A capital de Alagoas afunda
Está em curso outra tragédia ambiental provocada pela mineração. Parte da cidade de Maceió está afundando à média de 1,7 centímetro por mês em relação ao nível do mar, constatou o Serviço Geológico do Brasil. Porém esse desastre não é prioridade para o Ministério do Meio Ambiente, mais preocupado em atender ao lobby para abolir normas de proteção às lagoas, rios, praias e mangues.
Na sexta-feira, a prefeitura de Maceió decretou calamidade em quatro bairros. Eles abrigam cerca de 60 mil pessoas numa área com o dobro do tamanho de Copacabana, de frente para a Lagoa de Mundaú, cuja margem corre o risco de ser rebaixada. A desestabilização do solo começou a ser percebida há dois anos, com efeitos visíveis em centenas de imóveis de Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto.
A capital de Alagoas afunda, segundo o serviço geológico federal, por causa do progressivo desmoronamento das minas de sal-gema da Braskem. A empresa atribui a catástrofe a um “fenômeno”, mas abandonou a extração de sal-gema. Agora tenta tampar suas 35 cavernas de 200 metros, cavadas por quatro décadas 900 metros abaixo do solo urbano.
Controlada pelos grupos Odebrecht e Petrobras, a Braskem é uma das petroquímicas mais inovadoras na reciclagem de plásticos. Fatura R$ 52 bilhões por ano e tem oito mil empregados. Azeitou sua margem de lucro no Brasil, na última década, pagando suborno a líderes políticos para garantir matéria-prima a preços camaradas da acionista Petrobras. Repetiu a fórmula no México, onde o governo diz haver “vícios de origem” no contrato de compra de etanol da estatal Pemex.
Maceió será mais afetada se houver “colapso” das minas, advertem os geólogos. Investidores da Braskem nos EUA já anunciam ações judiciais, alegando que ela “minimizou a seriedade de suas responsabilidades”. O cenário é catastrófico, mas não mobiliza o erradio e histriônico ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.