Reação do presidente a ataques da ultradireita é sinal político relevante
Sob fogo, Jair Bolsonaro correu para fazer um aceno aos segmentos mais conservadores de seu eleitorado. No púlpito de um templo da Assembleia de Deus, o presidente dobrou a aposta: prometeu nomear para o Supremo no ano que vem não apenas um ministro terrivelmente evangélico, mas um pastor, e sugeriu que as sessões do tribunal deveriam começar com uma oração.
O recado não era direcionado só a líderes e fiéis que acompanhavam o evento, na última segunda (5). Bolsonaro tenta mostrar aos militantes de sua base ideológica mais agressiva que mantém um compromisso com sua agenda, apesar da aproximação do governo com o centrão e da escolha de Kassio Nunes para o STF.
Apesar da aparente troca de pele, Bolsonaro sabe que não pode abrir mão nem dos 30% de brasileiros que se declaram evangélicos, nem dos líderes radicais que mobilizam as franjas dessa base. Não foi coincidência ele ter dito que está especialmente chateado com o pastor Silas Malafaia, autor recorrente de campanhas de mentira e ódio nas redes.
O próprio Bolsonaro se alimentou da fúria e da desinformação para vencer a eleição. É curioso, portanto, que ele tenha se incomodado com as críticas que recebeu nos últimos dias. “Baseado em que fato concreto você critica Kassio Nunes?”, perguntou a um seguidor. “Você não procurou fontes sobre todas essas acusações”, disse a outro.
Além dos ataques feitos pela base ideológica, a reação de Bolsonaro carrega sinais políticos relevantes. O governo, que já usou o peso de sua máquina para defender militantes radicais no STF, agora também não demonstra interesse em se afastar dos integrantes dessa linha.
O presidente quer manter o apoio de conservadores moderados e conquistar eleitores distantes dos extremos do debate público. Ainda assim, ele se recusa a tratar militantes de ultradireita como marginais. São eles os responsáveis por campanhas de linchamento virtual que ajudam o governo. Bolsonaro sabe que pode precisar deles nos tempos difíceis.