O novo Ibope confirma que há muito espaço para mudanças na corrida presidencial até a eleição. Com 35% dos votos, Lula amarrou uma das pontas do eleitorado. Bolsonaro tomou a outra e avança dali para o centro – pelo menos 12% só votam nele. Pode parecer que está tudo encaminhado, mas ainda falta a outra metade dos eleitores: cerca de 10% têm algum outro candidato firme, e 17% não querem ninguém. Sobra 25% do eleitorado que pode embarcar praticamente em todas as candidaturas. Ou numa só.
Seria o bastante para levar um presidenciável de centro ao 2º turno contra Lula – ou contra Bolsonaro, se o petista for barrado pela Justiça. Os centristas apostam que seu candidato teria mais chances de vitória, seja quem for o adversário, pois pode crescer para qualquer dos lados do espectro ideológico. O problema é chegar no turno decisivo: ainda não apareceu nenhum nome que seja franco favorito para ocupar tal papel.
O vazio do centro é a fábrica de tantas especulações sobre novos candidatos. Balões já subiram e caíram, como o de Doria. Outros estão em fase de lançamento, como o de Luciano Huck. Sem contar a sombra permanente de uma candidatura com origem no Judiciário: os mais cotados são sempre Moro, Joaquim Barbosa ou ambos.
A temporada de balonismo eleitoral tem tudo para durar até a primeira semana de abril, quando se encerra o prazo para quem for ser candidato se filiar ao partido que lhe dará legenda. Se até lá Huck não estiver filiado ao PPS, ou se nenhum magistrado tiver assinado a ficha de algum partido, seus nomes sairão das pesquisas de intenção de voto e do mercado de candidaturas. Mesmo assim, não será o fim das especulações eleitorais.
Há uma chance alta de Lula ser ejetado da campanha presidencial por ordem da Justiça. Hoje, tende a zero a transferência de eleitores do ex-presidente para outro petista. Haddad tem 1%. Mas quanto mais tempo durar a candidatura-tampão de Lula, mais clamorosa será a eventual retirada do nome do ex-presidente da urna. Petistas tentarão transformar clamor em escândalo, o que for necessário para alavancar a candidatura do substituto. É um plano meio desesperado, mas não desprovido de fundamento.
Estudo do Ibope mostra que 13% só declaram voto em Lula e em mais ninguém. Não importa qual seja o cenário, não migram para Marina Silva, nem para Ciro Gomes, nem para Bolsonaro. São, potencialmente, a transfusão inicial que um candidato petista receberia de Lula – desde que esse eleitor fique sabendo da troca. Informá-lo disso não é tarefa trivial, porém: mais de 40% não acessam a internet, 60% moram no interior, principalmente no Nordeste, a maioria é pobre e tem escolaridade abaixo da média.
A candidatura-tampão de Lula pode durar até 20 dias antes do primeiro turno, que é o limite legal para troca de candidatos em uma chapa (salvo em caso de morte). Esse é o prazo máximo. O mínimo ninguém sabe, pois depende de um sem-número de recursos e apelações a tribunais regionais e superiores. Pode ser tanto abril quanto agosto ou, no limite, setembro.
A candidatura de Lula tampona as de quase todos os outros presidenciáveis. Se não impede, no mínimo dificulta seu acesso a esse eleitor mais difícil de alcançar. É ruim para Huck, é ruim para Marina e para Ciro, é ruim até para Alckmin. Quem menos perde com a candidatura-tampão de Lula é Bolsonaro.
Ele ganha alguns pontos com a saída do petista, mas não depende disso para se viabilizar. Ao contrário, Bolsonaro tem sido o mais resiliente rival de Lula. Cabe-lhe o termo que o best-seller Nassim Taleb cunhou para definir o oposto de fraco: antifrágil. É daqueles que se beneficiam com o caos.