Editorial / Revista Política Democrática online
Começa o ano eleitoral, e os grandes campos em que se divide a política brasileira arriscam, com cautela, os primeiros passos nos caminhos que desaguarão no pleito de outubro.
Enquanto os expoentes do governo experimentam, ao que parece, uma recidiva nas diatribes contra a vacina, focada agora na vacinação das crianças, e na apologia da cloroquina, o candidato do PT, em posição favorável nas pesquisas, avança, paulatinamente, vencendo resistências, internas e de aliados históricos, na senda do diálogo com seus antigos adversários tucanos.
Ou seja, governistas optam pelo cultivo do eleitorado radical e fiel, em detrimento das parcelas mais amplas e volúveis de eleitores, propensos a mudar de posição sob o impacto dos efeitos da crise sobre seu consumo e renda. Procuram, assim, assegurar a presença no segundo turno, confiantes na vitória, na guerra de rejeições que se seguiria, principalmente no caso de o oponente vir a ser o candidato do PT.
Não está claro ainda, por outro lado, o alcance e a profundidade do movimento petista em direção ao centro. Trata-se simplesmente de espantar o fantasma da rejeição ou o objetivo é plantar a semente de um diálogo amplo com a totalidade das forças de oposição? A costura procurada seria exclusivamente eleitoral ou também política e programática? São dúvidas procedentes, até porque já se ouvem manifestações à esquerda de apoio a uma chapa petista ampliada, desde que o candidato a vice permaneça no seu papel decorativo de substituto eventual do titular.
O problema, nesse caso, parece ser de conceito. A terceira via, se houver, não poderá ser construída apenas por um processo de subtração, ou da adição de duas rejeições. Alternativas políticas são construídas por meio da adição, da construção de acordos programáticos em torno das grandes agendas da sociedade. Não haverá um terceiro candidato competitivo sem acordos mínimos e conhecidos em torno de uma agenda econômica e social capaz de superar a pobreza e a desigualdade; de uma agenda ambiental suficientemente radical para retardar e reverter o processo de mudança climática; e de uma agenda democrática firme, que contemple tanto a defesa do estado democrático de direito quanto os avanços institucionais necessários para afastar os riscos do autoritarismo.
Título original: Ainda há muito a percorrer
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