluco? Ela é minha convidada e pode fotografar, sim”. Cabral descobriu mais tarde que foi esta mulher, cujo nome o livro não revela, quem passou para Anthony Garotinho as fotos da noitada.

O livro “A farra dos guardanapos — O último baile da Era Cabral — A história que nunca foi contada” é o primeiro fruto da parceria dos jornalistas Bruno Thys e Luiz André Alzer, idealizadores e fundadores da editora Máquina de Livros. A editora já tem outros três projetos em andamento. Todas as suas obras serão de não ficção. “A farra dos guardanapos” tem 176 páginas, vai custar R$ 39,90 e estará disponível nas livrarias a partir de agosto.

QUEM ACREDITA EM CIRO?

Ciro Gomes vem cumprindo rigorosamente tudo aquilo que se previa para a sua derrocada. Primeiro, o destempero verbal. Xingar a mãe de uma promotora que representou contra ele é coisa típica do cirogomismo. Depois, e até mais grave, há o desequilíbrio ideológico que o transforma num pião desgovernado. Ciro tem posições de esquerda que nem o PT avaliza, mas disse que poderia “modular” o seu discurso para atrair os liberais DEM e PP. O centrão não caiu na conversa, e o candidato voltou a massagear o PT pedindo a liberdade de Lula. Oportunismo. Se Lula for solto, Ciro desaparece.

E EM ALCKMIN?

O candidato do PSDB que juntou o centrão prometeu a Paulinho da Força encontrar um novo modelo para financiar o sindicalismo brasileiro. Mas não é o PSDB que defende a liberdade de escolha do trabalhador, onde contribui apenas quem quer e acredita em seu sindicato?

FALA, GRANDE LÉO

O senador Lindbergh Farias diz que não é com ele e acusa a Globo de perseguição porque a procuradora-geral, Raquel Dodge, viu indícios de ação sua em favor da empreiteira OAS ao custo de R$ 700 mil de repasses em caixa dois. Interceptação feita pela PF na caixa de mensagens do seu celular mostra a intimidade com o dono da OAS, Léo Pinheiro. Ao responder a um pedido de audiência do empresário, Lindbergh Farias disse: “Fala, grande Léo. Chego terça pela manhã, estarei te esperando”. E a culpa é da Globo.

ALGEMAS

Não ouvi qualquer gritaria contra o fato de a assistente e namorada do doutor Bumbum, Renata Cirne, sair algemada da delegacia da Barra no dia em que foi presa. Nem uma palavra a seu favor de deputado, senador, defensor de direitos civis. Nem a mãe da presa reclamou.

SEM BEM

Processada na Justiça do Trabalho por um corretor demitido, a imobiliária Júlio Bogoricin declarou não ter dinheiro em caixa e nenhum bem imóvel para satisfazer a demanda. O advogado Jorge Passarelli só conseguiu um acordo a favor de seu cliente ao pedir a decretação da falência da empresa e penhorar uma cobertura, na Avenida Atlântica, de Júlio Bogoricin, o dono, não a empresa. Para não perder o apartamento, o empresário aceitou negociar.

IMPOSTO A JATO

Tramita no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) ajuizada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra lei no Ceará que cobra IPVA de avião. Como o estado não tem nenhuma companhia de aviação, a Adin beneficia apenas donos de aviões e jatos particulares. O assunto já entrou no debate eleitoral. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, defende a cobrança do tributo em todo o país.

EU SOU VOCÊ AMANHÃ

A Argentina já está sendo chamada de “País 30, 30, 30”. Porque hoje tem 30% da sua população abaixo da linha da pobreza, a inflação é de 30% ao ano e cada dólar custa 30 pesos.

PSOL ÀS ESCURAS

Jornalistas não serão bem-vindos na convenção do PSOL. Só terão acesso ao comício depois da escolha do candidato e a uma entrevista coletiva com o ungido. O que será que o partido quer esconder? Claro que todos vão saber no minuto seguinte. Para isso é que existe jornalista, para fazer luz na escuridão.

ALOPRADO DA SEMANA

O título vai para Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e Dilma, o conhecido Gilbertinho, que pregou um levante popular para tirar Lula da cadeia. Já até consigo visualizar a massa invadindo a PF de Curitiba e tirando o prisioneiro nos braços. Neste caso, nem eleições serão mais necessárias.

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