O bolsonarismo já havia capturado a Polícia Federal, a Receita Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Abin. Agora chegou a vez da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Numa decisão exótica, a Anvisa ordenou a suspensão dos testes da CoronaVac, vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan. A agência atribuiu a medida à morte de um voluntário. Era um pretexto enganoso. De acordo com a polícia, o homem cometeu suicídio.
O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que a decisão de interromper os estudos clínicos foi “técnica”. Ele é contra-almirante e aliado próximo de Bolsonaro no governo. Em março, acompanhou o presidente numa manifestação golpista em frente ao Planalto. Os dois desfilaram sem máscara, desrespeitando as recomendações sanitárias.
O capitão trava uma guerra contra a CoronaVac. No fim de outubro, ele humilhou o ministro Eduardo Pazuello, que havia anunciado a compra de 46 milhões de doses do imunizante. Mandou cancelar o negócio e disse que não bancaria a “vacina chinesa de João Doria”.
Ontem a desfaçatez foi ainda maior. Bolsonaro festejou a suspensão dos testes — e a morte do voluntário — como se comemorasse um gol na arquibancada. “O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, celebrou.
Na campanha, o presidente prometeu acabar com o “aparelhamento” no governo federal. No poder, ele submete órgãos de Estado para proteger os filhos e atingir adversários políticos. Na guerra das vacinas, o alvo é o governador de São Paulo. A Anvisa mirou Doria e acertou o Butantan, que tem 119 anos de serviços prestados à ciência e à saúde.
Enquanto a oposição sonha com 2022, o capitão avança com seu projeto de destruição nacional. Ontem ele definiu o Brasil como um “país de maricas”. Em seguida, ameaçou declarar guerra aos Estados Unidos. Depois de 19 minutos de surto, deixou escapar duas frases sensatas: “Não estou preocupado com a minha biografia. Se é que eu tenho biografia”.