“2022 começou agora”, avisa Freixo em ato petista
No evento promovido ontem pelo PT, para o lançamento de seu projeto de reconstrução do país – documento que balizará as campanhas petistas -, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, duas importantes lideranças da esquerda afirmaram que a eleição municipal dá largada para a corrida sucessória de 2022.
“Que a gente tenha a sabedoria de ver como vamos nos comportar no primeiro e no segundo turno, porque 2022 começa agora”, conclamou o deputado federal Marcelo Freixo, do Psol. “Temos que buscar não o que temos de idêntico, mas o que temos em comum”, completou. Ele teria o apoio do PT se mantivesse a candidatura a prefeito no Rio de Janeiro, mas renunciou à vaga, atribuindo o gesto à divisão da esquerda no pleito.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, manifestou-se na mesma linha, e acrescentou que a esquerda tem de se esforçar para abrir diálogo com os diferentes, e não falar apenas para os convertidos. Citou o verso de Caetano Veloso: “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Se 2022 começou agora, o cenário da largada no palco principal, que são as capitais, é adverso para o presidente Jair Bolsonaro. É uma conjuntura que emerge na contramão dos resultados da eleição presidencial. Há dois anos, Bolsonaro venceu em 21 das 27 capitais. Três delas, no Nordeste: Natal, João Pessoa e Maceió.
“O antibolsonarismo é maior que o bolsonarismo nas capitais”, afirma o cientista político Fernando Abrucio, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele avalia que a postura de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia, e o envolvimento de sua família nas investigações do suposto esquema do ex-assessor Fabrício Queiroz, afastam o eleitor de classe média, mais escolarizado, e também os jovens, do bolsonarismo.
Nesse cenário, Abrucio acha que são remotas as chances de os candidatos apoiados por Bolsonaro, direta ou indiretamente, vencerem no segundo turno em São Paulo e no Rio de Janeiro, as principais capitais e colégios eleitorais estratégicos. Também em Belo Horizonte, esse cenário se repete.
Um dos fatores para o esvaziamento do bolsonarismo nos principais colégios é a ausência de candidatos competitivos do PT. A polarização com o PT é combustível essencial para os bolsonaristas.
Em São Paulo, na hipótese de um segundo turno entre o prefeito Bruno Covas (PSDB) e o deputado Celso Russomanno (Republicanos), que tem o apoio velado de Bolsonaro, Abrucio afirma que o tucano herdará os votos da esquerda.
O ex-governador Márcio França (PSB) pode surpreender e encostar nos dois adversários. Mas ele perdeu pontos com o eleitor de esquerda depois de cortejar publicamente Bolsonaro num evento no mês passado em São Vicente, litoral paulista. Ele admitiu ao Valor que busca o voto “Bolso-França”.
Abrucio também prevê a derrota do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro. Acredita que se ele chegar ao segundo turno, perderá para Eduardo Paes, candidato do DEM, que lidera as pesquisas com vantagem de mais de dez pontos. Bolsonaro estará no palanque de Crivella na figura dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro, e o vereador Carlos Bolsonaro. Ambos recepcionados no Republicanos, partido de Crivella.
Na capital mineira, o deputado estadual Bruno Engler (PRTB), por quem Bolsonaro disse que se “inclina”, não aparece nem em segundo lugar. O prefeito Alexandre Kalil (PSD), com chance de reeleição no primeiro turno, lidera isolado as pesquisas. Bem atrás aparece o deputado estadual João Vítor Xavier, do Cidadania. No mês passado, Engler disse ao Valor que o apoio de Bolsonaro seria fundamental para ele se tornar competitivo.
Outro bolsonarista que ainda não decolou é o deputado estadual Delegado Francischini (PSL), que postula a Prefeitura de Curitiba. Francischini é um dos mais antigos aliados do presidente, mas de quem Bolsonaro se afastou após a vitória eleitoral. Ele concorre com o prefeito Rafael Greca (DEM), franco favorito à reeleição, cuja gestão tem 71% de aprovação popular. Bem atrás de Greca vem o ex-secretário estadual Ney Leprevost (PSD).
Em contrapartida, o bolsonarismo sai na frente em redutos da oposição no Nordeste, como Fortaleza (CE) e São Luís (MA).
O deputado federal Capitão Wagner (Pros), que se projetou ao apoiar o motim da Polícia Militar há seis meses, lidera as pesquisas em Fortaleza, base eleitoral de Ciro Gomes.
É preciso aguardar o desempenho do candidato de Cid e Ciro Gomes, o presidente da Assembleia Legislativa, José Sarto (PDT), que também terá como cabo eleitoral o prefeito, Roberto Cláudio, com alta aprovação. Também pode surpreender a deputada Luizianne Lins (PT), que já comandou a capital.
O bolsonarismo também lidera em São Luís, base do governador Flávio Dino, um dos principais adversários de Bolsonaro. Quem encabeça as pesquisas é o advogado Eduardo Braide (Podemos), com a vantagem do “recall” da última eleição, quando chegou até o segundo turno.
Brigam pelo segundo lugar três candidatos da base de Dino: Duarte Júnior (Republicanos), Rubens Pereira Jr. (PCdoB) e Neto Evangelista (DEM). O candidato da Família Sarney, Adriano Sarney (PV), vem atrás.
Por ora, a avaliação de políticos experientes é que muitos cantarão vitória no final, mas a eleição caminha para um resultado fragmentado, sem grandes vencedores. Cada um levará seu quinhão: o bolsonarismo, a esquerda e o Centrão. Contudo, eventuais derrotas acachapantes nos principais centros serão creditadas na conta de Bolsonaro, com reflexos em 2022.
Dias contados
Com o governador interino, Cláudio Castro, dando as cartas, o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), ainda tem, pelo menos, lugar cativo no grupo de WhatsApp dos governadores. Ninguém teve coragem de exclui-lo. Mas segundo integrantes do reservado grupo, os dias dele e do também encrencado governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), estão contados na privilegiada sala de bate-papo.