O presidente Jair Bolsonaro tanto fez que acabou pegando a covid-19. Depois de participar de manifestações, ir a ruas e padarias, abraçar estranhos e liderar cerimônias no Planalto sem máscara, o que se poderia esperar? Até que demorou muito. E ele é do grupo de risco.
Se há alguma surpresa, é na forma do anúncio. Quando fez os primeiros exames, ele escondeu o nome e se recusou a dizer qual o resultado – curiosamente, negativo. Agora, admitiu os sintomas, avisou que estava fazendo o teste e anunciou, ele mesmo, que deu positivo. O Estadão nem precisou entrar de novo na Justiça para exigir o resultado.
A grande de pergunta é se o presidente vai seguir os passos do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que também era negacionista, mas contraiu a doença, foi internado e descobriu que a coisa era feia. Ao pedir desculpas, passou a combater o vírus seriamente.
A resposta quanto a Bolsonaro é um retumbante não, ele não vai mudar nada. Se a gente observa os primeiros momentos após a confirmação, descuidado, minimizando tudo, o mais provável é o oposto: que ele aprofunde o negacionismo e use a própria contaminação para fazer propaganda de suas certezas absurdas.
A expectativa é ele explorar seu próprio exemplo para “comprovar” que a covid-19 é só uma “gripezinha” e, com seu “histórico de atleta”, ele tira de letra. Aliás, dá muito bem para todo mundo trabalhar e levar vida normal mesmo contaminado.
Não bastasse, o pior é o marketing do presidente da República a favor da hidroxicloroquina, que não é recomendada contra o vírus por nenhum estudo sério e tem efeitos colaterais que podem ser graves. Corresponde a estimular milhares ou milhões de pessoas a tomar um remédio perigoso ao primeiro sinal de febre.
Sinceros votos para que Bolsonaro saia dessa rapidamente e da melhor forma possível, mas o risco é ele bater no peito para dizer aos brasileiros que “estava certo” e propagandear a tese da “gripezinha”. O que os familiares, amores e amigos dos mais de 65 mil mortos vão sentir diante disso?