Alon Feuerwerker: A escolha do previsível

Uma leitura inicial dos resultados do primeiro turno da eleição municipal deixa claro que o eleitorado escolheu o previsível, não o imprevisível, e o conhecido, não o desconhecido.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma leitura inicial dos resultados do primeiro turno da eleição municipal deixa claro que o eleitorado escolheu o previsível, não o imprevisível, e o conhecido, não o desconhecido. As exceções confirmam a regra. Cada um tem sua própria hipótese a provar, e a minha é que o grande eleitor até agora neste processo eleitoral é a Covid-19. Na emergência, a população vem deixando claro não estar muito a fim de experimentação.

Se os políticos e os analistas gostam de olhar os fatos à luz da régua puramente política, os critérios do povão costumam ser de outra ordem. A escolha de um governante se dá medindo em primeiro lugar a relação custo/benefício. E em época de pandemia, com o corolário de dificuldades econômicas, as urnas estão produzindo nomes que prometem menos nas palavras e mais na trajetória, mais identificados com soluções e menos com blábláblá.

O paralelo imediato é com situações de guerra. E não é exagero dizer que estamos no meio de uma, com sua trágica contabilidade de mortes e destruição de forças produtivas. Neste segundo caso, o impacto vem sendo atenuado pelas medidas excepcionais, e que já começam a minguar. Com o esperado efeito na popularidade do governo federal. Ele faturou quando abriu para valer as comportas do orçamento, e agora está ameaçado pelo contrafluxo.

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O espírito prático do eleitor e a desconfiança sobre embarcar no desconhecido ficam também comprovados pelo desempenho apenas relativo, e põe relativo nisso, dos assim chamados padrinhos. Desta vez ter o apoio de grandes líderes políticos não fez tanta diferença assim. Em todos os lados do espectro. Mas, cuidado: se em 2022 a tendência de escolher o certo e não o duvidoso repetir-se, os líderes talvez voltem a pesar mais.

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Há as diversas contabilidades em jogo. Cada um defende a sua. Quem ganhou mais capitais. Quem vai governar mais eleitores. Quem ganhou mais governos e eleitores a governar nas grandes cidades. Quem elegeu mais prefeitos, ou vereadores. Mas novamente cuidado: qualquer conta deve levar em consideração o fato de o sistema partidário vir sendo implodido desde 2014, e esta eleição municipal foi apenas mais uma evidência explícita do fenômeno.

Foi uma eleição que se deu em torno de nomes, e não de siglas. Diferente de movimentos nos ciclos anteriores, não há uma onda partidária crescendo. Em 2018 havíamos tido, pelo menos, ondas de partidos informais, como o da “nova política” e o da segurança pública. Desta vez nem isso. 2018 implodiu o edifício da Nova República. 2020 acaba de exibir o cenário dos persistentes escombros, pois não há qualquer esforço de reconstrução.

Há previsões sobre uma convergência partidária a partir de agora. Mais provável é que o movimento real venha mesmo a partir de 2022. É quando começa a ter peso maior a cláusula de barreira para que os partidos possam ter acesso ao horário eleitoral, às verbas públicas e ao funcionamento parlamentar.

*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação

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