Jussara Soares e Bruno Góes / O Globo
BRASÍLIA – Dois meses após a filiação de Jair Bolsonaro ao PL, o partido comandado por Valdemar Costa Neto começa a ser remodelado para receber os apoiadores mais radicais do presidente da República. Na quarta, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles assinou a sua ficha de filiação. No mesmo dia, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) acertou seu ingresso na legenda. O próximo que pode entrar na sigla é Daniel Silveira (PSL-RJ), que ficou preso por sete meses no ano passado após ameaçar a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e já conta com o apoio declarado de Flávio Bolsonaro para se candidatar ao Senado.
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Jair Bolsonaro (PL) tem dito a aliados que Silveira, deputado federal no último ano de mandato, é hoje o melhor nome para a disputa ao Senado no Rio de Janeiro. A outra opção seria o senador Romário (PL-RJ), correligionário do presidente.
Bolsonaro enxerga em Silveira, porém, uma alternativa com maior apelo entre seu eleitorado, mesmo sabendo que o parlamentar vai entrar na campanha com o ônus de ter sido enquadrado pelo STF. Há ainda a possibilidade de o vice presidente, Hamilton Mourão, disputar o mesmo cargo com apoio do titular do Palácio do Planalto.
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Na quarta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Silveira se reuniram no Rio para discutir a corrida ao Senado. O deputado quer ingressar no PL, mas para isso seria preciso buscar uma solução interna com Romário, que já está no partido. Uma das opções é convencer o senador a sair do páreo, com argumento de que as pesquisas indicam que ele teria poucas chances de reeleição. Nesse cenário, Romário precisaria aceitar uma candidatura a um cargo de deputado federal ou estadual. Caso esse acordo não ocorra, Silveira pode ingressar no PTB ou outro partido ligado à base do governo, de preferência.
Questionado pelo GLOBO sobre quem deverá estar no palanque fluminense do presidente, Flávio, que é coordenador da campanha à reeleição de seu pai, disse que até este momento não há uma definição.
— Seriam três candidaturas fortes que o presidente teria no palanque. Divide voto, mas não tem muito consenso sobre isso. Se os três quiserem vir candidato, eles virão — disse o senador.
Já Salles, a mais recente aquisição do PL, deve ser candidato a deputado federal em 2022.
— Como sempre disse: vou sempre estar com o presidente. Ele foi para o PL, eu fui também.
Nas próximas semanas, parlamentares bolsonaristas devem seguir o exemplo de Eduardo Bolsonaro e Salles e selar acordos para filiação. É o caso de deputados como Bia Kicis (PSL-DF), Filipe Barros (PSL-PR), Bibo Nunes (PSL-RS), entre outros integrantes da tropa de choque do presidente no Congresso. Durante a janela partidária de março, que autoriza políticos a mudarem de legenda sem serem penalizados, aliados estimam que cerca de 20 deputados federais poderão chegar ao PL.
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O diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, também é cotado para entrar no PL. Ele cogita disputar uma vaga de deputado federal pelo Rio.
A migração coletiva altera o perfil da sigla que, confessadamente, é um dos pilares do centrão, o grupo de partidos que previlegia o pragmatismo eleitoral a posicionamento ideológicos. Boa parte dos nomes que agora engrossa as fileiras do PL costuma pautar a própria atuação em bandeiras claras, de centro e direita, quanto quadros históricos da legenda já apoiaram governos petistas, por exemplo.
Em 2023, Valdemar Costa Neto planeja ter uma bancada de 60 deputados e 15 senadores.
— Tenho mantido conversas com o PL, estão bem avançadas. Mas também tenho uma conversa com PP. Neste momento, há sim esse movimento de filiação ao PL dos apoiadores do presidente Bolsonaro. Tudo indica que isso deve mesmo ocorrer — diz Filipe Barros.
Embora vários bolsonaristas de raiz já estejam com um pé dentro do PL, outros negociam com as demais siglas do centrão. A estratégia visa a atender o maior número possível de partidos aliados do presidente, distribuindo entre essas legendas nomes do grupo com forte potencial de eleitoral, que podem puxar votos e contribuir para a formação de uma bancada numerosa no Congresso. Bolsonaro, inclusive, já foi cobrado por presidentes de partidos aliados, como Marcos Pereira, do Republicanos, para impedir que todos seguissem para o mesmo destino. A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), por exemplo, está inclinada a seguir com o Republicanos.
Há ainda um movimento orquestrado por bolsonaristas para filiar Carla Zambelli (PSL-SP) ao PP de São Paulo. A ideia seria aproveitar a chegada da parlamentar para fazer com que o partido apoie Tarcísio de Freitas ao governo do estado e reforce o palanque de Bolsonaro no maior colégio eleitoral do país.
À frente do plano, contudo, existem obstáculos políticos. O presidente do diretório do PP paulista, o deputado federal Guilherme Mussi, foi reconduzido ao cargo em convenção realizada na segunda-feira. Ele conta com maioria para apoiar Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de João Doria. Por isso, dificilmente haverá uma reviravolta.
— Para ser bem sincero e objetivo: vai ser tudo decidido na janela partidária, se vamos apoiar Tarcísio ou Rodrigo Garcia. Vai ser deixado mais para frente. Vamos avaliar quais serão as perdas e ganhos. Eu tenho um posicionamento pessoal de estar com o Rodrigo (Garcia) aqui em São Paulo, mas vamos avaliar e ver a posição dos integrantes do diretório — disse Guilherme Mussi ao GLOBO.
Problemas nos estados
No estado, deputados estaduais também devem migrar para o PL, como Major Mecca, Gil Diniz, Castello Branco, Letícia Aguiar, Coronel Telhada, Carlos Cezar e Conte Lopes.
Fora das casas legislativas, outra aliada de Bolsonaro, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, também se filiou ao PL. Ela foi indiciada pela CPI da Pandemia pelos crimes de prevaricação; epidemia com resultado de morte; e crime contra a humanidade. Durante a crise de oxigênio ocorrida em Manaus, uma comitiva de médicos percorreu as unidades de saúde da cidade para divulgar o chamado “tratamento precoce”, cuja ineficácia contra Covid-19 é comprovada.
As negociações de aliados do presidente com o PL, porém, criaram nós em alguns estados. Reservadamente, bolsonaristas reclamam que, no Espírito Santo, o ex-senador Magno Malta tem ignorado o pedido de filiação de alguns personagens. Chefe local do partido, ele se nega, por exemplo, a aceitar a entrada da deputada Soraya Manato (PSL-ES) na sigla, o que gera constrangimento. Procurado, Malta não retornou.
Vice-presidente do PL, o apoiador de Bolsonaro e líder da bancada da bala na Câmara, Capitão Augusto (SP), terá a missão de organizar um movimento para filiar apoiadores do presidente da República. Além disso, tentará estruturar a legenda para impulsionar as redes sociais da sigla.
— Hoje somos o oitavo partido em número de filiados, temos 300 mil. Com o Bolsonaro, queremos chegar a um milhão até março. É uma meta ousada, mas plausível — diz o parlamentar.
As filiações devem também alcançar influenciadores e apoiadores do presidente que fazem sucesso nas redes sociais. No Ceará, por exemplo, o deputado estadual e youtuber André Fernandes trocou o Republicanos pelo PL.