José Múcio foi sondado para vaga de Ramos no palácio
Política é circunstância, e as circunstâncias favorecem o movimento lento e gradual de profissionalização da articulação política do governo. Salvo o imponderável, o presidente Jair Bolsonaro deverá coroar esse processo na reforma ministerial prevista para fevereiro, após se consumar a sucessão nas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado.
Trata-se de um movimento iniciado há 14 meses, quando Bolsonaro substituiu a deputada Joice Hasselman (PSL-SP), parlamentar de primeiro mandato, uma neófita entre raposas, pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO), três vezes deputado federal, na liderança do governo no Congresso.
O segundo gesto nessa direção foi a substituição, há quatro meses, do então líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), parlamentar de primeiro mandato, um neófito entre raposas, pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), seis vezes deputado federal e ex-ministro da Saúde.
No Senado, nunca se cogitou a substituição do líder do governo, o experiente Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Quando o emedebista se viu alvo de uma operação da Polícia Federal em setembro do ano passado, ele nem balançou no cargo. O que se ouvia nos corredores do palácio era que a prudência recomendava ao novo governo não fustigar a poderosa bancada do MDB do Senado.
Os caciques do Centrão, que agora orbitam em torno do gabinete presidencial, convenceram Bolsonaro de que chegou a hora de nomear um político para o cargo mais político do governo: a chefia da articulação política, atribuição do titular da Secretaria de Governo. Atualmente, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.
Um dos políticos cogitados para a vaga foi o ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro. Experiente na função, ele foi ministro da articulação política no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em tom de brincadeira, Bolsonaro fez o convite público no último dia 3, na abertura, em sessão virtual, do 4º Fórum Nacional de Controle. Nos bastidores, a sondagem foi concretizada.
“Se a saudade lhe bater, venha pra cá, estará entre nós no nosso primeiro time”, convidou o presidente. “Sou apaixonado por você”, derramou-se.
A coluna apurou que, em privado, coube ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, sondar Múcio sobre a efetiva possibilidade de aceitar o convite de Bolsonaro e assumir a articulação política do governo.
Múcio, que acabou de se aposentar, negou que a sondagem tenha ocorrido, e afirmou à coluna que não pretende voltar à vida pública, embora Bolsonaro tenha declarado que “seu gás é infinito”. A coluna mantém a informação, confirmada com uma fonte do Congresso e uma fonte do palácio.
Próximo a Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também foi sondado para a função. No momento, entretanto, ele está concentrado em eleger o irmão para a Prefeitura de Macapá, e em fazer o seu sucessor no Senado.
Outro nome lembrado para o posto é o do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Internamente, ele ganhou fama de “trabalhador”, e tem a confiança de Bolsonaro.
Desde o início, Bolsonaro havia decidido nomear generais para a chefia da articulação política. Nas primeiras semanas, a piada interna entre políticos que já haviam se reunido com o primeiro titular da pasta, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, era de que a etiqueta da “nova política” implicava bater continência para ministros, acompanhada da saudação “selva”.
Mas o agravamento da crise política, diante do avanço dos inquéritos envolvendo o presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), da denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz (hoje em regime domiciliar), amarraram Bolsonaro ao Centrão com nó de marinheiro.
É nessa conjuntura que políticos experientes como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), os líderes Ricardo Barros, Eduardo Gomes, Fernando Bezerra, além de contemporâneos de Bolsonaro na Câmara, cada vez mais ouvidos pelo presidente, o persuadiram de que ele deve nomear um político para a chefia da articulação do governo.
O argumento é de que Bolsonaro precisa profissionalizar a articulação para melhorar a relação com o Congresso, e garantir o avanço das pautas do governo, sobretudo a dois anos da eleição presidencial. Há uma avaliação de que o governo foi generoso na liberação de emendas e distribuição de cargos, mas os parlamentares não retribuíram na mesma proporção.
A mudança na articulação já foi aventada anteriormente. Desta vez, entretanto, dois fatores contribuem para sua concretização. Em primeiro lugar, um político da envergadura de José Múcio foi sondado para o cargo. Ou seja, começaram as sondagens por um substituto para o general.
Além disso, Bolsonaro pode precisar de Ramos em outro ministério, no mesmo quarto andar do Palácio do Planalto.
No começo de janeiro, o ministro Jorge Oliveira toma posse no Tribunal de Contas da União, abrindo a vaga de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. É uma oportunidade para manter Ramos próximo ao gabinete presidencial, e em ministério palaciano.
Embora a reforma ministerial esteja prevista para fevereiro, os fatos obrigaram a antecipação de alguns movimentos. Como Oliveira sai em janeiro, o presidente terá de decidir se já nomeia Ramos para o seu lugar, ou aguarda o desfecho da eleição no Congresso, indicando um interino para a função.
Como o entrevero com Ramos precipitou a demissão do ministro Marcelo Álvaro Antônio do Ministério do Turismo, reservado ao Centrão, Bolsonaro teve de escalar o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, para um mandato-tampão.
Salvo o imponderável, Bolsonaro dará continuidade à profissionalização da articulação política. A ressalva se impõe porque ele muda de direção como o vento. Por sobrevivência, a biruta está mandando ele seguir o Centrão.