Lourdes Sola: Seminário Desafios Políticos muda patamar do debate político no Brasil

Para Lourdes Sola, cientista política da USP, evento promovido pela FAP e pelo o ITV FAP merece destaque pela pluralidade, ousadia e sofisticação das discussões
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Para cientista política da USP, evento promovido pela FAP e pelo ITV merece destaque pela pluralidade, ousadia e sofisticação das discussões

Um debate plural, ousado e sofisticado, com prioridade aos diagnósticos das questões a serem enfrentadas em lugar de dogmas partidários. Com essa definição, a cientista política Lourdes Sola, professora aposentada da USP, sintetizou sua avaliação do seminário Desafios Políticos de um Mundo em Intensa Transformação, organizado por uma parceria inédita entre o Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e a Fundação Astrojildo Pereira, do PPS, e realizado nos dias 14 e 15 de setembro, em São Paulo.

“É gente que quer mudar, olhar para frente sem medo. E, sobretudo, que não ficou refém da polarização que vivemos nos últimos anos”, disse Lourdes Sola, ao saudar seus idealizadores e reconhecer que a iniciativa foi surpreendente e de resultado bastante positivo.

Nesta entrevista ao ITV, Lourdes Sola analisa a discussão realizada pelos participantes do seminário e destaca os três principais eixos que marcaram os debates. Ao todo, o evento reuniu 23 palestrantes, entre políticos, intelectuais e jornalistas, do Brasil e de outros quatro países da Europa e da América do Sul.

O primeiro eixo diz respeito ao Estado e se orienta por duas indagações: Para que serve o Estado no século 21? E que tipo de democracia queremos?

O segundo trata da compreensão de como as mudanças, os processos desestabilizadores que emergiram na sociedade contemporânea, se manifestam nas bases sociais da política.

Por fim, o terceiro aborda o impacto da globalização sobre o Estado, a economia e as bases sociais da política. Nesse sentido, Lourdes Sola destacou a palestra de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República, que fez um panorama das transformações políticas e sociais da era moderna para a contemporânea.

Ao analisar e sintetizar as discussões do seminário, Lourdes Sola também chama atenção para a reflexão do britânico Adrian Wooldridge, colunista da revista The Economist, sobre os momentos de inflexão do Estado nacional ao longo da era moderna e a urgência de sua transformação no mundo contemporâneo.

A discussão sobre a existência ou não de uma crise da democracia foi também alvo de sua avaliação. Em consonância com o cientista político Marcus Melo (UFPE), Lourdes Sola acredita que vivemos uma crise de representação e de critérios de legitimação política, e não da democracia. “Vejo a emergência de uma cultura cívica no Brasil. O povão tende a ter novos critérios de legitimação, mas quem os representa, os políticos, ainda não perceberam”, analisa.

Do segundo dia do seminário, Lourdes Sola destaca a discussão sobre os efeitos sociais e econômicos da globalização, analisados pelos sociólogos Caetano Araújo e Demétrio Magnoli. O primeiro analisou o papel do capital financeiro internacional e as relações com os Estados nacionais, enquanto o segundo discutiu os processos políticos de escolhas nesta conjuntura, que culminaram na eleição de Donald Trump presidente dos EUA, no Brexit, entre outros.

Dessa mesma mesa, a cientista política considerou fundamental para o Brasil a apresentação de Stefan Fölster, alemão radicado na Suécia que dirige o Reform Institute e é coautor do livro A Riqueza Pública das Nações. Ele argumentou a favor de uma gestão profissional do patrimônio público, um conceito que vai além do debate privatização versus estatização e aborda o interesse coletivo e a geração de riqueza com mais complexidade.

Leia a entrevista de Stefan Fölster publicada pelo jornal Valor Econômico

Ainda mereceram destaque as discussões sobre as consequências da revolução tecnológica no mercado do trabalho e como os países devem se preparar nesse sentido, investindo em educação, ciência e tecnologia, como defendido por Carlos Henrique Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp e um dos palestrantes do seminário.

Por fim, o seminário tratou das investigações contra a corrupção, como a Mãos Limpas italiana e a brasileira Lava Jato, abordadas por palestrantes como o jornalista e escritor Gianni Barbacetto e o diretor da FGV Direito SP, Oscar Vilhena.

Leia a entrevista de Gianni Barbacetto concedida ao jornal O Estado de S. Paulo

Para concluir, Lourdes Sola ressalta a importância do seminário Desafios Políticos pela qualidade dos convidados e coragem de seus idealizadores. “Foi um momento muito feliz e de mudança de patamar. E que ilustra bem que nós estamos preparados e alertas para refletir, e com muita vontade de mudar”, comemora.

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