Bruno Boghossian / Folha de S. Paulo
Geraldo Alckmin assinou a filiação ao PSB com um discurso voltado para fora das fileiras da esquerda. Depois de meses de poucas palavras, o ex-tucano ensaiou as primeiras justificativas de sua migração para o campo de Lula e deu uma pista de como vai tentar convencer alguns de seus antigos pares a fazer o mesmo.
A principal função eleitoral de Alckmin será expandir o alcance da candidatura petista, atraindo eleitores que circulavam em sua antiga vizinhança tucana. O esforço inicial envolve reduzir as resistências de um grupo que, por décadas, foi alimentado à base de antipetismo.
O ex-governador quer zerar esse jogo. Alckmin disse três vezes que o país atravessa um “momento excepcional”, como se pedisse autorização para enfrentar uma situação crítica com medidas emergenciais.
A função do ex-tucano será persuadir uma fatia do eleitorado de que, ainda que Lula possa parecer uma solução heterodoxa, a reeleição de Jair Bolsonaro representa um risco maior. O argumento central é que a aliança com o PT é necessária para conter uma ameaça à democracia.
Alckmin também indicou que vai trabalhar para suavizar a imagem de Lula nesse nicho. Ele afirmou que o ex-presidente “representa a própria democracia” (para apagar a imagem de um petismo autoritário) e está habilitado para retomar o desenvolvimento econômico (para amenizar as lembranças da crise iniciada no governo Dilma Rousseff).
O ex-tucano já inaugurou essa missão. Embora tenha afirmado que não precisa “acalmar o empresariado”, Alckmin disse numa entrevista coletiva após o ato de filiação que Lula deu um “exemplo de responsabilidade fiscal” em seus governos e que o petista deve seguir o caminho da conciliação ao elaborar medidas para a economia.
Dirigentes do PT sabem que Alckmin não vai produzir um arrastão de eleitores de centro e centro-direita em direção a Lula. A ideia é evitar que ao menos alguns deles, desiludidos com a terceira via, repitam a rota de 2018 até o colo de Bolsonaro.
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/bruno-boghossian/2022/03/alckmin-da-passo-rumo-a-lula-e-ensaia-discurso-para-fora-da-esquerda.shtml