José Casado: O custo do amadorismo

Brasil nunca foi e dificilmente será prioridade na agenda americana.
Foto: Carolina Antunes/PR
Foto: Carolina Antunes/PR

Brasil nunca foi e dificilmente será prioridade na agenda americana

O resultado da eleição americana vai moldar a segunda metade do mandato de Jair Bolsonaro. A embaixada em Washington tem procurado líderes republicanos e democratas para reafirmar o interesse num amplo acordo econômico e de defesa com Donald Trump ou Joe Biden.

Isolado, com seu chanceler já oficializando a condição de “pária” no mundo, Bolsonaro tenta garantir nos EUA uma apólice de seguro na travessia da crise global. Além disso, passa noites insones devaneando na crendice de que as colunas da Casa Branca ocultam o portal de “salvação do mundo” — como define o Itamaraty — da força da China.

O Brasil nunca foi e dificilmente será prioridade na agenda americana. Mas Bolsonaro se oferece, propenso a pagar o sobrepreço inerente ao notável amadorismo diplomático.

O problema é a realidade. Trump e Biden coincidem no essencial à defesa da hegemonia diante da ascensão chinesa, baseada na inovação em computação quântica e em novos padrões de consumo da classe média de 400 milhões, mais que a população dos EUA. Divergem sobre forma e meios de manter o domínio.

A receita de Trump é a das negociações conflituosas (com o México e o Canadá, no Nafta; a Europa, na Otan; e a China) para acordos protecionistas. Bolsonaro já tem um roteiro. Por ele, atravessaria a campanha de reeleição determinando quem vai perder mercados, empregos e lucros para a concorrência americana.

Com Biden, a quem elegeu adversário, o jogo será ainda mais duro no comércio, nas “consequências econômicas significativas” da antipolítica ambiental, em eventual socorro na crise e no acesso a tecnologias de guerra, a miragem militar bolsonarista.

Bolsonaro conseguiu a proeza de assumir um alto custo antes do resultado das urnas. E as perdas tendem a ser maximizadas, porque o seu esteio político-empresarial continuará refém de Pequim, provedor de um terço das receitas na mineração, no agronegócio e na banca financiadora. Nunca estiveram tão dependentes da China. O amadorismo vai custar caro para todos.

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